Immortal Star

Minha última batalha


Bem, estamos na final! O time Immortal Star conseguiu fazer essa conquista maravilhosa! Agora é só comemorar, certo? Não.

Deu pra entender um pouco a força do time adversário, não acha? Se você acha que "sim", então eu tenho más notícias para você. NADA foi mostrado ainda. O time "Zero Soldier" não só tem uma força sinistra, como todos os membros tem um passado misterioso e até mesmo "rico". Mas opa... Não posso contar tudo agora. Vamos começar falando de um só.

Ah sim, um aviso: as próximas lutas que haverão aqui, serão as mais fantásticas lutas que o Coliseu dos Deuses já teve. Até hoje, aquelas lutas são lembradas e comentadas. Alguns chegam a dizer que elas serviram como uma base para muitos tipos diferentes de treinamentos em guildas, academias, templos... Até mesmo em Exércitos de Reinos.

Então eu lhe peço novamente: mantenha cada nova palavra que eu disser, muito bem guardada em sua mente e não pare de analisar cada movimento usado pelos lutadores.

E agora... Bem vindo as lutas finais!

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— Mestre Chang!

A voz tremida de San tinha um motivo muito maior do que aparentava ser de início. A surpresa do garoto tinha uma certa mistura de medo, o que o fez dar um leve passo para trás depois de ver o rosto de seu oponente.

A reação do público foi diversa. Alguns nem tinham parado de gritar, enquanto outros, os que reconheciam a face do sujeito, se calaram e levaram a mão na boca, para afogar um grito de surpresa.

Jimmy era um desses. Ele sabia muito bem quem era o oponente de San. O Lutador de Muai Thay teve um chilique rápido, mas era algo criado por causa da sua adrenalina que subiu para cabeça e fez seu corpo formigar. No momento, o que Jimmy mais queria era estar no lugar de San.

Três pessoas na bancada de convidados especiais também reconheceram a rosto do homem. Raziel e Athena fizeram uma cara mais fechada, enquanto Leon deu um risinho bem fino, depois disfarçou com um leve assovio.

Não houve nenhuma alteração por parte do time da pessoa misteriosa. Mesmo que tivesse, não seria possível ver, por causa das já comentadas máscaras. Já no time Immortal Star, ocorreu essa conversa:

— Chang? Quem é ele? Vocês o conhecem? — perguntou Kula, que estava no lado de Mana, na borda do ringue.

— Eu já ouvi boatos dele. — respondeu Mulkior, se aproximando das duas companheiras. Ele estava com os braços cruzados em frente ao corpo e não parecia tão assustado ou surpreso quanto o amigo que estava em campo. — Dizem que ele é um dos mais poderosos Mestres de Artes Marciais que já existiram em nosso mundo. Mas eu achei que ele estivesse morto! Será que é ele mesmo?

— É ele. — disse Mana, confirmando. Ela não tirou os olhos do rosto do homem. — Eu já o vi uma vez. Eu também achei que ele estivesse morto simplesmente pela idade avançada dele!

— Idade avançada? Ele não parece nem ter cinquenta anos!

O comentário da maga de fogo não era aleatório. O rosto de Chang era de uma pessoa com no máximo, quarenta e cinco anos de idade. A única parte estranha em seu rosto sem rugas ou espinhas, era seu característico bigode longo e grisalho, junto com uma barbicha exatamente igual. Ele era careca na região central da cabeça, mas ainda lhe restava cabelo na parte de trás, que também era um pouco longo, grisalho e enrolado em uma trança. No momento, ele estava em uma postura ereta, com o braço esquerdo para trás e com a mão direita alisando o bigode suavemente. Ele não estava escondendo o sorriso sarcástico ao encarar a óbvia expressão de espanto de seu oponente.

É impressionante, senhoras e senhores! — começou Pablo. — O Lutador A retirou sua máscara pela primeira vez em todo o Torneio, e revelou ser um dos Cinco Mestres Lendários, Chang Dai Xing! Para aqueles que não o conhecem, Mestre Chang foi um dos maiores Lutadores de Artes Marciais que já passaram pelo conhecidíssimo Templo Zwan-Lin, além de ser dono do Título Único de "Punho Maldito"!

Enquanto o público reagia positivamente com a rápida apresentação de Pablo, Bart entrava em uma certa análise. Ele estava com a mesma expressão séria dos dois guerreiros observadores da ala VIP. O soldado da Planetarium sabia muito bem que aquele homem no ringue era para ser um esqueleto nessa altura do campeonato. Ele sorriu. "As coisas podem ficar interessantes logo no início.", pensou ele.

Para colocar mais madeira na fogueira, ele começou a comentar junto com Pablo, sobre o fato de Chang ter se revelado só no final por suspense ou porque ele reconhecia a força de seu oponente e que por isso, eles poderiam esperar uma batalha incrível. Os torcedores foram a loucura.

— O que você faz aqui? — perguntou San. Sorrir como Bart seria a última coisa que ele faria naquela situação.

— Ohohohoh... Mas que pergunta mais sem sentido, meu caro. — a resposta de Chang tinha um peso mais debochado do que sério. Ainda alisando sua barba, ele continuou respondendo tranquilamente. — Não é claro para você que eu estou aqui para lutar?

— Você não tem motivos para estar nesse Torneio. Eu poderia pensar no dinheiro do prêmio para o time vencedor, mas duvido que exista algo que você não possa conseguir com seus punhos.

— Tem razão. Dinheiro não é meu objetivo. — ele colocou a mão direita para trás também, mantendo uma posição bem despretensiosa. Do nada, sua entonação na voz mudou, perdendo o ar sarcástico. — Mas eu também não tenho obrigação nenhuma de te contar meus planos, não concorda?

— Um lutador centenário como você, com um história de combates maior até mesmo que os grandes exércitos de reinos poderosos e que já deu aulas para metade dos lutadores de artes marciais que existem no mundo, precisa ter um bom motivo para adentrar em um Torneio de vida ou morte. — disse San, voltando a sua clássica expressão neutra. Ele colocou as mãos nos bolsos e deu um pequeno passo para frente. — Fama e dinheiro não são. Talvez excitação? Difícil. Os lutadores do Templo Zwan-Lin são disciplinados demais para entrarem em um combate por puro prazer. — San desviou os olhos muito rapidamente, pensando em mais motivos. — Vingança? Viu seu alvo vingativo entrando nesse Torneio e resolveu se vingar aqui, pois uma morte no ringue não contaria como assassinato?

— Você é um jovenzinho muito enxerido. — Chang apertou a vista, liberando uma aura mais forte e intensa. O comentário de San tinha acertado ele em algum ponto, e o homem parecia querer dar um basta na conversa. — Enxerido e esperto.

Muito bem, combatentes! Aos seus postos... — disse o Apresentador, criando silêncio entre os dois lutadores em ringue e criando mais expectativa em todo mundo. San retirou as mãos dos bolsos e assumiu uma posição marcial, colocando a perna esquerda para frente do corpo e deixando sua lateral virada para o oponente, além de levantar os dois braços na altura do queixo, um na frente do outro. Chang, ao contrário de seu oponente, não mexeu um músculo sequer, mantendo a postura ereta. — Primeira luta do embate final, COMEÇAR!

Houve um barulho sonoro de algum tipo de corneta sento tocada, anunciando o início do combate. Muitas pessoas que assistiram a luta anterior do time Zero Soldier, fizeram exatamente o que Mana e Mulkior fizeram agora: se focar nos movimentos de Chang. Eles queriam ver cada músculo do corpo daquele homem sendo usado, para terem certeza que San tinha falado a verdade no dia anterior.

Pelas palavras do companheiro de time, Chang não usou nenhum tipo de teletransporte para desaparecer instantaneamente e aparecer de novo na frente do oponente, aplicando um golpe mortal. De acordo com San, era tudo uma simples questão de distribuição perfeita de energia pelo corpo, fazendo os músculos do mesmo atingirem um limite sobre-humano em questão de um segundo.

Já o público, só ficou mais quieto e atento para que eles pudessem aproveitar o espetáculo que estava preste a acontecer. Mas para desânimo de todos os espectadores, nenhum dos dois combatentes sequer se moveu.

Nem um passo, nem uma palavra, nem um movimento do braço. Nada. Nem ativaram uma grande aura, demonstrando intenção de ataque ou defesa. Só ficaram em suas posições, se encarando. Quase não respiravam.

Ninguém nas arquibancadas gritou de raiva. Eles não sabiam o que estava acontecendo. Claramente, os combatentes não eram surdos para não terem ouvido aquela sonora corneta do anúncio da luta. Pablo, que também estava estranhando a situação, chegou a ponderar exatamente isso. Talvez os lutadores estivessem tão concentrados que eles não haviam ouvido, de fato, o som de início.

Não é isso. — disse Bart, ao ver que todos estavam tendo a mesma ideia do Apresentador. — Os dois JÁ começaram sua luta. Em um duelo de alto nível, você não pode simplesmente sair atacando seu oponente sem ter uma boa estratégia ou ter analisado bem seu oponente. Isso só prova o quão poderosos e bem treinados esses dois são. Eles não estão apenas se encarando. Eles estão esperando uma abertura para atacarem!

Por mais que as sábias palavras de Bart tenham feito sentido, San e Chang tinham motivos diferenciados para não terem feito nada até agora. O motivo de Chang era que ele queria ter certeza que seu oponente cometeria o mesmo erro do seu primeiro oponente na luta passada.

O pessoal pode não ter visto, mas na primeira luta da semi final, o oponente de Chang jogou o corpo para frente, se preparando para correr na direção dele. É claro que foi exatamente isso que lhe custou a vida. No primeiro movimento de jogar o corpo para frente, ele ficou sem defesa nenhuma, e perder o oponente de vista por um milésimo acabou lhe custando a vida. Chang riu quando San permaneceu em sua posição defensiva e imóvel.

E que por falar nele, seu motivo de não ter atacado o Mestre logo de cara era pelo fato de que ele reconhecia o estilo marcial do seu oponente. O Kung-Fu usado por Chang era o "Punho de Ferro", originalmente conhecido como "Xinyi Liuhe Quan". Era um estilo focado em poder destrutivo usando tanto as mãos quanto os pés, mas também era conhecido por ter muitos contra golpes extremamente efetivos para golpes altos e chutes retos. Lutar contra alguém com essa arte significaria ter um cuidado extremo para ficar longe dos golpes diretos e não utilizar golpes lentos e fáceis de serem aparados.

O clima silencioso e chato foi quebrado quando Chang deixou um leve sorriso escapar e fez seu corpo cair para frente. Para San, foi como se ele estivesse em câmera lenta. Caindo de cara no chão, como se acabasse de desmaiar.

Mas isso foi só na metade do primeiro segundo. Na outra metade, a perna direita de Chang se encheu de energia mágica, indo para frente do corpo e pisando forte no ringue. A pisada foi tão poderosa, que fez o chão estremecer aos pés de quem estava fora do ringue.

Era aquilo. A investida máxima. Aconteceu como no dia anterior. As pessoas perderam Chang de vista. Elas também não conseguiram ouvir o barulho do impacto que teve quando ele pisou no chão. Era tudo rápido demais.

Mas para a sorte do time Immortal Star, San tinha visto sim, o golpe. Foi um soco reto, mirado exatamente no meio de seu pescoço, assim como no dia anterior. O garoto teve que admitir que era um golpe rápido mesmo, mas não era algo que ele não conseguiria se defender.

Era por isso que ele colocou a perna esquerda para frente, em primeiro lugar. Aquilo lhe daria duas vantagens nessa situação: a primeira era a metragem. Ele poderia medir a distância entre o punho do oponente e o seu alvo, que era o seu próprio pescoço. Isso daria precisão em seu movimento defensivo. E a segunda vantagem era o equilíbrio para um impacto direto. San sabia que por mais que ele pudesse VER o golpe de Chang, ele não teria tempo o suficiente para contra atacar. Então ele precisava receber o primeiro golpe e se preparar para atacar logo em seguida, com o melhor movimento que ele pudesse aplicar.

Em termos de combate, o pensamento de San era perfeito. Mas havia algo que o garoto usuário de energia vital não esperava: a força do oponente. Chang encheu seu punho com energia mágica para aumentar o poder destrutivo do seu soco, o que resultou em um impacto grandioso. San cruzou os dois braços na frente da cabeça, recebendo o soco do oponente.

Mas como já dito antes, a força de Chang foi tanta que fez San ser jogado para trás, arrastando pelo chão por mais de seis metros. Depois veio a dor em seu braço esquerdo, que tinha levado o golpe. Era mais do que impressionante. Não era possível ver os músculos daquele homem por causa da grossa roupa que ele vestia, mas com certeza ele não teria músculos de um halterofilista. E ainda iria piorar.

San não teve tempo de fazer nenhum cálculo para tentar atacar, nem mesmo os torcedores tiveram tempo de gritar seus vivas. Chang já estava no lado direito de San, girando o corpo para aplicar um chute giratório na área da costela do garoto. San pulou para trás enquanto girava o corpo, mantendo a mesma posição cruzada com os braços. Ele recebeu o chute quase no mesmo lugar do soco, e voou mais cinco metros para trás.

O garoto da Immortal Star teve que trancar o fôlego e se manter reto no chão para não perder o equilíbrio. O chute também estava carregado com energia e se tivesse acertado o ponto onde havia sido mirado, San não conseguiria mais se levantar. E depois, foi como um piscar de olhos.

Chang já estava em sua frente de novo, se preparando para um soco diagonal vindo de cima. Outro golpe desses, e San acabaria perdendo a força nos músculos do braço. Ao invés de levantar a defesa, San usou um pouco de sua energia vital nas pernas e deu um rápido salto para trás, se esquivando do golpe. Agora estava na hora de contra atacar.

Chang estava quase de joelhos por causa do peso de seu próprio golpe, o fazendo ficar em uma posição ruim de se defender. Essa chance não passaria impune.

ESTILO DO DRAGÃO, CHUTE DA ANIQUILAÇÃO!

San passou energia para a perna direita, fazendo ela criar uma aura própria e poderosa. Deu um passo para frente e aplicou um chute horizontal na altura da orelha de Chang. E aqui podemos ver o primeiro erro do grande mestre de artes marciais.

Em sua posição, seria difícil de se esquivar. Então Chang pensou em se defender mantendo a posição fixa para aproveitar o segundo seguinte e atacar. Logo, ele permaneceu naquela mesma posição e levantou o braço esquerdo, esperando aparar o chute. Mas assim como San ficou impressionado com a força física dele, Chang também foi pego de surpresa pela força de impacto do chute de seu oponente.

O braço esquerdo dele não foi o suficiente para conter o chute destrutivo de San, fazendo o pé do atacante atingir a lateral do rosto do defensor. Chang perdeu o equilíbrio e deu dois passos para trás, exibindo um clássico filete de sangue que escorria do canto de sua boca. Não tinha sido um golpe forte, mas não foi por isso que o Mestre se levantou com um sorriso no rosto.

— Eu precisava disso. — disse ele, cuspindo sangue no chão ao seu lado. — Precisava sentir sua força no meu corpo. Agora eu sei o quanto de energia você usa e o quanto eu devo usar para atacar e defender.

San totalmente ignorou as palavras do oponente e partiu para cima novamente. Ele tentou acertar Chang com o ombro direito, mas foi facilmente esquivado com um leve passo para o lado.

Seu oponente tinha ficado impressionado com a feracidade de San. Ele sabia que o garoto da Immortal Star era calculador e preciso, então qualquer movimento em falso poderia trazer grandes problemas para o mestre artista marcial.

Agora os dois estavam frente a frente, quase encostados. Chang jogou o peso do corpo para a esquerda e aplicou um soco reto na altura do peito de San. Esse, por sua vez, imitou o mesmo movimento de esquiva de Chang, virando o corpo para o sentido anti-horário. Com o braço do artista marcial esticado, San tentou acertá-lo com um golpe único, levantando o joelho ao mesmo tempo que desceu o cotovelo, ambas as partes do lado direito. Seria como uma pinça. Jimmy arregalou os olhos quando viu o golpe. Ele conhecia muito bem aquele movimento.

Chang aumentou a velocidade de todo o corpo usando sua energia. Movimentou o braço para o lado, antes que San pudesse completar seu golpe. Esse movimento terminou com um soco na altura do peito de San. O garoto deu três passos para trás e se manteve em posição defensiva, mostrando que o dano não tinha sido grande.

— "Kao Loi", um golpe poderoso de Muai Thay. — disse Chang, estralando o pulso. — Não sabia que você usava essa arte marcial. Sua posição inicial quase me enganou.

Mais uma vez, San não ligou para o que o oponente falava. Ele não poderia deixar o tempo correr a favor de Chang. O mestre era rápido tanto para atacar, quanto para se defender. Ele não era considerado um dos Cinco Mestres Lendários por nada.

Dessa vez, San atacou por baixo. Correu até estar na frente de Chang, se abaixou e movimentou a perna direita em sentido horizontal, criando uma rasteira. Chang enrijeceu a perna esquerda que levaria o impacto. Quando San a acertou, foi como ter chutado um poste de concreto.

Era a vez de Chang aproveitar. Aplicou um chute baixo e lateral com sua perna direita. Como San estava no chão, ele não tinha como se esquivar se jogando, então ele levantou o braço e levou o chute. O barulho foi semelhante a um martelo batendo em um piso de cimento sem quebrá-lo. San foi jogado para o lado, rolando duas vezes pelo chão. E agora ele se encontrava sem saída.

Chang já tinha partido para cima dele, tentando acertá-lo com mais um chute, só que dessa vez, seria algo mais poderoso. San não tinha como se defender bem daquilo. Ele estava no chão e em uma péssima posição. Tudo o que ele conseguiu fazer foi ver a perna direita de seu oponente se encher de energia mágica enquanto vinha em sua direção a uma velocidade surpreendente.

Chang chutou San como se tivesse chutado uma bola de borracha para cima. Foi um golpe tão irreal, que o público reagiu com um sonoro "WOOOOOOOW". O chute atingiu o garoto caído no estômago e o fez levantar do chão... Fazendo voar alguns metros para cima!

No ar, San cuspiu saliva e ficou sem ar por dois ou três segundos. Mas mesmo esse pouco de tempo era o suficiente para Chang aproveitar outra brecha. Ele concentrou energia nas pernas e saltou reto para cima, aplicando um gancho com a mão direita exatamente no queixo de San. Foi uma combinação devastadora.

O corpo de San foi jogado ainda mais para cima, caindo logo depois com tudo no chão. Ele estava se remexendo como uma lagartixa, sentindo a dor do impacto no chão. Mas ele não poderia ficar lá. Ele sabia que Chang não pararia de atacar. E não parou.

O mestre foi até o lado do corpo estirado de seu oponente, se abaixou e o pegou pelo pescoço com as duas mãos. San foi levantado como se tivesse no máximo uns dez quilos. A força física de Chang era exageradamente impressionante. San estava sentindo como se um caranguejo gigante estivesse lhe enforcando.

Enquanto ficava sem ar, ele não conseguia ouvir mais nada. Nem mesmo seus três colegas de equipe, que até agora não conseguiam gritar nada por causa da intensidade do início do combate. Mas agora, eles estavam na borda do ringue, gritando pelo nome dele.

Para falar bem a verdade, os três estavam muito concentrados nos movimentos de Chang, mas ainda era difícil acompanhá-lo. Não era de menos que San estava tendo dificuldades. Agora ele estava lá, mexendo as pernas tentando encontrar chão, enquanto suas mãos estavam nos braços de Chang, que o estrangulava.

O mestre sabia que ele não precisava fazer uma luta demorada ou bonita. Ele estava ali para ganhar. Sorriu ao lembrar da face de vitorioso de todos os seus oponentes durante o torneio. San não tinha sido diferente. Ta, talvez um pouco diferente sim. A expressão de entrada do garoto tinha sido mais cuidadosa do que confiante.

Era uma pena. Chang gostava de ter duelos desarmados contra oponentes com boa força de vontade, mas San não teve nem tempo para demonstrar suas técnicas. Bem, isso era o que Chang pensava antes de sentir uma tremenda dor na mão direita.

Seu dedo indicador estava virado ao contrário. Sem soltar nenhum grito de dor ou desespero, ele soltou o pescoço de San, trazendo sua mão para perto de si. Quando tinha sido aquilo? Estava deslocado! Não quebrado, por sorte. Ele olhou para baixo. San estava tossindo sem parar, tentando reganhar o fôlego. Tinha sido ele? Foi rápido demais!

ESTILO DO TIGRE, PATA DA IMPOSIÇÃO!

San juntou energia na mão direita e pulou na direção de Chang como se fosse mesmo um tigre faminto. Pego pela surpresa do ataque, tudo o que o mestre conseguiu fazer foi virar o corpo e usar o braço esquerdo para aguentar o golpe. O impacto também foi poderoso. Dessa vez, quem saiu voando foi o Artista Marcial, que caiu no chão ainda em pé, arrastando no chão branco.

Isso pode fazer Mana, Kula e Mulkior voltarem a respirar. Parecia até que eram eles que estavam sendo sufocados. Mas eles estranharam. Por que Chang tinha o soltado? Eles não conseguiam ver o dedo deslocado do oponente, então sua confusão era ainda maior do que a do próprio mestre.

— Pelo visto você também consegue controlar a musculatura do corpo para aumentar a velocidade dos movimentos. — diz Chang, segurando seu dedo deslocado com a mão esquerda. Ele puxou o dedo e o retorceu. Sentiu uma dor aguda, mas pelo menos, o dedo voltou ao lugar. Ele abriu e fechou a mão direita algumas vezes, para ter certeza que não estava sentindo mais dor. — Conseguiu dobrar o meu dedo tão rápido que eu só percebi depois de sentir a dor.

— Não ache que eu vou... Me sentir melhor com seus elogios! — respondeu San, ainda ofegante. A dor no pescoço também era irritante. — Você é o assustador aqui, não eu!

— Eu te acertei dois golpes diretos que eram pra deixar você desmaiado por um dia inteiro. Devo dizer que eu que estou assustado aqui.

— Se você se assustou com aquilo, então é melhor se preparar. Eu vou começar a lutar de verdade agora.

Chang riu da patética tentativa de intimidação de San. Ele iria dizer algo como "Nossa, agora eu estou com medo mesmo!", mas desistiu de rir e de falar quando San liberou, pela primeira vez, sua aura assassina. Chang fechou a cara e fixou os olhos. Não estava com medo ou intimidado, mas sabia que as coisas iriam ficar perigosas agora. Era pra ser assim. Uma luta de verdade nunca poderia ser finalizada com apenas quatro movimentos.

O mestre sentiu aquela doce adrenalina corroendo suas veias e artérias. Era aquela sensação que ele sentia desde que era muito pequeno, quando treinava com seu avô. O velhinho era ranzinza, bravo e extremamente rígido no quesito de treino. Mas foi por causa daquele velhinho que Chang conseguiu ter o Título Único que hoje lhe faz tanta fama.

Deu um passo para frente. Apertou os dois punhos. Se era isso que o seu oponente queria, então era isso que ele iria ter. Lutar de verdade. Parou o passo. Arregalou os olhos. A aura de San não tinha se intensificado nem nada do gênero. Era a posição dele.

San tinha adotado uma posição que nunca tinha mostrado durante o Torneio. Sua perna direita estava dobrada, suportando o peso do corpo enquanto a perna esquerda estava esticada para a frente. Seus braços estavam voltados para frente quase retos, mas suas mãos exibiam não um punho fechado, mas sim, o dedo polegar apertando contra o indicador e o do meio.

Chang conhecia muito bem aquela posição de combate. Mas era impossível! San tinha aplicado um clássico golpe de Muai Thay há uns segundos atrás! E aquela posição era uma de ataque do estilo "She Quan". Esse é um dos estilos de Kung-Fu com os golpes mais rápidos, focados em ataques em pontos vitais. O que estava acontecendo? Será que o garoto sabia lutar duas artes marciais totalmente distintas? Era difícil, mas não impossível.

DESLOCAÇÃO DE TEMPO FUTURO!

San usou, pela primeira vez nesse combate, sua energia mágica. No chão, embaixo de si, apareceu um círculo brilhoso que logo se transformou em uma forma de um relógio. Quando os dois ponteiros pararam de rodopiar, aquele círculo sumiu, deixando o corpo de San com uma aura branca.

Chang já tinha visto o que aquilo fazia. Ele acelerava o tempo do garoto, fazendo ele se deslocar em uma velocidade sobre-humana. Foi aí que a ficha caiu. O mestre já tinha entendido a enrascada que estava se metendo. San combinaria os ataques rápidos daquela posição com a magia de aumento de velocidade, criando uma situação perigosa até mesmo para alguém como Chang.

Houve um barulho bem baixo de algo batendo no chão. Chang piscou e... San não estava mais lá. O vento foi distorcido ao seu lado. Naquele momento, tudo foi aumentando. Sua percepção, sua velocidade e sua intenção para não morrer.

San tinha viajado a mais de dez metros de distância em um único passo e agora estava tentando acertar o olho direito de Chang com sua mão imitando uma pinça. Essa sim, poderia ser o ápice da definição de "velocidade".

O que Chang viu não foi a mão de San, mas sim, um rápido vulto passando por seu rosto. Chang AINDA era absurdamente perceptivo e rápido, então ele conseguiu colocar a cabeça para o lado para não perder o olho. Mas isso fez com que ele ganhasse um arranhão no rosto. Mesmo com suas habilidades, ele não tinha conseguido se livrar totalmente daquele golpe.

Antes mesmo que ele pudesse reclamar, San já tinha puxado o próprio braço para trás e se preparando para atacar novamente. Chang não teve escolha. Precisou cruzar os braços na frente do rosto para proteger a cabeça. Em um segundo, San atacou três vezes, criando mais três arranhões nos braços do seu oponente. Ele só não acertou mais, porque Chang tinha dado um passo para trás, saindo da linha de alcance de San.

Quando o velho mestre abaixou os braços, San havia sumido de sua frente novamente. Uma explosão no ar à sua esquerda fez com que o mestre se virasse já com sua defesa levantada. Mais dois golpes, mais dois arranhões. O rosto de Chang mudou de expressão, dando uma clássica "cara de bravo" para o homem.

O Lutador A descruzou os braços e avançou contra o garoto ligeiro, usando sua energia para aplicar dois socos rápidos na altura da cabeça dele. San defletiu os dois golpes com apenas seu braço esquerdo, aproveitou a chance e atacou o pescoço de Chang com seu braço direito. O mestre conseguiu se esquivar, mas foi um desvio pobre. O arranhão na pele do pescoço de Chang havia sido mediamente profundo.

Isso irritou verdadeiramente o "Punho Maldito". Ele deixou sua aura poderosa sair de seu corpo, fazendo seu oponente dar um longo salto para trás. Mas esse "recuo" não iria salvar San. Antes de correr em sua direção, Chang apertou as mãos tão fortemente que quem estivesse próximo poderia ouvir um barulho característico. E foi quando ele correu contra o oponente, que San, mais uma vez, mudou a posição de combate.

Chang parou de correr mais uma vez, ficando a pouco mais de cinco metros do garoto. A aura branca dele já tinha desaparecido, mostrando que ele não estava mais sobre o efeito de sua magia de tempo. Mas aquela posição... De novo! Não era Muai Thay e nem Kung-Fu!

San tinha levantado os dois braços, deixando-os juntos na altura da boca, com os punhos fechados e com as costas da mão viradas para fora. Suas pernas estavam um pouco arcadas, afastadas uma da outra. Uma posição fechada, defensiva. Não! Aquilo era o modo "Peek-a-boo", uma forma de defesa do Boxe, um tipo de arte criada nesse reino mesmo, usada em competições amistosas e geralmente entre os nobres! Essa pose fazia ser fácil de se proteger o rosto e a parte frontal do peito, além de não dar espaço para o oponente tentar fazer ataques laterais.

"Não importa!", pensou Chang. Três artes marciais e pouco tempo de vida era algo que não era possível! Mas ele não podia se deixar assustar por aquilo. Voltou a avançar.

Iria usar um de seus melhores socos, para quebrar aquela defesa de uma só vez. Energizou o braço direito e impulsionou o corpo todo para frente. O soco acertou os dois braços de San, fazendo novamente aquele barulho impactante, duro. Dessa vez, até mesmo os espectadores puderam ver o poder daquele soco, pois ele chegou a afastar todo o ar em volta do ringue de uma vez só. O resultado? Foi diferente.

San não saiu voando como das últimas vezes. Muito pelo contrário. Ele foi apenas poucos centímetros para trás, mesmo sentindo uma forte dor nos braços. A dor valeria a pena. Chang estava abismado, sem saber o que dizer. Ele não queria acreditar que San conseguiria usar mesmo as habilidades fixas do "Peek-a-boo", que era se manter enquanto se defendia. E então, o braço direito de Chang, que tinha aplicado o poderoso soco, foi agarrado pelas duas mãos de San.

Foi rápido, assim como foi quando o dedo dele havia sido deslocado. San puxou o braço para si, virou-se de costas e aplicou mais um golpe que tiraria o ar dos pulmões dos fanáticos por artes marciais da plateia. San usou o movimento clássico de jogada de corpo. Um dos mais simples golpes de Jiu-jítsu.

Chang caiu de costas no chão, sem ar nos pulmões, mas não porque tinha ficado impressionado com o golpe. Ele perceberia que seu oponente tinha acabado de usar uma técnica de outra arte marcial só mais tarde. Agora que vinha a parte complicada.

ESTILO DO DRAGÃO, PUNHO DA DESTRUIÇÃO!

San estava parado bem na frente da cabeça de Chang. Era ÓBVIO que ele tentaria acertá-lo com um golpe potente. Principalmente porque o mestre poderia estar tonto depois de ser jogado de costas contra o chão duro. Então o punho do garoto de cabelos longos brilhou quando se encheu de energia vital, e depois desceu rápido em um golpe reto e mortal. Não era possível se defender de um golpe desses, estando no chão.

Mas Chang não estava tonto, como San imaginava. Muito pelo contrário. A dor nas costas o fez ficar mais consciente do que ele jamais esteve. Quando ele viu o punho do oponente vindo em direção à sua cabeça, todo o seu corpo entrou em choque, fazendo ele rolar pelo chão. San atingiu o chão com tudo, como se estivesse batendo com um martelo em um prego grosso.

O golpe tinha sido poderoso. Se atingisse a cabeça de Chang, ele poderia ter dado adeus a própria vida. Aquele golpe também tinha provado a extrema resistência do ringue. Nem mesmo um golpe direto como aquele havia sequer quebrado um dos pisos que compunham todo o ringue. Era mais assustador do que impressionante.

— Você... — a voz de Chang tinha se endurecido. Ele parecia claramente nervoso e inquieto. — Quantas artes marciais você luta?

— Todas. — respondeu San, levantando o punho esquerdo para frente com o braço reto, enquanto escondia o braço direito na lateral do corpo. Suas pernas estavam retas e seu olhar travando uma mira. Era outra posição de batalha. — E nenhuma ao mesmo tempo.

— Já tem um tempo que eu quero perguntar isso, mas... — era a voz de Kuchi, que não havia tirado os olhos da luta nem por um segundo. Os outros dois companheiros acompanhavam assistindo a luta sem dar nem um pio. Foi a maga que tirou o silêncio dali. — Qual é a classe de San?

— Eu também já me perguntei isso. — disse Mumu, se virando para as duas companheiras. — Eu achava que ele era um Lutador de Artes Marciais, mas muitos dos movimentos dele são aleatórios demais para descrevê-lo como um artista marcial. E essas poses... Elas não são padronizadas.

— San não é um Lutador de Artes Marciais. — disse Mana, querendo explicar sem tirar os olhos da luta. Ela parecia ser a mais calma dali, já que sua voz saiu mais natural do que a dos outros dois. Por dentro, Mana era a que mais se debatia em preocupação. — Ele nunca fez aulas em um Templo ou em uma Academia. Ele mesmo me falou isso. San era um assassino de rua desde pequeno, então isso o coloca na mesma classe guerreira que eu.

— Um assassino desarmado? Nunca vi isso. — falou Kula, olhando para seu fiel parceiro. O mago de ferro balançou a cabeça afirmativamente, querendo dizer que compartilhava do anúncio da parceira.

— É raro sim. — continuou a assassina, olhando pela primeira vez para os dois. — Mas não é de se estranhar que vocês confundam a classe dele. San disse que "roubou" as técnicas de muitas artes marciais de seus oponentes e de algumas escolas de treino, e assimilou as técnicas em suas próprias magias. Pelo o que eu pude perceber, ele usa só as técnicas e movimentos mais mortais de cada arte, fazendo ele ser realmente uma máquina de diferentes formas de matar.

— Isso o torna um tipo de... Assassino Marcial? — satirizou Mulkior. As duas moças acharam a piada engraçada, mas não riram por causa da tensão sobre a batalha, que tinha acabado de voltar.

Chang virou o pescoço levemente para o lado, fazendo o estralar. Depois fez o mesmo novamente, mas para o lado contrário. Por sua própria sorte, seu corpo foi treinado e levado ao limite. Caso contrário, ele estaria em sérios apuros por lutar contra aquele moleque. Ele não tinha levado grandes danos ainda, e os arranhões não o incomodavam por causa da grande quantidade de adrenalina sendo jogada para o cérebro.

Já com seu oponente era outra história. Ele tinha levado dois golpes diretos que deveria deixá-lo nocauteado, mas lá estava ele. Em pé e fazendo outra pose de batalha. O que era aquilo? Punho esquerdo reto, pernas separadas e braço direito escondido atrás do corpo... Kempo? Até isso ele conhecia?

Ficaria difícil enfrentar um oponente que muda de movimentos a cada segundo. Isso faria com que ele, Chang, não apenas não conseguisse ler os próximos movimentos de San, como também deixaria muitas brechas abertas caso ele fizesse um movimento aberto demais. Então estava na hora de começar a atacar para valer.

Por mais incrível que pudesse parecer, essa não era a ideia inicial de Chang. Ele queria derrotar todos os oponentes do Torneio sem usar NENHUMA magia própria. E por MAIS incrível que pudesse parecer ainda, ele tinha chego até ali, nas Finais, realmente sem precisar usar nenhuma de suas magias. Tudo o que ele fazia era energizar seus socos e chutes, o que já era o suficiente para levar qualquer oponente despreparado para uma derrota rápida e dolorosa.

Na semi final, contra aqueles oponentes que eram acostumados a lutar contra outras pessoas, Chang quase teve que utilizar suas magias em duas lutas. Ele poderia ser forte, mas nunca subestimaria um oponente.

Mas agora... Esse oponente em sua frente... San não era qualquer um. Um garoto novo daqueles que conhecia mais de quatro artes marciais diferentes. Além disso, a coisa mais terrível dele era sua capacidade de análise e sua percepção afiada. O mestre Artista Marcial sabia que ele e seu oponente tinham quase o mesmo nível de percepção para golpes, o que era sinistro, já que Chang deveria ter no mínimo o triplo de anos a mais de combates do que San.

REFRAÇÃO ILUSÓRIA!

Aí estava uma outra magia que San nunca tinha utilizado durante todo o Torneio. Assim como sua magia de deslocação no tempo, um círculo mágico abriu embaixo dele, mas não se transformou em nenhum tipo de relógio. Ao invés disso, uma estrela de seis pontas se formou dentro do círculo, que começou a girar logo em seguida. Enquanto girava, o corpo do usuário ganhava uma nova aura. Não era brilhosa ou espalhafatosa. Para falar a verdade, era quase invisível e parecia ser furta-cor.

Assim que o círculo mágico sumiu, San atacou. Foi imediato. Chang se preparou e ficou em uma posição defensiva. Ele precisava ficar de olho em cada mudança muscular de seu oponente se não quisesse ser pego de surpresa. "Agora, o que será que essa magia dele faz?", pensou o mestre.

Velocidade não era. San estava correndo em sua direção na velocidade padrão de sua corrida. Mas a aura estava lá envolvendo seu corpo, então ALGO deve ter feito. Será que era força? Isso seria testado naquele segundo.

San cerrou o punho e aplicou um soco rápido e reto, diretamente na face do oponente. Chang não queria se fazer de bobo, então energizou o braço direito e defendeu o impacto diretamente. "Não era força.", concretizou o Artista Marcial. O soco de San não estava diferente. Então o que poderia ser? Chang foi quase pego desprevenido por causa desse pensamento.

San já estava movimentando o braço esquerdo para atingir a lateral direita da cabeça de Chang com um soco horizontal. O mestre treinado decidiu economizar energia e só levantou o braço direito para se defender normalmente. E foi aí que ele levou um soco na cara... Do lado esquerdo! Chang deu três passos para trás sentindo o choque direto na cabeça e tonteando rapidamente. Da esquerda? Como assim? O soco vinha no lado direito!

San partiu para cima novamente. Aplicou um chute baixo, mirando na batata da perna esquerda do oponente. Ainda tonto, tudo o que o mestre pôde fazer foi dar um passo para trás com aquela perna. E daí ele levou um chute na perna direita. Outro choque, e Chang foi ao chão. De novo! Como ele pode ter confundido o lado do golpe duas vezes seguidas?

San girou o corpo e mirou um chute giratório na cabeça dele. Dessa vez ele não seria pego desprevenido. Chang saltou para trás, se esquivando do chute. Mandou energia por todo o corpo, ignorando todas as dores e a tontura. Deu um passo para frente e aplicou um soco mirando as costelas de San. O garoto, que ainda estava no fim de seu último movimento, não tentou se esquivar. Ao invés disso, ele avançou o corpo e segurou o braço atacante do oponente com suas duas mãos, travando o tal braço em seu corpo.

Mestre Chang odiava ser segurado. Ele puxou o braço para si, mas San estava segurando com força. Como não surtiu efeito, o Lutador aumentou sua força através da concentração de energia mágica no corpo e fez mais um puxão, trazendo San para sua frente, ainda colado em seu braço.

Chang irritou-se e aplicou uma joelhada no estômago de San, que não teve como escapar dessa vez. O garoto aguentou o golpe e a dor. Ele precisava disso para dar uma rasteira na única perna de apoio do oponente. Com esse movimento, os dois foram ao chão, mas San não tinha soltado o braço de Chang ainda.

O "Assassino Marcial" colocou o braço do oponente entre suas duas pernas, as deixando por cima do corpo caído dele, o trancando. Um segundo depois, San começou a puxar o braço de Chang, usando as próprias pernas como alavanca. Isso faria o braço começar a dobrar em uma posição que ele não deveria, o que resultaria em um osso quebrado.

Assim que sentiu a dor, Chang começou a se virar e puxar o braço para si, dificultando o movimento de San. "Agora esse moleque está aplicando um golpe de Commando Sambo?", pensava ele.

O mestre energizou a mão do braço que ainda estava livre e segurou a perna direita de San, bem perto do pé. E então apertou com força o suficiente para esmagar ferro. San gritou quando sentiu seus músculos começarem a ser rompidos. Soltou o braço de Chang e o empurrou com a outra perna, se afastando. Rolou mais duas vezes e ficou de joelhos, virado para o oponente. Olhou rapidamente para a perna machucada, e viu as marcas roxas que tinham ficado ali. Mais um pouco, e Chang quebraria o ligamento de sua perna com seu pé.

Chang, por sua vez, se levantou dali mesmo, também virado para o inimigo da batalha. Ele também quase perdeu o braço esquerdo naquela trava, e agora sua junta do ombro estava lhe fazendo ficar irritado por causa da dor.

Ele encarou San com fúria. Aquela aura estranha já havia desaparecido de seu corpo, então ele não precisava mais se preocupar com movimentos ilusórios. Concentrou energia no braço direito. Era hora de acabar com isso. De verdade, dessa vez.

Foi como uma explosão de calor. San estava de joelhos, respirando rapidamente para reganhar o fôlego que perdeu quando levou a joelhada. Quando de repente, ele sentiu um rápido aumento de energia pelo corpo de Chang. O barulho que fez pareceu mesmo uma explosão de som. Mas isso não foi só do aumento de energia, mas sim, porque o mestre bateu com o pé no chão para impulsionar o corpo em uma avanço único.

San sentiu arrepios na hora. Ele conseguiu ficar de pé, mas foi... Só isso. Ao ficar de pé para preparar a defesa, ele levou um soco na lateral baixa do corpo, do lado direito. Não deu nem tempo para ele perder o fôlego dessa vez. Chang emendou um chute em sua caixa torácica, seguido por um potente soco na testa. San foi para trás, cambaleando. Tonto. Lutou contra a consciência e levantou o braço direito quando viu que mais um soco vinha na direção de sua cabeça.

Impacto. O braço de San voou para trás devido a força daquele último soco. Mesmo em uma posição desfavorável, o garoto jogou o corpo para frente tentando acertar Chang com um chute alto lateral. Mas San calculou o chute um pouco fora de ângulo, o que facilitou a esquiva de seu oponente.

Era agora. Era esse erro que Chang estava esperando. Estava na hora dele usar uma magia pela primeira vez em todos esses dias de batalhas!

MALDIÇÃO DO ATROFIAMENTO!

Aquele braço de Chang que ainda estava energizado ganhou uma nova onda de aura, transformando a energia mágica comum em algo muito mais potente, brilhoso e colorido. Sua mão ficou em uma cor parecida com o bege misturado com verde, que voou na direção de San. O alvo era seu pescoço. Mas o acerto foi no braço direito de San, que ainda tinha forças e consciência para levantar sua defesa, protegendo um ponto crucial de seu próprio corpo.

Houve o impacto, mas não foi sonoro. Não agora, pelo menos. Logo que a mão de Chang bateu no braço de San, daquele ponto de impacto surgiu um círculo roxo, como era costumeiro em machucados no corpo. Mas esse roxo estava muito escuro e não parecia nada natural.

Foi então que a parte "sonora" apareceu. Aquele círculo roxo estava se expandindo rapidamente, envolvendo todo o braço de San. Foi quando ele começou a gritar. Gritar de dor.

Assim como a magia de Chang, era a primeira vez que San gritava tão alto. Ele caiu no chão, ainda gritando e rolando. Seu braço estava enegrecido com aquela cor doentia. Amaldiçoada.

Seus companheiros de time começaram a gritar por seu nome, sem ter entendido bem o que estava acontecendo. Mas também não precisava ser muito perceptivo para saber que agora ele estava em apuros.

Chang se aproximou lentamente, se abaixou e segurou San pelos cabelos, o levantando. O membro da Immortal Star se debateu ainda aos berros, mas não foi o suficiente para livrá-lo de tomar outro potente soco no estômago. AGORA sim ele tinha parado de gritar.

San foi ao chão de joelhos, vomitando saliva. Ele estava sentindo a força ir embora. E mais importante: não estava mais sentindo o braço direito. Primeiro tinha vindo uma dor infernal, e agora, ele não sentia mais nada. Era como se ele não tivesse mais o braço.

— Você lutou bem, pivete. — disse Chang, se abaixando novamente e pegando San pelo pescoço, com uma só mão. Ele o levantou do chão, mas não o deixou no ar. — Conseguiu me fazer usar uma magia. E olha no que deu? — San não ouvia as palavras dele, já que ele ainda se debatia para sair daquele enforcamento. — Deve ser ruim a sensação de perder um membro do corpo, não acha? Mas não se preocupe. Não vou fazer você ficar com essa sensação para sempre!

Chang o soltou. San caiu em pé, mas não tinha forças para se manter naquele estado. Seu corpo estava dormente e ele não tinha nem sequer ar nos pulmões para começar a recobrar as forças e dar ordens ao corpo. Ele iria cair, mas Chang não deixou. Energizou a perna direita, a levando para trás. Energizou MUITO. San estava sem defesa e nem estava vendo o movimento de seu oponente.

Mana, Kuchiki e Mumu, por outro lado, estavam vendo tudo de camarote e sabiam o que viria em seguida. A maga de fogo fechou os olhos instintivamente, enquanto Mulkior apertou com força a borda do ringue, querendo acreditar em um milagre. Queria que San recobrasse os sentidos e se esquivasse daquele chute. Mana só observava. Estava mordendo os lábios tão forte que ela nem sentiu uma gota de sangue escorrer de sua boca.

Mesmo com a vontade dos companheiros de time, San não conseguiu levantar os braços para se defender ou sequer se jogar no chão. Chang impulsionou o corpo com tudo para frente, fazendo um movimento circular com sua perna direita que estava brilhando de tanta aura concentrada nela. O chute acertou San no peito, e por mais que o seu time não gostasse de admitir, tinha sido um chute lindo. Foi preciso. Potente. E mortal. Ah sim, e também fez San voar, digamos... DEZ METROS para trás.

O corpo do pobre garoto voou nem tão alto, mas foi longe o suficiente para sair do ringue, caindo a uns três metros da borda. San bateu no chão de terra com a lateral do corpo e ali mesmo ficou, imóvel.

Foi quando a gritaria generalizada dos torcedores começou a eclodir. Eles não pararam de gritar nenhum segundo. Mas naquele momento, parecia que suas vozes dobravam de poder.

Chang poderia se considerar poderoso, mas não era exibicionista. Mesmo com mais da metade dos espectadores gritando seu nome, ele não respondeu a torcida. Não levantou sua mão em uma pose de vitória, nem sorriu contemplando o gosto de ter feito uma luta rápida. Ele não ia subestimar mais aquele time finalista. E ele esperava que seus companheiros mascarados de seu time também seguissem esse exemplo. San era forte, mas o resto do time Immortal Star era MAIS forte ou tinha mais poderes. Afinal de contas, eles não chegaram nas Finais totalmente por sorte, mesmo tendo ganhado a semi final por "WO".

San realmente não estava se mexendo. Esse era o medo de Mana, quando se aproximou do corpo caído do parceiro. Ela não podia tocá-lo para sentir seu pulso. Estava nas regras. Se alguém tocar um combatente fora do ringue, esse combatente perdia a luta automaticamente. Quando Kula chegou ao lado da amiga, o Telão Informativo piscou, mudando a imagem para o já famoso contador numérico. Quando Mulkior o percebeu, ele já estava no "9".

Chang, que ficou parado no mesmo lugar, não diminuiu a intensidade de sua aura em nenhum momento. Isso porque agora, quando a contagem tinha chegado a "7", os torcedores da Immortal Star começaram a gritar pelo nome de San. Estava difícil de ouvir por causa da gritaria dos outros torcedores, mas era claro para Chang que aquela luta ainda não havia terminado.

Isso porque, mesmo assustando Mana e Kula, San colocou o peso sobre o braço esquerdo e começou a se arrastar em direção ao ringue. Seu braço direito continuava enegrecido, demonstrando que a magia de Chang não era fraca e talvez nem tinha um tempo limitado.

— San, você está muito ferido! Não precisa levar essa luta até o seu limite! Você sabe disso! — disse a maga, não se aproximando mais do companheiro que se arrastava.

— Ela tem razão! — Mana, por outro lado, falou e deu um passo à frente. Mas ela não tinha intenção de tocá-lo. — Seu oponente é um Lutador Lendário! A gente vai entender se você perder! É só a primeira luta e a gente-

— Eu não vou me render! — gritou San, cortando a fala da assassina. Mana deu um passo para trás com o susto. — Eu ainda... Não usei... Tudo o que eu... TENHO!

Com esse último grito, San forçou todo o corpo e ficou em pé. Milagrosamente, ele estava em pé. Sua respiração estava fraca. Olhou para cima e para o lado. Viu o contador mostrar o número "4". Levou a mão esquerda, a única que ele podia mexer, até o peito e o tocou. Dor. Algo quebrado. Ele tinha uma leve dificuldade em respirar, então imaginou que aquele último chute que levou deveria ter quebrado um dos ossos do peitoral. Seria difícil se movimentar com aquela dor intensa, e ficar só com um braço não era a melhor forma de sobrepor isso.

Quando o contador chegou a "2", ele subiu no ringue. O Telão Informativo piscou outra vez, mostrando novamente a tela com a imagem dos dois lutadores. Ainda ali na borda, San se virou para trás, encarando as duas mulheres de seu time. Mais uma vez, com a mão esquerda, ele levantou o dedo polegar, dizendo que estava tudo bem e que iria dar tudo certo.

Mas isso não enganaria aquelas duas. Elas SABIAM que ele estava se forçando. O oponente de San era poderoso e perigoso demais. A luta não estava equilibrada. Os danos de San eram muito maiores do que os de Chang, e como se isso já não fosse ruim, ainda tem o fato de que o garoto cabeludo usava energia vital para atacar! San só conseguiria ganhar se ele acertasse um golpe com toda a sua força, em um ponto vital em Chang. Mas como ele conseguiria tal coisa? Já era difícil acertá-lo usando os dois braços, imagine agora!

Ninguém conseguia entender o que estava fazendo San voltar ao ringue e caminhar na direção de seu oponente novamente. Mas de uma coisa é certa: aquela luta ainda estava longe de acabar. San passou esse sentimento para seu time. Ele não iria perder tão rápido e tão humilhantemente daquele jeito.

— Tem coragem de voltar ao campo de batalha machucado desse jeito. — disse Chang, apertando os punhos. — Deveria ter se fingido de morto e esperado o contador chegar a zero. Pelo menos você salvaria sua vida!

— Eheheh... — a risada de San saiu sem querer. Ele estava com a cabeça baixa e com as pernas bambas. Nem ele mesmo sabia como ainda conseguia se manter consciente. — Você fala como se preocupasse com minha vida. Seu último chute tinha energia o suficiente para ter me matado mesmo se eu estivesse com toda a minha força vital. Não tente parecer bonzinho na frente de todo mundo.

— Ah, mas você é muito metido mesmo, garoto! Você mereceu. Eu vou te dar um prêmio em troca da sua vida: você tinha razão, eu estou nesse Torneio por vingança. — o homem pareceu mais tenso ao dizer, e San percebeu sua seriedade na voz. — Meu neto foi brutalmente assassinado ano passado, e nunca encontraram o maldito assassino. Sabe, meu neto também era um Artista Marcial. Treinava comigo e fazia trabalhos para uma grande Guilda daqui dessa cidade mesmo, então é claro que ele arriscava a vida de vez em quando... Mas ainda sim era meu único neto do meu falecido filho! — a nova alteração na voz de Chang fez San mudar de expressão. Por mais estranho que aquilo pudesse parecer, o garoto parecia interessado na história do Grande Mestre. — Desde sua morte, eu abandonei meu Templo em busca de vingança, mas nunca achei pistas do seu assassino, pois ninguém o viu. Quando eu soube desse Torneio, eu pensei em entrar por dois motivos: manter meu corpo e minha mente treinados e observar os lutadores para encontrar um possível suspeito ou até mesmo pistas que me colocariam em um caminho certo. Mas agora, eu tenho um novo objetivo. Antes, eu não precisava GANHAR. Mas agora que eu sei que o vencedor terá contato com o Planetarium, eu tenho motivos para vencer esse Torneio, mesmo que estivesse sozinho.

— Você quer usar a vasta quantidade de informações da Planetarium e sua liberdade de ação nos reinos para encontrar o assassino do seu neto...

— Bingo! — falou Chang, apontando para algo atrás de San. — Eu cheguei a pensar muito no assunto. Cheguei até a pensar que sua companheira de equipe fosse a pessoa por quem eu procuro. — naquele momento, San mudou rapidamente sua expressão novamente, ficando com o rosto sério e seus músculos rígidos. Ele não precisava ver para quem ele estava apontando, pois isso era óbvio. — Mas eu não tenho nenhuma prova das minhas suspeitas. Agora, se eu souber que foi ela... Digamos que eu não conseguirei me segurar, entende?

— Silêncio... — disse San, em uma voz mais grossa e com a cabeça mais baixa.

— Por isso eu preciso da amplitude do Planetarium. — Chang ignorou totalmente o pedido de San. Para falar bem a verdade, ele nem o ouviu. — Os espiões dessa Guilda Secreta tem tantas informações que eles conseguem encontrar um rato escondido em um bueiro, se quiserem.

— Silêncio... — repetiu San, apertando a mão esquerda, que era a única que ele conseguia mover.

— Não me veja por mal. — continuou o mestre. Dessa vez, ele ouviu a frase de San, mas realmente a ignorou. — Você sabe como as coisas funcionam nesse mundo. Nem todos têm-

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— CHEGA!!!

O grito não foi só a coisa mais estranha que San fez durante todo o Torneio. Ele já tinha mostrado como ele era calmo e calculador, e sempre deixava emoções fora das lutas. Foi a primeira vez que ele aumentou tanto a voz.

Houve, de fato, um silêncio mortal em quase todo o Coliseu por conta do susto dos torcedores. O grito chegou até as partes mais elevadas da bancada de espectadores, até mesmo Bart, que estava dentro do cômodo especial do Apresentador. Ele se surpreendeu pela mudança de atitude do garoto, mas não tinha sido isso que o fez ficar com a boca travada e com os olhos arregalados.

Raziel, Leon e Athena também foram pegos de surpresa por aquele efeito que estava acontecendo no ringue. Leon inclusive se levantou de sua poltrona e foi até a borda da janela, incrédulo.

Shiro, do outro lado da arquibancada, deixou sair um "Mas que porra é aquela?", que fez sua companheira e curandeira olhar para ele com confusão, e depois olhar para o ringue novamente. Nathalia não tinha uma visão tão boa quanto a do ninja, mas ainda sim, conseguiu ver.

Mais do que ver, Geovanna e Kula, duas magas com um alto nível de sensibilidade mágica, chegaram a sentir na pele. Um arrepio. Pareciam estar sendo observados por uma fera faminta que se esconde na mata, te marcando para ser a janta. Medo. Não tinha outra coisa que descrevia melhor o que a maga de fogo sentiu naquele instante. Quando percebeu, ela já estava agarrada no braço esquerdo de Mumu, que também olhava surpreso para o ringue.

Mas o que tinha acontecido para todos ficarem tão surpresos assim? Simples: a aura de San mudou de cor.

Foi assustador para a maior parte dos espectadores que conseguiam enxergar auras. San geralmente tinha duas auras. A mais normal, era de uma cor marrom clara, que ficava vermelha quando ele utilizava uma de suas magias de energia vital. Isso era normal, já que a vermelhidão era um tipo de absorção automática da magia, imitando a cor visível do sangue. A outra aura de San era derivada de suas magias arcanas de auto melhora, que era de um puro branco.

Geralmente as pessoas tinham mesmo duas auras diferentes, mesmo que utilizassem várias magias de elementos diversos. Só que nesse caso em especial, foi algo totalmente diferente. A aura de San ficou negra com vermelho se misturando enquanto corria pelo seu corpo. Aquilo estava tão intenso que até o ar envolta dele estava se elevando, parecendo que queria fugir para longe. Isso estava fazendo sua roupa e seu cabelo esvoaçarem como se ele estivesse indo contra um tornado.

O que nos leva a outro fato: o nível de poder dessa aura. Não era brincadeira. San estava exibindo algo que ultrapassava facilmente seu próprio limite. Uma das coisas que Chang pensou naquele momento, foi que seu oponente tinha perdido a razão e deixado a raiva tomar conta de seu ser.

Ele descartou essa hipótese quando San levou a mão esquerda até a boca. Com os dentes, San desprendeu o botão de sua meia luva e depois a puxou, retirando totalmente o acessório e o cuspindo no chão. Depois, ele levou a mão esquerda até a mão direita que continuava negra arroxeada devido a magia de seu oponente. Abriu o botão prateado da meia luva e a retirou também, ficando com as duas mãos nuas.

A única pessoa em todo o Coliseu que ficou realmente surpresa com aquela ação sem sentido do garoto foi Regi, que ficou de pé, abismada. O pai de Mulkior, ao lado dela, a olhou com estranheza, mas não perguntou nada. Não precisava.

ANEL DE NIBELUNG, ATIVAR!

Uma explosão de energia fez Chang ser jogado para trás, tendo que lutar contra o próprio corpo para cair em pé no ringue. Na verdade, todos tiveram que se afastar um pouco. Quem estava perto do ringue, como Mana, Mulkior e Kula deram alguns passos para trás, descontroladamente.

Foi como uma lufada de vento. Até os três outros membros da Zero Soldier tiveram que se afastar. Os três mascarados também estavam curiosos sobre o que estava preste a acontecer.

Mas foi Chang que estava vendo tudo de camarote. O mestre, tentando se manter firme em sua posição, observou o corpo de San sofrer uma mudança única e característica. Ele estava ganhando linhas vermelhas que serpenteavam por todo o seu corpo. Eram como veias cheias de sangue, querendo explodir pela pele. Pareciam pulsar, ritmando o bater do coração de seu usuário.

Agora vinha a parte que deixou Chang ainda mais incrédulo: as "veias" estavam mais fortes no braço direito de San, que ainda permanecia amaldiçoado. Elas pulsaram várias vezes, até fazer todo o braço ligar sua já conhecida aura marrom clara.

Foi aí que o braço de San sofreu uma "desfragmentação". Aquele negrume começou a se despedaçar em pequenos hexágonos que subiam para o ar e desapareciam como poeira. Em menos de três segundos, o braço direito do garoto com energia negra estava com a cor de pele que normalmente tinha.

San mexeu o braço para cima e para baixo, vendo que tinha ganhado novamente a movimentação de seu braço canhão. Ele apertou as duas mãos na frente do peito, e como se terminando um ritual, apareceram dois símbolos vermelhos nas costas de cada mão. Era um círculo duplo, bem simples. Mas a simplicidade não escondia a imponência.

— Conseguiu quebrar a minha maldição...

As palavras de Chang saíram sem ordens do cérebro dele. Simplesmente saíram. Incredulidade. Chang não era conhecido como "Punho Maldito" por nada. Suas magias se tratavam de maldições que ele mesmo tinha forjado. Cada magia sua utilizava uma vasta quantidade de energia mágica, mas era por um bom motivo: as maldições eram "incuráveis".

Bom, nem todas. Algumas de suas magias ele mesmo modificou. Ele transformou algumas em "temporárias", como essa que ele tinha usado contra San. Isso fazia com que a magia diminuísse em quase cinquenta por cento do custo de energia mágica, dando à ele a vantagem de tempo de luta e conservação de energia

Mas ainda sim, ainda faltava algum tempo para que sua magia se desfizesse do corpo de San. Mas o garoto conseguiu anular a maldição usando a própria energia... Seja lá o que ele tinha feito, não era absolutamente nada bom.

— O Anel de Nibelung! — gritou o Líder da Immortal Star, tão incrédulo quando Chang. — San possui o Anel de Nibelung!!

— Mumu, calma! O que tem de errado com isso? — perguntou a maga de fogo do time, que tinha finalmente decidido soltar o braço do companheiro amoroso.

— Esse Anel é um dos Tesouros do Olimpo, como a Jur de Mana! — as duas mulheres exibiram a mesma reação de surpresa. Mulkior olhou para a assassina. — Por que você nunca me disse que ele também possuía isso?

— Porque ele nunca me disse! — respondeu Mana, um pouco irritada pelo fato de seu companheiro ter escondido um segredo tão grandioso como aquele dela. Principalmente depois que ela mesma revelou à ele, antes do Torneio, que possuía um daqueles Tesouros. — San sempre foi desse jeito, cheio de segredos. Desde a época que eu o conheci, eu nunca consegui saber o que ele estava pensando... Nunca conseguir ler suas intenções.

— Mana, será que era disso que ele estava falando quando disse que não tinha mostrado tudo o que poderia fazer? — perguntou Kula.

— Provavelmente. Mas eu não duvidaria se ele nos mostrasse mais uma coisa secreta.

— O Anel de Nibelung... — Mumu tinha retirado os olhos do ringue por outro segundo. Ele colocou a mão sobre o queixo, fazendo seu cérebro trabalhar o mais rápido possível. O que ele queria era lembrar daquele Tesouro. Ele já tinha lido em algum lugar sobre ele, mas estava difícil de lembrar com toda aquela tensão espalhada pelo Coliseu. Mas alguma coisa em sua mente lhe dava medo. Alguma coisa sobre aquele Tesouro precisava ser lembrada o mais urgentemente possível. — Tem algo de perigoso nesse Anel... Mas o que era mesmo?

APRIMORAMENTO MUSCULAR!

San conseguiu fazer uma bela visão para os que estavam assistindo tão concentrados. Sua aura agora era uma mistura de preto com branco, parecendo que San era o controlador do Ying e Yang, do bem e do mal. Os braços, o peito e as duas pernas dele brilharam com uma luz branca forte, e a energia mágica fez os músculos crescerem e se enrijecerem.

Foi a vez de Chang ser pego pelo óbvio senso de perigo. Ele afastou as pernas e se preparou para defender. Ele sabia que San atacaria primeiro. E também sabia que aquela sua última magia fazia sua musculatura crescer e aumentar seu poder físico. Não seria nada gracioso levar um soco dele daquele jeito.

E ainda tinha o fato dessa... COISA que ele tinha ativado. Aquilo o livrou da maldição, mas o que mais ele poderia fazer? Aumentaria sua força? Sua energia? Chang precisava fazer seus próximos movimentos levando várias desvantagens em questão.

ESTILO DO FALCÃO, RASANTE DO CAÇADOR!

San tomou impulso ali mesmo e deu um pulo bem alto para cima e para frente. Girou ainda no ar e caiu como um meteorito na direção de seu oponente. Chang não se mexeu. San estava longe, mas se ele tentasse sair daquela linha de ação, o garoto poderia manobrar no ar e modificar sua magia para tentar pegá-lo. Chang usaria uma outra tática.

Ficou parado, olhando o garoto vir voando em sua direção com a perna direita brilhando em vermelho, marrom e preto. Era um golpe e tanto. Mas não iria atingir o Grande Mestre. Chang energizou os dois pés e o braço direito, mantendo sua posição como se quisesse contra atacar o chute voador. Não foi isso que aconteceu.

Quando San estava uns três centímetros de atingir o peito do oponente em cheio, Chang usou a energia que tinha armazenado nos pés e deu um passo para o lado em velocidade super sônica. Isso fez com que San atingisse o chão com seu chute, o que também foi uma bela visão já que o impacto fez todo o ringue tremer.

Mas isso não tirou o equilíbrio do Mestre Lendário. Chang virou o corpo, enxergando San bem a sua frente, quase colado. Agora ele sentia. Aquele pulsar nervoso daquelas veias mágicas que passavam por todo o corpo dele. Era algo realmente poderoso, mas não seria o bastante para deter um soco energizado.

Chang apertou bem a mão direita e mirou um soco reto na cabeça de San. Foi um golpe rápido e preciso. San, pela primeira vez, levantou só a mão esquerda, com a palma virada na direção do soco e... Segurou-o.

Houve aquele característico impacto poderoso. Mas o resultado foi impressionante. San tinha segurado o golpe de Chang usando só uma mão, sem sair do lugar. Logo em seguida, sem deixar que seu oponente ficasse muito tempo alarmado, San abaixou o punho de Chang empurrando sua mão para baixo, na tentativa de lhe tirar o equilíbrio. O corpo de Chang foi para baixo no puxão, deixando a cabeça dele totalmente sem defesa.

ESTILO DO TIGRE, GARRA RETALHADORA!

As unhas da mão direita de San cresceram como mágica e se encheram de uma energia com cores misturadas, assim como seu último chute voador. Ele aplicou um golpe horizontal, como um tigre querendo rasgar a pele e carne de sua presa. E, como se não fosse óbvio, o golpe foi mirado na cabeça de Chang.

A única coisa que o mestre conseguiu fazer foi jogar o corpo para o lado, mas isso não o livrou de ser arranhado na testa. Chang ignorou perfeitamente a dor do arranhão. Girou o corpo como se estivesse dando continuidade à jogada do mesmo, terminando em uma rasteira rápida. San não previu o golpe e foi derrubado no chão, sem defesa.

O membro do time Zero Soldier energizou o braço direito mais uma vez e voou na direção do oponente caído. Iria dar um golpe potente na vertical, como um martelo. Mesmo no chão, San levantou os dois braços juntos, colocando uma mão em cima da outra. Foi para defender o soco.

Impacto. Foi como se Chang estivesse tentando pregar o corpo de San no chão. Isso não pareceu adicionar nenhum dano no garoto, ao contrário do que era esperado. Ao invés disso, San agarrou o braço do oponente mais uma vez e o puxou para si. O corpo se Chang voou por cima de San, que colocou a perna direita no estômago do mestre e fez um outro golpe clássico de Jiu-Jítsu. Chang foi jogado para frente, caindo com as costas no chão. Não sentindo quase nenhuma dor, ele rapidamente se virou e se levantou. Encontrou San já correndo em sua direção, se preparando para um novo ataque.

ESTILO DO TIGRE, INVESTIDA DA FERA!

San correu com tudo na direção de Chang, com todo o corpo brilhando em uma estupenda aura brilhosa. Chang não conseguiu se defender dessa vez. Foi atingido no peito pelo golpe de ombro do oponente com veias vermelhas. No mesmo instante, Chang perdeu o fôlego e sentiu uma dor, a pior de todas, que ele não tinha sentido em todos os dias desse Torneio.

Seu corpo foi jogado para trás, cerca de três metros, mas ele não foi ao chão. Não, foi bem pior. Ele caiu de joelhos, com cabeça baixa e sem consciência, coisa que recuperou no segundo seguinte pois sentiu novamente a dor penetrante roendo os seus ossos do peito. O gosto ruim estava infestando sua garganta. Cuspiu no chão, vendo aquele líquido vermelho forte pintar o ringue. Forçou a cabeça para olhar para frente.

San estava lá parado, respirando rápido. Não era de menos. Ele tinha utilizado três técnicas sem parar, e consumir aquela quantidade de energia vital era como tomar um choque elétrico no corpo.

Pela primeira vez, há muito tempo, Chang ficou verdadeiramente irritado. Forçou o corpo a ficar ereto, e conseguiu. Olhava para o seu oponente como se olhasse para um monstro nojento e gosmento. Lhe passou a vontade de pisotear, massacrar, matar. Apertou as duas mãos com força e deixou sua aura ser liberada. Por completo dessa vez.

Assim como a liberação de energia de San, a aura de Chang começou a criar faíscas no ar. A terra tremeu e o vento soprou ao contrário. Muitas pessoas começaram a ficar silenciosas com a súbita mudança de clima, mas todos foram pegos por uma séria e incrível surpresa: estava escurecendo. Todos olharam para cima e viram as nuvens se enegrecerem e rodopiarem em volta do Coliseu, como se estivesse mirando um relâmpago para o meio do ringue.

Em meio aos gritos e de pessoas apontando para cima, tudo o que pessoas como Raziel, Jimmy e Shiro conseguiam prestar atenção, era no Artista Marcial e sua aura gigantesca. Se aquela não era toda a força dele, então significava que San estava enfrentando um tipo de Deus ou Demônio.

Os rostos surpresos estavam estampados até mesmo nos membros da Immortal Star, que estavam quase comemorando a súbita mudança de vantagens na luta. Todo o time de Chang decidiu recuar. Eles sabiam muito bem o que estava para acontecer e não queriam ser pegos por algo "descontrolado".

Havia uma exceção em todo aquele povo surpreso: San. Ele permaneceu parado, deixando sua aura fluir para fora. Não iria se amedrontar naquela altura do campeonato. Estava ali sabendo que enfrentava um oponente de Nível Lendário. Um mestre que tinha formado muitos outros mestres. Algumas pessoas poderiam considerar uma verdadeira honra estar frente a frente com aquela pessoa, mas San não tinha pensamentos tão sem sentidos como esse. Ele estava ali inicialmente para levar o nome de seu time e de sua Guilda para o alto.

Isso antes. Agora ele tinha um motivo muito mais claro para se manter firme e não deixar ser surpreendido. Ele precisava matar aquele homem. Ele era perigoso demais. Deixá-lo vivo seria como soltar um tubarão faminto em uma praia de nadadores.

San olhou para trás de Chang e enxergou os três colegas. Todos eles exibiam a mesma expressão. Olhou para Mana por último, criando um juramento. "Ele não vai tocar nela!". Fixou o olhar e energizou todo o corpo de uma só vez.

Deixou o corpo reto para o oponente, afastou as pernas abaixando um pouco o tronco. Levantou os braços, um na frente do outro, com as mãos abertas e dedos juntos. Ele estava preparado para qualquer coisa.

— Ah, Ninjutsu agora? — disse Chang, sorrindo. — Você realmente me surpreende, garoto! Mas essa luta já durou tempo demais. Está na hora de você conhecer o verdadeiro Mestre Lutador! MALDIÇÃO DO APERFEIÇOAMENTO!

Os dois punhos de Chang acederam como fogo vivo, mas não em sua cor mais normal. Era uma cor misturada, devido a mudança radical em sua aura. Do bege para o verde, ou vice e versa. San manteve os músculos rígidos, preparando sua defesa. Mas Chang não atacou imediatamente.

Não, não. Ele realmente atacou naquela mesma hora, mas... Ele SE atacou. O mestre bateu com seu punho direito em cima da perna direita e com seu punho esquerdo, bateu em cima do ombro do braço direito, tudo ao mesmo tempo.

A visão seguinte foi terrivelmente assustadora. Os músculos das pernas e dos braços dele começaram a se mexer e pulsar descontroladamente, como se estivessem vivos.

De longe, não dava para ter a mesma visão de San e os outros de seu time. Além disso, não precisou Chang falar nada para que seu oponente, com sua velocidade de pensamento elevada e multiplicada pela adrenalina, soubesse o que estava preste a acontecer. E então aconteceu.

Resumidamente, San levou um grande e potente soco na parte direita do rosto. Ele girou o corpo duas vezes no ar, tonto. Caiu com um dos joelhos no chão, visivelmente aturdido.

Todos estavam. Chang tinha feito aquela mágica de "sumir" do nada e aparecer no lado do oponente. Mas o problema é que dessa vez, nem mesmo San conseguiu enxergar o movimento. Quando ele percebeu, seu rosto já estava doendo e ele estava olhando para o piso branco.

A velocidade de avanço de Chang sempre foi absurda, mas agora ele deve ter liberado toda sua aura para chegar no seu máximo. O que isso significava? Outro golpe bem dado em San.

Dessa vez foi um chute reto que atingiu o braço direito do garoto e o fez cair no chão e rolar duas vezes. Ele se levantou, balançando a cabeça pedindo por consciência e concentração. Olhou para frente e viu mais um soco se aproximar dele, na altura do nariz. San levantou sua defesa, deixando os dois braços para receber o impacto. E então tomou um soco no estômago. Mesmo sem ar, o garoto sabia bem o que tinha acontecido, e isso sim era algo de se espantar. Chang conseguiu mudar a trajetória do próprio soco no meio da ação.

Sem ar, o garoto caiu de joelhos ao chão, tossindo violentamente. Depois ele levou uma joelhada na cara, porque era o que se acontecia quando você ficava na altura perfeita para tal. Com a carne martelada, músculos destruídos e ossos ao ponto de virarem poeira branca, San estava se sentindo próximo ao "Rio que levava para o Outro Lado". Ele se sentia cansado, coisa que fazia bastante tempo que não sentia.

Seus olhos agora enxergavam o céu, já que ele tinha caído de costas para o chão. Via as nuvens negras que ainda dançavam em volta do Coliseu. Seus ouvidos estavam praticamente tampados. Só ouvia um zumbido forte, como se algo estivesse estourado bem ao lado de sua cabeça. Tentou mexer o corpo para se levantar, mas a dor lhe fez manter-se preso ao chão gelado.

Ele estava processando a informação que tinha acabado de obter, sobre a última magia de seu oponente. Ele também tinha algo que lhe desse suporte físico, mas aquilo estava acima do esperado. Magias de Maldição eram poderosas demais porque tinham um custo e um perigo bem maior do que as magias mais simples. O pensamento dele foi se esvaindo junto com sua falta de mobilidade. E então veio Chang.

Foi o único movimento que San conseguiu ver, um milésimo de segundo antes de ser atingido de novo. As duas mãos do seu oponente brilhando, enquanto elas desciam com tudo em um golpe de marreta que lhe atingiu o peito. Ele não ouviu. Mas os espectadores, torcedores, observadores e outros participantes daquela luta sangrenta conseguiram ouvir e ver claramente.

Esse golpe foi potente demais. O impacto passou por todo o corpo de San e foi parar no chão debaixo dele, criando o primeiro dano visível aos pisos fortificados na arena. Sim, o chão debaixo de San rachou com o impacto. "Imagine o que não aconteceu aos ossos do pobre garoto?", foi o que Leon pensou na hora.

San pendeu a cabeça para o lado, deixando os dois braços caírem sem vida para o chão. Estava de olhos fechados e com a boca sangrando. Provavelmente uma hemorragia interna.

Pablo, que tinha ficado incrivelmente em silêncio até aquele momento, declarou uma "Caída" do Combatente San e o Telão Informativo mudou de tela novamente, exibindo os números da contagem regressiva. Ele também servia para isso. Se uma pessoa desmaiasse ainda no ringue, ela tinha dez segundos para acordar e ficar de pé novamente.

Chang não precisou esperar a contagem terminar. Quando deu "8" no Telão, ele se virou e começou a andar para o lado de seu time, já sabendo que seu oponente não estava mais em condições de acordar. "Ele lutou bem, eu admito", foi o que passava pela cabeça dele.

Seus fãs foram a loucura, gritando seu nome e o nome de seu time. Chang não se importava com aquilo. Era chato ter que ficar ouvindo a voz de milhares de pessoas ao mesmo tempo, torcendo para ver sangue e violência. O que havia de errado com aquele país? Será que essas pessoas não entendem o verdadeiro sentido de uma luta?

Chang quase riu de seu próprio pensamento. "E quem sou eu pra dizer o que é uma luta de verdade?", pensou. Ele, que tinha jogado toda sua honra de lutador fora. Foi atrás da vingança, para satisfazer sua sede que lhe tirava as noites de sono quase todos os dias.

Quando foi que ele tinha se tornado só mais um desses que não precisam mais de honra e respeito nas batalhas? Nos duelos para medir não sua força, mas sim, verificar seus limites. Desde quando ele deixou de ser um Artista Marcial para ser só mais um brigão?

Sua cabeça estava cheia de pensamentos abusivos, quando o público parou de gritar o seu nome. O silêncio mortal fez o homem parar de andar, quase na borda do ringue. "Não". Se virou, olhando para o Telão Informativo. A contagem congelou no "1". Olhou para o lado e viu San em pé. Estava arcado, com as pernas bambas e tendo uma dificuldade tremenda em respirar. "Não!!".

— Como você... Consegue estar consciente???

A pergunta de Chang foi ouvida só por ele mesmo, pois os torcedores da Immortal Star tinham voltado a comemorar. A batalha não tinha terminado ainda. O Telão retirou a contagem e o Apresentador deu continuidade a luta, com uma empolgação fora de série.

Mesmo que o oponente de seu ídolo ainda esteja de pé, os torcedores da Zero Soldier voltaram a gritar, não deixando serem vencidos. O Coliseu continuava vivo e a luta continuaria.

Por outro lado, não era bem o que San estava esperando. Ele estava de pé sim, mas foi graças a... Ao quê? Ele estava com dificuldades respiratórias e com gosto de sangue infestando sua boca. Ele sabia bem que quando você respira e sente dor ao mesmo tempo, significava que sua situação era problemática demais. Tudo piorava quando você ainda tem o azar de precisar continuar lutando.

Ele queria olhar para trás, encarar os companheiros. Não conseguia. Mas tinha sido por causa deles que ele se manteve de pé mais uma vez. Ele não ouvia nada enquanto deixava a consciência se esvair, mas o "SAN!" lhe clareou a mente, entrando pelos seus ouvidos e fazendo seus olhos se abrirem como se fosse uma assombração. Os três gritavam mais do que todos os torcedores unidos.

San realmente não ouvia a barulheira que o público fazia, mas conseguia ouvir o clamar de seu time. Ele sentia a preocupação deles. O medo de vê-lo no chão, nunca mais acordando. Não dava pra deixá-los tristes e insatisfeitos. Ele tinha acabado de fazer uma promessa também. Não era de seu feitio quebrar promessas.

Reativou sua aura, fazendo aquelas veias mágicas voltarem a se acender em seu corpo, lhe trazendo novamente um pouco de vida. Junto, veio a dor. Seu peito estava destruído, e qualquer golpe ali seria fatal. Evitar um soco direto daquele homem, naquela velocidade, seria algo realmente desafiador. Só existia uma única maneira de lutar de igual para igual contra aquele poder tremendo.

San precisaria de velocidade para se defender e atacar ao mesmo tempo. Precisava se igualar aos movimentos extremamente precisos de Chang. Só havia uma coisa a ser feita. Foi então que sua energia mágica explodiu. Nem era tanto, na verdade. Mas seria a maior quantidade usada por ele de uma única vez. Ele era conservador com suas magias, mas estava na hora de mudar de tática.

DESLOCAÇÃO DE TEMPO FUTURO!

Mais uma vez, o relógio de energia tinha voltado a aparecer e fazer todo o corpo do garoto brilhar em branco. Chang não conseguia acreditar que ele tinha tamanha força de vontade para continuar uma luta que já tinha tido um óbvio vencedor. Só isso por si próprio era inacreditável, mas não superou o que veio em seguida.

— Chang! — era San. Sua voz tinha força para chegar até aquela parte do ringue. Ele estava realmente se esforçando para falar alto, e isso parecia destruir ainda mais suas energias de sobra. — Seu neto morto... Ele se chamava Liu-Hen, não é?

— O quê??? Mas como você... Você o conheceu??? — a incredulidade do Mestre Lutador era tão clara que chegou a ser engraçada.

— Sim, o conheci. — respondeu o garoto, dando passos para frente. Ele não fazia isso para amedrontar o oponente e sim, para ser mais fácil dele falar o que queria, em um tom mais baixo. — Ele trabalhava para a "Halk's Army". Era um dos melhores caçadores que a Guilda tinha. — Chang ainda manteve a cara de bobo enquanto ouvia as palavras de San. Encontrar um conhecido de seu neto em ringue não estava em seus planos. E se os dois fossem amigos? Era tarde demais para isso. — A última missão dele foi de assassinar uma certa pessoa. Essa pessoa tinha traído a confiança da Guilda, por enganar um cliente e roubar um de seus pertences mais valiosos, dando um caro prejuízo para toda a Guilda. Ele encontrou essa pessoa, mas na luta contra ele, acabou sendo assassinado. — essa parte era quase totalmente novidade para Chang. Ele não tinha conseguido toda a informação, pois a Guilda não poderia revelar nada sobre o caso enquanto não encontrasse o assassino do garoto. Tudo o que a Guilda lhe disse foi que Liu tinha sido selecionado para matar um traidor e morreu no processo. San deu um leve sorriso quando parou de andar, a uns seis metros de distância dele. — Essa pessoa... A missão de Liu era matar um mercenário conhecido pelo Título Único de... LOBO SOLITÁRIO!!!

Foi a primeira vez que o mundo de Chang congelou. Ele se sentiu como San quando recebeu seu último golpe. Não ouvia nada e não enxergava nada. Não sentia nada. Sua mente trabalhava. E muito rápido por sinal. Seria possível? Uma coincidência dessas seria mesmo possível? Não, não. Tem que haver alguma coisa errada.

Seu neto, seu querido e esforçado neto. Ele tinha sido selecionado para matar alguém impuro, traidor. Alguém que não merecia viver. Liu aceitou a missão, ele não seria forçado a nada. Seu neto aceitou a missão por ter uma grande visão honrada da vida. Ele aceitou a missão porque seu avô também aceitaria. Então ele foi atrás da pessoa. Ele encontrou a pessoa. Lutou contra a pessoa. E a pessoa o matou. Foi desonroso? Não para Liu. Ele tinha morrido lutando. Mas seria o bastante para acalmar a pobre alma de um avô preocupado?

Nunca. Essa tal pessoa não merecia viver, já que tinha se tornado alvo até de uma Guilda inteira! Então era normal, não concorda? Era normal um avô ficar alucinado com a notícia e querer vingança. Provar que o esforço do neto não tinha sido em vão. Acabar com aquela criatura que apodrecia o mundo com suas traições e mãos sujas de sangue de inocentes. Essa era a coisa certa a se fazer! Ninguém iria culpá-lo! Só assim a alma de seu neto poderia descansar em paz, sabendo que sua luta não foi em vão! Sim... SIM!!! Era isso! Era o que deveria ser feito! A pessoa precisava morrer! O Lobo Solitário precisava encontrar a fúria do Punho Maldito! San iria morrer!

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

O grito de fúria de Chang conseguiu deixar até seus colegas de time sobressaltados. Chang era o mais racional e calmo do time. Ele nunca se deixaria levar por simples xingamentos ou colocar suas emoções à frente do trabalho. Bom... Isso provava ao contrário.

No momento do grito, aconteceu algo realmente impressionante, que não se vê em lugar algum. Na raiva, Chang conseguiu utilizar sua aura para reascender e reativar sua última magia lançada, fazendo os músculos voltarem a se mexer sozinhos, sem com que ele invocasse a magia em si. Isso era impressionante, mas tinha um porém: a quantidade de energia mágica para tal magia foi descontrolada, utilizando mais do que o necessário para ativar os efeitos.

Agora pergunte se Chang estava ligando para isso? Nem um pouco. O mestre jogou o corpo para frente e simplesmente desapareceu da visão dos espectadores. Mas dessa vez, San não levaria outro golpe daqueles. O garoto também impulsionou a perna e deixou a sua própria magia fazer o trabalho para ele. San também desapareceu.

A primeira coisa que aconteceu foi uma explosão de impacto do centro do ringue. Foi isso. Só uma explosão. Ninguém viu o que tinha causado aquilo. Depois, veio outra explosão mais a esquerda, uns três metros de distância do centro. Ninguém viu nada. Onde estavam os dois combatentes?

Isso era o que o pobre Pablo gostaria de explicar para seus torcedores tão aflitos. Ele olhou para o lado e viu que até mesmo Bart, um membro do Planetarium, estava com aquela expressão de perdido. Será que nem mesmo ele não via?

Outra explosão, agora a muitos metros da onde foi a última, bem mais a direita. Os dois combatentes ainda invisíveis.

— O que está acontecendo lá? — perguntava Leon, olhando para Raziel e Athena. Ele percebeu que a mulher também se sentia cega. — Raziel? Você está vendo? O que está acontecendo lá embaixo?

— O primeiro movimento deles foi um soco sendo acertado por outro soco, no centro do ringue. — respondeu Raziel, que também estava em pé e perto do vidro que dava visão para o ringue. — Depois eles se afastaram e se acertaram com um chute alto. E então San defendeu um soco reto usando seu joelho e...

— E...? — Leon se virou, encarando o ringue mais uma vez. Ele ainda não via os dois homens.

— E eu não sei mais. — confessou o General. — Eles aumentaram a velocidade a cada novo golpe. Agora tudo o que eu consigo ver são rastros. Nem eu consigo atingir essa velocidade.

— Eu não os vejo! — gritou Kuchi, olhando para todos os lados, só enxergando as explosões.

— Eu... Também não consigo acompanhá-los. — disse Mana. — Eles atingiram um ponto que eu demoro até para ver onde ocorre as explosões de impacto de cada golpe deles.

— O oponente de San gritou como se estivesse entrado em fúria! O que será que San disse pra ele? — voltou a perguntar a maga. Ela estava com as duas mãos juntas no peito, e até agora não tinha se recobrado do susto de ver seu amigo caído no chão, imóvel.

— Provavelmente isso faz parte da estratégia maluca de San. Ele é "expert" em tirar as pessoas do sério. — a voz da assassina era tão confiante que não tinha nem como duvidar daquele argumento.

— AH!!! LEMBREI!!! — gritou Mulkior, do nada. Isso só não assustou as duas mulheres porque o barulho no Coliseu todo estava infernal. — SAAAAAAAAAAAAAN!! PARE DE LUTAR!!

— O QUÊ??? — as duas colegas falaram isso ao mesmo tempo, mas foi Kula que tornou a falar primeiro, puxando a manga da camisa de seu parceiro. — Mumu, o que houve? Você acha que San vai perder?

— Não tem nada haver com isso! Eu me lembrei dos efeitos do Anel de Nibelung! — a voz do mago de ferro tinha ganhado uma tonalidade de seriedade tão forte que até Mana desistiu de tentar achar San e Chang no ringue. — Esse acessório é poderoso! Ele faz o seu usuário regenerar um certo tanto de energia vital e mágica de pouco em pouco, sem parar...

— Isso é realmente incrível! — respondeu Mana, impressionada. — Mas isso não explica o fato de você-

— MAS em troca!! — cortou o líder do time. — Em troca, esse Anel suga a "longevidade" do usuário! — a reação de Mana e Kula foram idênticas. As duas pareceram claramente assustadas pela nova informação, mas cada uma processou de um jeito diferente. Mulkior não estava com cara de alguém que estava brincando, e isso deixava tudo mais pesado.

— Longe... Longevidade? O que você quer dizer com isso? — foi a maga que perguntou, gaguejando.

— Quer dizer que quanto mais ele usa esse Anel, menos tempo de vida ele tem! A gente tem que fazer ele parar com isso imediatamente!

Foi quando aconteceu a última explosão invisível. Os dois reaparecem, um se afastando do outro, arrastando os pés no chão criando uma ligeira fumaça de poeira branca. Os dois estavam visivelmente danificados.

Chang estava com um corte horizontal na testa, com a roupa da parte do peito totalmente rasgada, com o punho direito ensanguentado e com alguns hematomas nas costas e na região lateral do estômago.

Já San estava bem pior. Estava sem seu comprido sobre-tudo, mostrando vários hematomas na região as costas e do peito, onde tinha um sangramento perigoso que não cessava. Sua calça, rasgada até os joelhos, demonstravam que ele tinha recebido alguns ataques na região das pernas. A única parte de seu corpo "intacta" era a cabeça.

Ele respirava com mais dificuldade agora, e já não sentia muito mais o corpo. Era o seu limite. Mas ainda sim, ele sabia que tinha feito o certo. Chang tinha sido vencido por sua fúria e perdeu a concentração na defesa. Isso o fez deixar com a guarda aberta por vários momentos, onde San aproveitou e o acertou nos pontos agora visíveis ao público. Mas só aquilo não seria o bastante para derrotá-lo. Agora San era um alvo a ser assassinado, o que fazia ser uma Luta de Um Só Resultado. Era matar ou morrer.

— Vai pagar... VAI PAGAR!!

Em sua liberação de energia consumida pela fúria, Chang levantou o braço direito para o lado e começou a passar energia mágica para ele. As faíscas de energia voltaram a explodir por todo o ringue, afastando os outros membros dos dois times mais uma vez. San protegeu os olhos com o braço esquerdo e concentrou energia nas pernas para se manter. E para correr, claro.

Ele sabia que não poderia deixar nenhum grande ataque ser feito e atingi-lo. Agora, os dois estavam sem suas auras que aumentavam velocidade, então San partiu para cima do oponente com sua corrida normal. Era visível o cansaço do garoto. Só pela sua corrida em velocidade diminuída já dava pra ter uma ideia do quão machucado e cansado estava ele. Mana foi a primeira a perceber isso, cruzando os braços em puro nervosismo.

ESTILO DO DRAGÃO, GOLPE DA TRINCA!

San correu e saltou em direção ao oponente que continuava concentrando uma boa quantidade de energia mágica em seu braço. O alvo do garoto com veias vermelhas pulsantes pelo corpo era atingir o ombro direito de Chang, o quebrando e fazendo o poder de luta dele diminuir em um terço. Claro, a ideia era brilhante, mas San não esperava encontrar com o sorriso do oponente.

Chang olhou para cima, afastou a perna direita, virando o corpo lateralmente para o garoto e depois levantou os dois braços para cima. San já sabia o que aquilo significava, mas estava tarde demais para ele dar meia volta. Ele não tinha energia e nem velocidade o suficiente para modificar a trajetória do seu ataque, assim como Chang fazia.

O soco alto de San desceu rente aos dois braços de Chang, que segurou o membro atacante pelo pulso quase sem nenhuma dificuldade. Era um contra golpe de pressão.

Chang puxou o braço de San para baixo, fazendo o pesado e cansado corpo do garoto ir ao chão, de cara no piso. Ainda se isso fosse tudo... Chang permaneceu segurando o braço esquerdo de San, travando-o ao chão. O que veio depois foi muito pior do que San esperava. Poderia ser mais descrito como "o feitiço que vira contra o feiticeiro".

MALDIÇÃO DA FRATURA!

O braço direito de Chang se iluminou mais uma vez com aquela energia cor verde misturada com bege. Era muita energia dessa vez. Chang já não calculava direito seu próprio gasto de energia. E ele precisava? O seu oponente... Não. O seu INIMIGO estava ali na sua frente e precisava ser dizimado. A luta não era mais para ser bonita e chamativa. Agora era uma questão de vingança. Haveria sangue derramado e uma fúria sendo solta.

Chang não se importava com mais nada além de matar San. Com seu braço energizado, ele segurou o braço de San pelo cotovelo. O apertou e passou sua energia mágica para um só ponto. Depois o virou. Sim, virou o braço de San ao contrário, fazendo um barulho tão grande que foi ouvido até mesmo por Pablo e Bart, em sua sala especial. O som de um osso quebrando em dois poderia ser dolorido até mesmo para as pessoas que viam a ação.

Mas nada como uma pitadinha de desespero da pessoa com o braço quebrado em questão. San gritou o máximo que sua goela aguentava. Ele se mexeu no chão, como um inseto pisoteado. Gritava e se esperneava, sem nenhuma concentração a mais. Suas linhas vermelhas foram apagadas e sua aura começou a diminuir de intensidade. Sua vida estava acabando. Seu time gritava tão alto quanto ele, mas suas vozes nunca chegariam até seus ouvidos.

Chang andou até os pés de San e agarrou um deles. Aquilo não havia terminado ainda. Se San continuasse no chão, o Telão Informativo iria se ligar e a contagem iria começar. Não era isso que o Grande Mestre queria. Ele ainda não havia feito seu oponente sofrer o suficiente.

Com sua grandiosa força, tomou impulso e jogou o corpo de San para cima, que voou como um saco de batatas. San girou duas vezes no ar, depois foi atingido no estômago por um golpe de gancho por seu oponente. San cuspiu sangue, saliva e qualquer outro líquido que ainda residia em seu corpo.

Enquanto caia no chão, San já sentia sua consciência se esvaindo. Seus olhos já não enxergavam mais nada. Mas ele ainda sentia dores. O que era realmente uma pena, pois antes mesmo de chegar ao chão, Chang se virou e acertou-o com um chute lateral na têmpora direita.

San voou por uns três metros, caindo morto no chão depois de rolar mais umas duas vezes. Não havia mais respiração. Seus batimentos estavam cessando. O calor intenso das dores estava se tornando um frio mortífero. E ele ainda sentia algo.

Sentiu ser levantado pelo braço esquerdo, que estava quebrado. A dor. Dor. Dor. E não havia mais voz para ser gritada. Chang puxou o corpo mole de San para frente, vendo que ele não aguentava mais em pé. Mas sua sede raivosa ainda não estava saciada.

Ele olhou para o lado, e viu Mana sendo segurada por Kuchi e Mumu. Ela estava quase entrando no ringue, gritando para que a luta fosse encerrada de uma vez por todas. Mas ninguém conseguia a ouvir. Os gritos da torcida eram muito mais fortes.

Chang riu. Era isso que ele queria. Mostrar para o time de San como seu companheiro iria morrer por suas mãos. Mostrar pra eles que nunca devem se meter com sua família.

Voltou a olhar para San, e então se assustou. "COMO???". San estava com os olhos abertos, lhe encarando profundamente. Ele não respirava, não tinha pulso, não tinha forças. Mas estava lhe encarando. Aqueles olhos ensanguentados. Olhos de um assassino, de um monstro! Aquele homem não era um ser humano! Aquilo!

Chang soltou o braço quebrado de San e de distanciou um passo. O corpo de San, ao contrário do que era esperado por todos, não foi ao chão. Ele estava ali, em pé. Arcado, quase caindo. Mas em pé. E encarando!

Chega! Aquilo iria acabar ali! Chang apertou o punho direito e mirou um soco reto, energizado, no meio do peito de San, que já estava mais do que danificado. Mais um impacto ali, e San perderia os pulmões e o coração. Era um adeus. Era um vingança satisfeita. Era uma conclusão que ele esperava. Chang impulsionou o corpo e foi com tudo.

Mana forçou o corpo ainda mais, tentando se livrar dos dois companheiros que a seguravam. Não daria tempo! Era tudo tarde demais! Seu parceiro seria morto em uma luta sem sentido! Tudo por causa da teimosia dele de querer continuar lutando. Achando que poderia ter uma chance contra aquele homem. Ninguém tinha! Era um Mestre Lendário! Não dava pra derrotar um Mestre Lutador de Artes Marciais USANDO Artes Marciais!

Foi então que tudo ficou em câmera lenta. Para Mulkior e Kula, que agarravam e puxavam sua colega, o que aconteceu foi tudo na velocidade da luz. Mas para Mana, estava tudo tão lento, que ela parecia estar vendo a cena em várias imagens diferentes.

Enquanto o soco de Chang voava na direção do peito de San, com uma precisão praticamente cirúrgica, Mana viu as linhas vermelhas de energia surgirem mais uma vez pelo corpo de San. Mas dessa vez, as linhas estavam mais escuras. Estavam se tornando negras.

San virou o corpo um milésimo de segundo antes de ser acertado, fazendo o punho de Chang raspar por seu peito, evitando o impacto direto. O mestre também se via em câmera lenta, e estava incrédulo. Ele não viu as linhas negras no corpo do assassino de seu neto, e também não viu ele aproveitando o gingado do corpo para aplicar outro golpe.

ESTILO DO ESCORPIÃO, PINÇA PERFURANTE!

A mão direita do garoto praticamente morto, aberta com os dedos juntos e em uma forma de concha, brilhou com uma aura vermelha e negra. Era toda a energia restante dele. Toda a que ele conseguiu juntar.

Isso o fez reativar seu Anel. San sabia bem dos efeitos colaterais de seu Tesouro do Olimpo e por isso quase nunca o usava. Mas alguma coisa lhe dizia para continuar. Alguma coisa o empurrava. Ele já tinha passado dos limites. Então o que mais ele tinha a arriscar?

Iria com tudo. Sua mão direita atingiu uma grande velocidade, sendo invisível até mesmo para Chang. O golpe atingiu o exato meio do peito de Chang, quando os quatro dedos da mão de San entraram pela sua carne, ignorando ossos e músculos. Foi a vez do avô inconformado sentir a dor desgraçada atingindo seu cérebro e o fazendo ficar sem ar e sem forças.

San puxou a mão inconscientemente, deixando quatro furos sangrando pelo peito do oponente, manchando toda sua barriga e pingando grossas gotas pelo chão. Chang deu vários passos para trás, levando as duas mãos no machucado. San, enquanto isso, permaneceu no mesmo lugar, caindo de joelhos no chão, de cabeça baixa. Ele não aguentava mais nada. Era o fim para ele.

Houve um certo silêncio por parte do público naquele momento. Todos já sabiam que o vencedor daquela luta era Chang, mas então o que era aquela sensação que sentiam? Uma sensação de desconfiança. O que era aquilo? Era porque San não queria se render? O garoto era apenas um amontoado de carne ensanguentada agora! Mas então porque algumas pessoas começaram a achar que San ainda não tinha desistido?

O pior: essas pessoas eram os torcedores de Chang e do time Zero Soldier. Nunca na vida deles eles viram tamanho esforço para continuar atacando. Ele poderia simplesmente desistir, cair no chão e esperar a contagem. Então por que atacou? O que o movia? Sua vontade de vencer era tão grande assim que ele parou de se importar com a própria vida?

Era o que Kula tinha acabado de comentar quando Mana finalmente parou de tentar subir ao ringue. A luta ainda não havia terminado. Eles sabiam disso não pelo fato de ninguém ser anunciado como vencedor ou perdedor. Mas sim, porque aquela tensão ainda não havia sumido. Eles não eram cegos. Todos os três sabiam que seu companheiro não poderia continuar lutando.

Mas ele estava de joelhos no ringue. Não tinha caído. Estava consciente? Não dava pra ver. Mumu tinha certeza de tê-lo visto sem vida no momento que caiu no chão depois de levar o chute na cabeça. Todos os golpes de Chang traziam uma força extraordinária, então levar qualquer um daqueles golpes poderia ser fatal. Teoricamente falando, San passava por uma situação de vida ou morte toda vez que seu oponente atacava.

Os olhos da assassina tremiam. Agora ela olhava para Chang, que estava em pé, dando passos muito lentos em direção de San. Aquele homem não iria desistir de atacar até San parar de respirar. Ela não tinha ouvido a conversa dos dois, então não sabia o motivo do desejo ímpeto de Chang. Não sabia de sua sede de vingança. Mas sabia que ele precisava ser parado.

Mana estava livre dos braços de seus dois amigos e poderia pular no ringue agora e parar aquela luta mortal. Mas não o fez. Porque San se levantou.

— Maldito... Moleque... — bradava Chang, ainda com a mão esquerda sob o machucado no peito. Ele dava um passo de cada vez, mas parou quando chegou a uns três metros de distância. — Como você conseguiu... Me atacar? Como ainda consegue se manter de pé!?

San não respondeu. Não porque ele não queria. Mas porque ele não conseguia. Não tinha forças para isso. Levantou a cabeça e manteve os olhos no oponente. Chang voltou a irradiar sua ira. Sua aura explodiu, se elevando até o máximo.

Todos os lutadores que assistiam conseguiram sentir uma força absurda, que era rivalizada só por alguém que estava no Planetarium. "Ele tem a mesma quantidade de Aura que eu!", pensou Athena, enquanto apertava os braços da cadeira onde se sentava. Leon estava calado agora, e Raziel permanecia totalmente concentrado na luta. Ele, por mais que quisesse esconder, estava vislumbrado.

Agora ele via San mexendo seu corpo muito devagar. Ele estava ficando em uma posição de luta. Ele queria continuar lutando! Naquele estado deplorável! Chang o viu tomar a clássica posição ereta do Caratê, com o braço esquerdo levantado e o direito retraído na cintura, como se fosse uma flecha pronta para disparar. Quantas Artes Marciais aquele pivete conhecia? Chang tinha perdido a conta devido sua raiva.

Ao invés de tentar se lembrar, ele aumentou sua aura, chegando a seu nível máximo. Era impressionante. Todos os pequenos fragmentos do chão estavam subindo ao ar, reagindo ao elevar de seu poder. Estava tão alto, que parecia descontrolado. Era incrível como ele ainda tinha tanta energia guardada para alcançar tal patamar. E o pior: ele iria atacar o já "nada vivo" San com tudo aquilo.

— Você vai me obrigar a usar minha Magia Suprema! — disse Chang, com a voz claramente alterada pelo esforço. — Vai morrer do pior jeito possível! Eu vou explodir essa sua cabeça! Vou fazer seus miolos voarem até os outros membros do seu time! Vou mostrar seu corpo morto para todos os torcedores do seu time, e provar que vocês não são nada comparados a minha fúria!!

— Então... — disse, por mais assustador que pudesse parecer, San. Sua voz foi baixa e fraca. Morta. — Vem... Logo...

Era claro que isso foi o estopim para explodir a cabeça já alterada pela raiva de Chang. Sua aura explodiu numa expansão sem limites. Ele puxou o braço para trás, colocando toda a energia mágica restante ali. Seria sua magia mais poderosa. Uma magia proibida por ele mesmo. Usada uma vez só em toda sua carreira de Lutador.

Impulsionou as pernas e foi para cima de San. O garoto não se moveu. Ele não conseguiria. Estava naquela posição só para mostrar determinação. Ele não tinha forças para se esquivar de qualquer coisa que fosse atirada contra ele.

Mas Chang não iria atacar com "qualquer coisa". Ele iria fechar essa luta com chave de ouro. Iria realmente explodir a cabeça do assassino de seu neto. Por isso o soco foi mirado no meio da testa. Passos para frente. Impulso. Soco.

MALDIÇÃO DA ETERNIDADE DIABÓLICA!

San viu o soco de Chang vir em sua direção. Era um punho quase totalmente fechado. Os dedos indicador e médio estavam sobressaltados pelo polegar, criando um tipo de soco prego. Vinha na direção de sua cabeça. Era energia demais. Até pulsava. E o que dava para ser feito? Naquela situação, era necessário jogar o corpo para trás e evitar o golpe.

San tentou mexer as pernas. Nada, inúteis. Estavam congeladas. Tentou movimentar o corpo. Doeu. Os braços? Petrificados. Então... Não dava pra fazer nada? Era isso? Era assim que ele iria morrer?

"San!".

Era assim que ele iria cair, derrotado e morto?

"San!!".

Era aqui que ele veria o fim de seus dias de lutas, fugas e divertimento?

"Saaaaaaan!".

Era ali que ele diria adeus a todos aqueles que vieram para lhe assistir?

"Saaaaaaaannnnn!!!".

Era ali que tudo acabaria? Daquele jeito? Sem poder fazer nada? Sem nem contra atacar? Sem nem poder ver...

— SAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAN!!!!!!

Os olhos do garoto se ascenderam. Ele estava surdo, então... Como conseguiu ouvir a voz de sua companheira? A dor lhe aterrorizou. Mas suas pernas continuavam congeladas e seus braços continuavam petrificados. Mas aquele último grito por seu nome lhe deu forças para mover a cabeça. San deixou a cabeça pender para o lado, tentando se esquivar por pouco do golpe.

Mas o pobre coitado já estava muito alterado. Cansado, ele não conseguiu calcular a velocidade e nem o ângulo do soco de Chang. O punho destruidor do Mestre Controlador de Maldição atingiu San no olho esquerdo, criando mais uma vez aquele impacto poderoso, reverberando por todo o Coliseu.

O efeito do soco foi sinistro. Em volta do olho atingido de San, a carne se expandiu e explodiu, fazendo sangue voar em todas as direções. Crânio rachado e veias atingidas. E San... Não sentiu nada.

Ele não estava mais sentindo dores. Sabia que tinha tomado um golpe que ele se arrependeria para sempre, mas não estava doendo. E além disso, sua preocupação agora era outra.

"A guarda dele está aberta!". Se lembrou do apelo de Mana, gritando seu nome com tudo o que tinha, vencendo os gritos dos torcedores. Aquele apelo serviria como a última gota de sua energia vital. Aquela mesma energia fez as veias mágicas da cor negra voltarem para seu corpo, concentrando em seu braço direito.

San lutou para manter as pernas firmes, puxou o braço para trás e não conseguiu mirar. Estava com um olho só e estava tudo vermelho. Sabia que em sua reta estava o corpo de Chang, mas não sabia que parte atingiria. Mas não importava mais.

Era seu último golpe. Para finalizar tudo. Acabar com tudo. Dar um adeus para todas essas dores... Que sumiram? Não havia mais raciocínio em sua cabeça. Tudo o que lhe mantinha em pé, era sua força de vontade. Apertou o punho. "É tudo ou nada!".

ESTILO DO DRAGÃO, PUNHO DA DESTRUIÇÃO!

Mais uma vez, o brilho vermelho e preto deu resultado a um potente soco no peito de Chang. Potente era só uma maneira de falar. San não tinha mais metade da força que geralmente usufruía. Ainda sim, foi um golpe direto.

Chang sentiu a dor no peito e só então percebeu que estava sem defesa. Deu um só passo para trás, sem cair. Levantou o braço esquerdo até o local do novo ferimento, e paralisou naquela posição. Seus olhos ainda estavam enxergando San, que agora tinha finalmente perdido o fogo da vida.

O garoto caiu de joelhos, e ali me manteve por dois segundos. Mas ele não estava mais consciente. Foi pura física que o manteve ali, jurando que ainda poderia se levantar. No último segundo, seu corpo cambaleou e caiu para o lado, dando início a mais uma gritaria desenfreada por parte dos torcedores de Chang.

O mestre também manteve a mesma posição e nem viu o Telão Informativo mudar para começar a contagem. Mana, Kuchiki e Mumu não voltaram a gritar o nome do colega. Eles sabiam. Dessa vez, ele não levantaria. Já tinha sido um milagre ele manter a luta até ali. Agora só havia preocupação por parte deles. O último dano de San foi sério e pode ter causado um ferimento mortal.

O mago foi o primeiro a olhar para o Telão, vendo o "6" surgir. Olhou par ao lado e encontrou Mana pronta pra subir ao ringue. Sua parceira não estava ali. Ouviu a voz dela e olhou para trás. Kula tinha pensado rápido e foi chamar os médicos para que se preparassem. Teve orgulho da amada por agir tão depressa e inteligentemente naquela situação difícil.

Os gritos não cessaram. E aumentaram depois que ouviram Pablo finalmente soltando a voz.

FIM DA LUTA! — disse ele, ao contador chegar a zero. Ele precisou admitir que esteve bem tenso até aquele segundo. — O combatente San não conseguiu se levantar a tempo! A vitória é de Chang e do Time Zero Soldier!

A primeira conclusão da batalha final foi realmente comemorada com grande explosão de sons misturados. Havia alegria e comemoração absurda, como se cada um daqueles espectadores tivesse ganhado um presente caro.

No lado de Shiro, sua acompanhante o puxou e perguntou se estava tudo bem com San. Mesmo o ninja não soube o que dizer. Ele tinha visto que o último acerto na cabeça do garoto era algo sério, mas não sabia se a magia de cura dos médicos conseguiriam ajudá-lo a tempo.

Geovanna se pegou chorando há um bom tempo, mas dali, ela não podia fazer mais nada. Ela viu Mana pulando em cima do ringue e correr até o companheiro, sendo puxada de leve pelos dois médicos que estavam logo atrás dela. A assassina não conseguiu segurar as próprias emoções ao ouvir um dos médicos dizer algo como "Ele não está respirando!".

San foi colocado em uma maca com o devido cuidado e tirado do ringue o mais rápido possível. Mana ficou lá, parada. Estava tremendo. Tinha visto o rosto de San bem de perto e parecia estar mais desfigurado do que aparentava. Era a primeira vez que ela o via com uma expressão tão... Morta.

Olhou para frente e viu que Chang continuava parado, na mesma posição. Não tinha movido um músculo sequer. O que ele tinha? Não bastou vencer? Ele precisava ficar ali até o público calar a boca? Era isso?

Outros dois médicos apareceram, dessa vez, para socorrer o mestre. Quando o médico que estava na frente o tocou no ombro, perguntando se ele estava bem, Chang foi ao chão, de cara. Caiu como se estivesse dormindo, e não se movimentou quando encostou o rosto no chão frio.

Os dois médicos, assustados, se abaixaram e o colocaram numa maca. Um deles media o pulso dele e parecia tremendamente confuso. Colocou o ouvido no coração do vencedor da luta, e quando olhou de volta para o companheiro médico à sua frente, disse:

— Ele está... Morto!

Assim como o outro médico, Mana também não acreditou. Olhou para trás e viu San sendo colocado em uma das camas hospitalares, dentro das tendas que foram preparadas de antemão. Assim que eles o colocaram lá, uma enfermeira lacrou a tenda, pedindo que Mulkior e Kula se afastassem e que não atrapalhassem. Mana voltou a caminhar, saindo do ringue e se juntou aos dois outros amigos, que partilhavam de sua preocupação.

— San está em um estado crítico! Nunca vi alguém perder tanto sangue de uma só vez e sair vivo depois pra contar história. — falou Mulkior, coçando a testa por puro nervosismo.

— Não fale assim, Mumu! — pediu Kuchi. O mago a olhou e baixou a cabeça, se desculpando. — Ele vai sair vivo dessa, pode ter certeza!

— Vai sim. Mas não o oponente dele. — disse Mana. Ela viu que os dois a olharam com uma óbvia pergunta estampada em seus rostos, então continuou. — Os médicos que vieram buscar Chang falaram que ele estava morto.

— MAS O QUÊ? — gritou o mago. — Mas como? Será que ele não aguentou os danos?

— Difícil dizer. — disse Mana, se virando para trás, encarando o time adversário que estava reunido e pareciam conversar. — Os danos dele eram sérios, mas nada que o colocaria em um risco de vida tão grande... Com exceção do último golpe de San.

— O último soco dele atingiu o peito... Espere. O coração! — falou Kula, chegando a uma conclusão própria. Seus dois companheiros de time a olharam. — Se eu vi bem, o último soco de San acertou aquele homem diretamente no coração!

— Eu não sei qual era a força de San na hora, mas um impacto no coração com uma certa quantidade de força pode causar uma parada cardíaca. — disse Mulkior. — Mas se foi isso mesmo que aconteceu... Seria uma sacanagem dar a vitória para o time deles só porque o cara se manteve de pé!

Os três ficaram ali, com esse comentário rodeando suas mentes. Eles viram dois trabalhadores do próprio Coliseu subirem ao palco com vasouras e panos, limpando o local das lutas em uma velocidade profissional.

Depois, tudo o que eles puderam fazer foi ficar olhando para a tenda onde San estava sendo atendido. Havia uma grande emanação de energia mágica de lá, mostrando que os médicos não estavam economizando em magias de cura. Os espectadores ainda gritavam o nome do time adversário, criando ainda mais desconforto nos três.

O ringue já está preparado, senhoras e senhores! — disse Pablo, trazendo novamente a atenção para sua voz. — Tivemos uma luta de tirar o fôlego, mas essa foi só a primeira das muitas que ainda virão! E o show não pode parar! Então Times! Escolham seus próximos combatentes para subir ao ringe e continuarem a nos proporcionar tamanha torcida!

Mulkior Musubi já era um pouco esquentadinho, mas por causa desse último comentário, ele explodiu. Xingou o apresentador em alto e bom tom. Depois começou a andar em direção ao ringue. Isso era uma palhaçada! Seu amigo estava ali naquela tenda quase morrendo e tudo o que aquele povo queria ver era mais sangue ser derramado! Era mais do que um ultraje!

— Espere! — disse Mana, segurando o mago pelo pulso. Mumu se virou rápido para a assassina, quase que em fúria. — Temos que seguir o "plano" de San. Você não pode subir ao ringue agora!

— E você quer que eu ature toda essa palhaçada!? — disse ele, exaurido.

— Não, quero que você guarde isso. Deixe para alimentar suas forças na sua luta. — a assassina soltou o braço do companheiro de time e passou por ele, andando em direção ao ringue. — Vamos seguir a estratégia de San. É tudo o que podemos fazer por ele, que lutou até as últimas forças para não nos decepcionar.

"Ela tem razão." foi o que o mago controlador de ferro disse para si mesmo. San tinha criado uma grande estratégia no dia anterior, envolvendo muitas características e possibilidades. Era incrível como a cabeça daquele garoto funcionava quando o assunto era tática de guerra.

O mago tinha acabado de se lembrar que uma das estratégias dele era que, se caso ele mesmo fosse o primeiro a lutar, a pessoa seguinte PRECISAVA ser Mana, independente do resultado da luta. Isso era devido ao fato de que San considerava a assassina como o membro mais forte do time, sendo que ele mesmo era o mais fraco. Mesmo que Mumu não era de admitir tal coisa, ele não conseguia mentir para si mesmo sobre esse fato.

Sendo assim, Mana precisava ser a segunda a lutar para mostrar onde a força de seu time poderia chegar. Isso criaria uma balança de empolgação para os dois times, sendo que quem se favoreceria seria, obviamente, nós. "Criar dúvidas nas mentes de nossos oponentes é a primeira chave de nossa vitória.", disse San.

— Vai lá e mostra pra eles do que somos capazes!

Mana sorriu com as palavras do Líder de seu time. Pulou para cima do ringue, sendo a primeira a se mostrar como próxima combatente. Pablo já foi a apresentando, dizendo que entrava em campo outra pessoa com o histórico perfeito de lutas até agora, sem nunca perder ou empatar uma luta sequer. Também falou que estava empolgado para ver mais uma vez suas Katars Lendárias em ação. Nisso, veio a voz de Bart. Ele disse que estava ansioso para ver mais uma luta da assassina, e que ela mostrasse de tudo o que era capaz.

Geralmente, a voz de Bart daria calafrios em Mana, mas dessa vez, isso não aconteceu. A garota não estava focada em nada, pois se mantinha preocupada com o parceiro. Mana fechou os olhos e viu em sua mente todos os ferimentos de San. Passou um tipo de "flashback" em seu subconsciente, fazendo-a lembrar de todos os momentos que ele foi ferido durante a luta. San tinha enfrentado um Mestre nas Artes Marciais, e só não tinha vencido por pouco.

Pensando bem, quem mais teria chances contra Chang? Aquele homem se provou ser um Lutador formidável, com uma precisão e poder mais do que absurdas. San entrou no ringue sabendo que enfrentaria um perigo assim como uma zebra enfrentaria um leão faminto. Por causa da luta do dia anterior, aquele homem tinha criado um tipo de medo dentro do coração dos outros três membros do time, mas San se manteve firme e esperançoso até o último segundo.

Mana retirou a kodachi e a empunhou em sua frente. Estava pronta. Iria provar para San que toda a luta dele não tinha sido uma mera derrota sem sentido. Também iria provar que sua estratégia era funcional.

E do Time Zero Soldier, entra em campo o Lutador D!!

A voz do Apresentador fez Mana retirar sua preocupação momentaneamente. Seu oponente estava subindo ao ringue e andando até o meio com uma suavidade incomum. Não parecia ter pressa para lutar.

Quando ele se aproximou, Mana estranhou o fato de não conseguir sentir nenhum pingo de aura vindo de sua oponente. Aquilo era possível? Alguém daquele time não poderia ser tão fraco a ponto de não ter uma grande aura de combate rodeando seu corpo. Ou será que...

— Bela luta, não acha? — disse a pessoa em frente de Mana. Era uma voz feminina e um pouco fina. Não transmitia poder nenhum e nem imposição. — É incrível que vocês tenham alguém que conseguiu aguentar de igual para igual contra Chang. Se bem que eu acho que você também seria capaz.

— Você fala como se me conhecesse.

— Ah, e conheço. Muito bem, por sinal! Ahahah! — a voz da mulher com a máscara pintada de roxa com símbolos estranhos em verde claro não foi reconhecida por Mana, mas aquela risada a fez dar um passo para trás. — Claro, claro. A máscara. Não temos mais motivos para escondermos nossas identidades nesse Torneio. — disse ela, levando a mão direita até a máscara. A mulher retirou o acessório e puxou o capuz para trás, revelando totalmente sua cabeça. — E agora, Mana? Me reconhece?

Outro passo em recuo foi dado por Mana, que não conseguia acreditar no que estava vendo. Pela primeira vez em muito tempo, ela se viu em uma situação onde teria que esquecer tudo no mundo ao seu redor para se concentrar nessa luta. Se não, sua cabeça rolaria pelos pisos brancos do ringue antes mesmo de saber se San iria sair vivo de sua luta ou não.