Imouto

Perseguição


Kakashi estava exausto. Aquela havia sido uma missão muito longa e cansativa. Ele e mais três ANBU`s foram encarregados de capturar um nukenin, mas o homem era praticamente um fantasma. Ninguém nunca o via e não deixava rastros. Foram preciso três semanas e muitos dias de rastreamento para finalmente acha-lo e, por fim, traze-lo para a vila. Agora o copy ninja soltava um suspiro de alívio enquanto abria a porta de seu apartamento.

– Tadaima. – ele disse. Toda vez que dizia isso ele se lembrava da época em que não havia ninguém para recebe-lo e muito menos alguém que respondesse:

– Okaeri oniisan! – Kaori gritou, dando-lhe um abraço apertado – Você demorou bastante dessa vez.

O ninja sorriu por debaixo da máscara. Sua pequena imoutosan, agora com 12 anos, o recepcionava e conduzia até a cozinha de onde o cheiro de algo cozinhando podia ser sentido.

Depois de virar o guardião de Kaori, Kakashi fora obrigado a voltar a sair em missões. Então ele sempre deixava a criança com a sua vizinha ou algum de seus colegas, normalmente Kurenai, embora uma vez o único disponível fosse Gai e o Hatake voltou e encontrou sua imouto completamente assustada e cansada. Aparentemente ela fora obrigada a usar todo o seu “fogo da juventude” ou algo parecido. Com o tempo, Kakashi passou a deixa-la sozinha mesmo, como ela já sabia cuidar de si mesma e até cozinhar, mas sempre havia alguém a vigiando de longe. Agora, sempre que ele retornava era recepcionado com um abraço e uma refeição quente e sabia que não havia melhor sensação no mundo.

O único problema foi fazer com que ela entrasse na Academia, já que não conhecia ninguém. Os primeiros dias foram bem complicados, mas com o tempo ela passou a se sentir mais a vontade e até fizera alguns amigos. Como ela fazia treinos regulares com seu oniisan, acabara se tornando uma das mais habilidosas e espertas alunas da classe, mas ainda havia um problema. Kaori tinha uma tremenda dificuldade em fazer jutsus simples, embora tentasse com afinco todos os dias. Mesmo após analisar bem com o Sharingan, Kakashi não sabia a causa disso. Era como se o chakra dela simplesmente não fosse feito para esse tipo de trabalho. Por causa disso os testes da Academia que exigiam a realização de jutsus sempre foram um sufoco e Kaori passava por muito pouco. O próximo passo seria entrar em uma equipe e se tornar genin e Kakashi não poderia estar mais orgulhoso, embora também estivesse extremamente preocupado.

Eles se sentaram à mesa, agradeceram e começaram a comer, ou melhor, Kaori comeu e Kakashi esperou que ela terminasse e, enquanto lavava sua louça, ele se alimentou. Anos de convivência e nem a pequena Kaori vira o rosto do ninja. E não fora por falta de tentativa.

Kaori o bombardeava de perguntas sobre a missão e informações sobre tudo que acontecera com ela. Kakashi escutava a tudo com paciência e respondia a todas as suas dúvidas. Depois de comerem ela se prontificou a arrumar a cozinha enquanto ele tomava banho, ao que o ninja agradeceu com alívio, realmente estava muito cansado. Assim que retornou para a sala, sem a bandana, mas com a máscara, encontrou Kaori sentada na mesa e debruçada sobre seus deveres da academia.

– Kaori-chan – ele chamou sua atenção – Amanhã cedo nós iremos treinar, tudo bem?

Ele viu a expressão dela ficar triste. Depois de tantas tentativas falhas de descobrir o que havia de errado com ela, estava começando a perder as esperanças. Contudo, forçou um sorriso e respondeu seu oniisan.

– Hai. Estarei pronta bem cedo.

Kakashi assentiu. Disse para ela não ficar acordada até muito tarde, desejou uma boa noite e foi se deitar.

...

O sol nasceu e seus raios entraram pela janela do quarto do copy ninja. Ele abriu um pouco os olhos e se espreguiçou. Depois, se levantou e foi preparar algo pro café da manhã. Assim que tudo ficou pronto, voltou para o quarto e se colocou ao lado da cama que ficava à direita da sua. Tudo que podia ver eram algumas mechas de cabelos ondulados e castanhos escapando do cobertor. Isso era resultado de Kaori e sua mania de dormir dentro de um casulo de cobertores. Estarei pronta bem cedo ela dissera?

Delicadamente ele cutucou o montinho de pano, obtendo reação zero. Mais uma vez ele cutucou e pôde perceber um sutil movimento.

– Bom dia flor do dia – Kakashi disse alegremente – Vamos acordar?

– Hummm...

Depois dessa resposta esclarecedora, o ninja começou a suavemente deslizar seus dedos pelo cobertor, como se ameaçasse começar uma sessão de cócegas.

– Vamos querida, não me obrigue a agir. Você levanta por bem ou por mal.

Ele viu o cobertor deslizar, revelando um par de olhos castanhos e sonolentos, mas também desafiadores, e sabia o que aquilo significava. Kakashi sorriu por baixo da máscara.

– Se é assim, você tem dois segundos de vantagem.

Mal ele acabou de falar, Kaori pulou da cama e saiu do quarto em disparada. Pra qualquer um que olhasse ela era um borrão amarelo por causa da cor de seu pijama. Essa perseguição sem sentido era um hábito que ela e seu onii-san criaram sempre que tinham que acordar cedo demais e ela se recusava. Antes era apenas uma brincadeira, agora era um treino matinal. Assim que ela passou pela porta Kakashi saiu em seu encalço, obviamente sem usar sua velocidade máxima, ele apenas ia pressionando Kaori mais e mais, testando seus limites, e sentindo orgulho ao constatar que ela melhorava a cada dia.

A perseguição se estendeu até a sala, eles pulavam por cima do sofá, da bancada da cozinha e da mesa e, sempre que Kakashi se aproximava muito, Kaori dava um jeito de se esquivar. O ninja tinha que admitir: a garota era escorregadia.

Já começando a se sentir encurralada, mas se negando a perder tão facilmente, Kaori decidiu fazer algo completamente inédito. Ela agarrou um dos pratos que estavam em cima da mesa e o atirou contra a parede. Com uma velocidade ímpar, Kakashi conseguiu pegar o prato antes que este se espatifasse em vários pedaços e Kaori aproveitou o momento de distração para pular pela porta da sacada e correr pra rua. Vendo aquilo a surpresa de Kakashi só não era maior que sua animação.

– Ah, então é assim, né?

Ele rapidamente pulou a sacada e viu sua imouto pulando pelos telhados em direção ao centro da vila, seguindo-a no mesmo instante. Obviamente, eles estavam atraindo bastante atenção afinal, um adulto perseguindo uma criança, sendo que ambos estavam usando pijamas, às seis da manhã, não era algo comum.

Velocidade superior de Kakashi estava diminuindo a distância entre ele e sua “presa”, mas Kaori não era estúpida e sabia que não poderia correr para sempre, então era hora de colocar seu plano em ação. Pulou um último prédio e foi em direção ao chão.

Por um segundo ela sumiu do campo de visão de Kakashi e, quando ele se aproximou da beirada do prédio atrás do qual ela tinha sumido se deparou com algo que não esperava. Uma multidão de pescadores e comerciantes.

Como Konoha ficava muito longe do mar os pescadores vinham todos juntos em uma determinada época do ano para vender peixes. Agora Kakashi estava no mercado de peixes e era dia de abastecimento, o que significava uma praça cheia de pessoas que falavam muito alto. O ninja deu um sorriso.

– Espertinha – ele sussurrou.

Isso dificultava significantemente sua tarefa. Ele analisou cada um naquela multidão procurando por algo que a destacasse, talvez seu rosto ou seus cabelos ondulados ou... um par de pernas vestindo calças de moletom amarelas. Depois de dar uma rápida olhada ele percebeu que Kaori estava usando um chapéu de cor escura e um casaco marrom, fazendo com que ela ficasse praticamente invisível no meio daqueles homens com roupas praticamente iguais.

Como se sentindo um par de olhos díspares sobre si a garota olhou na direção de seu perseguidor e percebeu que seu disfarce tinha sido descoberto. No mesmo instante ela correu entre os comerciantes tentando fugir. Kakashi começou a correr por cima das construções que ladeavam a rua, mas sem perder contado visual com Kaori, assim, sem a obstrução da multidão, ele a ultrapassou. Deu um pulo e parou alguns metros a frente dela vendo o desespero tomar conta de seus olhos, antes de ela se jogar para uma rua lateral, bem mais vazia, e correr em direção à floresta.

Kakashi tinha de admitir que essa era a perseguição mais longa que já tivera com sua imouto e não podia estar mais orgulhoso. Ela parecia complementar sua inabilidade com chakra sendo muito esperta. Mas ele ainda era um ninja de elite e não podia permitir que isso continuasse para sempre.

Quando Kaori estava a poucos metros da orla da floresta ele se atirou sobre ela e ambos caíram no chão, sendo que Kakashi fez isso com a certeza de que ele caísse de costas, impedindo que ela se machucasse. Agora eles estavam deitados na grama e ele podia escutar a respiração ofegante dela, mas ainda não havia acabado. Como sempre acontecia, assim que Kakashi a pegava ele tinha de tortura-la. Movendo as mãos rapidamente ele as levou até as costelas da menina e começou com uma sessão cruel e impiedosa de cócegas, fazendo com que risadas histéricas explodissem dos lábios dela. Kaori se contorcia de tanto rir e começava a ficar sem ar.

– HAHAHA N-Niisan HAHA – ela suplicava entre as gargalhadas – P-pare HAHAH onegai!!

Depois de mais alguns segundos de diversão, Kakashi teve misericórdia e parou. Ele ouviu quando Kaori começou a arfar e dar algumas risadas cansadas.

– Dessa vez – ela disse de forma arrastada – eu quase consegui.

– Foi um bom plano. – ele respondeu com sinceridade – Mas onde você arrumou essas roupas? Não roubou de ninguém, não é?

– Claro que não! – ela respondeu, virando o rosto para que pudesse olhá-lo – Eu peguei emprestado com um vendedor de dangos que é meu amigo.

– Hum. Foi inteligente. Há quanto tempo planeja isso?

– Tive a ideia semana passada, quando lembrei que o dia do abastecimento estava chegando, e escondi o disfarce num beco ontem à noite.

– Bom, foi quase um Henge no jutsu – Kakashi elogiou.

– Obrigada – Kaori agradeceu alegremente, então se sentou e franziu o cenho – Mas como você me achou?

– Bem – o ninja respondeu, se sentando também – Da próxima vez não use calças tão chamativas. – ele riu ao ver Kaori soltar um suspiro irritado, então ficou de pé e continuou – Mas sua tolerância à cócegas ainda é péssima. Sabe que ninjas devem ser resistentes à tortura.

Kakashi estendeu sua mão e ajudou ela a se levantar enquanto a ouvia retrucar.

– Sei disso. Mas acho que se Ibiki-san usasse cócegas para fazer os interrogatórios todos iriam confessar.

– Eu concordo – Kakashi respondeu com um sorriso.

Assim, os dois voltaram para casa, passando na loja de dangos para devolver as roupas, é claro. O copy ninja se viu obrigado a arrastar sua imouto até em casa com a advertência de que ela só comeria dangos depois do almoço. Então eles finalmente tomaram café-da-manhã, um banho e se prepararam para mais um dia de treinamentos.