Imperfeito

Capítulo 1


O vento passeava trazendo consigo leves ramos de plantas, pétalas de flores recém-nascidas, minúsculos grãos de areia, arrepiando toda a extensão da sua pele, porém, sem causar emoção nenhuma. Levantou os braços para os céus na vã tentativa de receber algo que não seja físico, uma tentativa fútil, o branco dos sentimentos ainda era fixo em sua mente.

Soltou um suspirou e ajeitou o cabelo rosado que insistia em ficar na frente do rosto, principalmente pelo óculos, impedindo a visão. Sentou-se mecanicamente no gramado, vislumbrando — ou tentando — a imensidão celeste acima de si.

O sol iluminava a todos. Menos à ele.

Fechou os olhos, repassando mentalmente as palavras lidas nos livros científicos de anatomia humana que Merlin lhe emprestara.

"Lobo frontal''

Gowther tinha, certeza. Era uma cópia perfeita do ser humano, exceto por essa parte. Seu lobo frontal não processava sentimentos, podendo ser comparado aos tão temidos psicopatas, contudo, não poderia classificar-se no grupo.

Psicopatas tem algo que lhes dá prazer. Ele só tinha o vazio.

Entediado, dispôs-se á fazer um anjinho na grama, com a contínua cara inexpressiva. Cantarolava uma musiquinha que ouvira aleatoriamente na cidade, pouco importando-se com o significado da melodia sussurrada por seus pálidos lábios.

"Por que estou vivo?''

Essa pergunta rondava seu pensamento, estas foram suas primeiras palavras, estas que nunca foram respondidas. E por mais que refletisse, a única conclusão que chegou foi irônica. Mesmo bonecos imperfeitos tinham a dúvida dos humanos.

Para os mesmos, essa singela e destrutiva pergunta podia ter vários significados ocultos ou não, tais como respostas de valor sentimental, um dever que desesperadamente precisa ser cumprido, uma dívida — de um possível outro plano — , ou nas profundezas da inteligência, do filósofo, ou do altruísta heroico, ou simples curiosidade.

"Gowther!!''

O rapaz andrógino levantou as pálpebras e moveu lentamente a cabeça em direção ao som, encontrando seu grupo, os sete pecados capitais. Todos o olhavam, esperando uma reação.

Como o cotidiano, respondeu um mecânico ''Estou indo.'' e levantou-se. As pessoas à sua frente eram deveras excêntricas. Isso o deixava curioso.

Seria interessante observá-los mais um pouco.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.