Gollum's escape

Passada algum tempo após o interrogatório de Smeagol, quando o mago finalmente se fora e deixara-o em sua cela, resmungando sobre qualquer coisa que ninguém, nem os guardas ou os prisioneiros que com ele estavam conseguiam entender, Calion, filho de Caranthir, que fazia vinte anos estivera encarcerado nos salões do Rei Élfico, alimentando a perda de seus amigos e o ódio a Elladan, Elrohir e a todos da casa de Elrond, buscava de algum jeito escapar e vingar-se daqueles que o haviam desafiado. Não sentia ódio de Arwen, Undómiel, apesar de irritar-se por ela ter fugido e possuir a sensação de que ela o trocara por um mero mortal. Na verdade imaginou que com o tempo, ela esqueceria Aragorn.

As reclamações de Gollum começaram a irritá-lo, e logo ele disse em voz alta à criatura para calar a boca.

— Ou eu mesmo arrancarei sua língua! — Ralhou.

Gollum bufou e tossiu, reclamando algo sobre um tal de "precioso".

— Eles o roubaram... — Choramingava. — Ladrões, Bolseiros! Levaram o meu precioso...

Calion suspirou vencido ao notar que a vil criatura não se calaria.

— Também me tiraram algo precioso. — Respondeu-lhe, então Smeagol finalmente se aquietou. Ele o pôde ouvir aproximando o rosto da grade da cela para ouvir melhor o que dizia. — Os amigos do mago.

— Mago cruel! - Afirmou. — Não liga para nós, precioso... Gollum! Gollum! — Calion franziu o cenho. — Cruel e mau, como o grande olho. Não, o mago de muitas cores, precioso. Não... Ele anda à noite na floresta. Ele cuida de nós. Sim! Sim, meu precioso!

— Mago de muitas cores? O grande olho?

A criatura assentiu com a cabeça e mostrou-lhe um sorriso perverso.

— O mago de muitas cores, ele não vai deixar Smeagol aqui. Não com elfos nojentos, precioso... Ele vai nos salvar. Na noite da grande Lua.

Se não estivesse delirando, Smeagol, ou Gollum, estava contando-lhe sobre um plano de fuga? Afinal... Talvez a coisa não fosse assim tão simplória e inútil como pensava. Fizera então um trato. De que ajudaria para que ele fosse liberto, se Gollum convencesse ao tal mago, se de fato existisse a levá-lo com eles quando fosse a hora.

Na terceira noite após essa conversa, e logo após a saída dos gêmeos Elladan e Elrohir, um grupo de orcs invadiu a Trevamata. Acontece que o mago cinzento Mithrandir deixará instruções para o povo de Thranduil tratar Gollum com dignidade, na esperança de que um dia ele melhore e erradique todo o mal dele. Para tanto, os elfos costumavam levá-lo para passear na floresta durante o dia, deixá-lo subir em árvores e até mesmo deixá-lo interagir com crianças élficas, que inicialmente tinham medo dele, mas depois começaram a desenvolver ressentimento e simpatia. Durante a saída, Sméagol colocou em ação seu plano de fuga. Ele quebrou a fechadura da cela de seu parceiro e seguiu os elfos pela floresta como sempre.

Naquele dia, ele subiu em uma árvore muito alta e conseguiu ver o outro lado da floresta. Mas o dia estava prestes a terminar e quando os elfos lhe pediram para descer, ele recusou. Os elfos da floresta a conhecem bem, mas a paciência não é uma de suas grandes virtudes. Eles ficaram de guarda perto da árvore até escurecer. Eles não estavam dormindo, mas isso não o preocupava. Ao amanhecer eles ouviram gritos e uivos vindos da borda leste da floresta, e foram emboscados pelos wargs e orcs de Dol Guldur, que os lutaram até o amanhecer e os expulsaram de volta ao lugar amaldiçoado de onde vieram. Eles finalmente voltaram sua atenção para a árvore que servia de abrigo para Sméagol, temendo que os orcs o tivessem matado, ou pior, percebendo com horror que a criatura havia sumido.

Na verdade, depois de escapar com a ajuda de Gollum, o filho de Caranthir, vestiu uma túnica escura com capuz semelhante à de um guarda, deixou o castelo do Rei Elfo e foi para a floresta. Lá ele encontrou Sméagol sozinho, segurando um galho de uma árvore, incitando-o a descer antes que os elfos retornassem. Ao amanhecer, finalmente chegaram ao fim da floresta. Eles vagaram para o sul por alguns dias, com a intenção de seguir em frente. Sméagol não gostava de sol, E sua luz o incomodava tanto quanto os vinte anos que passou na prisão e, pior, não queria que ninguém o reconhecesse. Por isso avançavam sempre à noite, até que no início do último mês daquele ano chegaram a Isengard, onde, diz Sméagol, vivem o chamado mago de muitas cores. Calion ficou surpreso ao descobrir com seus próprios olhos que o mago ao qual a criatura se referia não era outro senão Saruman, o Branco, ou Saruman, o Sábio.

— Vejo que tem feito amizade. — Disse o mago, olhando para ele surpreso. — E é um Elfo?!

— Sou Calion, senhor. Neto de Caranthir, filho de Fëanor. Estive por vinte anos trancado nos salões do Rei Thranduil em Trevamata.

— Bem sei. — Respondeu Saruman. — Como também o havia visto antes de sua chegada, filho de Caranthir...

— Então... O senhor pode me ajudar?

— Talvez. — E Saruman fez sinal para que ele o seguisse. Àquelas alturas, esqueceram-se completamente de Gollum. A criatura perdera-se para dentro da dispensa do mago e banqueteava-se com qualquer comida que houvesse lá. Calion não lhe deu atenção. Seguiu Saruman até um salão redondo no qual havia um pequeno pedestal e um objeto esférico coberto por um manto. — Sei o que procura, filho de Caranthir. E garanto a você, não o condeno por isso. Pois também és inimigo daquele que se opõe a mim.

— Estel. — Ele repetiu o nome com asco. — Não passa de um tolo mortal. O que teria contra ele?

— Ele me tem algo precioso. — Murmurou o mago. A expressão de Calion era duvidosa, então Saruman sentiu-se forçado a explicar-lhe. — Vejo que você, pouco sabe sobre isso. Em verdade, o homem mortal a quem chama de Estel, não é quem diz ser. Seu nome verdadeiro é Aragorn, e é filho de Arathorn e herdeiro de Isildur, verdadeiro rei de Gondor.

Quando o mago lhe disse estas palavras, foi como se uma venda deixasse seus olhos. Agora tudo fazia sentido. Sua rejeição por parte de Arwen, o fato de Elladan e Elrohir bajularem aquele estúpido mortal ao qual eles chamaram "esperança", o fato de que Elrond com frequência refugiava humanos em Imladris e que agora tenha "adotado" Aragorn como filho e mudado seu nome, provavelmente para que seus inimigos não adivinhassem de que se tratava dele: O herdeiro de Isildur. As coisas finalmente começaram a se encaixar e sua raiva tornou-se ainda maior. Aquelas circunstâncias eram injustas! Como poderia ele competir com o homem cujo destino era o governo de Arda? Sentiu seu estômago embrulhar e sua feição tornou-se carrancuda e amargurada.

Saruman sorriu ao ver o que suas palavras causaram nele. E acrescentou:

— Como poderia competir com ele? O homem de quem falam quase todas as profecias da terra média.

— Continua sendo um tolo mortal. E não durará muito mais que um século. — Murmurou. — Ele vai morrer uma hora.

O mago riu, então descobriu a palantir e pôs uma das mãos sobre a pedra, que se acendeu e mostrou o céu límpido. A imagem mudou e agora ele via a casa do Senhor Elrond em Valfenda, aproximou-se e agora a ponte que ligava a floresta de pinheiros à casa, de onde se podia ver a cascata do Rio Brandevin. Arwen estava sobre a ponte e parecia olhar para ele. Seu olhar era claro e puro, um sorriso genuíno surgiu em seus lábios vermelhos. Calion ficou confuso com essa visão, teve a sensação de que ela o podia ver, mas julgou ser apenas um truque de Saruman, então ela olhou para o lado, e seu sorriso se alargou ainda mais. Estel, ou Aragorn, surgiu do leste e a abraçou, deixando vários beijos em seu rosto, como quem cumprimenta sua amada após anos de separação. Ele desviou o olhar quando os viu se beijarem sobre a ponte. Saruman sorriu novamente e disse:

— Sim… Ele certamente morrerá. Mas não pense que o amor Arwen morrerá com ele.

— O que vou fazer? — Indagou. Seu corpo tremia de raiva. — Ela me rejeitou. Não é a mim que ela deseja.

O mago concordou.

— Talvez… Mas ainda há esperança. Arwen planeja rejeitar a dádiva dos Eldar, seu amor por Aragorn a cegou, ela não pensa com clareza. Não sabe o que é a mortalidade. — Então tornou a cobrir a pedra e olhou-o com seriedade. — Você, filho de Caranthir deve fazê-la recobrar a razão. Faça com que ela esteja a bordo quando o último navio dos primogênitos partir para o Oeste, se assim for, talvez você tenha chance de tê-la para si, na terra abençoada. Se não… Irá perdê-la para sempre. E não a verá nem mesmo depois de sua morte, pois os elfos que escolhem ser contados com os homens, não podem podem navegar para o crepúsculo, e apenas Eru Illuvatar sabe de seu destino.

— Farei isso. Matarei Aragorn, e então a esperança dela na Terra Média e na mortalidade se esvairá.

— Você tem meu apoio. — Garantiu Saruman. — Quero a cabeça do descendente de Isildur.