Namarië

Aragorn levantou-se e saiu o mais rápido possível. Ele não tinha medo de Elladan, ou talvez tivesse. Quer dizer, ele e Elrohir até trabalharam juntos para assustar os orcs. De qualquer forma, ele estava certo. Ele tinha que contar a Arwen o que estava acontecendo, ou pelo menos dizer adeus a ela de uma forma decente. Quando finalmente a encontrou, ela retornava de uma cavalgada pela floresta no cavalo preto de Elrond e estava voltando sozinha da Mata de Pinheiros. Ao chegar perto dos estábulos, ela desmontou e Aragorn foi ao seu encontro, parecendo um pouco preocupado.

— O que lhe deu coragem? — ela perguntou.

— o que?

— Você me ignorou o dia todo.

— Eu não te ignorei, eu só... Eu me distanciei. Mas seu irmão me ameaçou. — Ele confessou e se aproximou um pouco mais. — Eu acho que deveria ter vindo antes.

— Provavelmente. – Arwen concordou.

— Mas seu pai me aconselhou a não falar com você.

— Ele também me disse a mesma coisa. Mas ele também disse que sabia que eu nunca iria ouvi-lo.

Ele sorriu e a abraçou com força, pressionando seu corpo contra o dele. Arwen passou os braços em volta do pescoço dele e o beijou apaixonadamente. E quando seus lábios se separaram, ela ainda não parecia pronta para se afastar.

— Você promete voltar?

Aragorn assentiu.

— Eu prometo. E quando tudo isso acabar, vamos nos casar. E ter tantas crianças que seu pai vai enlouquecer.

Ela riu. Elrond ficaria louco só de ouvir isso. Aragorn ficou sério por um tempo, mas finalmente criou coragem para se despedir.

— Adeus, Arwen.

Ela negou com a cabeça. Afastou um passo para trás, mas manteve os olhos nos dele.

— Não dizemos "adeus", dizemos: Namárië.

— Namárië. — Falaram juntos.

Eles partiram ao amanhecer. Era o primeiro dia de inverno e as colinas já estavam cobertas de neve. Um vento frio soprou por Imladris. Elrond, Lindir e Arwen o acompanharam até a saída do vau a cavalo. Elladan e Elrohir finalmente pareciam animados. Porque, como todos já sabiam, nada os deixava mais felizes do que a “oportunidade” de matar alguns orcs, se possível. Eles cavalgaram logo atrás de Elrond, Daeron, Aragorn e sua irmã, que não parecia muito feliz com a partida deles.

— Nós vamos sentir sua falta. — Disse Elrohir. — Mas não precisa ficar triste, juro que traremos uma cabeça de orc para você.

— Anh... Você não precisa ser tão nojento, sabia? — Ela retrucou, fazendo-o rir.

— Vamos garantir que Aragorn volte inteiro. — Garantiu Elladan. — Ou ao menos vivo.

— Voltem vocês também. — Pediu. — Nai anar kaluva tielyanna [ Que o sol brilhe sobre seu caminho ].

Namárië, mesta an ni véla tye ento [Adeus, até que eu a veja de novo] — Elladan segurou sua mão e a soltou, cavalgando para longe. E em seguida, seu irmão fez o mesmo, despedindo-se:

Namárië ninya onónë! [Adeus, minha irmã!]

Ela os deixou passar, sua única interação com Aragorn foi um contato visual rápido e intenso antes de vê-lo e a seus irmãos desaparecerem no horizonte. Ela sentou-se imóvel em seu cavalo, lembrando-se da conversa do dia anterior, e quando eles estavam fora de vista, Arwen e seu pai retornaram ao vau em silêncio. As noites eram mais frias que as manhãs, e apenas alguns rebentos eram vistos andando por aí.

Depois de uma semana, tudo o que restou no Vale Imladris foi silêncio e calma, exceto o som da cachoeira descendo a montanha. Arwen tentava se divertir examinando antigos escritos e profecias de manhã à noite na biblioteca de seu pai, às vezes adormecendo nos móveis macios com um livro velho no colo. Foi assim que seu pai a encontrou um dia, no meio da segunda semana. Ele riu sozinho, mas estava preocupado que ela pudesse estar muito aflita por seus irmãos e Estel, então tentou distraí-la com essas coisas. Na verdade, ele pensava que a distância e o tempo a deixariam cansada de seu amor por Estel.

— Acorde, Arwen. — Ele sussurrou, sentando ao lado dela, e pegando o livro que ainda tinha nos braços. — “A Lenda dos Anéis do Poder”? — Ele franziu a testa e olhou para a filha que já estava acordada e olhando para ele com calma. — O método para atrair pesadelos está em dia.

— Eu estava entediada.

Ele acenou com a cabeça.

— Esta manhã sua avó chegou de Lothlórien. Ela está sentindo sua falta. Ela também me xingou de todos os nomes malditos por não falar sobre a bagunça de Calion.

— Não deveria esconder as coisas dela. — Ele concordou.

— Não, não deveria. — Levantou-se e devolveu-lhe o livro. — Estaremos aguardando você para o desjejum. Não demore.

Galadriel era Senhora de Lothlórien, mãe de Celebrían, esposa de Elrond, e ela, pelo menos fisicamente, raramente saía de casa. Na verdade, os Elfos da Floresta Lórien têm pouco contato com pessoas fora os Eldar e, talvez por esta razão, poucos deles falam a língua comum ou se aventuram além de suas fronteiras. Mas naquela temporada, o crescimento de Mordor e a notícia do retorno do Anel do Poder a perturbaram bastante. Também se acreditava que banir o bruxo de Dol Guldur de alguma forma arrancaria a Floresta Negra do mal que ali crescia, mas isso se mostrou ineficaz.

— Mithrandir mantém o anel escondido. — Disse ela. — Mas não sei por quanto tempo permanecerá assim. Os servos do inimigo vasculham cada canto dessa terra em busca do Um.

Elrond pareceu perturbado com aquelas notícias.

— Há chances de encontrarem?

— Bem, nós o achamos, não é? — Suspirou. — Ele me disse que há... Uma criatura. Gollum, que ele sabe onde e com quem está. Mas não o encontramos em parte alguma. Talvez já esteja nas mãos dos servidores de Sauron.

— Ou talvez esteja morto. — Ele desejou que sim com todo seu coração. — E se assim for, melhor será para todos.

A expressão de Galadriel, no entanto, não tornou-se mais suave.

— E quanto a Aragorn? Disse a ele o que precisa fazer? — Ele concordou. — Bom. Espero que nossas previsões estejam certas, caso não for assim, precisaremos partir.

— Vamos de qualquer maneira. — Ele disse sério. — Só espero que sua vitória seja certa. É por isso que quero ajudá-lo. Mas temo que ele esteja lentamente se desviando desse caminho.

Galadriel riu.

— Está falando de Arwen? Não vejo dessa forma.

— Pois eu sim. — Reclamou. — Ela é minha filha, e eu não suportaria que fôssemos separados por... Uma estupidez.

— Elrond... — Ela não conseguiu segurar o riso. — O amor nunca é estupidez. — Elrond abriu a boca para falar, mas ela se adiantou. — Lembra-se de quando Celeborn descobriu seu romance secreto com nossa filha? Ele...

— Me infernizou por dois benditos séculos. — Riu. — O detestava por isso. Ele nunca foi a favor.

— E se tivesse escutado ele, não chegaríamos a esse momento. — Ela levantou os olhos em outra direção, interrompendo imediatamente seu discurso, então olhou para a porta, por onde Arwen passou depois de alguns segundos. — E aí está a preguiçosa!

— Já estão me difamando há essa hora? — Sentou-se de frente para eles. — Sobre o que estavam falando que precisaram parar quando cheguei?

Galadriel olhou para Elrond e depois para ela.

— Estava dizendo a seu pai que gostaria que passasse mais algum tempo comigo em Caras Galadhon. O que acha?

— E eu dizia à sua avó que faz pouco mais de um ano que chegou. — Reclamou Elrond. Obviamente não era aquele o objetivo da conversa, mas ele entendeu o que a bela Senhora de Lórien estava fazendo. — Claro, eu não me importo se você for.

— Ele está com ciúmes. — Brincou Galadriel.

— Não, não estou.

— Eu o conheço a mais tempo que você próprio, Elrond.

— Por Eru... — Ele cobriu o rosto envergonhado.

— Eu posso ir com ela, Adar. — Arwen finalmente se pronunciou.

— Certamente. Você precisa mesmo se ocupar com algo. Então, que seja! Partirá pela manhã e por favor, leve sua avó para longe de mim.