Importante

Capítulo Único ‐ Descontrolada


Tudo ia tão bem em minha vida, eu finalmente estava fazendo amigos verdadeiros. Pessoas que não estavam ao meu lado apenas para se aproveitarem dos meus poderes, ou que tinham medo de mim por conta deles.

Pela primeira vez, eu poderia dizer que estava genuína e verdadeiramente feliz!

Sabia que existiam pessoas como eu, mas por conta da péssima influência que tive, jurei que não era possível usar os meus poderes para o bem. Mas proteger e ajudar os outros mesmo sem que eles soubessem me deixava feliz! E tudo isso graças a ele.

Yusei sempre foi um cara legal, todos que o conhecem acabam sempre por admirá-lo, mesmo ele sendo um Satélite, embora eu saiba que ele realmente não é. Eu já o vi com raiva e até mesmo com sede de vingança, duas coisas que não se espera de uma pessoa boa, mas até isso sempre foi por uma boa causa.

Talvez por isso acabei me envolvendo nesse calor natural que ele emana.

Porém, nem ele conseguiu me salvar, não dessa vez.

♥︎♡♥︎

Sempre pensei que meus pais fossem os verdadeiros culpados por não me amarem e me deixarem cair em mãos erradas, mas se fosse para pensar desse jeito, então eles também são os responsáveis por conhecer amigos de verdade. Talvez eu esteja pensando errado, mas é graças a esse pensamento e entre outros que consegui perdoá-los e conviver com eles.

Decidi abandonar aqueles sentimentos escuros e comecei a equiparar tudo e todos os que me rodeiam com rosas. Porque tal como as rosas, todos eles são maravilhosos, mas também têm os seus problemas e defeitos, tal como os meus pais.

Poder aproveitar a companhia deles e, ao mesmo tempo, sentir o carinho e não o medo vindo deles me deixava feliz. No entanto, tudo que é equiparado a uma rosa tem o seu lado positivo e o seu lado negativo, minha família nunca fugiu desse conceito. Pensei que já havia sentido os espinhos dessa rosa que eles são, mas, na verdade, apenas enxerguei as lindas pétalas que simplesmente se separaram de mim.

Não, eu não estava pronta para ver minha mãe morta.

E após esse fatídico acontecimento, minha vida virou-se de ponta cabeça.

Novamente eu estava emocionalmente frágil, novamente meus poderes psíquicos estavam descontrolados, e novamente eu magoava todos, não que eu quisesse, mas a dor e a frustração me controlavam, e por mais que eu quisesse não pude me deter, e como consequência acabei sendo encarcerada.

Não que isso impedisse os meus poderes, mas ao menos não havia ninguém para ferir involuntariamente.

Contudo, o exílio pode levar a loucura e eu particularmente estava enlouquecendo.

Quem estava ao meu lado naquele momento?

Quem me apoiava naquelas horas sombrias?

Quem entendia a dor que eu sentia?

Ninguém!

Tentei me apoiar em sentimentos bons, e lembrar que não estou só, ainda tinha o meu pai e principalmente os meus amigos, mas por algum motivo não consegui...

Yusei veio me ver de imediato, no primeiro dia ele tentou conversar comigo, a porta estava aberta, dois enfermeiros se escondiam pela parede, algo que não agradava em nada nenhum de nós os dois. Sei que ele nunca me enxergou como um monstro, talvez por isso ele não aprove o comportamento alheio em relação a mim, e mesmo assim eu o expulsei com a ajuda dolorosa dos meus poderes. O feri no braço esquerdo, os espinhos da minha rosa perfuraram sua luva e a manga de sua jaqueta de uma só vez, mas exatamente por esse motivo, o ferimento não passou de algo superficial, ele apenas sentiu dor naquele momento.

Mesmo por um mísero segundo, eu o ouvi gemer de dor, por isso o expulsei calmamente, e ele, insensato, não quis me ouvir e até tentou conversar comigo novamente, recebendo apenas um grito histérico de minha parte, sei que apesar disso ele quis insistir, é o Yusei, ele nunca vai desistir facilmente do que acredita ser certo. Felizmente os enfermeiros se manifestaram e o tiraram daqui a contragosto.

Naquele momento eu percebi o quanto o decepcionei e o quanto estava decepcionando a todos, mas isso ainda durou por semanas.

Sinceramente, não sei quanto tempo estou aqui. Talvez há um mês e vinte dias? Talvez seja isso, até porque esse lugar já parece mais meu do que o quarto que eu tinha na casa dos meus pais. Esse lugar estava repleto de espinhos, mas acima de tudo estava cheio da companhia das minhas únicas amigas. Aquelas que me acompanharão sempre e eu não poderei magoar...

A porta se abriu, revelando-o novamente para mim.

— Oi, Akiza — Cumprimentou-me da mesma forma de sempre. Sinceramente, esse jeito dele, estilo garoto que não se importa com nada, era bem irritante, mas eu gostava, o deixava mais imponente diante dos adversários.

— Veio se decepcionar novamente? — Perguntei, mas sei que não importava o quanto eu o decepcione ou o magoe, ele sempre fica do meu lado.

— Não sei do que você está falando. — Claro que não sabe, ele realmente não se importa com a dor física que o causei até agora, se não o conhecesse, diria que ele é masoquista.

— Yusei... — Meus poderes começaram a manifestar-se. — Sai daqui! — Ele apenas olhou para trás antes de voltar a olhar para mim.

— Não posso... — Respondeu antes de fechar a porta atrás de si.

Meus poderes estavam se descontrolando aos poucos, sei disso porque já estou acostumada, não conseguiria contê-los por mais que eu quisesse, embora nesse momento eu não queria.

Assim que ele deu o primeiro passo em minha direção, minhas amigas o atacaram com tudo, já o consideravam um inimigo faz tempo, embora eu não saiba por quê.

Foi frustrante não ouvir mais do que um simples murmúrio da parte dele, desse jeito, parecia que ele não se importava com a dor.

Ele voltou a aproximar-se de mim em silêncio, fazendo com que uma das rosas prendesse o seu pé direito. Com um pouco de esforço e com certa dor provocada pelos espinhos em sua pele, ele se soltou e voltou a aproximar-se, ele estava tão perto... Quinze centímetros, era o máximo da nossa distância.

— Sai daqui! — Ordenei prendendo seu pé e seu braço esquerdo dessa vez. Para minha infelicidade ele se soltou novamente. — Eu disse para saíres daqui!

— Argh! — Arfou de dor após ser atingido no ombro direito.

O vi cair de joelhos diante de mim enquanto apertava aquela região com força. Não quis enxergar o quanto ele estava ferido até ver sangue jorrar de seu braço.

— Yusei... — Sussurrei aflita, apesar de todo aquele drama feito, vê-lo sangrar fez com que eu me sentisse um monstro novamente.

Sim, eu queria afastá-lo de mim e usei todos os métodos possíveis, estava disposta a feri-lo desde que isso o afastasse, mas seu sangue jorrando não era exatamente o que eu queria...

Mesmo ferido, ele aproximou-se de mim e me abraçou com ternura.

— Está tudo bem... — Sussurrou, novamente aquele calor tomou conta de mim sem que eu quisesse.

— Yusei... — Deixei-me levar por ele, sua voz, seu calor e todas as sensações que ele provocava em mim, até sentir lágrimas escorrendo de meus olhos. — Deixa-me em paz! — Empurrei-o bruscamente. — Por que você insiste? Por que você sempre me perdoa?! Por que você não tem medo de mim?!... — Perguntei tentando conter as minhas emoções sem sucesso, estou começando a odiar o que ele me faz sentir...

— Porque você é...

— Para! — Ordenei. — Não quero ouvir isso! — Ele sempre diz o mesmo porque tem pena de mim. — Não quero que digas que eu sou importante! Sei que faz isso por pena! — Gritei brava.

— Akiza, eu não faço isso por pena! — Tapei meus ouvidos com as mãos, realmente eu não quero mais ouvi-lo. É tão irritante porque eu sei que vou acreditar... — Akiza... — Segurou minhas mãos e afastou-as de meus ouvidos com a delicadeza que ele tinha apenas comigo e com a Luna, talvez por nos igualar a fraqueza, ou talvez por... — Eu estou aqui porque nós somos amigos... — Olhei para aqueles malditos olhos azuis antes de realmente ouvi-lo. — E faço isso porque te amo! — Sua revelação fez meu coração se animar e minhas rosas se relaxarem automaticamente. Foi a primeira vez que ouvi um "te amo" de um garoto, e... Foi a primeira vez que o Yusei disse isso para uma garota, como eu sei? Vê-se pela personalidade calma e a marca de criminoso que ele possui no olho esquerdo. — Por isso você é importante para mim, e sempre será — Continuou. Suas palavras eram tão sinceras como sempre, e embora eu não quisesse acreditar, parecia que meu coração era contra a minha mente, pois ele batia como no dia em ele me levou para jantar com a sua família no Satélite.

— Y-Yu... Vo... Não... — Tentei inutilmente pronunciar alguma coisa até que ele me abraçou novamente. Dessa vez era um abraço tão quente e protetor, exatamente como ele sempre foi, mas...

... Aquele era apenas o primeiro passo para me livrar de tanta dor, embora eu saiba que ela nunca passa...

♥︎♡♥︎

— Já estás mais calma? — Perguntou enquanto se sentava ao meu lado, passaram-se duas semanas desde aquela declaração e ele não voltou a tocar no assunto.

Após aquilo, novamente deixei meu coração sentir algo mais além da dor, embora essa agitação que passei a sentir graças a ele me incomode de igual modo.

Mas vou considerar isso um passo importante para voltar a felicidade.

— Sim... — Confirmei antes de rir, realmente aquilo era bem diferente...

Assim que saí de lá meus amigos vieram ao meu encontro, antes não podiam porque eu não deixava, e após aquele momento os médicos preferiram que continuasse desse jeito.

Os gêmeos foram os primeiros a me acolher em seus braços, e posso jurar que Leo chorava como nunca de tão feliz que estava.

Jack e Carly levaram alguns presentes para mim afirmando ser do aniversário que passei solitária, depois ela me contou que alguns deles eram apenas para me recordar o quanto sou amada por cada um deles, resumindo, ganhei uma pulseira da amizade bem estranha, mais ao mesmo tempo, com um significado intenso.

Crow também fez a pequena confusão dele, jogou confetes, me abraçou, beijou minhas bochechas e até girou feliz comigo em seus braços, embora eu sempre soubesse que ele era mais forte do que aparentava, não esperava por essa!

Após isso foi uma confusão só, e quando percebi estava sentada com o coração batendo a mil por hora simplesmente porque meus amigos têm mais energias que eu.

— Qual é a graça? — Yusei perguntou confuso.

Ele e meu pai foram os únicos que não fizeram tanta confusão assim que cheguei, mas acredito que após todas as confusões em que se envolveram para que pudessem me ver ou para no mínimo conversar comigo enquanto estive presa em meus sentimentos mais profundos já foram suficientes. Embora isso não tenha servido de desculpas para o Crow e o Jack que conseguiram receber uma ordem de restrição a favor de um dos enfermeiros.

— Nada de especial, eu apenas estava pensando... — Olhei para onde aquele grupo de amigos estava, Leo e Carly estavam prontos para um duelo à moda antiga, aquele que recusei participar, pois por enquanto é bem mais seguro. — Não entendo de onde eles tiram tanta paciência. — Ele olhou para a mesma direção que eu.

— Nem eu! — Sorriu diante da situação, aquilo mais parecia um duelo entre o Jack e o Crow de tantas dicas que insistiam em dar. — Akiza... — Percebi que sua voz estava mais ansiosa que o de costume. — Vamos ter com eles? — Seus olhos se fixaram repentinamente nos meus.

Não vou negar, esse azul intenso é totalmente atraente, e às vezes parece que eles querem me dizer mais do que as palavras dele, embora dessa vez pude perceber que até suas palavras eram diferentes, como se quisessem sair de outra forma. E é isso que eu sinto sempre que ele diz que sou importante.

Já agora!

— Não está se esquecendo de nada, Yusei? — Eu não queria tocar nesse assunto, principalmente após magoá-lo tanto, eu não tinha esse direito, contudo nós os dois precisamos ter essa conversa.

— Do que estou esquecendo? — Admito que essa confusão formada em seus brilhantes olhos azuis é bem fofa!

— Por que você diz que eu sou importante? — Fui certeira com a pergunta, embora ele não tenha percebido a intenção dela.

— Porque você é importante. — Sorriu confiante com suas palavras. — Olha para eles! — Referiu-se aos amigos que quase começaram uma briga porque a morena venceu. — Estamos todos aqui porque amamos você! — Foi inevitável sentir o meu coração aquecido, como ele consegue?

Mesmo assim, ainda falta algo, o que ele não está me dizendo?

— Eu... — Quis deixar claro que também os amo, mas não deu certo, eu tinha que saber. — Yusei... — Coragem! É apenas uma pergunta! — Vo... Você... — Que complicado... — Você me ama porque eu sou importante, ou eu sou importante porque me amas? — Vi-o magicamente sem jeito, o que, estranhamente, aumentou a minha confiança.

Era algo tão simples, mas para ele parecia tão difícil...

— Eu...

— Da última vez você não deixou claro e sei que não era muito importante... Mas ajudou-me a recuperar... E-Então para mim é importante sim... — Voltei a ficar nervosa, por que ele está de cabeça baixa de repente?

— Para mim também... — Hum? — Para mim também foi importante por que... — Voltou a olhar para mim dessa vez com certo constrangimento. — Porque foi a primeira vez que eu disse "te amo" para alguém que não fosse a Martha... — Para o meu espanto, suas bochechas estavam levemente coradas. Eu sabia que era algo novo para ele, mas não era preciso tanto...

Segurei a sua mão e fiz um pequeno carinho nela. Talvez por ele não ser muito expressivo em relação ao que sente, seja difícil admitir que ama alguém, embora eu não esperasse isso de um altruísta como ele.

— Sabe, isso não é mal, Yusei, pelo contrário, expressar seus sentimentos apenas te ajuda a lidar melhor com eles, por exemplo, se eu tivesse feito isso desde o início, não... — Fui interrompida por um Yusei estranhamente frustrado.

— Akiza... — Agora era ele que segurava minha mão com força. — Eu te amo, não como amo outras pessoas... — Espera... — Eu te amo do mesmo jeito que o Jack ama a Carly... — Sua voz não passou de um sussurro, mas foi o suficiente para que eu entendesse finalmente o que ele queria dizer durante aquele tempo todo. Isso também explica sua frustração repentina.

— Então... Você... — Ele está tão preocupado com algo tão simples... — Tudo bem... — Minhas bochechas estão fervendo, eu poderia inventar qualquer desculpa besta para o que estou a sentir, mas não posso mentir desse jeito, não para o Yusei.

— Você está com febre? — Perguntou preocupado por conta da aparente vermelhidão em minhas bochechas.

— O quê? Não! — Sinceramente, eu já não sei o que dizer ou pensar dele, tudo o que sei é que isso é engraçado.

— O que é tão engraçado? — Ele voltou ao seu estado de sempre, com um olhar sério, nem parece que ficou um pouco constrangido.

— Nada de mais, eu apenas não esperava por tudo isso. — Encarei rapidamente o grupo que agora se preparava para um duelo sério entre o Crow e o Jack antes de olhar para nossas mãos unidas... — Quem diria... — Ainda corada voltei a encará-lo.

— Isso significa o quê? — Vê-lo ansioso por uma resposta mais concreta é reconfortante, significa que ele realmente se importa com o que estou sentindo.

— Que você é fraco demais para lidar com sentimentos, igualzinho a mim! — Sorri para ele, que corou pela segunda vez na vida!

— Akiza!... — Eu realmente não deveria zombar dele desse jeito, mas fica difícil com essa carinha emburrada.

— Não fique assim! — Ergui minha mão e fiz um pequeno carinho em sua bochecha esquerda. — Eu também te amo mais do que apenas amigos... — Meu coração está saltando novamente. — E faz tempo que quero dizer-te! — Ele sorriu feliz e me abraçou.

Eu pensava que o fato de ser descontrolada estragaria o que sinto por ele e o faria esquecer-se de mim, mas parece que isso apenas nos aproximou como algo mais que amigos.

— Ena ena! — Ouvi o Crow expressar antes de Jack assoviar. — Isso, sim, é novidade! — Yusei afastou-se de mim sem jeito.

— Desde quando vocês estão namorando? — Carly perguntou sorrindo travessa.

— Muitos parabéns, Yusei, Akiza! — Leo e Luna celebraram.

— Vocês podem parar com isso? — Yusei pediu ainda mais desconfortável do que antes e sinceramente, estou igual!

— Mas é claro que não, tenho motivos para aproveitar e provocar! — E é assim que o Atlas começou mais uma discussão boba, primeiro com o Yusei, que não durou muito porque é o Yusei e depois com o Crow, que está sendo zoado por ser o único da nossa faixa etária que não tem ninguém, apesar do fato de que eu e o Yusei ainda não oficializamos nada.

Isso é bem desconfortável mesmo, ainda assim, estou feliz por ter sentimentos puros despertados por esse grupo, mas acima de tudo, estou feliz por cada um deles ser correspondido.

Ainda bem que finalmente entendi o que é ser importante para alguém, mesmo que esse alguém seja um altruísta que não sabe lidar com sentimentos, igualzinho a mim, ou mesmo eles sendo duelistas problemáticos com personalidades bem distintas umas das outras.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.