Immortal Star

O Peso da Liderança - Parte 2/2


(Continuando...)

Mumu caiu antes de chegar no oponente e desceu o martelo com tudo no chão à frente dele. O impacto foi realmente impressionante. Toda a energia mágica foi mandada para o ringue de uma só vez, fazendo-o o tremer. Uma onda mágica e pequena saiu em todas as direções do local do impacto, criando um pequeno terremoto que só afetou Vinny.

Se esse golpe fosse feito inteiramente para tirar o equilíbrio do oponente, não teria afetado o samurai, já que ele enfiou a katana no chão mais uma vez, criando um apoio para não ir de cara no piso. Mas esse golpe não trouxe só o impacto e o tremor. Ele trouxe mais dor. Uma que Vinnicius tinha acabado de sentir.

Mais uma vez, todos ouviram o Líder da Zero Soldier gritar por sua vida, enquanto era eletrocutado. Da onde veio o choque? Da onda, oras! Essa era a ideia de Mulkior. Ele sabia que usar uma técnica que Vinny não conhecia seria a melhor opção, mas ele também teria que usá-la em um momento apropriado.

Mais uma vez Vinnicius foi ao chão, de joelhos. Sua respiração estava rápida e a tremedeira voltou a assolar não só o seu corpo, como sua mente e estado de espírito. Ele tinha passado por um rígido treinamento nesses últimos tempos, quase não tendo uma hora para descansar ou se divertir. Ele lembrou a causa de ter passado por tudo aquilo. Apertou a empunhadura de sua espada e forçou seu braço.

Sim, existia um motivo maior para ele estar naquele torneio. Ele não tinha contado para o amigo, pois não saberia como seria a sua reação. Talvez ele contasse depois que tudo isso estiver acabado. Depois que os dois puderem rir juntos de novo e voltar a lutarem juntos. Não um contra o outro. Não um jogando toda a força contra o outro, com duas vontades tentando se matar ali naquele ringue dos infernos.

Vinny ficou de pé novamente, criando surpresa em muita gente. Mumu, junto com ele, respirava rápido e tentava reganhar o fôlego. Eram dois lutadores resistentes e insistentes. Não deixariam acabar a batalha por ali. Não, não.

Algumas pessoas que assistiam aquela luta tinham certeza absoluta que eles ainda viriam muita luta pela frente. Era mais ou menos isso que Pablo gritava em seu microfone. Falava do equilíbrio da luta e que todos ainda teriam muitas trocas de golpes para vislumbrar. De fato, ele não estava errado.

Vinncius guardou sua katana novamente, concentrando energia. O mago oponente foi pego em um relance de percepção. Ele não podia deixar Vinny atacar! Ele se lembrou agora! Sabia muito bem o que essa katana fazia!

Engolindo saliva e respirando fundo, Mumu empunhou seu martelo e fez uma corrida curta na direção do oponente. Os dois estavam muito próximos um do outro, na verdade. Três passos depois, Mumu já estava na frente de Vinnicius. Seu martelo estava voando para trás, pegando impulso para um novo golpe.

Foi quando os olhos do samurai brilharam. Seus músculos se enrijeceram e segurando a katana com toda força que tinha, ele fez um saque super rápido. Não era magia! Vinny tinha enganado o amigo direitinho!

A lâmina criou um arco com seu golpe, cortando os dois braços de Mulkior ao mesmo tempo. Sentindo a dor intensa, o mago pulou para trás, deixando um pequeno rastro de sangue pelo caminho. Não adiantou nada ele ter ficado nervoso com o novo machucado.

Quando ele olhou para frente novamente, percebeu que Vinny já tinha embainhado sua katana novamente, voltando a concentrar energia mais rapidamente. Agora já era tarde demais para que Mumu conseguisse voltar a atacar e parar aquela concentração à tempo.

TÉCNICA DE SAQUE DA ESCOLA YOKOTSU - CORTE AMPLIFICADOR!

O saque foi feito mais uma vez. Assim que sua katana foi retirada da bainha cortando o ar, uma onda roxa apareceu magicamente em sua frente, e depois voou para cima e então para trás. E então para baixo. Sim, a onda foi e voltou para o corpo de Vinny, o envolvendo em uma nova aura da mesma cor da lâmina de sua katana. E... Foi só isso que aconteceu.

Algumas pessoas, mais especificamente os fãs e torcedores da Zero Soldier, ficaram desapontados com aquilo. Eles esperavam um novo tipo de onda mágica que engolisse Mulkior e que o tirasse de combate de uma vez. Mas não. Não havia tido ataque nenhum. E a katana roxa dele ainda havia tido o mesmo destino das outras! Agora ele estava desarmado e sem ter dado nenhum golpe novo! O que ele estava pensando?

Mumu poderia responder àquela pergunta. Ele sabia o que era aquilo. Tinha enfrentado essa magia muitas vezes. Aquilo não era necessariamente uma magia de ataque. Era uma magia de reforço!

Vinnicius fez outra coisa inesperada enquanto o mago se perdia em preocupação. Ele guardou a katana, virou as costas e... CORREU! Sim, correu. Mas não só correu. Correu concentrando energia no braço direito.

O mago membro da Immortal Star fez de tudo para sair de seu transe criado pela aleatoriedade da ação do amigo. Segurou seu martelo firmemente e começou a correr atrás do colega. Vinny estava correndo bem pelo canto do ringue. Mumu era um bom corredor, mas nunca alcançaria o colega daquele jeito. E isso deixou o mago bem puto da vida.

Ele parou a sua corrida retirando mais uma esfera de sua bolsa. Foi para o meio do ringue e depois de concentrar energia, usou mais uma de suas magias.

TIRO DE METAL - FOICE!

A esfera cinza foi atirada com a força do braço direito de Mulkior. Ela viajou por poucos metros antes de se transformar em uma foice que exibia tanto graciosidade em sua simplicidade, como morte. A foice de ferro foi girando rapidamente na direção do samurai, que quase não percebeu a distância que já se encontrava daquela magia.

Vinny se atirou para frente, caindo com tudo no chão, deixando a foice passar por ele e voar até cair no chão fora do ringue, cinco metros depois. O samurai se levantou, exibindo uma grande aura de energia ao seu redor. Ele não tinha perdido a concentração depois que se jogou.

Mumu se manteve parado no meio do ringue, só na observação. Não tinha entendido o porque do amigo ter corrido do nada. Queria ter tempo para se concentrar? Poderia ser... Mas geralmente Vinny se concentrava mesmo atacando seus oponentes. Era suspeito.

E agora ele estava ligeiramente longe. O que pretendia fazer daquela distância? Mesmo que quisesse atirar alguma coisa de lá, Mumu teria muito tempo para criar uma defesa melhor!

Assim que Vinnicius levantou o braço e passou sua energia para lá, Mulkior entrou em uma posição defensiva. Mesmo que eles estivessem longe um do outro e que ele tivesse tempo para se defender, o mago não criaria chances para um erro.

TIRO DE CRISTAL - WULFENITA!

Assim como sua outra magia atirada mais cedo, uma grande bola cheia de energia incolor se formou em cima de sua mão levantada. Tinha uma clara diferença dessa vez: o tamanho da bola. Era duas vezes maior. Talvez para todas as criaturas vivas e que poderiam enxergar algo, saberiam que "quanto maior é alguma coisa, mais perigo ela trás".

A grande esfera não ficou incolor por muito tempo. Logo ela foi ganhando uma coloração amarela. Foi escurecendo cada vez mais até ficar totalmente laranjada. A primeira coisa que passou pela cabeça do mago controlador de metal foi: "Merda, eu nunca vi essa magia!". A segunda coisa que passou por sua cabeça só poderá ser descrita depois que a magia da Garra de Cristal foi, de fato, criada e atirada.

Aquela enorme esfera laranja foi se transformando em outra coisa. Foi se transformando na mais conhecida e pura forma de cristal que existia. Tinha duas pontas afiadas nas extremidades. Era grande o suficiente para perfurar um elefante de fora a fora. Grande e poderoso. Com energia mágica concentrada além da imaginação. E aquela coisa estava apontada para o corpo humano do Líder da Immortal Star.

E depois, o óbvio aconteceu. O cristal laranja foi disparado. Não havia muita velocidade em seu voo. Passaram muitas ideias pela cabeça do mago naquele momento. Daria para atirar algo contra aquele cristal gigantesco. Adiantaria? Não. Havia poder mágico demais lá e qualquer arma que fosse atirada contra ele resultaria em total perda de tempo e energia.

Defender com o seu martelo mágico? Era uma opção razoável. Mas ainda sim, perigosa. Era uma magia que ele não conhecia, então poderia haver um efeito a mais que acabasse deixando em desvantagem caso tentasse se defender com o martelo.

Criar seu poderoso escudo-torre? Essa era a opção mais razoável que ele teve no momento. Mas... Será que o escudo aguentaria tamanha magia? Aquele escudo era poderoso o suficiente para defender um cometa, mas ainda sim, havia limites. Não, não, não. A melhor opção era escapar.

Mumu usou toda a força que tinha e até a que não tinha para dar o maior salto para trás de sua vida. O cristal encontrou o piso do meio do campo que não teve resistência o suficiente para aguentar tamanho poder. A ponta do cristal laranja foi enterrada naquele lugar como se fosse um mastro de ferro sendo enterrado na areia. Mulkior se viu na frente daquele cristal imenso e, agora sentindo toda a intensidade de energia que aquela magia carregava, ele chegou na conclusão de que se esquivar tinha sido a sua melhor opção.

Era isso que tinha sido a segunda coisa que havia passado em sua cabeça. Talvez se ele tivesse visto Vinny nessa hora... Mas o cristal impedia que os dois lutadores se vissem. Mas então, se Mumu tivesse visto o colega de combate naquele momento, talvez isso que aconteceu agora não teria sido tão terrível assim. Vinnicius estava com um sorriso vitorioso em seu rosto.

O cristal laranja brilhou intensamente ainda com o mago do lado dele. Mumu sentiu o aumento espontâneo de energia sendo liberada daquela coisa monstruosa, mas mesmo assim, não sabia o porquê. Quando ele descobriu, seu corpo já havia sido atirado a muitos metros de distância.

Isso porque o cristal explodiu, liberando toda sua energia mágica concentrada em todas as direções. A explosão foi tão grandiosa, que até o ar sumiu de uma só vez. O barulho, junto com a visão da explosão criou mais gritos de pavor nos espectadores. Eles ainda não tinham esquecido do medo que sentiram na luta anterior.

Mas por mais que essa explosão tenha sido grande, não chegou a dispersar a barreira mágica que os protegia. Dentro do campo de batalha sim, tudo tinha sido modificado. As tendas médicas ficavam atrás dos pilares de contenção, então não eram afetadas pelas magias que não ultrapassarem a barreira, mas isso não significava que elas não seriam afetadas pelo vento que foi criado com a explosão.

Os médicos que cuidavam dos machucados tiveram que segurar as pontas das tendas para que elas não voassem e destruíssem seus equipamentos e afetasse os seus pacientes. Por sorte, nada ocorreu com nenhuma tenda, de ambos os times. Mas e Mumu?

Naquele momento, Mulkior estava sentindo uma dor tão absurda nas costas que ele poderia morrer que seria menos doloroso. O mago também não fazia ideia do que tinha acontecido com ele mesmo. Por que o mundo parecia todo errado?

Com tamanha dor, ele tentou se empurrar para que suas costas não doessem tanto. Foi aí que ele descobriu que estava de cabeça para baixo. Seu corpo caiu no chão por completo, trazendo mais dores ainda. Ele tossiu várias vezes, sentindo uma facada nas costas a cada tossida.

O homem já tinha sentido aquela dor angustiante antes. Eram costelas quebradas. Além daquilo, ele sentia todo a frente de seu corpo queimada. Parecia que alguém tinha passado uma tocha incandescente pelo seu corpo. Sua camisa havia virado pó. Seu cabelo estava ressecado e quebradiço. Mas a dor... Era tudo o que importava naquela hora.

Ele tentou se levantar e não conseguiu. Ficou lá de quatro, tentando amenizar a dor com a própria força de vontade. Estava difícil de se mexer, estava difícil de respirar. Enquanto olhava para o chão, ele se tocou de outra coisa. Aquele não era o chão do ringue de batalha!

Ele levantou a cabeça e procurou o Telão Informativo. O encontrou exibindo um grande "5". Ele estava fora do ringue e iria perder. Não! Perder não! Jamais! Iria vencer! Precisava vencer! Precisava fazer todo o time ficar orgulhoso dele!

Forçou os braços e se levantou. A dor foi bem pior agora. Então Mumu fez algo que nem ele mesmo esperava fazer. Ele olhou para cima e deixou sair um grito. Era alto. Continha dor e raiva. Depois de ter assustado um bocado de gente, ele começou a andar em rápida velocidade para o ringue, e quando chegou na borda, ele se jogou para cima do piso branco, bem na hora que o Telão estava para mudar de "2" para "1".

Com o Apresentador dizendo que a luta continuaria, mais gritos foram ouvidos da torcida de todos os cantos do Coliseu. O mago machucado estava no chão, tentando se levantar mais uma vez enquanto Vinnicius, muito distante dali, concentrava energia em sua katana embainhada mais uma vez.

Não era necessário comentar que o samurai não estava acreditando no que estava acontecendo. "Nem aquela explosão tirou ele de combate!". É... Não. Nem aquilo tiraria o mais orgulhoso guerreiro do time Immortal Star do campo de batalha.

Vinny sabia que uma luta deles teria que terminar com um totalmente fora de combate, mesmo que isso demandasse atos extremos. Talvez estava na hora de um desses atos.

TRANSFORMAÇÃO DE CRISTAL - IKUSATACHI DIAMANTE!

Não houve maior brilho mágico saído da bainha de Vinnicius de La Kler do que esse. Mas o efeito inicial não fez sentido com o final. Assim que ele puxou sua nova katana para fora da bainha, a lâmina estava... Bem, não "havia" lâmina nenhuma.

Muitos dos torcedores chegaram a passarem a mão nos olhos, imaginando que eles que não estavam enxergando direito. Muitos óculos estavam sendo limpados e muitas perguntas estavam sendo feitas. Não havia katana! A magia tinha falhado? Era uma possibilidade. Por mais que fosse estranho que um guerreiro daquele nível fosse falhar em uma invocação de magia, ainda não se tratava de uma coisa impossível.

Não deixem seus olhos os enganarem. — disse Bart, sendo ouvido por todos e atraindo toda a atenção para sua voz. Parece que fazia muito tempo desde que sua voz tinha sido ouvida naquele combate. — A nova katana do Combatente Vinnicius é cristalina como vidro. Ela está imitando todas as características de um diamante de verdade. Mesmo que não possamos enxergá-la, lutadores perceptivos como eu conseguem senti-la.

Isso retirou muitos "Ahhhhh, então é isso!" do povo. De fato, quem conseguia perceber energia mágica sabia que existia algo ali naquela katana. Alguns, como Jimmy e Raziel, ainda conseguiam sentir um certo perigo intenso daquela arma.

Assim que Vinny deu o primeiro passo para frente, Mulkior ficou de pé. Ele não precisava da explicação de Bart para saber sobre aquela lâmina quase invisível. Ele a conhecia muito bem. Era a espada mais perigosa que seu amigo usava. O poder da katana de diamante era totalmente focado em corte e destruição. Nada impedia a lâmina daquela arma. Nada, nem mesmo a armadura que Mulkior se orgulhava tanto.

O mago, sabendo disso, começou a montar uma nova estratégia. Ainda havia a dor nas costas. Ainda havia um cansaço que pesava seu corpo como se ele estivesse carregando seis sacos cheios de pedra. Mas ainda haveria luta. Ele precisava engolir a dor. Tinha consciência de que lutar daquele estado o deixaria em uma situação crítica. "Como se eles também não tivessem passado pela mesma coisa!", pensou ele.

Vinnicius continuava vindo em sua direção a passos curtos, com um olhar mais do que desafiador. Mumu conhecia aquele olhar como ninguém. Ele queria dizer que a hora de resolver essa luta tinha chegado.

Era agora. A situação iria ficar perigosa daquele ponto em diante. MAIS perigosa ainda. Era por isso que ele tinha decidido usar "aquilo". Uma das maiores cartas na manga que Mumu tinha conseguido para aquela Final em específico. Tinha sido uma ideia criada e compartilhada pelo seu time. E que ideia! Aquilo poderia criar inúmeras situações vantajosas durante o combate, fosse ele curto ou prolongado.

O mago abaixou a mão direita até a calça, no lado direito. Logo abaixo da abertura do bolso lateral, havia uma um zíper escondido. Ele puxou o zíper para o lado, exibindo um pequeno bolso também secreto.

Usando apenas dois dedos, Mumu retirou uma esfera de metal de lá, depois puxou o mesmo zíper novamente. A esfera era maior do que as que Mulkior geralmente usava. Ah, e era de cor bordô. Exalava uma energia própria também, bem estranha.

Vinny parou seus passos curtos quando viu o colega apertando aquela esfera na mão e concentrando energia. A percepção do samurai parecia ter dobrado de poder. Ele sentia que aquela esfera tinha uma emanação de aura diferente do que a de seu velho amigo. Aquilo era claramente outra das coisas novas que Mumu tinha preparado. Mas no momento em que Vinnicius segurava a Ikusatachi, nada mais lhe preocupava. É o que iremos ver agora.

TRANSFORMAÇÃO ESPECIAL - ORLEANS!

A aura se intensificou e expandiu de uma só vez. Ela cobriu as duas mãos do mago enquanto o ferro avermelhado foi se transformando. Mumu juntou as duas mãos na frente do corpo em posição de reza, e a esfera parece que ia criando uma arma dupla, passando de uma mão para outra. As luvas de ferro que ele já usava normalmente foram sumindo dando lugar para uma nova luva.

Mas eram bem diferentes dessa vez. Pra começar, se tratava de meias-luvas. Eram feitas de um ferro maleável na parte da palma da mão, mas em cima tinha uma camada grossa e resistente que ia dos dedos até o braço, depois do pulso. Ah sim, a cor das duas luvas era a mesma que a da esfera. Então sim, eram um tanto chamativas.

Luvas de combate. Não era o estilo de Mulkior. Ele não gostava muito do fato de ter que manobrar os dois braços em conjunto para criar uma combinação de ataque. Sabia lutar desarmado, claro. Mas sua perícia não chegava nem perto de suas incríveis e precisas habilidades com a espada, por exemplo. Ele chegou a comentar sobre isso hoje de manhã, quando toda a estratégia estava sendo passada e repassada. Ele ainda lembra das palavras de San:

" — Existem diferentes maneiras de se usar uma mesma arma, mas eu tenho certeza absoluta que você entende isso melhor do que eu. Então... Para que esse plano dê certo, vamos usar o mesmo conceito que você e Kula usaram na luta de duplas. Vais levar esferas com nossa energia mágica acumulada para criar armas especiais. Isso não só vai te beneficiar com o quesito de economizar energia, como também vai te dar uma vantagem de surpresa, seja lá quem você for enfrentar."

A ideia tinha dado certo, inicialmente. Ele tinha conseguido transformar uma esfera com a energia mágica de San usando apenas um pouco da sua. A parte boa? Uma arma mais forte do que uma de Nível Dois onde Mumu não precisava usar quase nada de energia. Ele não estava acostumado com aquela arma, mas isso não era hora para fraquejar. Principalmente agora que Vinny tinha começado a correr em sua direção.

O filho fugitivo da família real de ferreiros não ficou lá parado esperando o amigo correr até ele empunhando uma espada assassina. O mago respirou fundo e também avançou. Logo no início da "corrida", ele percebeu o quão machucado estava. A cada passo que dava, sua costela mandava inúmeras mensagens para seu cérebro. Nenhuma dessas mensagens eram boas para serem lidas e a maioria delas continha só uma palavra.

Levando isso em consideração, o fato de Vinny atacar primeiro não era tão óbvio assim. O golpe inicial do samurai foi um corte horizontal único, impactante. Mumu levantou as duas mãos para cima, a frente do rosto. Usou a parte sólida das luvas para defender o primeiro golpe. E que golpe! O impacto foi tão poderoso que o mago foi jogado dois metros para trás, mesmo defendendo.

Depois de arrastar os pés no piso, Mumu olhou para as luvas, vendo o local de impacto. A katana de seu amigo tinha entrado um centímetro no ferro das luvas, provando que aquela maldita lâmina continuava sendo perigosa demais.

Vinny abaixou sua arma e aplicou um corte diagonal, vindo de baixo para cima. Mulkior colocou o braço esquerdo para defender esse golpe, esperando que ele conseguisse atacar com o direito no segundo seguinte. Mas isso foi impossível. Assim que a katana subiu em seu corte, o braço esquerdo do mago voou para cima, vítima de um impacto fenomenal.

A força adicional que Vinnicius ganhava quando usava essa katana era absurda. Então agora ele era um samurai com uma força perigosa e uma defesa impenetrável por causa daquela porcaria de armadura de rubi. Aquele era Vinnicius de La Kler. Era o Garra de Cristal, lutando de verdade.

Vinny puxou sua katana e aplicou um golpe de ponta na direção do peito do amigo. Mumu estava sem defesa, mas ainda conseguiu movimentar seu corpo para o lado. A lâmina da katana passou pela lateral do peito da Garra de Ferro, deixando uma nova abertura em sua armadura. Antes mesmo que Mulkior conseguisse avançar para atacar, ele teve que se defender de um novo corte horizontal rápido mirado em sua cabeça. A velocidade do samurai poderia ter diminuído, mas ainda sim, era algo a ser temido.

Mas foi nesse momento que Mulkior Musubi, em sua visão de estar sem saída e não ter espaço para atacar, teve uma ideia. Uma tática simples. Funcional. Estava na hora de usar o estilo de luta da pessoa que o fez usar aquelas luvas.

Mumu deu um pequeno salto para trás, sentindo um novo fisgar nas costas. Ele ignorou a dor. Levantou os dois braços e os juntou na frente do corpo, deixando os punhos cerrados bem na frente da boca. Vinnicius reconheceu imediatamente aquela posição defensiva utilizada no Boxe. Era impossível não lembrar da primeira luta daquele dia. San tinha utilizado isso contra Chang, e até o Mestre Artista Marcial teve dificuldades para encontrar uma abertura para poder voltar a atacar. Mas Vinny... Não ligou nem um pouco.

Segurou sua espada com força e avançou novamente. Como dito antes, nada iria amedrontá-lo. Aplicou um novo corte diagonal potente, querendo testar o quão poderosa era aquela defesa. Mumu firmou os braços e as pernas e recebeu o corte nas luvas novamente, marcando o equipamento de uma nova maneira. Seu corpo foi jogado para trás de novo, mas Mumu se manteve de pé e firme.

Avançou na direção do samurai, mas recebeu dois novos golpes. Os dois foram na região da cabeça, e os dois foram defendidos da mesma forma. O mago de ferro estava sendo empurrado para trás involuntariamente. Havia força demais sendo empregada contra seus braços. Mas sua tática já estava em andamento.

Daqui pra frente, houveram uma sequência de golpes vinda de Vinny. O samurai já tinha testado o suficiente o poder daquela defesa, então estava na hora de provar para seu amigo que nem aquilo o deteria. Os dois primeiros cortes foram novamente na região da cabeça. Isso manteve os braços de Mulkior um pouco elevados. O terceiro golpe foi com mais força. Foi um golpe elevatório. Mumu também o defendeu, mas isso fez seus braços e seu corpo irem para cima.

Daí houveram mais três novos golpes: um na cintura e dois nas pernas. E todos esses três foram certeiros. O golpe na cintura conseguiu ultrapassar a armadura do filho de ferreiro. O golpe na perna esquerda foi bem feio e começou a sangrar como uma torneira. O outro golpe na perna só não foi tão feio quanto o primeiro porque o mago conseguiu forças o suficiente para dar um passo para trás, diminuindo o dano.

Mulkior caiu de joelhos, ainda mantendo a posição defensiva. Ele lutava mais contra a dor do que contra Vinnicius. O samurai, por sua vez, decidiu dar um basta naquela defesa de uma vez.

Vendo o colega de joelhos e quase sem forças, ele levantou a katana para o alto, querendo aplicar um golpe forte e único no braço do oponente. Sim, a intenção era deixar Mumu sem aquele braço.

Assim que Vinny começou a descer sua lâmina invisível, Mumu usou toda a força que tinha e pulou contra seu amigo, lhe acertando um golpe de ombro. Esse golpe não causou dano algum no Líder da Zero Soldier, mas essa também não era a intenção do mago atacante. A intenção era ficar ali, coladinho com ele. Frente a frente. Sem espaço para manobras. Sem espaço para esquivas. E sem espaço para defesas.

SOCO DUPLO!

Esse golpe foi muito criativo. Era um golpe que necessitava energia mágica, mas Mumu não utilizou a sua própria. Ele preferiu usar toda a energia restante da luva, aplicando dois socos bem potentes. Que acertaram a face do samurai, por acaso.

Vinny recebeu um soco em cada lado do rosto, ficando sem ação nenhuma. No final do golpe, as duas luvas bordô desapareceram exatamente igual às katanas do oponente. E não parou por aí. Vendo que Vinny estava tonto com o novo golpe, Mumu aplicou mais uma vez uma investida com o ombro, derrubando o samurai de costas no chão.

Agora ele precisava agir rápido. Lhe doía tudo. Perna, barriga, costas. Mas não lhe faltava fôlego. Não lhe faltava coragem. Não lhe faltava vontade! Levou a mão até aquele mesmo bolso escondido e puxou o zíper com força. Colocou meia mão no bolso e pegou outra esfera. Essa também era maior que a padrão. E também havia uma clara diferença de cor: era totalmente negra. Pulsava mais do que a anterior.

Mumu a segurou com as duas mãos, mandando energia mágica para lá. Com a rápida emanação de aura vinda do mago de ferro, Vinnicius se prontificou e girou no chão, ficando novamente de pé. Havia sangue escorrendo por sua boca e ele tinha dois dentes quebrados que tiveram que ser cuspidos.

Mais uma vez, ele se via um pouco tonto. Os sons não estavam fazendo sentido e ele estava sentindo um enjoo. Mas sua visão estava perfeita, e ela lhe mostrava que seu oponente estava preparando algo novo. Ele não podia simplesmente abaixar a cabeça e vomitar ali. Só o pensamento o trouxe nojo para sua mente. Segurou firme a sua katana. Balançou um pouco a cabeça. Focou-se em seu oponente.

TRANSFORMAÇÃO ESPECIAL - JAMADHAR!

Inicialmente, aconteceu o mesmo que a arma passada. As duas mãos de Mulkior brilharam com uma aura nova e negra as rodeando, emanando poder mágico. Poder mágico, sede de sangue e um perigo constante. Vinny conhecia aquela sensação. Ele tinha sentido algo muito parecido na luta de Mana contra Himi.

Quando a esfera de ferro começou a ganhar forma nas mãos de Mulkior, Vinny entendeu o porque daquele sensação. As novas armas dele eram katars negras, de formato estranho. Era uma katar de lâmina dupla, mas as lâminas não eram iguais. A da direita era mais comprida e era curvada para dentro, como uma cimitarra. Já a lâmina da esquerda era menor e curvada para dentro também, mas na direção oposta que a da direita. Como dito, era uma arma bem estranha. Mas isso não a tornava menos perigosa.

Mulkior partiu para o ataque dessa vez. Os fãs dos dois times estavam em exaltação total, pois a luta sempre parecia ter suas viradas de jogo. Mas para eles, para as pessoas normais que só iam ali para ver briga, aquela luta estava equilibrada.

Já aos olhos de Athena por exemplo, que tinha enfrentado diversos oponentes diferentes ao longo de sua carreira, sabia que se Vinnicius continuasse atacando violentamente como estava fazendo até agora, ele sairia vitorioso. Era claro que os ataques de Mulkior, por mais que fossem potentes e precisos, não conseguiam ultrapassar a poderosa armadura vermelha do samurai. Essa vantagem era enorme no ringue.

Claro, Mumu poderia se focar em atingir a cabeça do oponente, mas Vinny não era um iniciante nas artes da luta. Assim que ele visse que seu amigo começou a mirar somente em sua cabeça, ele tomaria medidas defensivas imediatas, tornando a luta ainda mais complicada.

Mas uma coisa Athena percebeu. Assim que o mago criou aquela luva e agora que ele estava com aquela katar especial... Algo tinha mudado. Os olhos dele estavam mais intensos, brilhosos. Bonitos. Era a "chama". Era a vontade de vencer, de não desistir mesmo em uma situação precária.

Mumu aplicou um ataque de ponta mirando o pescoço do colega. O golpe foi estranhamente rápido se comparado à velocidade padrão do Líder da Immortal Star. Vinny deu passo para trás e colocou a katana cristalina na frente do corpo, impedindo o avanço da arma assassina do amigo. Depois, puxou a espada de volta e aplicou um corte diagonal curto. Mumu tentou fazer o mesmo que fez quando estava com as luvas. Tentou defender com uma só mão para atacar com a outra. Mas ainda havia a força absurda do colega.

O mago foi jogado quase dois metros para trás, sem perder o equilíbrio. Ele viu Vinny dando um passo para frente e aplicando outro golpe vindo de cima. Dessa vez, Mulkior também avançou um passo e levantou as duas armas, as cruzando em cima da cabeça para aguentar o impacto do novo golpe.

Depois do sonoro bater de lâminas, o combatente com maior concentração de dores puxou a katar da esquerda e aplicou um novo golpe de ponta, que foi facilmente defendido pelo seu oponente. Aqui, se iniciou uma verdadeira troca de golpes. Eles começaram a se atacar usando mais a velocidade do que a força.

Mas ainda sim, havia uma diferença. Com as katars em mãos, Mumu conseguia uma velocidade semelhante à do velho companheiro de combate, que agora estava bem mais forte e mais rápido. Mas por causa da habilidade especial da nova katana de Vinny, por mais que os dois tivessem a mesma velocidade, eles não tinham a mesma força. Nessa troca de golpes, isso foi bem visível.

Mumu atacou bem. Fez Vinny ficar mais na defensiva para evitar estocadas rápidas. Inclusive, o mago chegou a acertar dois golpes nele! Um corte lateral no braço direito, bem perto do pulso e uma estocada na perna esquerda. Ok, mais danos. Isso era bom. Seria MELHOR se Mumu também não tivesse saído dessa luta com outros dois danos. E nos mesmos locais que seu oponente. Um na perna esquerda, debaixo do joelho, que nem tinha sido tão sério assim. E outro no braço direito, que cortou a dobra do cotovelo. Esse sim, foi feio.

Esse foi o último golpe da sequência de bater ferro contra ferro dos dois. Mulkior pulou para trás, levando a mão esquerda no novo ferimento. Agora sim tudo tinha ficado crítico. Ele tentou mexer o braço direito e viu que não conseguia. A dor era demais, não dava pra tentar ignorar. Ele fechou os olhos por um segundo, coisa que não deveria fazer nunca. Foi quando ele ouviu.

Ouviu? Talvez. Ou melhor dizer que ele "sentiu". Alguém olhava para ele, orava por ele. Mumu abriu os olhos bem a tempo de ver o amigo aplicar um novo corte horizontal. Sem poder se defender, tudo o que o mago de ferro fez foi pular para trás. Apertou as mãos e começou a manipular a energia. Ele sabia! Não estava vendo, ouvindo ou sentindo coisas! Não era ilusão! "Eles" estavam torcendo por ele. Claro que estavam! Mulkior colocou os dois braços para trás e avançou rápido, liberando muita energia logo em seguida.

ATAQUE CRUZADO!

Mulkior desistiu de tentar ignorar a dor. Ele a abraçou. Forçou os músculos mesmo com aquele ferimento horrível. Usando um avanço reto e perigoso, ele pulou para cima de seu oponente, deixando os braços pra trás, mas trazendo-os pra frente para aplicar um golpe em forma de "x". Dessa vez, quem não conseguiu se defender por não ver o golpe tinha sido Vinnicius.

O golpe foi certeiro, exatamente no meio do peito dele. Peito era modo de dizer. Foi no peitoral da armadura de rubi. Como da outra vez, Mumu tinha usado toda a energia mágica das armas que usava para dar o golpe, o que resultou em um efeito magnífico. Mas mesmo com toda aquela força, o golpe não ultrapassou a defesa daquela armadura. A magia criou sim, um grande "buraco" do mesmo formato do golpe, no meio do equipamento defensivo de cor vermelha do samurai.

Vinny piscou. Liberou toda a preocupação que tinha acumulado antes de receber o golpe, achando que seria um ataque crítico e que ele saísse seriamente danificado. Quando seus olhos estavam abertos de novo, ele pôde ver as duas katars negras desaparecendo das mãos de seu velho amigo. Uma decepção total.

— Me desculpe, Mumu. — disse Vinny, em um tom bem baixo e sem força. — Mas essa luta acaba aqui. TIRO DE CRISTAL - CITRINO!

Vinny fez uma coisa que Mumu também poderia fazer a hora que quisesse, mas por pura honra, nunca fazia. O samurai apontou a mão esquerda para o estômago do mago, quase encostando a mão no local. Depois houve uma exalação de aura extremamente pequena e rápida de sua mão.

Mulkior só conseguiu olhar para baixo e depois pular para trás. A garra de cristal que Vinnicius usava naquela mão havia brilhado intensamente, parecendo que refletia a luz do sol. No instante seguinte, ela desapareceu, dando lugar para uma esfera de energia que ficou na frente da mão apontada. Foi na aparição dessa mesma esfera que o mago havia pulado para trás.

A magia foi disparada rapidamente também, além de ter sido criada quase que instantaneamente. Daquela esfera de energia, foi criado um hexágono cristalino de cor amarela que parecia ser um espelho refletor. Não era tão grande assim, mas esse era exatamente o ponto.

Assim que foi criada, ela disparou, entrando no estômago de Mumu em uma velocidade provavelmente igual à da luz. Assim que levou o impacto, o mago perdeu os sentidos, só voltando a senti-los assim que caiu de joelhos no chão, vomitando sangue. Não houve armadura, não houve reflexo. Não houve tempo. Não houve nada que ele pudesse ter feito para evitar aquela magia.

O silêncio reinou no Coliseu assim que o Líder da Immortal Star caiu de joelhos. Agora lá estava ele, segurando o cristal amarelo dentro de seu corpo. Ele precisava arrancar aquilo de lá... Mas quem disse que ele tinha forças o suficiente?

Mumu também conhecia aquela magia ali. Essa magia era a mais rápida do amigo e era quase impossível de se desviar. Mas o que mais o pegou de surpresa foi o fato de Vinny ter usado sua própria garra de cristal para aumentar o efeito da magia, cortando o tempo de concentração da mesma. Como dito antes, Mulkior PODERIA fazer isso com suas duas luvas de metal, mas nunca o fez.

Caído e sangrando, ele levantou a cabeça lentamente, olhando o amigo dando dois passos para frente. Vinny parecia triste e ao mesmo tempo aliviado. Mumu conhecia aquela expressão. Era a expressão de "vitória por um modo indesejado". Vitória era vitória, independente de como se conseguisse chegar nela. Só havia um grande problema aqui: o samurai estava contando com uma coisa não decidida.

— Eu me lembrei agora, velho amigo. — disse Vinny, se aproximando um pouco mais. — Lembrei que você estava perseguindo um certo sonho. Você queria seguir os passos de uma Classe praticamente impossível de ser concluída e que até mesmo a existência não passava de uma lenda! — os olhos dos dois guerreiros se encontraram aqui. Ainda havia o fogo da luta nos dois. — Você quis se tornar um "Mestre das Armas", uma Classe que nunca teve uma escola ou Mestres e nem alunos. Uma classe que tem golpes de todas as armas existentes, mas que nunca chegou a imitar perfeitamente os golpes de cada uma... Pelos seus golpes, deu pra ver que você não só não desistiu das ideias, como também obteve uma maneira de usar as magias! Mas nem com isso você conseguiu me derrotar. Desista, Mumu! Não force seu corpo mais do que já forçou! Você lutou bravamente, como sempre fez! Mas não me faça te atacar mais! Não me faça eu mesmo ferir meus sentimentos de amizade por ter que acabar com você de verdade!

— Acho que... Você esqueceu... — começou o mago, cuspindo sangue enquanto falava. Esse simples ato, "falar", era um desafio de alto nível para ele agora. — Esqueceu contra quem... Está lutando... — a mão direita de Mumu, que até agora estava caída como se estivesse morta, começou a se levantar e a apontar para Vinny, que arregalou os dois olhos quando viu algo vermelho entre os dedos ensanguentados do colega. — TIRO ESPECIAL - FLAMBERGE!

Sim, Vinnicius tinha esquecido que ele estava enfrentando Mulkior Musubi, um cara que simplesmente odiava qualquer tipo de derrota e não conhecia conceitos como "desistir para poupar perigos". Mas vamos começar do início. Muito do início.

Desde quando Vinny se equipou com sua poderosa armadura de rubi, Mumu prometeu para si mesmo que a destruiria. É importante lembrar que em todos os treinos dos dois, o mago nunca tinha sido capaz desse feito. Ok, então agora nessa final, ele iria fazer de tudo para destruir aquela coisa, na frente de todos os espectadores. Seria um show e tanto!

Desde aquele momento, o mago de ferro vem testando a resistência da armadura, atingindo ataques de diferentes ângulos. Sua conclusão foi essa que podemos ver agora. Foi uma combinação de três magias. A primeira foi a martelada elétrica. Aquilo não tinha sido feito só pra dar um choque em Vinny. A segunda magia foi o corte em "x" usando a katar, que abriu um grande buraco no exato ponto da armadura onde seu martelo havia atingido. Pronto. Agora a armadura estava enfraquecida e danificada em um ponto específico.

E então esse Tiro Especial foi a cartada. Quando as katars sumiram de suas mãos depois do golpe, Mumu levou a mão direita até aquele bolso especial em sua calça e pegou outra esfera grande, de cor vermelha. Nem Vinny viu essa ação, nem ninguém. Ele a escondeu extremamente bem.

Foi difícil conter a empolgação de sentir o calor da aura dela. De sua parceira. De seu amor. A energia mágica de Kula era tão aconchegante quantos seus abraços e carinhos. Talvez tenha sido isso que o fez não perder a consciência naquela hora do impacto onde seu estômago encontrou uma dor desigual. O plano precisava ser completado. E Kuchi estava o ajudando mesmo agora.

Então era só atirar. Estava difícil, mas ele precisava. Viu o colega se aproximar. Ouviu o colega começar a falar. Não escutou metade do que ele tinha dito, na verdade. Agora o "Desista!" ele ouviu. Ahhhhh e como! Aquela era uma palavra que irritava Mulkior. Então ele usou isso, a raiva, para mirar e ganhar forças para mais uma magia. Ele também não precisaria de concentração. Toda a energia mágica que ele precisava já estava ali, em sua mão.

A esfera vermelha foi atirada com os dedos de Mulkior e não viajou quase nada. Se transformou em uma espada flamejante que, assim como o cristal amarelado, viajou rápido até onde tinha sido lançada. Ta... Não TÃO rápido assim. Mas foi o suficiente para que Vinny não tivesse tempo para se defender. E como iria? Eles estavam quase a queima roupa!

O resultado foi uma das cenas mais impressionantes que já foram vistas em duelos no Coliseu. A espada de fogo não foi barrada pela armadura vermelha do samurai. Ela atingiu aquele "x" previamente criado propositalmente, atravessando o corpo de Vinny que não sentiu só dor, como um fogo faminto o comendo por dentro.

Vinny caiu de costas no chão, fazendo sua grandiosa armadura de rubi quebrar em mil pedaços. Os berros do homem começaram logo em seguida, que foi quando ele começou a sentir o fogo da espada mágica lhe queimando vivo. Seu grito de dor ecoou por todo o Coliseu, já que o silêncio sepulcral continuava. Esse seria um momento perfeito para Mumu se levantar e terminar esse combate de uma vez por todas. Mas...

O mago tinha acabado de cair de costas no chão, em total silêncio, criando uma poça de sangue embaixo de seu corpo que não parecia ser um bom sinal. O cristal amarelo desapareceu magicamente no mesmo tempo em que a espada de fogo voltou a ser uma esfera de ferro sem energia.

Agora havia dois lutadores no chão, caídos de costas e sangrando para suas mortes. Não havia torcida. Não havia barulho nenhum. Ninguém sabia quem se levantaria. Os dois estavam imóveis. Isso era um mal sinal, certo?

Então houve um barulho. O Telão Informativo exibindo dois números "10", um do lado do outro. Era óbvio! Era a regra! Naquele momento, aconteceu uma coisa que tinha sido um tipo de "novidade" para o Coliseu.

Todas as pessoas sentiram uma preocupação. Era a mesma preocupação na mente de todos. Nos torcedores dos dois times. Eles não queriam que a luta terminasse daquele jeito. Não! Dois guerreiros tão talentosos, amigos de vários combates. Um empate seria injusto! Aquela era a luta final! Não poderia haver empate! Então começou.

Os gritos. Mas eram diferentes dessa vez. Eles não gritavam por nomes ou por times. Eles simplesmente gritavam "LEVANTEM-SE!" com todas as forças. Uns começaram a gritar isso sem parar, e logo os outros começaram a se juntar ao coro. "LEVANTEM-SE! LEVANTEM-SE! LEVANTEM-SE!". Isso maravilhou Pablo e até mesmo Raziel, um veterano das batalhas daquele lugar. O povo não queria um empate. Eles queriam que um deles se levanta-se e se proclamasse o vencedor. Foi quando aconteceu.

Vinnicius abriu os olhos. Olhava para cima, para o céu que não era mais azul por causa do horário. Ele sabia que estava caído e que sentia uma dor absurda. Mas a luta não tinha acabado. Ele sabia disso porque ouvia o público e a gritaria. "Levantem-se? Eu não sou o único caído?", pensou o samurai.

Tentou se mexer. Viu que conseguia, mas a dor no peito era tão grande, que ele achou que a espada ainda estivesse enterrada lá. Depois de uma rápida espiada para ter certeza que não havia mais nenhuma arma flamejante queimando seus órgãos, ele se virou de barriga para baixo em um só impulso, sentindo uma nova fisgada no corpo.

Mas ele era forte. Apertando os dentes, ele forçou os braços e começou a se levantar. Os gritos começaram a ficar mais altos. Talvez ouvir a torcida empolgada gritando seu nome tenha dado forças a ele. Quando Vinny ficou de joelhos, o Telão marcava quatro segundos restantes para o final da contagem regressiva. Ele não poderia se dar ao luxo de perder por uma mera contagem. Dez segundos no chão? Ah! Só se ele estiver desmaiado ou morto!

Vinnicius levantou a cabeça e ergueu o corpo de uma só vez, retirando mais vivas da torcida de seu time. Agora lá estava ele, de pé. Sangrando. Com a cabeça erguida. Vitorioso. Por ter se virado, agora ele olhava para o lado onde seu time jazia. Himi já estava de pé, observando a luta. Ela sorria descaradamente para o Líder, que tentou retribuir. Tentou só. Não deu por uma série de razões.

A primeira era porque rir enquanto você tem um buraco no peito que exala um cheiro forte de carne queimada não era assim tão encorajador. A segunda foi porque logo que Himi e Vinny cruzaram os olhares, a assassina perdeu a expressão feliz e mudou rapidamente para uma expressão de susto. Os aplausos também tinham terminado. Os gritos foram diminuindo, dando lugar à incontáveis sussurros. Era um presságio. Algo ruim iria acontecer. Ou já estava acontecendo.

O samurai tremeu. Será? Ele tinha levantado de costas para o corpo estendido do colega, mas não era preciso ver o estado dele para saber que Mumu não tinha mais forças para continuar lutando. Mas então o que era aquele frio na espinha? Aquela sensação de estar sendo observado?

Vinny foi virando a cabeça muito lentamente, olhando primeiramente para o Telão Informativo. Ele estava travado no número "1" para o time Immortal Star. "Não...". Continuou se virando. "Não... Não pode ser...". Quando finalmente fez o cento e oitenta graus, ele soube o porque tanta gente tinha se calado.

Mulkior estava ali, em pé. Era um fantasma. Um zumbi. Não, não, era realmente um zumbi! O mago estava de pé, mas encurvado, com a mão esquerda na frente do machucado feito pelo último cristal que o atingiu. E ele respirava. Pesadamente, lentamente. Havia até uma fumaça sendo exalada por sua boca. Parecia aquele efeito que acontece quando estamos em uma temperatura muito baixa. Mas a parte mais sinistra era o fato de Mumu estar com os olhos totalmente brancos. Lembra alguém?

Pareceu que Mulkior tinha simplesmente se levantado de seu estado de quase coma, certo? Bom... As coisas não foram bem assim. Quando o mago bateu com as costas no chão, ele tinha entrado em choque e desmaiado. Havia dores e machucados demais para seu corpo e seu cérebro suportarem. Seu corpo parecia ter o triplo do peso naqueles últimos momentos, e até respirar lhe trazia agonia. O cansaço foi de matar. Tudo o que ele queria era dormir um pouco.

Ele podia, não é? Tinha lutado com toda força. Não, mentira. Ele sabia disso. Não tinha usado toda sua força ainda. Haviam cartas em sua manga. O jogo não havia terminado ainda. Mas quem poderia culpá-lo? Ele estava acabado, ferido. Era horrível travar uma batalha com um amigo daqueles, principalmente quando você está acostumado a treinar com o maldito.

Mumu queria ter lutado mais, mas seu corpo não estava deixando. Agora tudo estava escuro. Tão quieto. Uma paz. Não haviam dores lá. Nem aquela gritaria chata dos espectadores e nem a voz irritante de Pablo. Só estava faltando um travesseiro ali. Espere... Ali onde?

As imagens apareceram de repente. Mulkior estava de olhos abertos e enxergando tudo de cabeça para baixo. O que estava acontecendo? Foi fácil perceber que ele estava deitado de barriga para cima e sua cabeça estava pendendo para trás. Ele estava vendo as tendas médicas de seu time, locais que ele ficou metade da final observando, preocupado com os colegas.

Mas havia algo a mais ali. Algo que só ele conseguiu ver. Por que ele estava de ponta cabeça? Não. É porque ele era o único que "sentia". Aquela coisa que ele sentiu há uns minutos atrás. Aquilo não tinha sido uma ilusão. Ele tinha sentido e tinha ouvido vozes. Agora elas estavam mais claras! Eram três frases. "Mostra pra eles!", "Força, Mulkior!" e "Continue lutando, meu amor!".

Sim! Era exatamente isso! Agora ele conseguiu ouvir alto e claro. E ele os via. Os três, parados ali na borda do ringue. San com as mãos nos bolsos, Mana com o braço direito levantado e acenando e Kula com as duas mãos juntas em frente ao peito, como se estivesse rezando pela sua vitória. Eles estavam ali! Suas auras estavam ali! Ele sabia que eles estavam dando um jeito de assistir a luta. Mumu não estava sozinho! E quando ele teve essa conclusão, tudo o que era de ruim sumiu instantaneamente. Foi assim que ele se levantou como um morto-vivo. Um morto-vivo cheio de novas energias.

— Eu sabia que você era duro na queda, meu caro amigo... Mas isso já é ridículo! — falou Vinny, empunhando a katana invisível que, pelo jeito, ainda estava inteira e ativa, pronta para cortar mais coisas.

— Do que... Você está... Falando? — perguntava Mumu, pausadamente. Ainda era difícil para falar. Mas ele estava concentrando energia, o que deixava tudo mais assustador. — Essa luta... Só está começando! TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Foi uma cena digna de um outro "WOW". Mulkior passou a energia para sua mão esquerda, que continuava encostada ao machucado em seu peito. Mas na verdade, o que ele estava tocando era a própria armadura que protegia seu corpo. Aquela armadura que ele tanto se orgulhava. Uma peça fina, uma obra de arte feita com as habilidosas mãos de Regi, a melhor ferreira do mundo. Aquela armadura, para Mumu, valia mais do que um baú de tesouros.

Exatamente essa armadura tinha acabado de se tornar uma bola ligeiramente grande de ferro, caindo no piso do ringue fazendo um barulho singular. Claro, para os espectadores que não conheciam a bravata do mago de ferro e seu amor para com suas armaduras e equipamentos, não deram bola. Mas para Vinnicius, que o conhecia há anos, havia um significado muito aterrorizador por trás daquela ação.

Se ele estivesse em melhores condições, atacaria o amigo naquele exato momento, cortando-o pra valer. Mas Vinny estava de pé com suas últimas forças. Aquele dano de fogo em seu peito tinha sido crítico. Não só lhe atingiu fisicamente, como deixou um ferimento em seu orgulho. Em nenhuma luta de sua vida, alguém tinha conseguido destruir sua poderosa armadura de rubi.

No fundo de seu coração, ele se sentiu um pouco aliviado que tenha sido seu grande amigo a conseguir esse tal feito. Não era tão vergonhoso assim. Mas agora era hora de lamentações?

Mulkior estava passando uma grande quantidade de energia mágica para aquela esfera gigante e cinza bem na frente de seus pés. Ela brilhava como um sol em miniatura, e tinha tanta energia quanto um explosivo mágico totalmente carregado. Era a maior concentração que o mago tinha feito até agora, mesmo se fosse considerar todas suas lutas naquele ringue. O chão embaixo de seus pés estava reagindo, tremendo. Vinny precisou se concentrar em ficar de pé para não voltar a beijar o chão.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL TRÊS - EXCALIBUR!

Agora estava na hora de demonstrar o que era, definitivamente, imponência. Mumu passou toda aquela energia absurda para a esfera cinza de ferro, e depois que ela parou de brilhar e tremer o chão como uma máquina de criar terremotos, o mago começou a levantar a mão esquerda, e junto dela ia se formando algo, saindo do ferro daquela bola.

Era sua transformação de metal dando mais um show. Essa magia demorou um tantinho a mais para ser concluída. Parecia que tinha sido feito de propósito, para que as pessoas pudessem vislumbrar cada centímetro daquela nova arma. E valeu a pena.

A nova arma de Mulkior se tratava de uma espada de lâmina reta, corte dos dois lados e um grosso comprimento. Era banhada a ouro puro e brilhava naturalmente, atraindo a atenção de cada ser humano que ousasse passar os olhos por aquela beleza viva. O cabo da espada continha uma fita de seda vermelha que ia se enrolando desde o ligamento da lâmina até embaixo, no fim do cabo, onde havia um tipo de pedra preciosa e bonita, também de ouro.

Havia outro fato interessante: essa espada irradiava uma luz intensa, mas ao mesmo tempo, criava um tipo de sentimento no coração das pessoas. Alguns espectadores estavam tão vislumbrados com a visão daquela arma, que chegaram a chorar. Outros sentiam uma coisa diferente. Sentiam um comando vindo da espada. Uma ordem absoluta. Muitos no Coliseu quiseram baixar suas cabeças como em reverenda. E aquilo era só o começo das maravilhas que a arma mais poderosa do combatente Mulkior Musubi conseguia fazer.

A Garra de Cristal conhecia muito bem a beleza encantadora daquela espada. Mas o real motivo para preocupação era o "poder bruto" que aquela arma continha. Mumu a movimentou no ar muito levemente, mas só isso já criou uma lufada de ar mágico que quis empurrar o samurai para fora do ringue. Agora cada um deles estava com sua arma mais poderosa e nenhum dos dois continham energias vitais o suficiente para fazer uma batalha descente. O que se podia fazer?

A resposta veio, novamente, de Mumu. Ele girou a espada nas mãos e criou um ataque diagonal vindo de cima. O samurai ainda continuava sendo extremamente perceptível. Ele fez o mesmo movimento, vindo da direção oposta. O resultado foi um grande "PLENNNN", fazendo as duas lâminas tremerem ao se encontrarem no meio do caminho.

O resultado foi diferente também. Os dois foram dois passos para trás devido ao impacto inicial. Com aquela espada, Mumu conseguia se igualar no quesito força física com o amigo. Mas e o resto? Não dava pra viver só disso.

O que se seguiu depois disso foi uma prova de que Mulkior sabia muito bem de que estaria em desvantagem se não lutasse a sério. Só um ponto a ser levado em consideração: Mumu não estava mais sentindo seu corpo. Seu tato, seu olfato, seu paladar... Tudo estava alterado em um estado confuso e inexplicável.

Vinny aplicou uma sequência de três golpes potentes. Dois vieram de cima e um de baixo, ambos em direções diferentes. O mago conseguiu bloquear os três golpes da mesma forma que o amigo: atacando o ataque. As duas armas continuaram a cantar juntas. A cada novo encontro, era um novo tom de ferro.

A segunda investida foi de Mumu, que aplicou um golpe curvo no pescoço e depois um de ponta. Ambos foram bons golpes, mas foram defendidos habilmente pelo samurai. O mais impressionante nessa luta era o fato de que nenhum dos dois estavam recuando. Eles estavam travados no meio do ringue, como se seus pés estivessem conectados ao chão. Enraizados. Eles continuaram ali, naquela troca fervorosa de golpes por alguns longos segundos.

Cada novo golpe e nova defesa criava uma onda de choque que espalhava incontáveis fragmentos de energia mágica para todas as direções. A onda ainda afastava pó e vento, e provavelmente qualquer coisa viva que estivesse ali por perto.

TIRO DE CRISTAL - WULFENITA!

O primeiro a desistir da troca de golpes foi o samurai. Não porque ele tinha medo de perder ali. Mas ele sabia que aquilo ainda continuaria por tempo o suficiente para que os dois ficassem exaustos demais para sequer segurar suas espadas.

Então ele se afastou dando um grande salto para trás. Levantou a mão para cima e criou mais uma esfera de energia acima de sua cabeça. Logo aquilo criou um novo cristal de cor laranja, mas bem menor do que o último que foi atirado. Mas ainda sim, continha perigo o suficiente para que o mago se preocupasse em não ser atingido. Vinny atirou o cristal mirando o peito nu do amigo.

TIRO DE METAL - MARRETA!

Mumu não precisou pular para trás. Ele estava em uma distância não segura, mas infelizmente, o mago não tinha mais forças para fazer uma esquiva imediata. Ele também sabia que a explosão daquilo acabaria o atingindo de qualquer forma. Ou seja, era melhor usar uma estratégia diferente.

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Em uma velocidade surpreendente, ele colocou a mão esquerda no bolso do mesmo lado e retirou mais uma esfera, a atirando quase sem mirar logo em seguida. A esfera se transformou em uma grande marreta de lado duplo, que girou como uma hélice torta e encontrou o cristal alaranjado no meio do caminho.

Assim que as duas magias se chocaram, o esperado aconteceu: uma explosão mágica cegou todos os espectadores por um rápido segundo. Como dito antes, esses dois não estavam muito longe um do outro, e Vinny não esperava que a explosão fosse ali, naquele lugar. Ou seja, os dois estavam em uma área ruim.

A explosão não os atingiu em cheio, mas fez os dois recuaram ainda mais. Agora sim eles estavam mais afastados um do outro. Nada tão grandioso assim, mas era uma distância um tanto segura para se fazer algumas coisas. Coisas perigosas.

Vinnicius estava quase caindo de joelhos. Ele estava cansado e machucado. Diferente de seu antigo companheiro de treino, seus ferimentos eram internos. O que piorava tudo, claro. O samurai estava ofegante e sabia que não tinha mais quase nenhuma energia mágica sobrando. Sua fadiga também estava se esgotando. Suas pernas pareciam pedras agora. Pesadas demais para fazer uma corrida. Uma esquiva perfeita? Impossível.

A preocupação dele só não era maior porque ele tinha certeza que seu amigo e oponente estava na mesma situação. Ou até pior. Olhando para ele, era possível ver que Mumu também quase não se aguentava em pé. O mago estava sangrando por todo o corpo. Era até estranho olhar pra ele. Parecia que o podre homem tinha deitado e rolado por uma cama de espinhos.

Mas olhe para ele! Mulkior continuava ereto, segurando a espada firmemente em suas mãos, em pose de combate. Ele também respirava rápido, tinha sangue escorrendo da boca e da cabeça e tremia. Por quanto tempo mais ele aguentaria naquele estado? Ele precisava de medicamentos! Atendimentos de emergência! Os dois precisavam! Mas eles iriam parar?

Claro que não! Ainda havia luta! Nada tinha acabado! Para aqueles dois guerreiros, desistência estava fora de questão. Eles iriam terminar aquilo honradamente. Iriam dar tudo o que tinham até o final. Final do final. Fim do fim. Quando tudo realmente termina.

— Vamos terminar com isso agora, meu grande amigo. — disse Vinnicius, falando alto, em um tom que Mumu pudesse ouvir. Pela estranheza no olhar do mago, ele deve ter realmente ouvido. — É claro que nenhum de nós consegue lutar por muito mais tempo. Então vamos acabar com isso como antigamente.

— Quer atirar... Sua magia mais forte em mim? — respondeu Mumu, em forma de pergunta. O mago, ainda ereto, cuspiu no chão para tirar o gosto ruim de sangue da boca e voltou a olhar o oponente. — Tudo bem, Vinny. Vamos fazer como antigamente. Vamos deixar nossas magias decidirem.

Sorrindo, o samurai puxa sua espada para perto do corpo e depois a embainha. Ele afasta as pernas, deixando sua lateral virada para Mumu. Naquela pose de saque de katana, ele começa a concentrar sua energia mágica. Iria concentrar tudo que tinha. Não era tanto agora que tinha usado quase todas suas magias. Mas seria o suficiente para ele poder usar sua magia mais poderosa.

Seu amigo, Mulkior, conhecia bem essa magia também. Mas isso não significava que ele, algum dia, conseguiu pará-la de qualquer forma. E não seria hoje que esse fato aconteceria. A energia começou a acumular em seu corpo, criando um círculo de vento ao seu redor. O vento era só um símbolo. Só uma prova de que aquela magia era poderosa o suficiente para afetar a área ao seu redor.

E não era só isso. Todos no Coliseu conseguiam ver que a barreira de energia que os protegia estava tendo algum tipo de reação. Ela estava oscilando, mudando sua cor. Muitas pessoas ficaram alarmadas, mas nenhuma chegou a gritar por pânico. Ah sim, e o fato da barreira estar tendo aquela reação era porque assim como o samurai, Mumu também concentrava energia.

Ele segurava sua graciosa espada com as duas mãos e a colocou para trás, também deixando a lateral do corpo virada para seu oponente. Por causa dessa posição em específico, Raziel se levantou da sua poltrona em um pulo, assustando os outros espectadores que dividiam a sala especial com ele. O General ficou bem perto do vidro, com uma cara de impressionismo que era quase impagável. Quando Leon perguntou o que havia de errado, o General só respondeu algo como: "Não, não pode ser! Essa posição...".

TÉCNICA DE SAQUE DA ESCOLA YOKOTSU - CORTE ANIQUILADOR!

RAIO DE LÂMINA!

Raziel não terminou sua fala porque exatamente naquele momento, os dois lutadores decidiram atirar suas magias um contra o outro. Os dois poderiam ter carregado muito mais energia nas magias... Se eles tivessem fôlego para isso. Eles já estavam exaustos, tanto magicamente quanto fisicamente.

Aquelas duas magias seriam o último movimento que eles fariam. Cada um tinha uma convicção firme que seria aquilo que terminaria essa luta longa e dolorosa. Pra quem olhava de fora, mais especificamente os outros guerreiros e bons observadores, apenas pelo estado dos dois Líderes de time já era possível ver que aquele seria o "Grand Finale".

Então vamos aos fatos. Inicialmente, é bom lembrar que essa magia de Vinnicius era pra ser sua mais forte. Mesmo. As técnicas da Escola Yokotsu são assustadoramente poderosas e não são ensinadas para ninguém de "fora" do reino onde essa arte é ensinada.

Mas é importante lembrar que já tinha sido dito que as magias de Vinnicius eram poderosas, mas que demoravam para serem carregadas, certo? Pois então. Essa magia demorou apenas metade do tempo que o samurai geralmente precisaria para usar uma de suas magias com a katana. O que aconteceu? Tática. Vinny diminuiu o tempo de carga para se ajustar à sua própria quantidade de energia mágica que lhe sobrava, precisando carregar a magia só até aquele ponto.

Claro, isso diminuiria o efeito final da magia. Mas aquele deveria ser o golpe final mesmo, então não havia nada a ser perdido. Ainda assim, mesmo saindo com menos força, a magia foi realmente impressionante de ser vista e sentida. Vinny desembainhou a katana rapidamente, nem parecendo que ele estava tão ferido e cansado. Depois do arco feito pelo golpe da katana invisível na frente de seu corpo, um círculo mágico apareceu, distorcendo o espaço exatamente na área do corte da katana.

Depois, veio o segundo movimento da magia. Essa era a única magia de Vinny que necessitava de duas manobras. A primeira tinha sido um corte horizontal. A segunda seria um vertical. Ele desceu a espada até a lâmina bater no piso do ringue, fazendo com que o barulho causado fosse o estopim para o lançamento da magia.

Do ponto exato que a lâmina encostou no chão, saiu uma onda invisível que fez algo totalmente inesperado: destruiu o piso enquanto avançou contra o oponente. Era uma onda de energia que estava destruindo um chão criado especificamente para resistir a qualquer tipo de magia. Agora imaginem o que aconteceria se esse golpe estivesse com força total?

Agora por parte de Mulkior, talvez seria até engraçado de se dizer. Ta, Mumu não seguiu as regras de "Magia mais forte contra magia mais forte". Ele tinha perdido a honra? Logo contra um velho amigo? Não, nunca. Mas ele também não era idiota.

Ele não tinha esquecido que precisava vencer aquele duelo. Não era só sua honra que estava em jogo. Era a honra de todos os seus amigos que passaram por poucas e boas para levar o time até aquele dia, até aquela luta. Então o que fazer?

Mumu não pensou muito. Carregou sua magia e esperou. Colocou toda a energia mágica restante que tinha na lâmina da sua espada mágica, sua arma mais poderosa. Era necessário dizer que ele não estava muito acostumado com a magia que ele acabou de usar. Mas mesmo assim, a magia saiu perfeita.

Assim que clamou pelo nome da magia, ele deu um golpe na sua frente, no ar. Como os saques de katana dos samurais. Só que ele não precisou nem de dois golpes e nem distorcer o espaço. Assim que seu movimento estava completo, um tipo de raio de energia em formato de um cone reto, como os postes de luminária, saiu da lâmina da espada e viajou em uma velocidade suprema na direção de Vinny.

As duas magias se encontraram, mas não no meio do caminho. A magia de Mumu foi mais rápida. Mas o encontro já tinha sido algo desastroso. Assim que houve o impacto, uma nova onda foi criada e atirada para todas as direções, destruindo tudo quanto era partícula mágica que encontrou. Ela também fez o vento desaparecer e provavelmente criou algum tipo de vácuo temporário no ringue, já que nenhum som pôde ser ouvido naquele momento. E isso era só o começo.

As duas magias começaram a se empurrar, uma querendo se alimentar da outra. Esse duelo não durou três segundos, mesmo que na visão dos espectadores, tenha durado uns dez. Uma magia empurrou a outra. Essa outra empurrou de volta. Daí elas se concentraram, se comprimiram e... Explodiram. Tipo... Gigantescamente.

Essa explosão foi absurdamente barulhenta e destrutiva. Não, não tinha sido do tamanho da última magia de Kula. Mas ela foi mais concentrada. A explosão criou uma fumaça densa tão grande, que ninguém das arquibancadas conseguiu ver alguma coisa no ringue. Isso criou uma certa confusão e uma série de perguntas. Eles viam que a barreira estava parando de vibrar. Dessa vez, ela tinha feito seu trabalho perfeitamente, defendendo os pobres cidadãos que estavam ali só para verem pessoas se matar.

A fumaça estava abaixando. Alguns começaram a gritar. Perguntavam o que estava acontecendo. Quem tinha sobrado? Quem havia ganhado? A fumaça sumiu, revelando uma grande surpresa para todos: uma cratera ligeiramente funda quase no meio do ringue. Foi naquele ponto onde a explosão havia acontecido. Duas magias poderosas o suficiente para destruir o ringue especial. Era algo histórico mesmo.

Mas faltava o mais importante: quem tinha vencido? Todo mundo procurava desesperadamente pelos lutadores. Por quê, você pergunta? Bem, é porque eles não estavam no ringue. Nenhum deles. Umas pessoas começaram a apontar e gritar, então não demorou muito para eles encontrarem as pessoas pelas quais torciam.

Eles estavam fora do ringue, como se não fosse óbvio. Muito longe dele, pra ser mais específico. Mulkior estava caído no chão, de barriga para o ar e cabeça pendendo para o lado, como se estivesse desmaiado, à esquerda do Coliseu, bem perto das tendas médicas que seus amigos agora descansavam. Sua espada banhada a ouro tinha desaparecido, tirando o interesse de muitos ladrões que estavam de tocaia pelas arquibancadas.

Já seu oponente e amigo Vinny, estava do outro lado, encostado em um dos pilares de contenção. Parece que ele bateu com as costas lá enquanto ainda estava no ar e depois foi caindo até estar no chão. O samurai também tinha perdido seu "espírito". Sua katana. Ela não estava mais em sua mão. Nem mesmo o cabo que ele sempre segurava estava lá. Ao verem os dois lutadores fora do ringue, uma nova leva de gritos reverberou pelo local.

— Eu não posso acreditar! — disse Raziel, ainda em pé. Athena e Leon estavam com toda a atenção focada no General. Eles chegaram a ficar preocupados, pois Raziel não era de se espantar daquele jeito. — Mulkior realmente usou uma Magia de Espada!

— Espada? Ei... — esse tinha sido Leon, que levou a mão até o queixo, pensativo. — Mas ele não era um Samurai?

— Foi o que eu pensei no começo. — respondeu o outro General. — Mas logo que ele mudou de arma e começou a usar outras magias diferentes, eu comecei a prestar muita atenção nele. Ele usou cinco magias de cinco armas diferentes. Isso não é possível, pois cada classe usa apenas um tipo de magia, a não ser...

— Que o garoto tenha conseguido encontrar o segredo dos Mestres das Armas. — respondeu Athena, retirando a conclusão do General. Raziel a olhou e balançou a cabeça afirmativamente. — Mas como? Essa classe é mais obscura que algumas Classes Perdidas! Todo mundo acabou concordando que isso era apenas uma lenda, já que ninguém conseguiria usar tantas magias diferentes com uma só energia mágica!

— Foi exatamente isso que eu andei olhando e prestando muita atenção. — voltou a falar Raziel. — Perceberam que no começo da luta, essas magias não foram usadas? Pois então... Mulkior só as usou quando ele nos mostrou algumas armas especiais. Todas, sem exceção, foram armas mágicas. O que me faz pensar que a forma que ele encontrou de usar as magias das armas é sacrificando a própria energia contida DENTRO das armas para usar a magia em si. Por isso que quase todas as vezes, a arma em si quebrou depois do golpe, como as katanas do Vinnicius. Pode ter sido uma conclusão perigosa e um pouco fajuta, mas o fato é que esse garoto realmente dominou uma Classe que era considerada como "inexistente".

A explicação de Raziel deixou os outros dois, guerreiros experientes e exímios comandantes em campos de batalha de larga escala, de queixo caído. Agora eles tinham voltado a atenção para o ringue, ainda mais curiosos com o resultado da luta.

Quando a contagem dupla começou, os mesmos gritos se intensificaram. Nesse momento, até Himi, que estava razoavelmente perto do corpo estirado do Líder de seu time, se juntou aos berros. Ela correu para mais perto de Vinnicius e começou a falar para ele se levantar logo, que a luta já estava ganha.

Não dava pra dizer se foi a voz de sua companheira de time, mas Vinny realmente abriu os olhos naquele momento. Assim que tentou se mexer, ele soltou um resmungo de dor, levando as duas mãos para a cintura. Algo estava errado... Ou quebrado. Olhou para frente, encarando rapidamente a assassina. Ela continuava gritando, mas ele não a ouvia. E nem os torcedores. Seus ouvidos apenas trabalhavam para que ele ouvisse um zunido agudo terrível.

A explosão mágica era a culpada disso. Seus olhos passaram rapidamente pelo Telão Informativo, lá no alto. Tudo estava meio avermelhado. Sete segundos restantes. Lutou contra o corpo, ficando em pé. E depois foi ao chão imediatamente, caindo de cara na sujeira. Não dava pra ficar em pé. A dor em sua cintura era maior do que tudo o que ele já havia sentido antes. "Minha bacia quebrou?", pensou ele. Talvez estivesse certo. Não havia sangue escorrendo por ali, mas a carne estava arroxeada.

Mas ele não iria desistir. Começou a se arrastar pelo chão mesmo. Seu esforço para continuar era tocante. Ainda lutando contra inúmeras dores, ele continuou colocando um braço e depois o outro, enterrando as unhas no chão e se puxando como dava. Seu nome agora era gritado em coro, mas ele ainda não os ouvia.

Himi ainda estava ali, sem poder tocá-lo. Só gritava e gritava. Ela olhava várias vezes para o outro lado do ringue, só pra ter certeza que aquela luta já era deles. Não havia como aquele mago continuar lutando.

Vinny chegou até a borda do ringue, puxando todo o seu corpo até ficar encostado de costas para ele. Levou o braço esquerdo para cima, segurando na borda. Virou o corpo rápido, colocando a outra mão no mesmo lugar. A dor desse esforço chegou ao ponto de que ele não se aguentou. Vinny começou a gritar com um misto de raiva, dor e vontade. Gritava para tirar forças sobrenaturais, seja lá onde elas estivessem.

Ele se puxou até estar com o tronco todo em cima do ringue. Depois bastou mais um empurrão para trazer as pernas para cima também. Os gritos de alegria vieram todos de uma só vez. E a vitória seria da Zero Soldier! Era só ficar de pé. Essa era a parte mais desafiadora.

Vinny teve a ideia de distribuir seu próprio peso igualmente pelas pernas, assim não aplicando todo o peso de uma vez só. Primeiramente, ele ficou de joelhos, como se fosse engatinhar. Depois ele puxou uma perna para frente, se impulsionando nela para jogar o corpo para cima. Assim que ele se sentiu "voando", sua outra perna foi para trás, criando um arco. A dor ainda veio, mas foi mais fraca que antes.

Vinnicius, em sua própria resolução de coragem, levantou o braço direito para cima, fazendo seus fãs e torcedores do time irem ao êxtase. Tudo era uma vitória naquele momento. O som começou a voltar de pouco em pouco aos seus ouvidos. Ele ouvia um "Vinnicius! Vinnicius!" vindo dos quatro cantos do ringue.

Mas teve uma coisa que ele ouviu e que não gostou. Foi instantâneo. Lhe trouxe medo e fraqueza. "Mulkior! Mulkior!". Eles ainda clamavam pelo nome do mago! Por quê? Já era! Tudo acabou!

Ainda com a cabeça levantada, Vinny olhou para o Telão e viu que as duas contagens estavam congeladas. As duas. A do time dele, estava parada no "3". E a da Immortal Star estava parada no "1". "Ah não pode ser...", foi o que ele pensou. E não podia mesmo.

O samurai baixou a cabeça e olhou para o outro lado do ringue. Lá estava ele. Seu amigo. De pé. Corcunda. Sangrando. Desarmado. Mas em pé. EM PÉ!! NO RINGUE!

Pablo, em sua empolgação sem limites, gritou para que a luta continuasse. Claro, os dois lutadores estavam de pé no ringue. Isso só significaria batalha! Mulkior levantou um pouco a cabeça, exibindo olhos de um morto. Vinny não percebeu isso por estar muito longe, mas de alguma forma, o samurai podia sentir que seu colega já tinha esgotado todas as forças que ainda restavam dentro dele.

Mas esse mesmo colega queria continuar a batalha. Ele deu um passo para frente. Sim, Mumu foi o primeiro a dar um passo para frente. Foi um passo e só. Se passaram mais três longos segundos e então, outro passo. O terceiro passo aconteceu mais três segundos depois. Lá vinha ele.

Vinny, naquele momento de pura loucura, conseguiu sorrir. Aquele era o Mumu que conhecia! Um cara que não desistia até encontrar a vitória! Vinny também começou a andar. Era horrível. No primeiro passo, seu corpo quase foi ao chão, tamanha a dor que ele sentia. Além de ter ossos quebrados, sua falta de sangue e exaustão estavam fazendo daquela caminhada um passeio direto para o "outro mundo".

E o que ele poderia fazer? Ver seu velho companheiro de combate naquele estado deplorável e ainda andando acabava lhe dando ainda mais vontade.

E assim foram os dois. Um passo de cada vez. A cada novo passo, mais torcida. A cada novo passo, mais dores. A cada novo passo, um segundo a menos para o término da luta. Os dois estavam no fim. Não tinham mais nenhuma gota de energia mágica em seus corpos. Eles teriam que terminar isso da forma antiga de lutar.

Mulkior apertou o punho direito quando sentiu que já estava perto do seu oponente. Vinny viu seu colega levantar o tal punho, e fez o mesmo. Quando os dois estavam bem próximos um do outro, Mumu levantou a cabeça mais uma vez, mas agora, com os olhos no lugar. Estavam vivos e cheios de energia. Ou assim parecia.

Ele puxou o braço para trás, mirando seu último soco. Sem se assustar, o Líder do time adversário fez o mesmo. Um mirou no outro. Não haveria esquiva. Não haveria defesa. E não haveria uma droga de desistência por nenhuma das partes.

— VINNY!!!

— MUMU!!!

Gritando um o nome do outro, eles se socaram. Foi na mesma velocidade. E por mais incrível que pudesse parecer, no mesmo local e ao mesmo tempo. O soco de Mulkior acertou Vinny no lado esquerdo do rosto. E o soco de Vinny também acertou o lado esquerdo do rosto de Mumu. Nenhum daqueles socos havia sido potente.

Mas foi a última dor que eles precisavam. Os dois foram ao chão, caindo de costas ao mesmo tempo. Mais uma vez houve uma comoção sem sentido por parte dos torcedores. É dito "sem sentido" porque eles começam a gritar coisas aleatórias e no fim, não dava pra ser escutado absolutamente nada condizente.

Como todos já esperavam, a contagem regressiva voltou a ser a principal preocupação daquela luta. Quantas vezes já tinha sido? Três? Quatro? Teve gente que chegou a se perder, mas lembrava que a maioria das vezes, a contagem era para ambos os times. O Telão Informativo marcou "6" segundos faltando, e tudo o que o Coliseu conseguiu ver dos dois combatentes foi um dedo se mexendo por parte de Mumu. Quando marcou "4", Vinny levantou a mão tremida e a colocou em cima do machucado no peito.

Nenhum dos dois tinham forças para sequer abrir os olhos. Faltando três segundos, a gritaria de algumas pessoas tinha conseguido passar dos limiteis do aceitável. Três. Dois. Um. O som de uma buzina chata soou por todos os lugares existentes daquele local, trazendo uma desgraça de sentimentos. Era o fim.

Fim da luta! — gritou Pablo, ainda na sua empolgação própria. Era o trabalho dele, claro. Mas ainda sim, criava inúmeras questões tais como: da onde ele tirava tanta energia? — A contagem chegou a zero para ambos os lutadores. Então, senhoras e senhores... Temos um EMPATE!

Finalmente os gritos cessaram. Pela primeira vez, houve um desânimo VERDADEIRO por parte dos torcedores. Sim, já havia tido um empate na luta da Mana contra Himi, mas essa aqui tinha algo diferente. Essa luta tinha criado um sentimento quente dentro do coração de cada torcedor. E não era por eles terem fugido de uma explosão solar há uns minutos atrás.

A batalha dos líderes fez os espectadores se sentirem lutando juntos à eles naquela arena. Foi algo realmente inovador para quase todas as pessoas dali, mesmo as que já tinham vindo mais de duas ou três vezes. A maioria das pessoas se sentaram com cabeças baixas, falando sobre como era chato ter tido um resultado daqueles. Foi uma das únicas vezes que eles não se importariam se o oponente de quem eles estava torcendo fosse o vencedor.

As palmas vieram um pouco mais tarde. Pelo menos o respeito pelos combatentes ainda existia. Raziel finalmente se sentou novamente, gargalhando. Ele estava realmente contente de ter ido hoje ali no Coliseu, e agora estava extremamente curioso para saber quem seria o time que teria a chance de aparecer na frente da Planetarium com coragem o suficiente para passar pelos testes mortais de iniciação. Ele também percebeu que sua sede por uma luta estava tão alta, que sua mão esquerda já estava segurando a bainha da espada em sua cintura.

O General encostou a cabeça na cadeira e tentou se acalmar. Leon e Athena conversavam animadamente, comentando sobre o que iria acontecer agora. E isso era algo muito importante a ser declarado.

Mulkior estava sendo levantado. Não estava inconsciente, por mais bizarro que possa parecer. Ele estava de olhos fechados sim, mas ainda estava sentindo um pouco de frio vindo do piso do ringue. Ele parou de sentir aquele frio quando foi levantado. Nessa hora, ele sentiu um calor diferente. Alguém estava o ajudando a se levantar.

O mago tentou abrir os olhos bem devagar, e viu que só aquela pouca claridade já lhe afetava. Piscou várias vezes enquanto se sentia sendo carregado. Quando finalmente abriu os olhos, pensando em encontrar "aquela" pessoa, ele bateu os olhos em Mana, que estava ajudando dois médicos a lhe colocar em uma maca.

— Ma...

— Não fale. — disse a assassina, o cortando. — Você precisa de tratamentos imediatos. Conserve sua energia.

— Você estava... Machucada...

— Ah. — Mana não esperava ouvir aquilo naquela situação. A assassina estava realmente toda enfaixada, mas já havia recuperado uma certa quantidade de energia depois do tratamento intensivo. Mas o impressionante mesmo era o mago de ferro ter falado aquilo, como se ainda se preocupasse com ela. Mesmo naquele estado, ele continuava se focando no bem estar dos colegas. Colocá-lo como Líder do time tinha sido mais do que certo. — Eu estou bem. Fique tranquilo e descanse.

Ele foi carregado rapidamente para a tenda médica, ao mesmo tempo em que outros médicos cuidavam de Vinnicius. Os dois lutadores estavam realmente machucados, mas nenhum deles tinha alguma chance de morte caso recebessem a cura mágica imediata. Era bem provável que eles não conseguiriam se mexer por algum bom tempo, principalmente se tratando das queimaduras internas do samurai. Mas eles estavam vivos, isso que importava naquela hora.

Depois do amigo ter sumido de sua vista, Mana se virou e encarou Himi, que estava do outro lado do ringue, também bem enfaixada e machucada. Ela tinha perdido o sorriso, o que era uma novidade. Não que alguém pudesse culpá-la. Ninguém esperava outro empate. E isso só significava uma coisa:

Bem, senhoras e senhores... — começou Pablo, vindo com a notícia que Mana e Himi esperavam. — A pontuação final dos dois times ficou empatada. Cada time tem uma vitória, uma derrota e dois empates. Como foi dito nas regras no começo desse combate, no caso de um empate de pontos dos dois times, a decisão final seria um novo combate, com os lutadores escolhidos aleatoriamente. Essa forma pode ser vantajosa para um time, já que alguns dos lutadores estão realmente machucados. Mas o resultado não será cancelado. Se um lutador não estiver em condições de subir ao ringue, o time irá perder. Espero que estejam todos prontos para encarar essa nossa última fase do grande torneio! — um murmúrio intenso foi ouvido pelo Coliseu, mas era simplesmente impossível saber da reação inicial dos torcedores sobre aquela notícia. Quase todos já esperavam por isso, mas seria horrível se a batalha final não fosse decidida com uma luta. — Para podermos incluir os dois lutadores da última luta na nossa lista de possibilidades, nós faremos uma pausa de vinte minutos. Esse é o tempo que eles têm para receber os tratamentos médicos imediatos e se prepararem para uma nova batalha. É agora, senhoras e senhores, que veremos um verdadeiro duelo de resistência e força de vontade! Vamos animá-los para que entrem no ringue com a mesma vontade de vitória que antes!

"Isso é um problema." foi exatamente o que as duas assassinas pensaram ao mesmo tempo. Alguns torcedores tentaram se animar, voltando a gritar o nome dos seus times para qual estavam torcendo. A maioria continuou quieta, nervosa.

Mana caminhou até as tendas médicas, vendo que não conseguiria entrar na que Mumu estava sendo atendido. Ela entrou na de San e o pegou dormindo calmamente, como se nada tivesse acontecido. Mesmo dormindo, aquele cara conseguia transmitir aquela sensação chata. Ele estava recebendo soro na veia para recuperar um pouco dos nutrientes que perdeu durante o combate, e Mana sabia que algumas transfusões de sangue já haviam sido administradas. "Ele não vai conseguir lutar.", disse ela baixinho.

E não iria mesmo. Ela não sabe o que aconteceu, mas parece que o machucado que ele recebeu no olho foi mais sério do que todos esperavam. Mana seguiu para a tenda ao lado, que era a que Kula estava. Assim como o parceiro, a maga de fogo estava totalmente inconsciente e respirava bem lentamente. Ela estava exausta, tanto fisicamente como mentalmente. "Ela está pior que San. Não vai poder entrar no ringue nem por brincadeira.". Também era verdade. A garota não corria nenhum risco de vida, mas não estava em condições nem para ficar sentada naquela cama.

Mana saiu da tenda e não precisou ir até o último integrante do time para saber do seu estado. Vinte minutos. Era tudo que eles tinham. E só ela estava em condições de combate. Aliás... "Condições". Ela sabia o quanto estava machucada e exausta. Ainda sentia as dores da sua luta e o fato dela ter que receber seja lá o que San lhe mandou, deixava tudo mais estranho.

A assassina olhou para a palma da mão direita. Estava branca como a neve. Ainda lhe faltava sangue quente lhe percorrendo as veias e ela sabia que quase não tinha energia mágica restante. Era provável que ela não conseguisse nem usar suas katars, caso fosse subir ao ringue de novo. Para dizer bem a verdade, era para ela estar na cama, em total repouso.

Então... O que fazer? Olhou para o outro lado do ringue de novo. Himi não parecia em melhores condições do que ela. Mana não tinha assistido a luta de Kuchi, então não sabia nem quem tinha sido o oponente dela e nem como ele estaria agora. Então tudo o que ela podia fazer é torcer. Seria necessário muita sorte para que EXISTISSE a próxima batalha.

Foi quando o público tinha voltado a gritar que Mana abriu os olhos. Ela tinha voltado para a própria tenda, se deitado na cama e fechado os olhos, pensando em descansar por pouco tempo. Ela se levantou rápido, o que foi horrível. Seus músculos se repuxaram e lhe causaram uma nova dor que ela não esperava. Ainda sim, ela caminhou até fora da tenda e viu que Pablo, o Apresentador animado, estava falando ou anunciando algo enquanto Bart fazia alguns comentários rápidos. E aquilo parecia importante.

... E no fim, tivemos uma reviravolta grandiosa no último combate, onde nunca soubemos quem realmente iria ganhar. — disse ele. Parecia que Pablo estava fazendo uma retrospectiva das lutas dessa final, enquanto Bart comentava algo sobre os estilos de combate de cada um e os erros que eles fizeram durante suas lutas. Exatamente nesse ponto, as cornetas voltaram a tocar, fazendo todos se animarem novamente. Tinha chegado a hora. — Acabou o tempo, meus grandes amigos! Está na hora de realizarmos a luta final que decidirá o time Campeão! — sua animação foi compartilhada igualmente para o povo que gritava. — Que nossa roleta ganhe vida!!

E ganhou. O Telão Informativo foi ligado e a velha roleta aleatória tinha começado a fazer seu trabalho. O nervosismo era geral. O pessoal ficou mais quieto, preparados para gritar os nomes que sairiam de lá. Seja lá quem fosse, seria recebido à vivas, como todas as vezes.

Em Mana, o nervosismo era dobrado. O que fazer? Nenhum deles, tirando ela, estava consciente! Muito menos em condições de combate! Mantendo os olhos no Telão, a garota viu a roleta diminuir de velocidade pouco a pouco. Seu coração estava a mil. Suava na testa. Mordeu o lábio quando os nomes e as figuras ficaram mais visíveis. Público preparou as bandeiras. Tomaram fôlego. E gritaram, como sempre faziam.

Aí está! Nossa luta de desempate! Será algo inesperado? Será que teremos um bom combate? Será que os dois combatentes estarão em condições para subir ao ringue de novo? Veremos isso agora! Nossa próxima luta será entre Mulkior da Immortal Star contra Himi, da Zero Soldier!!

Mana levou as duas mãos até a lateral da cabeça, quase xingando o mundo a fora. Tudo o que ela conseguiu dizer foi "Não!". Mas mesmo com esse "não", o resultado não seria modificado. Pablo disse isso. Estava nas regras. Eles entraram nessa luta concordando que seguiriam as regras.

Pelo Coliseu, era possível ouvir as pessoas clamando pela assassina que agora subia ao ringue. Himi tinha voltado a ficar sorridente, o que era um péssimo sinal. Antes de se preocupar com o estado físico dela, era sempre importante estar ciente de que sua prontidão para a luta estava mais que afiada.

Depois que os lutadores são chamados, eles têm exatamente um minuto para comparecer ao ringue. Antes mesmo de se passar esse minuto, aconteceu algo bem inesperado: um médico foi atirado para fora da tenda onde o mago de ferro recebia tratamento.

O médico caiu no chão sem se machucar. Ele tinha uma expressão mais de susto do que de medo. Mana correu até o local e ajudou o pobre homem a se levantar. Daí ela descobriu o porque daquela cara de assustado do profissional de saúde. Mulkior estava de pé, ali na entrada de sua tenda, sendo segurado por um médico e uma enfermeira pelos braços. A força daqueles dois não estava detendo a insistência de Mumu.

— EU VOU LUTAR!!! - gritou ele, por fim.