Immortal Star

Guerra em menor escala - Parte 4


Se você for uma pessoa atenta, deve ter entendido que essa última parte da minha história, foi feita para você ficar com a curiosidade no nível máximo. Não terminei de falar de nenhuma luta que estava para acontecer. Vou deixar tudo pra falar agora.

Por que eu fiz isso? Pra mudar um pouco o ar da história. Depois de ouvir sempre uma luta só acontecendo, eu queria ver sua reação ao ter que esperar e analisar várias lutas ao mesmo tempo. Além do mais, a história que a Líder do Exército Rebelde contou tem uma importância gigantesca nos eventos futuros. Acredite, essa "pequena guerra" que aconteceu naquele dia criou uma bola de neve que não parou de rolar pelos próximos anos.

E você vai precisar de concentração agora. Haverão muitas coisas importantes no meio dessas próximas lutas que eu irei lhe contar. "Se eu vou terminar todas aquelas lutas?". Bem... Veja você mesmo.

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Ele se aproximava com calma. Não precisava ter pressa nenhuma, dada a situação em que se encontrava. Sua oponente não iria para lugar algum. O ferimento na perna de Peeh era sério. A lança tinha atingido exatamente na dobradura da perna, impossibilitando a mulher de andar devido a dor intensa. Nem em pé ela estava.

A maga de luz estava no chão chorando e se revirando, tentando superar a dor. Não que Peeh não tivesse passado por incontáveis combates onde ela sofresse danos sérios. Ela já tinha chegado a ficar de coma por quase uma semana por causa de uma batalha horrorosa contra o povoado de Jazul. Ela odiava lembrar daquele combate. Não porque tinha sofrido cortes profundos em sua carne e quebrado o braço direito. Mas porque foi a batalha onde ela perdeu o maior número de companheiros em um único dia.

A morte de um companheiro sempre a abalava. Mesmo agora, se ela visse uma das pessoas que fazem parte do exército rebelde morrer, ela se entristeceria. Talvez ainda mais, já que a maioria dos "soldados" nunca tinham pego em uma arma em suas pobres vidas.

Mas a crueldade dos fatos deveria ser deixada de lado. Seu oponente estava se aproximando. Sua vida estava em jogo. Peeh se virou com o rosto para o chão e usou os braços para tentar se levantar. Arian parou seu avanço quando viu a maga ficando de joelhos no chão e concentrando mais energia mágica. Ela ainda não havia desistido. E nem iria.

RAIO DE LUZ!

Peeh mirou a mão esquerda para o General e disparou sua onda cúbica de energia na direção dele. Ela não podia deixá-lo se aproximar mais, já que ela estava impossibilitada de se locomover.

A magia de Peeh era considerada uma das mais rápidas do mundo. Magias de Luz geralmente alcançam velocidades muito altas se disparadas diretamente contra um oponente. Em termos de ranking, esse elemento ficava em segundo, perdendo só para a velocidade das magias de trovão.

Mas mesmo sendo rápida, era necessário considerar que Arian já tinha visto — e sentido — essa magia antes. Com a adrenalina correndo em suas veias, o General jogou o corpo para o lado, deixando o cubo de energia raspar seu braço direito, infringindo um dano mínimo. Ao mesmo tempo em que jogou o corpo, ele deu um passo para frente e começou a correr na direção da oponente.

A maga estava sem ter pra onde ir. Não podia se mover por causa da perna. Ela deixou o cajado na frente do corpo, preparada para defender qualquer coisa que o seu oponente lhe atacasse. Mas Arian não era tolo o bastante para atacá-la sem ter a certeza de que iria danificá-la.

Então o que ele fez? Correu na direção de sua lança, que nesse momento estava bem ao lado direito da maga. Seria impossível prever que aquele homem gigante pularia em direção de sua arma... Se não fosse pelo fato de que Peeh já estava ciente do seu plano.

A maga percebeu que quando ele pulou, seus olhos estavam focados para outro lugar. Peeh sabia quando um inimigo lhe atacaria porque os olhos sempre carregavam um certo acúmulo de vontade.

Aprender a definir a intenção de alguém apenas vendo por seus globos oculares não tinha sido nada fácil, mas seu Professor de magia tinha insistido que ela aprendesse. E valeu muito a pena. Se hoje ele, o Professor Kaian, estivesse vivo, ela iria pessoalmente até ele agradecer por tudo.

Peeh não estava com muita vontade de deixar seu oponente ter sua arma de volta. Então ela girou seu cajado em mãos e bateu com tudo na lança que estava ao seu lado. A lança rolou pelo chão, ficando bem longe dos dois.

A investida de Arian tinha sido um fracasso quase total. Agora eles estavam muito perto um do outro, e quem estava aproveitando a deixa era a maga. Ela apontou a mão esquerda mais uma vez para o homem, concentrando energia mais uma vez. Como tinha sido dito antes: a investida dele tinha sido "quase" um fracasso total.

O General segurou Peeh pelo braço apontado e a jogou contra a parede mais próxima, como se fosse em um golpe de Judô. Isso fez a garota perder toda a concentração, além de adicionar mais uma dor em seu corpo.

Dessa vez, foi Arian que não perdeu tempo. Correu na direção de sua arma o mais rápido que pode. Peeh, que agora estava meio em pé, encostada na parede, estava começando a descobrir que ter que enfrentar um General de Riven não era bem uma ideia boa para se fazer fama.

Essa batalha iria ficar cada vez mais problemática se continuasse daquele jeito. Atirar contra as costas dele não adiantaria muito, já que seria com a mesma magia de sempre. Não daria tanto dano, mesmo que agora ele estivesse sem a grossa armadura. Não. Ela precisava atacar de verdade. Usar magias mais poderosas. Ela tinha uma vasta variedade delas, então por que não usar?

Ainda encostada na parede, Peeh segurou o cajado com as duas mãos e, colocando a ponta no chão, começou a riscar. A desenhar.

Arian pegou sua lança e concentrou energia nela no mesmo segundo. Tinha sido um movimento perfeito, na verdade. Enquanto corria, ele tinha ouvido um barulho estranho vindo de suas costas. Isso o fez se preparar para levar outra magia, mas isso não aconteceu.

Então foi aí que veio a confusão. Peeh tinha uma oportunidade de ouro para atingi-lo nas costas... Então por que não o fez? Será que o impacto na parede tinha tirado tanto a concentração dela assim?

Poderia até ser. A força física do homem grande não era brincadeira. Mas agora não importava. Ele estava com sua fiel lança em suas mãos. A arma que tinha acompanhado mais de cinquenta batalhas com ele. Feita em prata pura e reforçada com ferro quente. Afiada o bastante para cortar pedras.

Poderia parecer exagero, mas Arian gostava de se reconhecer como o melhor lanceiro do mundo graças a sua querida companheira. Ele tinha até nomeado a arma de "Elizabeth", que tinha sido o nome da única mulher que ele já amou na vida. Muitas pessoas riam dele quando ele contava o motivo de ter nomeado a sua arma com esse nome. Seu esquadrão fazia piadas dia e noite com ele, dizendo que a lança era a nova namorada do lanceiro.

Ele sempre teve que aguentar esse impacto em sua mente. Mas ele também lembra o dia que todas as risadas pararam. Foi quando ele se tornou General. Quando ele, sozinho, entrou no acampamento inimigo para resgatar os soldados de seu esquadrão que foram capturados um dia antes. Sozinho mesmo. Armado apenas com Elizabeth. Ele enfrentou mais de trinta soldados, chegando a lutar contra quatro ao mesmo tempo. Levou ferimentos fatais no pulmão e no rim. Mas continuou respirando. Continuou vivo. Abriu as celas de seus companheiros e caiu para sua morte naquele dia.

Não deixaram. Os soldados resgatados o levaram imediatamente para um curandeiro da vila mais próxima e ofereceram todo o ouro que eles tinham na ocasião. Pediram com desespero em seus olhos para que o curandeiro salvasse o lanceiro. Prometeram para o homem ferido que se ele sobrevivesse, eles nunca mais brincariam com ele e sua arma.

As lágrimas dos homens fez o curandeiro não só querer salvar Arian, como prometeu "reforçá-lo". Durante a cura, a energia mágica dos soldados foi dividida para criar um Ritual de Fortificação, fazendo o corpo de Arian sofrer uma mudança drástica. Então ele não só sobreviveu, como tinha ganhado um presente que ele nunca mais esqueceria.

Sua bravura tinha sido recompensada mais ainda quando eles voltaram para Riven e o Rei tinha nomeado-o com o título de General. Absolutamente ninguém foi contra a decisão do Lorde, e até mesmo os outros três Generais o apoiaram. O respeito pela coragem dele tinha sido a maior recompensa de sua vida.

RITUAL DA ESTRELA DE SEIS PONTAS!

Mesmo tamanha bravura não poderia ter salvo o grande homem nesse momento. Foi quando Arian se virou, com sua lança ainda em mãos e com sua energia concentrada, que ele viu Peeh riscando o chão de pedra com seu cajado. Os olhos dele esbugalharam. Ele sabia muito bem o que aquilo significava.

Magos só escreviam quando queriam aumentar o poder de suas magias. Círculos mágicos poderiam ser desenhados no ar, no chão, em um papel. Não importava. Toda vez que existia um círculo mágico envolvido, o poder de uma magia se multiplicava. Uma escritura no chão significava que a magia era terrestre. Nisso, ele acertou em cheio.

Peeh desenhou uma estrela de seis pontas no chão e falou as palavras rúnicas para a invocação de sua magia. No término da última letra, a estrela desenhada sumiu de sua frente e foi parar exatamente em baixo de Arian. Isso foi exatamente na hora em que ele tinha se virado, o que o fez não ver a aparição do desenho bem embaixo de seus pés. Se ele tivesse olhado para cima, seria pior ainda. Pois no teto, a mais de dez metros do chão, também tinha aparecido o mesmo desenho, exatamente em cima dele.

O que aconteceu depois foi óbvio. Com as duas estrelas alinhadas, um estrondoso raio de luz cruzou os três andares da prisão, fazendo Arian dar o primeiro grito de dor daquele dia. O General se sentiu no meio de um gêiser de ar. Mas mude o ar por energia mágica concentrada e transformada no elemento luz.

Peeh caiu de joelhos mais uma vez. A dor estava ficando insuportável. Ela estava quase derramando lágrimas. Mas não podia fazer isso agora. Não ali. Ela engoliu saliva e tentou respirar fundo. Usou uma boa quantidade de energia mágica para essa última magia, mas ela ainda tinha bastante sobrando. Ela precisaria daquilo para criar uma retirada de suas tropas.

A prisão estando vazia significava que alguém já estava um passo à frente dos rebeldes. Quem era? Peeh não demorou nem cinco segundos para tirar a conclusão de que o "traidor" era aquele Capitão que tinha vindo até eles, dizendo sobre os soldados presos. Mas mesmo se fosse, qual seria o objetivo dele para fazer os rebeldes atacarem? Será que ele queria acabar com qualquer rebeldia que o povo poderia fazer contra o Reino? Mas se fosse isso, como diabos ele tinha descoberto que o povo estava querendo se rebelar, pra início de conversa? Não fazia sentido.

Peeh ouviu um barulho. Olhou para o lado e encontrou Arian com os braços cruzados, segurando firme a sua lança. O homem alto estava pingando sangue por todo o corpo e estava quase pelado. Mas estava vivo. E ainda tinha chamas nos olhos. Ele tinha "aguentado" a sua magia. Era mais assustador do que impressionante.

— Mas que tipo de monstro é você!? — gritou Peeh, tentando ficar de pé com o auxílio da parede mais uma vez.

— Não insulte o esforço de meus homens! — respondeu o General. Ele estava se referindo ao fato dos soldados que deram suas energias mágicas para que ele pudesse ter tal resistência, mas Peeh não tinha entendido. E nem queria mesmo. — Você fala de monstruosidade quando você mesma ganhou o Título Único de "Peste Escarlate" pelo fato de você criar um campo de morte por onde quer que passe! Como uma verdadeira peste! Um inseto que espalha a morte! — a alteração de voz do lanceiro chegou a fazer Peeh começar a suar frio. — Você provou ser uma oponente poderosa. É por isso que eu preciso acabar com você aqui antes que o seu poder se prove perigoso para o Reino!

Não tinha sido muito inteligente da parte de Peeh não ter certeza absoluta de que sua magia anterior houvesse ou não matado o oponente. Digo isso porque agora, Arian tinha se irritado ao ponto de liberar TODA sua aura de uma vez só. E sério... As coisas não iriam ficar bem para o lado da maga de luz.

A aura de Arian era tão poderosa que o ferro de todas as celas do primeiro andar começaram a criar um ruído como se estivessem tremendo. Se isso fosse feito na superfície, provavelmente essa liberação intensa de aura teria criado um terremoto em menor escala. Ele estava muito ferido, mas os olhos dele demonstravam que isso não importava. Mais uma vez, os olhos. Aqueles olhos não iriam morrer nunca.

Peeh apertou os dentes e finalmente ficou em pé, sentindo uma fisgada na perna. Ignorou. Pela primeira vez, conseguiu ignorar a dor. Talvez o medo da morte estivesse a fazendo ter mais forças. Começou a juntar energia quando Arian começou a correr em sua direção com toda aquela aura gigantesca envolvendo o seu corpo. "Se ele se aproximar, eu morro!".

DISCO DE LUZ!

Peeh levantou o braço direito para cima de sua cabeça e concentrou energia na palma da mão. Criou um círculo luminoso com quarenta centímetro de diâmetro, que logo em seguida, ficou cheio de energia pura.

Era um disco feito de luz, onde a borda era feita de pequenos dentes de energia. Era exatamente como aquelas serras redondas de ferro que existem nas marcenarias, usadas para cortar tiras de madeira. Imagine uma daquelas... Só que um pouco maior e feita de energia mágica.

Foi isso que Peeh atirou contra o General que vinha correndo em sua direção, louco para lhe enfiar a lança no peito. O disco voou na direção dele sem fazer barulho, na altura do ombro. Se ele não fizesse nada, o disco iria acabar separando a cabeça do corpo. Infelizmente para Peeh, isso não aconteceu.

IMPACTO PERFURANTE!

Depois de passar uma boa quantidade de energia para sua lança, Arian deu um golpe de ponta para frente, na direção do disco que vinha mortalmente em sua direção. A ponta da lança atingiu a borda do disco e... O abriu em dois.

A magia de Arian não era feita só para perfurar pessoas. Ela também servia para perfurar paredes, armaduras, objetos grossos... TUDO. E nesse tudo, se colocado um certo tanto de energia mágica, a magia também conseguia perfurar outras magias. Foi isso que aconteceu aqui.

Logo que foi feita em dois, o disco de energia de Peeh foi desaparecendo no ar, sem deixar vestígios. A maga ficou sem reação ao ver sua magia cortante ser destruída daquela maneira, e foi isso que fez Arian aproveitar para chegar muito próximo a ela. Próximo o suficiente para que ele pudesse atacá-la com Elizabeth.

HORIZONTE DO ALÉM!

Segurando com a mão direita na ponta que dava início para a lâmina e com a mão esquerda na outra ponta contrária, Arian aplicou um golpe de corte horizontal devastador. Ao contrário da maioria de suas magias onde a energia mágica era concentrada apenas na lâmina da lança, essa magia fazia a energia correr por toda a lança em si.

Peeh sentiu a intensidade dessa magia. Antes dele a aplicar, ela pensou em levantar seu cajado e defender. Por sorte, ela viu que isso seria uma péssima ideia. E realmente era. Peeh se jogou para o lado esquerdo com tudo o que tinha. Ela não se importou em cair no chão de pedra pesadamente, se machucando um pouco. O golpe de Arian quase não a atingiu. A lâmina ainda alcançou as costas da garota, adicionando mais problemas do que ela já tinha.

A maga sentiu um choque junto à dor do corte, sentindo que sua carne estava sendo estraçalhada. Ao invés dela, a parede tinha sido mais azarada. O golpe cortou a parede de pedra úmida como se ela fosse feita de manteiga. Isso levantou pó e inúmeras pedras foram disparadas para todas as direções. Mas a fúria do General não iria ser barrada por uma magia que não tinha acertado.

Como Peeh estava no chão tentando se levantar de novo, Arian girou o corpo e aplicou um belo chute no estômago da garota. Peeh rolou pelo chão, tossindo violentamente. Sem ar, com a percepção aturdida e a nova dor intensa nas costas que jorrava sangue como uma mangueira, a maga não conseguiu desviar da mão grossa do homem que lhe agarrou o pescoço.

A Líder do exército rebelde foi levantada do chão com apenas a força do braço esquerdo de Arian. Além disso, ele estava apertando sua mão, fazendo a maga se engasgar. Era aquele momento intenso das nossas vidas onde conseguimos enxergar nossa morte. Nosso último momento de vida sempre passava em câmera lenta em nossos olhos.

Peeh viu Arian puxando a lança com a outra mão livre. Ele estava colocando a lança em linha reta de seu coração. Iria matá-la. Esse não era pra ser o objetivo dele, já que teoricamente, ele estava aqui para capturá-la. Mas ninguém poderia culpá-lo. O sangue que corria em suas veias estava borbulhando. Ele estava em um combate de vida ou morte. Não poderia se acalmar agora e dar a chance para seu inimigo atacar de novo.

Seria sua última ação. Iria derrotar o inimigo de seu povo. O inimigo de seu Rei. Raziel teria que lhe desculpar mais tarde. Puxou o braço para trás, o forçou e mirou um ataque de ponta direto no coração desprotegido da garota de cabelos vermelhos.

FEIXE LUMINOSO!

Pela descrição feita ali em cima, era possível ver que Peeh estava preste a atravessar a fronteira entre a vida e a morte. Mas por mais que ela estivesse no abismo, ela ainda não estava morta. E ainda não tinha sido vencida.

O aperto em seu pescoço estava lhe tirando o ar dos pulmões e isso fazia ser impossível para que ela concentrasse energia mágica pelo corpo. Mas ela ainda tinha uma salvação: seu cajado.

Ela ainda estava segurando firmemente seu digníssimo cajado mágico. Ela havia usado a energia contida nele só uma vez e em uma magia simples, o que significava que a gema de energia incrustada na arma ainda tinha um pouco de energia mágica sobrando! Peeh estava segurando o cajado com a mão esquerda, então com a direita, ela apontou o dedo indicador para o corpo semi nu de Arian.

Ela não estava vendo onde apontava porque seu pescoço estava sendo esmagado pelas mãos firmes do General. A ideia era mirar o coração do oponente. Mesmo tremendo, Peeh movimentou seu dedo até encostar no corpo do oponente. Depois veio a magia.

A energia passou do cajado para a ponta do dedo indicador dela, que disparou um raio de energia extremamente fino e concentrado, como se fosse um feixe relâmpago feito de energia. A magia não acertou o coração do oponente, mas o atravessou de fora a fora, passando por seu pulmão direito.

A dor e o sangue subindo para sua garganta fez Arian dar três passos largos para trás, soltando Peeh. A maga caiu no chão desjeitosamente mais uma vez, tossindo forte para retomar o fôlego.

Arian também tossia, mas com o adicional de cuspir sangue enquanto isso. Ele não tinha visto o dedo levantado da oponente, e como ela retirou energia mágica do cajado, ele não conseguiu sentir nenhuma concentração vindo dela. Mas agora que ele estava recuando com as mãos no novo ferimento... Agora sim! Agora ele conseguia sentir energia mágica vindo dela.

Ele olhou para frente e viu ela usando o cajado como se fosse uma muleta para que conseguisse ficar de pé. Arian forçou o corpo ao limite. Aquilo não iria acabar com a vitória dela. O Reino de Riven sempre prevaleceria em todos os combates. Ele não desistiria! O General ficou de pé também, tentando parar de cuspir sangue e controlando a respiração.

Peeh estava um pouco zonza. Perda de sangue? Possivelmente. Dor intensa afetando seu cérebro? Sim, isso era mais provável ainda! Ela olhou nos olhos de Arian novamente.

Chamas. Ele não havia desistido ainda! Isso já tinha passado do limite há muito tempo atrás! Essa luta nunca deveria ter sido iniciada. Foi azar dos dois lados. Mas já chega. "É agora ou nunca.", pensou a maga, enquanto concentrava energia mais uma vez.

BRILHO OFUSCANTE!

Peeh criou outra esfera de energia concentrada e a atirou para frente e para cima. A esfera voou pouco e depois explodiu, lançando luz forte para todos os lados, iluminando todo aquele subterrâneo vazio e umedecido. "De novo!", foi o que Arian pensou. Aquela magia era um problema enorme. Mas ela já tinha usado uma vez.

O General tinha plena certeza de que ele nunca era atingido duas vezes por uma mesma magia. Ele protegeu os olhos apenas com o braço esquerdo e começou a concentrar energia mágica, passando para a lança logo em seguida. Ele sabia que o próximo movimento dela seria atingi-lo com uma magia direta.

Mas para isso, ela precisaria se concentrar e se aproximar. "Vai ser nesse momento que eu vou acabar com a vida dela". Assim que ela se aproximasse com toda aquela energia concentrada, Arian atacaria primeiro.

Ele estava mudando sua percepção para ficar concentrado apenas no extra sensorial. Estava perdendo audição e tato, e com toda aquela luz, ele já havia perdido a visão. Então tudo o que lhe restava era o que ele havia treinado por anos. "Seus olhos podem mentir para você, mas não sua percepção.". As palavras de Raziel tinham um impacto muito mais verdadeiro nesse momento.

Foi quando tudo foi para os ares. Peeh realmente atacou Arian, mas não como o lanceiro esperava. Ela não concentrou nenhum pingo de energia. Como ele estava cego, Peeh aproveitou para andar para frente e ficar bem próximo a ele. Ela viu que ele concentrava energia em sua lança e estava preste a atacar.

Como iria atacar estando cego? Fácil. Peeh se colocou no lugar dele. "Se fosse comigo, iria me concentrar em encontrar o meu inimigo pela aura ou liberação de energia.". Bingo.

A maga de luz apertou o cajado nas mãos e aplicou um golpe com toda força que tinha no pescoço desprotegido do oponente. Arian, que não esperava o golpe, sentiu a dor ao mesmo tempo que se sentiu engasgado com o próprio sangue. Ficou sem forças e caiu de joelhos. Cego. Sem tato. Sem ar. Sem esperanças. Uma surpresa e tanto.

O General abaixou a cabeça e seu corpo reagiu como deveria. Arian começou a vomitar sangue com saliva, sentindo toda a sua força ir embora. Ele também não viu que Peeh continuava em sua frente, concentrando energia mágica nas duas mãos. Hora de terminar com essa palhaçada. Essa briga sem sentido. Não havia mais tempo a se perder.

CANHÃO DE LUZ!

Peeh colocou as duas mãos para frente e disparou mais uma vez o cone de energia concentrada diretamente na cabeça do General do Exército do Oeste de Riven. O pobre homem não teve nem como defender aquilo. Nem um milagre o ajudaria naquele momento.

Além de ser atingido diretamente, o corpo enorme de Arian foi jogado muito mais longe dessa vez, chegando a bater com tudo em uma porta de ferro de uma das celas, que não aguentou o impacto e cedeu para dentro. Agora o General estava caído no chão frio de uma das celas, desmaiado e perdendo sangue.

Peeh caiu de joelhos mais uma vez, respirando rápido. Ela não tinha muito mais energia mágica, e se aquele combate continuasse, quem estaria caída no chão seria ela. A mulher se levantou com a ajuda de seu cajado e prestou bastante atenção no corpo caído do oponente.

Não havia mais nenhuma aura saindo dele. Ou ele havia morrido, ou estava nesse processo. "De uma forma ou de outra, a vitória é minha!", pensou ela, dando as costas e caminhando lentamente em direção da escadaria.

Não havia mais tempo. A luta havia demorado um bocado e ninguém mais tinha aparecido na prisão. Isso só indicava que as coisas lá "em cima" estavam problemáticas. Não havia mais motivos para lutas sem sentido.

Ela começou a subir as escadas, e logo nos primeiros três degraus, seu corpo gritou para que ela não continuasse. A dor na perna estava de matar e o corte nas costas estava fazendo seu corpo amolecer a cada passo. Mas ela era obrigada a continuar.

Se sentou nos degraus e rasgou um pedaço de sua roupa. Enrolou a perna, exatamente em cima do machucado. Isso não iria curá-la, mas faria com que o sangramento parasse. Ou fosse diminuído. Agora ela só precisava aguentar a dor nas costas.

Peeh continuou subindo e andando. Quando ela chegou no terceiro andar, a dor era tanta que as lágrimas não paravam de escorrer em seus olhos. Ela estava andando no escuro mesmo. Não quis nem perder um segundo para pegar uma das tochas que ficavam nas paredes dos corredores ou nas escadarias.

Quando ela estava subindo aquela primeira grande escadaria, que era a entrada da prisão, seu corpo não aguentou e ela foi ao chão, caindo sob os degraus de pedra. Estava tudo mais escuro do que antes. Mais ela sabia que era porque seu corpo estava querendo um descanso. E se ela continuasse ali, o descanso seria eterno.

Se arrastou e subiu degrau por degrau. "Não vou morrer aqui!", gritava ela. Deu um soco no chão quando ficou irritada por seu corpo parar de obedecer. "Não aqui!". Se levantou. Se jogou na parede. Dor. Mas estava de pé novamente. Dor mais uma vez. Caiu de joelhos ao dar o primeiro passo. Deu outro soco, dessa vez na parede. Se levantou. Gritou para não cair de novo. Continuou subindo.

Viu a luz. No final da escadaria havia luz. Era a entrada. A porta continuava aberta, deixando um pouco de luz entrar para as escadarias. Isso deu mais forças para a maga. Acelerou o passo. Sentiu o sangue das costas escorrer pelas suas pernas e pingando no chão escurecido dos degraus.

Chegou à porta de entrada, se jogando contra ela. Peeh caiu no chão, fora das escadarias e começou a respirar o ar puro. Ou quase, já que o incêndio tinha poluído um pouco das correntes de ar em volta do castelo. Mas era melhor do que sentir cheiro de rato lá daquela prisão.

Peeh se arrastou no chão e depois se virou de barriga para cima. Ela não poderia parar ainda. Estava faltando só uma coisa. Só aquilo e ela poderia descansar. "Vamos lá, corpo! Obedeça só mais essa vez!". A maga levantou o braço direito para cima, mirando o céu azul. Foi tudo que conseguiu fazer depois de clamar por força. Fechou os olhos e concentrou energia mágica. Não iria precisar de muito.

SOL SINALIZADOR!

Uma bola grande feita totalmente de energia branca foi criada e disparada para cima. Muito para cima. Voou até passar pelos telhados do castelo e continuou subindo mais alguns metros. Depois ela fez o que deveria: explodiu como se fosse fogos de artifício. Isso fez espalhar luz por uma área imensa, iluminando mais do que o sol do meio dia já fazia.

— O resto é com vocês. — disse Peeh, fechando os olhos para descansar um pouco.

Não era por ferimentos, mas Mana se sentia atravessando o Rio do Desespero. Os três furos no peito não estavam sangrando muito, e ela sabia que nenhum deles tinha atingido um ponto vital.

Mana levantou a cabeça para encarar o Soldado de Netuno em sua frente. "Foi proposital.", pensou ela. A velocidade e precisão de Bart tinham sido mais impressionantes do que a explosão de energia de Shiro.

Com uma mão em um dos furos, a mulher tentou ficar de pé, com o oponente à sua frente pronto para atacá-la de novo. A assassina não estava temendo a morte. Estava temendo algo pior do que isso.

O que aconteceria se aquele maluco lhe capturasse e lhe trancasse em uma cela? Iria fazer ela virar escrava dele? Pelas palavras que Bart tinha usado mais cedo, Mana não conseguiu pensar em outra coisa. Era perigoso demais. Perder aquele combate não era uma opção viável. Mas como ela lutaria contra uma pessoa que está no topo das forças mundiais?

Ela sabia, somente vendo os três golpes dele, que seria impossível prever qualquer ação espontânea dele. A velocidade de ataque de Bart só poderia ser comparada aos golpes de San depois de ter usado seu reforço de tempo. E ela ainda não tinha certeza de qual era mais rápido.

— Ainda há tempo, Mana. — falou ele, olhando fixadamente para a mulher que tentava se levantar. — Desista dessa tentativa inútil de me atacar e aceite o meu afeto. Eu juro que você será tratada como uma verdadeira Rainha. Terá tudo o que quiser. Roupas, joias, dinheiro. Comerá da melhor comida e se tornará membro da alta sociedade. Além disso, eu posso te indicar pessoalmente para os testes do Planetarium! Não existe proposta melhor no mundo!

— Desculpe-me... — Mana tinha conseguido ficar de pé e estava fazendo o cérebro ignorar a dor no peito. — Mas meu "rei" já morreu há algum tempo.

A assassina deixou liberar sua aura de sangue. Agora era sério. Bart apertou os dentes, nervoso. Não era desse jeito que ele queria conquistá-la. Ele não queria machucá-la. Mas também não queria vê-la sendo pega pelos soldados do castelo e ser tratada como uma rebelde. Se ela fosse presa, talvez nem mesmo com o seu renome daria para salvá-la. Não!

Ele não iria deixar que isso acontecesse. Mana deveria ser dele, e somente dele. "O meu Rei já morreu" foi o que ela disse. Quem ela estava se referindo? Era uma analogia sobre o fato dela não servir nenhum Rei, ou era algum amante? Se fosse a última opção, então Bart poderia se sentir aliviado pelo fato dele já estar morto. Porque também mesmo que se ele estivesse vivo, era só uma questão de tempo. Encontrar uma pessoa e eliminá-la era algo como tirar doce de uma criança para o Planetarium.

Bart estava sorrindo naquele momento, mas quando viu Mana desamarrando as luvas, o sorriso sumiu. Uma outra aura foi adicionada a já imponente força mágica da mulher. Era aquela bendita arma. A lâmina que possuía uma aura própria. Uma arma lendária, esquecida ou escondida no decorrer da história da humanidade. Aquilo poderia se tornar um problema se não tratado da maneira correta.

Bart sabia que não podia cortar os braços da amada. Seria cruel demais. Então ele precisava imobilizá-la. Golpes de ponta em lugares específicos, causando um sangramento intenso e tirando a mobilidade da parte do corpo.

Essa era a especialidade dele. Sua classe, que era chamada na nobreza como "Fencer" — ou na língua mais popular, os Esgrimistas —, tinha uma variedade de golpes rápidos e precisos. Essa classe também era especializada em desarmamentos e perfuração, e em altos níveis, alguém com essa classe poderia acertar os pontos fracos de alguém com uma armadura pesada.

Só existia um porém para usuários dessas habilidades: seu corpo precisa estar leve, então os soldados que utilizam essa classe não possuem armaduras pesadas ou protetores que restringem movimentos. Então a defesa era algo preocupante para os esgrimistas.

Mas aqui, estamos falando de um membro do Planetarium. Ele mesmo, acima de qualquer outro, sabe muito bem sobre suas fraquezas e treinou o suficiente para ter forças e velocidades para suprimir isso ao máximo.

Para Mana, isso era evidente... E inútil. Ela também sabia das fraquezas da classe, mas também sabia que não adiantaria se agarrar em um milagre.

A assassina deu um passo para frente impulsionando o corpo inteiro de uma vez e fez um corte horizontal com a lâmina da katar de sua mão direita. Bart foi pego pelo susto, mas seus bons reflexos o fizeram dar um passo para trás e se esquivar elegantemente do ataque. "Isso também foi rápido.", pensou ele antes de puxar sua arma para trás.

O soldado de Netuno fez duas investidas relâmpago. Usou a mesma velocidade dos ataques anteriores. Porém, o resultado foi diferente. Mana levantou os dois braços e defendeu cada uma das pontadas usando as duas katars. Bart não acreditou. Ela tinha conseguido reflexos bons o suficiente para ver os seus ataques? O que ela tinha feito? Era essa maldita arma lendária?

Ele deu um passo para trás e deu mais uma investida, aumentando a velocidade da perfuração. Mana jogou o corpo para o lado e defendeu o golpe usando a katar da mão esquerda, mas ainda sim, foi pega com um arranhão no mesmo braço.

Sem esperar, ela deu um golpe de ponta mirando o estômago do oponente, daquela posição mesmo. Não daria tempo para ele puxar sua arma de volta, então para se defender, Bart bateu com o cotovelo do braço esquerdo em cima da parte não cortante da lâmina da arma da assassina, mudando a direção do golpe e deixando-o ileso.

Atacar de tão perto não daria nenhuma vantagem para ele. Bart movimentou sua perna direita e chutou a dobradura da perna de Mana, fazendo ela perder o equilíbrio e ir ao chão, mas sem se machucar. Depois ele deu um passo para trás e atacou mais uma vez com sua espada, mirando na perna da mulher. Mana rolou para o lado, puxou uma das adagas do bolso e atirou no peito do oponente.

Dessa vez, ela VIU o que tinha acontecido com suas agulhas. Não tinha sido o vento. Foi o próprio Bart que modificou o trajeto das armas voadoras usando a mão nua. Foi o que ele fez com a adaga. Ele a pegou em pleno voou e depois atirou contra Mana de novo.

A assassina defletiu a própria adaga usando a katar, depois rolou para trás, ganhando espaço. Bart já estava em seu encalço. Aplicou mais dois golpes de ponta. Um deles foi defendido perfeitamente, o outro atingiu o ombro da garota. A velocidade dos golpes estava aumentando.

IMPULSO SÔNICO!

Não que isso fosse fazer Mana parar de atacar. Ignorando o novo machucado, a garota levou os dois braços para trás e concentrou energia nas duas lâminas ao mesmo tempo. Bart já sabia o que estava vindo. Ele também sabia que daquela distância, seria uma faca de dois gumes se ele tentasse acertá-la antes.

Mana jogou os dois braços para frente ao mesmo tempo, criando uma onda de impacto em sua frente que voou rapidamente na direção do oponente.

Bart fortificou sua aura, girou a espada em sua frente e recebeu o impacto com tudo. Ele tinha sido atirado muito para trás, arrastando no chão, mas sem perder o equilíbrio. Mas infelizmente, isso foi tudo que a magia dela conseguiu fazer. Ele não tinha sofrido danos. E não parecia mentalmente aturdido. Era realmente um ser forte demais. O oponente mais poderoso que ela já encontrou. E um dos mais estranhos também.

— Sua magia de impacto é realmente impressionante. — começou ele. — Ver e sentir são duas coisas diferentes. Mas você percebeu que nem mesmo essa magia conseguiu me ferir. Deve ter entendido agora que é impossível vencer de mim no seu atual estado.

— Você fala como se já tivesse visto tudo o que eu sou capaz.

— Ohoooo! — Bart abriu o sorriso, ficando visivelmente animado. — Não, eu ainda não vi nada. E é isso que eu quero. Não, não... — ele fechou os olhou e colocou a mão esquerda na testa, alisando o cabelo bem penteado logo em seguida. — É isso que eu DESEJO! Eu quero ver TUDO de você, Mana! Vamos! Me mostre tudo que você é capaz!

As pessoas poderosas tinham tendências a se tornarem ou medíocres, ou panacas. Nesse caso, Mana estava considerando as duas opções. Bart não estava escondendo seu intenso desejo de tê-la, o que fazia a assassina ter calafrios a cada cinco segundos.

Além disso, ela já tinha percebido que a aura que envolvia aquele lugar não só fazia ela ficar trancada, como criava um tipo de estufa que não deixava nenhum som entrar ou sair. Mana não ouvia mais os barulhos das pessoas lutando ou dos ferros se encontrando. Um isolamento perfeito. Ou melhor: uma prisão perfeita.

Como ela iria sair dali? Mana também tinha perdido a noção de tempo. E isso também era devido aquela aura envolvente. Estar deparada contra um cara daqueles realmente mexia com sua cabeça.

Era perca de tempo fazer golpes calculados demais. Pois mesmo os melhores cálculos iriam ser barrados pela velocidade absurda dos ataques dele. Mana precisava de uma abertura. Era a única forma de atingi-lo.

SOMBRA DE LOKI!

A assassina puxou mais uma adaga e concentrou energia mágica nela. Depois deu um passo para frente e jogou a pequena arma na direção da barriga do oponente. Ao mesmo tempo, ela começou a correr contra ele.

A adaga que voava brilhante estava vindo em uma boa velocidade contra Bart, mas não era rápido o suficiente para ele ter que se preocupar. Além disso, ele tinha prestado muita atenção nas lutas dela. Então sabia muito bem como essa magia funcionava. Era um truque. Uma arma escondida vinha atrás da primeira adaga.

Ele, sem perder o sorriso, agachou um pouco o corpo e se preparou para um movimento defensivo. Puxou o braço com a espada para trás levemente e deu dois golpes para frente. O primeiro atravessou a adaga que vinha voando cheia de energia, a jogando para cima. O segundo ataque foi dado com um pouco de energia na lâmina e fez a adaga das sombras sumir com o impacto. E então veio a terceira lâmina.

Foi a primeira vez que Bart tinha feito uma expressão de pavor. Mana o tinha enganado direitinho. Ela usou sua técnica e logo em seguida, atirou mais uma adaga escondida, que voava em fila na linha reta da adaga das sombras. Um ataque impressionante mesmo. "Mas ainda sim, não era o suficiente.", pensou o soldado.

Bart esticou todo o corpo de uma vez só, fazendo a energia correr pelas pernas. Jogou o corpo para o lado com um pulo, se livrando da adaga. E aí veio Mana.

Ela já estava em seu lado, depois de ter dado um pulo para frente. A assassina fez a espada do oponente ficar no meio das duas lâminas de sua katar direita e logo após isso, começou a concentrar energia mágica. "Não!" gritou a consciência de Bart. Ele sabia bem o que iria acontecer ali.

DECLÍNIO DO GUERREIRO!

Mana queria quebrar a única arma de seu oponente. Era uma ideia óbvia. Sem arma, mesmo um soldado do Planetarium ficaria indefeso contra uma assassina bem treinada.

Depois de concentrar uma densa quantidade de energia mágica na arma, Mana girou a katar em noventa graus. Era uma técnica sinistra e precisa. Por mais que a arma fosse de um bom material, a katar dela poderia destruir em pedaços, como se fosse um machado cortando lenha.

Mas ela ainda estava enfrentando um oponente que era especializado em velocidade de ataque. Bart usou toda sua aura para aumentar os reflexos do próprio corpo. Era outra técnica de alto nível. Mandar a aura para os músculos e tencioná-los até o limite sem ter o perigo de rasgá-los era algo que poucos aprendiam. E mesmo aqueles que sabiam, raramente usavam. Havia perigo demais.

Dessa vez, Bart se viu sem escolhas. Sua arma não poderia ser quebrada ali. Então depois de passar sua energia para o braço direito, ele puxou sua arma para cima, tirando da área de efeito da magia de Mana. A katar girou sem encostar na espada do soldado, mas antes mesmo que ele pudesse rir, aconteceu outra coisa. Uma finta.

MORDIDA DE TAIPAN!

Como se era esperado, Mana não iria tentar nenhuma loucura contra um oponente tão poderoso. Uma finta simples nunca pegaria ele de surpresa. O primeiro avanço dela já mostrou isso muito bem. O que fazer então? "Quando o seu oponente não tem aberturas na defesa, você mesma deve criar uma.".

Quem tinha dito isso para ela? Foi algo ensinado para ela há muito tempo atrás. E era algo importante, pois geralmente, Mana se encontrava com inimigos poderosos. Nenhum deles era tão poderoso quanto esse, por isso era mais um motivo para ela colocar esse ensinamento em prática.

Agora, descrevendo como foi a ação: a magia de quebrar armas de Mana tinha sido o início da finta. Ela escolheu essa magia porque faria Bart acreditar que era o maior dos perigos. Mas ela não poderia simplesmente avançar até ele e tentar quebrar aquela espada. Seria óbvio demais. Então ela precisou tirar a atenção dele mais de uma vez.

Fez o truque das três adagas em primeiro lugar. Foi um bom movimento. Seria algo quase impossível de se esquivar se o oponente não soubesse o que aquela magia fazia. Mas Bart sabia muito bem. Então ele só foi pego de surpresa pela terceira adaga. Até aqui, tudo bem.

A segunda parte do plano viria como uma finta. Mana aproveitou a rápida movimentação do corpo do soldado para se aproximar dele, já que ela já tinha corrido. Bart também foi pego de surpresa pelo rápido avanço da garota, que depois de uma certa quantidade de energia concentrada, tentou quebrar sua arma. Era uma situação tão perfeita, que fez o soldado de Netuno ter a certeza absoluta que aquele era o movimento real.

E realmente seria se ele não fosse tão habilidoso para forçar seu próprio corpo ao limite e salvar sua preciosa arma de ser quebrada. Então ele jogou o braço para cima e retirou a arma do alcance da lâmina destruidora de Mana...

Fazendo isso, ele deixou de perceber um fato bem simples: levantando o braço para cima enquanto seu oponente está bem à sua frente, era o mesmo que cutucar uma cobra com o dedo. Você só estará PEDINDO para ser atacado. Não que a assassina precisasse de qualquer pedido.

Mana explodiu sua aura das duas katars e usou uma de suas técnicas mais mortais. Inicialmente, as duas lâminas das katars brilham em um tom verde musgo, liberando até mesmo um cheiro apodrecido pelo redor. Depois, o usuário utiliza um ataque de pinça, atacando dois lados ao mesmo tempo.

Mesmo a grandiosa habilidade de Bart não o fez se livrar desse ataque. Mana o acertou no estômago e nas costas ao mesmo tempo, passando toda aquela aura verde para dentro da ferida. Acerto em cheio.

Bart já estava no Planetarium fazia mais de seis anos. Sua família tinha fortes vínculos com a Realeza, então era óbvio que eles tinham contatos por todo o globo terrestre. Esses contatos que fizeram o garoto esgrimista entrar para a tão aclamada Guilda Secreta. Desde que se tornou o Soldado de Netuno, Bart entrou em diversos combates complicados. E foi por sair de todos esses combates sem nenhum grande ferimento que ele foi rapidamente reconhecido. E temido.

Bart era um gênio da velocidade de ataque e do desarmamento, o que fazia ele uma frente de combate pavorosa. O ataque de Mana foi como receber um tapa na cara de alguém que te amou por vários anos. A dor foi mais intensa do que deveria, pois ele já tinha se "desacostumado" com ela. Ele deu vários passos para trás, com a mão esquerda em cima da ferida que fazia seu sangue escorrer pela roupa. Sangue junto com um líquido verde.

Já Mana, caiu de joelhos e respirou rápido, quase tendo um ataque cardíaco. Sua pressão estava alta demais graças ao forçamento de utilização da grande quantidade de energia mágica utilizada de uma só vez. Ela teve que usar três magias nessa finta, e não teve descanso entre a segunda e a terceira.

Foi isso que a fez não terminar a luta ali mesmo. Ela viu que Bart parecia paralisado com a dor, com uma expressão de susto estampada em seu rosto fino.

Era hora! Ela precisava atacar. Mas o cansaço lhe atacou antes. Respirou forte. Inalou o ar de uma vez e depois soltou tudo bem devagar. Forçou as pernas. Se levantou. Olhou para frente de novo. Para seu oponente.

Não havia mais susto em seu rosto. Na verdade, nem dava para ver seu rosto. Ele estava com a cabeça abaixada, e para a maior estranheza do dia, ele estava chorando. Mana viu três lágrimas pingarem no chão, bem perto da bota de ferro dele. Sem sombra de dúvidas ele estava chorando, principalmente depois de fungar.

— Eu não acredito... — disse ele, com uma voz fraca. Parecia alguém com anemia, se forçando para falar. Mas mesmo que estivesse fraco, a voz não saia tremida, o que era normal de alguém que estaria chorando. — Eu não me lembro quanto tempo faz. Quanto será? Quatro anos? É, eu realmente não lembro. — ele levantou a cabeça e deixou o corpo ereto, retirando a mão esquerda do ferimento no estômago. Realmente haviam lágrimas escorrendo de seus olhos, mas a expressão dele era contrária ao que Mana esperava. — Mana, você é realmente tudo aquilo que eu sempre sonhei. Alguém que pudesse me fazer sentir o calor da batalha mais uma vez. — Mana recuou um passo. Não por medo. Mas pela mais pura estranheza. — Você é a pessoa que eu escolhi! E você VIRÁ comigo! Mana, torne-se minha!

— Você ficou maluco! — disse a garota desejada, ficando em uma posição defensiva. — Eu injetei um veneno mortal em você, mas parece que ele teve um outro efeito!

— Veneno? AHAHAHAH! — a risada de Bart foi escandalosamente alta. Ele chegou a levantar a cabeça e abrir os braços. Se ele estivesse fingindo, ele merecia um troféu, pois o sangue continuava escorrendo do ferimento. — Minha cara, você precisa saber que todos os membros do Planetarium passam por uma série de testes e treinamentos considerados infernais. Um desses treinamentos faz nossos corpos sentirem a passagem de um organismo criado por magia que adentra pelos nossos vasos sanguíneos e fortificam nossos glóbulos. Isso nos deixa praticamente imune a qualquer tipo de veneno, sejam eles fatais ou não. Essa informação é ultra secreta, mas eu não me importo em te contar, já que você não vai ter mais para quem contar.

— E você quer que eu me torne só mais um rato de laboratório de vocês? Além de se tornar sua escrava pessoal? Como acha que você pode conseguir uma alma gêmea com esse tipo de conversa? — Mana estava ganhando tempo com a conversa. Ela precisava resgatar todo o fôlego perdido nas ultimas magias e ainda planejar um novo ataque.

— Minha escrava? Mas é claro que não! — disse ele, aumentando o tom de voz novamente. — Você não ouviu quando eu disse para você se tornar minha Rainha?

— E por que eu? Existem milhões de mulheres no mundo! Mais bonitas, mais simpáticas, mais atraentes e mais fortes! — o processo de ganhar tempo estava funcionando.

— Não, tem que ser VOCÊ! — disse ele, apontando a espada para ela. Não era um ato de alerta, por mais que parecesse perigoso. Mana não tinha saído de sua posição defensiva. — Suas habilidades são mais do que impressionantes. Você acha que eu não percebi suas estratégias de combate? Começou o combate tentando me pegar de surpresa aumentando a velocidade de ataque e não usando movimentos inúteis. Usou poucas armas arremessáveis para criar aberturas na minha defesa, já que eu faria de tudo para se esquivar delas. E além disso, você não está usando nenhuma magia arcana de gelo porque sabe que elas consomem muito tempo para serem usadas, e contra mim, falta de velocidade seria fatal! Não estou certo?

Mana não respondeu. Bart estava mais uma vez com aquele sorriso chato no rosto, querendo se achar o Rei da Razão. Não era de se estranhar que ele tivesse uma resolução de combate tão boa. Ele era um soldado, afinal de contas. A análise de combate dele era tão boa quanto a de San.

Mas por mais que Bart não estivesse errado em sua explicação anterior... Ele também não estava certo. "Análise tão boa quanto a de San, mas não melhor.", pensou a assassina.

Bart estava errado sobre pensar que ela não tinha destravado seu selo de gelo nessa luta pelo fato das magias consumirem tempo, mesmo que isso também era uma verdade. O REAL motivo dela não usar as magias arcanas, era que elas consumiam um pouco mais de energia mágica do que o resto de suas magias mais simples. E como Mana sabia que Bart já tinha assistido suas lutas, atacá-lo com magias de alto custo seria um tanto idiota.

Isso não se aplicava a magia de veneno que ela acertou nele. Aquela magia tinha sim, um grande custo de energia mágica, mas ao mesmo tempo, era uma magia que ela não tinha usado no Torneio ainda. "Se fosse San... Aquele maluco acertaria certinho.", pensou Mana mais uma vez.

E depois também pensou: "Por que dentre todos os momentos, ele tem que aparecer na minha mente logo agora?". Hoje realmente tinha sido um dia estranho para ela. A rápida passagem de seu parceiro em sua cabeça não estava ajudando em nada.

Foi quando uma gigantesca explosão pode ser ouvida. Ela foi seguida de um pequeno terremoto que fez os dois combatentes da sala de jantar procurarem algo para se fixarem em pé. Os dois se olharam, como se perguntando um ao outro o que tinha sido aquele tremor.

Os dois permaneceram quietos. O tremor sumiu e nenhuma outra explosão pode ser ouvida. A única coisa que eles tinham certeza, era que seja lá o que fosse, tinha vindo do andar de baixo. E tinha sido grande.

— Mil perdões, Mana. Mas esse combate precisa ser finalizado nesse instante. — disse Bart, voltando a concentrar sua estrondosa aura em seu corpo. Dessa vez, o passo recuado de Mana foi devido ao medo. — Eu estou preocupado com os nobres que estão presentes no castelo e claro, com o nosso estimado Rei. Então vamos acabar essa... Troca de demonstrações aqui.

— Por mim tudo bem. Já não aguento mais ficar no mesmo lugar que você. — respondeu ela, ácida.

— Nossa, isso foi tocante. — disse ele, ainda rindo. — Não se preocupe. Vai ser rápido. Essa é minha especialidade. — a aura dele cresceu ainda mais. Mais do que no começo da batalha. E mais do que quando ele forçou os músculos. Era terrível. Parecia que o poder dele não tinha limite. Agora outro terremoto podia ser sentido, mas estava acontecendo somente naquela sala de jantar. Dois quadros tinham acabado de cair e uma das estátuas estava ao chão, em pedaços. Mana não sabia dizer quais dos terremotos tinha causado aquilo, já que nem por um segundo ela retirou os olhos do oponente. — Sinta na pele uma das habilidades mais poderosas do Fencer do Planetarium! PUNIÇÃO DOS CEM CAMINHOS!

Foi como no começo do combate. Mana não viu o ataque. Rápido demais para ser visto. Ou defendido. Tudo o que ela fez foi sentir.

Bart concentrou toda a aura dele na lâmina fina da espada. Depois ele arcou o corpo, deixando a espada de ponta para a oponente. O próximo passo foi criar um pouco de energia mágica em seu braço direito e em sua perna direita.

O que Mana conseguiu ver depois disso, foi como um relâmpago. Bart sumiu da visão dela, aparecendo um milésimo de segundo depois, atrás da assassina. O que tinha acontecido foi que Bart criou um impulso magnífico, atingindo o máximo de sua velocidade para avançar. Enquanto ele estava no caminho, ele começou a atacar com a espada. Golpes rápidos, de perfuração. Cem deles. Cem. Em um milésimo de segundo. Cem golpes, todos atingidos no corpo de Mana.

Quando ele reapareceu atrás dela, a assassina que era tão amada caiu de joelhos e logo depois encontrou com o rosto no chão que parecia tão quente e limpo. Mana estava acordada, mas não sentia absolutamente nada. Nem dor. Isso poderia ser até considerado algo bom, não fosse o fato de que ela iria MORRER desse jeito.

Agora ela estava com cento e três furos no corpo, e cada um deles soltava sangue em um filete fino que corria pelo chão da sala de jantar. Não era uma visão muito boa para se ter enquanto você toma seu café da manhã.

— Ahhhh... Você vai ter que me perdoar por ter feito isso, minha querida. — disse ele, enquanto limpava o sangue da espada com o seu lenço. — Mas você tem que me agradecer também. Eu evitei atacar os pontos vitais de seu corpo. Isso vai fazer você viver, mas só se for tratada. Eu irei sair agora e chamar uma pessoa de confiança para tratar de você, então eu realmente desejo que você aguarde aqui na sala e... ARGH! — Bart caiu de joelho e cuspiu sangue. Ele sentiu o corpo fraco. O terror assolou sua mente. Confusão. O que estava acontecendo? Tossiu três vezes repetitivamente. O sangue corria de sua boca. Estava vindo dos pulmões. Sua respiração estava fraca e sua pressão estava baixa. Tontura. — Mas... O que... Está...

— Treinamento pros vasos sanguíneos? — disse Mana, ainda no chão. Ela mesma ficou impressionada de conseguir falar tão claramente, mesmo não sentindo o corpo. Tirando o fato de que naquele momento, a dor estava surgindo. — Do que adianta? Meu veneno é uma neurotoxina. Ela não corre só para o coração. — a dor intensificou e ela quase gritou.

— Não pode... COF COF... — Bart cuspiu sangue de novo. Estava se sentindo fraco e seu estômago estava embrulhado. — Não pode ser! Está insinuando que você criou... Uma magia de veneno que afeta diretamente meu cérebro?

Mana não respondeu. Não porque não queria. Ela não conseguiu. Agora toda a dor dos furos no corpo estava vindo todos de uma só vez. Ela estava se contorcendo e gemendo.

Bart entrou em desespero. Um que ele nunca tinha entrado em toda sua vida. Sua carreira poderia estar chegando ao fim. Ele tentou se levantar, mas não conseguiu. Se virou do jeito que estava. Começou a engatinhar até a porta dupla, que era por onde Mana tinha entrado. Ele precisava de ajuda.

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Um veneno tinha feito isso com ele? Como? Seu corpo era treinado para resistir aquilo! Neurotoxinas eram administradas apenas por monstros venenosos de classe alta. Uma magia com isso não deveria ser algo possível. "Mas estamos falando da minha futura esposa!".

O pensamento de Bart o faria rir se não fosse sua própria situação complicada. Ainda se arrastando, ele chegou até a porta e desfez o bloqueio de aura que ele mesmo havia criado. Puxou a maçaneta e abriu a porta, caindo no chão do outro lado. Olhou para trás. A assassina ainda se contorcia de dor. Ela não sobreviveria muito tempo se continuasse sangrando daquele jeito.

Bart forçou o corpo ao limite mais uma vez. Usou a aura para restabelecer o controle. Se levantou, mas não estava ereto. O enjoo no estômago estava fazendo ele querer vomitar o que tinha comido até mesmo no dia anterior. Pegou na mesma maçaneta e bateu a porta, a fechando. Criou novamente sua barreira de aura. Se ela tentasse fugir, não conseguiria.

Bart tinha que se apressar, ou até mesmo ele não veria o sol amanhã. Saiu cambaleando atrás das enfermeiras do castelo.

Enquanto isso, Mana, que ainda estava tentando fazer o cérebro lhe obedecer para que ela parasse de sentir tanta dor, procurava por um jeito de sair dali. Ainda com as dores, ela levou o braço até uma das cadeiras de madeira rica da mesa de jantar e a derrubou ao seu lado. Usou aquilo para se apoiar e tentar ficar de joelhos. Com muito esforço, conseguiu.

Olhou para o próprio corpo. Só via sangue. Mais nada. "Não posso ficar aqui.", era o obvio pensamento da garota. Começou a se arrastar em direção à porta. Caiu de cara novamente. Dor de novo. Colocou uma mão para frente e se puxou. Tossiu. Colocou a outra mão para frente e se puxou novamente. Parou. Respirou. Tentou virar o corpo para cima. Não conseguiu. Tinha outra cadeira perto. A derrubou também e a usou como apoio para ficar de joelhos mais uma vez. Foi andando com os joelhos no chão. Doía... Mas era mais rápido assim.

Chegou até a porta. A querida porta de saída daquele inferno. Colocou a mão na maçaneta e sentiu a aura do soldado que tinha acabado de lhe enfrentar passar pela sua mão. "Não!" foi o que ela gritou. Ou pelo menos achou que gritou, pois não havia mais voz. Ela percebeu logo de imediato que ele tinha lhe trancado ali. Mana caiu de novo. Olhou para o outro lado da sala.

Havia outra porta lá. Ela não sabia para onde levaria, mas era melhor do que morrer naquela sala, sozinha. Se arrastou uma vez. Não saiu do lugar. Seus olhos estavam fechando. Forçou o corpo a se arrastar mais uma vez. Não conseguiu. Seu corpo desistiu. Não tinha muito mais sangue para ela vazar. Mana deitou a cabeça de lado e fechou os olhos, gritando para si mesmo para não dormir ali. Ela não venceu.

O primeiro movimento de Shiro foi o mais aterrorizante, pois foi quando ele liberou uma certa quantidade de energia mágica de uma só vez, fazendo Minnds recuar mais um passo.

Ela não esperava que o seu oponente tivesse tamanha energia. Até onde ela sabia, ele era só um espião que tinha sido ferido no braço. Ela nunca considerou o fato de que o ninja deveria ter um certo tanto de habilidade e coragem para querer invadir um dos mais poderosos locais da face da Terra.

INVENTÁRIO DAS TREVAS!

Sem parar de andar, Shiro mirou a palma da mão direita para o chão e mandou sua energia mágica para baixo, abrindo um círculo negro no chão sem tapete do corredor. Minnds se preparou para se defender, aumentando a aura ao redor do corpo, mas o ninja não jogou nada contra ela. Não naquele momento, pelo menos.

Do pequeno buraco negro, uma espada comprida e pouco curvada saiu. O ninja a pegou, fazendo sua aura aumentar ainda mais. Era Izayoi, sua ninja blade favorita e criada sob medida para ele mesmo.

O garoto deixou escapar um leve sorriso. Ele já tinha entendido que aquela oponente era algum usuário de magia explosiva. Por mais que esse fosse um oponente perigoso, o fato deles estarem em um corredor faz com que toda a vantagem seja de Shiro. Ela não seria maluca o suficiente para detonar tudo ali, pois acabaria sendo atingida junto.

ESFERA EXPLOSIVA!

Ele estava seriamente enganado. Ela ERA maluca o suficiente para explodir tudo e não ligar para nada. Foi isso que ele pensou quando ela criou outra esfera de energia amarelada em suas mãos e atirou para frente. Isso era mais ruim do que se poderia imaginar.

Minnds era realmente uma maga controladora de explosivos, um tipo de magia complicada de se usar por ser totalmente destrutiva, tanto para os inimigos quanto para os aliados. Esse era um dos motivos para ela trabalhar quase sempre sozinha, mesmo em campo de batalha.

Mas ela não era uma "Capitã" por nada. Por muito tempo, ela vem aprendendo a controlar a própria energia para "moldar" a explosão, fazendo com que o raio de explosão não fosse criado em um centro circular.

Por exemplo, uma magia comum dessa classe explode uma área de quatro metros do ponto central, que é onde a energia é localizada. Então se ela fosse atirada em um corredor, do centro da esfera ela explodiria dois metros para frente, e dois metros para trás. E foi exatamente isso que Minnds conseguiu moldar. Quando ela jogou essa esfera, do centro dela, ela explodiu três metros para frente e apenas um para trás, deixando ela totalmente ilesa e fora de perigo de ser pega.

Shiro poderia ter se esquivado facilmente dessa magia, mas ele se encontrou em um confusão séria: atrás dele estava a mulher que ele estava tentando proteger. Se ele fugisse e a esfera explodisse, a pobre garota morreria instantaneamente. E ela parecia desmaiada, já que não se mexia. "Que hora pra dormir!", pensou o ninja.

Ele deu mais dois passos para frente e passou toda a energia para seus dois braços, os cruzando na frente do rosto. Ele precisava segurar. Era uma explosão sim, mas era feito de magia. Tudo que era feito de magia era defensável via energia mágica.

A explosão ocorreu bem como a maga previu, fazendo Shiro levar o impacto direto. É claro que ele foi empurrado para longe. A dor foi intensa, mas nada com que ele não pudesse suportar. Ele realmente defendeu uma explosão de energia só usando os braços. O real problema foi que o braço direito dele já estava machucado, fazendo ele sentir um tipo de beliscão dentro da carne. Ainda sim, ele não gritou.

Se tivesse mais alguém assistindo, bateria palmas. A vasta experiência dele o fez manter uma posição perfeita para segurar a onda destrutiva da explosão, mas mesmo isso não o fez sair ileso. Seus braços estavam queimados e quase dormentes, com um pouco de sangue escorrendo e pingando no chão. Para ser muito mais sincero, a pessoa REALMENTE maluca ali era Shiro, e não a capitã.

— Você decidiu levar a magia diretamente para proteger essa traidora? O quanto você está disposto a se sacrificar por ela? — perguntou Minnds, com a voz ligeiramente alterada.

— Eu não tenho que te dar explicações nenhuma. — disse Shiro, ficando de pé e dando mais um passo para frente. Ele estava se sentindo estranho. Estava se sentindo... BEM. Sentia a dor no braço, claro. Mas parecia revigorado. Estava colocando a mão para trás e concentrando energia enquanto falava. — Eu vou te fazer se arrepender até os fios do cabelo por ter puxado briga comigo, gatinha.

— Vai pro inferno! ESFERA EXPLOSIVA!

SHURIKEN DAS SOMBRAS!

Mais uma vez, Minnds concentrou uma certa quantidade de energia mágica em suas mãos e atirou contra o oponente assim que fez uma rápida mira. Para ela, o ninja estava querendo se matar. Quem é que fica na frente de uma explosão para proteger outra pessoa? Ainda se ela fosse um familiar dele...

Ou espere. Talvez ERA isso! Minnds não fazia a mínima ideia de quem era aquela mulher, então obviamente, também não sabia nada sobre os familiares da mesma. Poderia ser sim. Talvez uma irmã.

Mas algo dentro da cabeça dela, dizia que não era isso. Seu instinto feminino estava dizendo que o seu atual oponente era só um maluco qualquer, que estava ajudando aquela traidora por outro motivo desconhecido. Não importava. Os dois teriam o mesmo destino de uma forma ou de outra.

Dessa vez, Minnds não precisou moldar a explosão pois Shiro estava bem longe. Então ela simplesmente criou a esfera normalmente e atirou. E esse deve ter sido um dos maiores erros de sua vida. Claro, não dava pra culpá-la totalmente desse resultado.

O que aconteceu foi que, assim que ela criou a esfera e a atirou para frente, Shiro jogou sua shuriken de energia negra contra a esfera. A pontaria do ninja não era brincadeira. Muito menos sua velocidade de arremesso. A shuriken bateu contra a esfera explosiva e o óbvio aconteceu. "BOOM".

A explosão foi apenas um metro na frente da Capitã, fazendo ela mesma ser atingida em cheio. Seu corpo voou e bateu contra a parede e depois contra o chão, tirando o ar de seus pulmões e criando ardências por todo o corpo. Ela não poderia esperar que ele fosse acertar algo tão pequeno e em movimento. Minnds estava caída de barriga virada para o chão, e com a cabeça virada para o corredor onde estava o ninja e a mulher traidora.

E Shiro não esperou nem mais um segundo. Começou a correr na direção dela, com o intuito de pular para cima e matá-la de uma vez. O ninja não estava com muita vontade de criar uma batalha longa, pois ele ainda precisava sair dali imediatamente para não ser encontrado por um dos três malditos Generais do Exército de Riven.

A maga, por sua vez, criou medo em sua mente ao ver seu oponente correndo em sua direção empunhando uma espada que pulsava energia. Era óbvio que ela precisaria fazer algo rápido e pouco pensado.

BOMBA DE PROXIMIDADE!

Concentrou energia mágica na mão direita e a bateu no chão, bem à sua frente. Ela ainda estava caída por causa das dores, mas isso não a impediu de mirar corretamente sua magia.

Shiro viu que sua inimiga tinha lançado uma magia, mas nada vinha em sua direção. Não havia nenhuma outra esfera. E também não havia nenhuma concentração de energia ao seu redor. Nem nas paredes do corredor. E muito menos no teto. Então o que ela havia feito? "Foda-se!".

Continuou correndo. Girou a espada na mão e se preparou para pular. Ela estava tentando se levantar, mas não conseguiria a tempo. Shiro era muito mais rápido. Muito, muito mais. Colocou a perna para frente e pensou em impulsionar para o pulo.

E foi quando ele pisou no chão com essa perna que ele sentiu. No chão. Energia mágica vindo do chão. "Te peguei!", foi o que Minnds gritou para ela mesma.

E então houve outra explosão. Essa não foi tão potente quanto as outras. A magia se tratava de colocar um tipo de mina ativada pela aproximação de um oponente. Assim que a pessoa chegasse perto... BOOM. Era uma magia do tipo armadilha, e era por esse fato que ela não era tão poderosa. Mas tinha poder o suficiente para destruir um oponente pego de surpresa. Assim como foi Shiro.

Ou pensou ela. Como dito anteriormente, Shiro era muito mais rápido do que ela. Antes de pisar em cima da bomba, ele olhou para baixo e viu um pequeno círculo mágico ser criado exatamente no local onde pisaria. Sua ação foi feita num piscar de olhos. Ele de fato pisou no local, mas porque não havia como parar o próprio movimento. Mas isso não significava que ele não teria um plano extra.

Shiro passou grande parte de sua aura para a perna e quando pisou no chão, usou toda sua força de uma vez só para dar um pulo para trás. A explosão de fato ocorreu e de fato, o atingiu muito de leve.

O ninja caiu no chão se arrastando e chamuscando. Mas estava muito bem vivo. Ele estava pronto para xingar a oponente aleatoriamente, mas ela já estava de pé e se preparando para mais. Uma coisa Shiro precisou admitir: essa guria tinha coragem e força de vontade para continuar lutando. Mas mesmo com isso, ela não venceria. Ele não iria relaxar. Ele precisava se aproximar e atacá-la de uma vez.

Foi quando ele percebeu que ela estava perto de uma das centenas de tochas espalhadas ao longo do corredor. Em qualquer castelo, as tochas só são acessas assim que o sol se põe, mas nesse caso em especial, as tochas daqui queimavam o dia inteiro porque os corredores dos quartos dos empregados não haviam janelas para fora do castelo e a ventilação era feita devido a uns pequenos dutos construídos no teto dos corredores.

Então a única luz que havia era das tochas... Que no exato momento, estavam quase todas apagadas por causa das explosões da Senhorita Dinamite. Quase todas.

Havia uma bem atrás dela agora. Shiro sorriu. E dessa vez, Minnds percebeu. Irritada, ela concentrou mais energia do que deveria. Isso fez o ninja perder o sorriso imediatamente e olhar para trás. A garota desmaiada estava um pouco mais longe agora. Mas ele não poderia se dar o luxo de fazê-la correr perigo. Concentrou energia pelo corpo e começou a correr em direção de sua oponente mais uma vez.

A Capitã fez algo diferente dessa vez. Deu um salto longo para trás e logo depois bateu as duas mãos juntas em sua frente, passando toda a energia concentrada para ali. Shiro não parou seu avanço.

DISPARO DE NITROGLICERINA!

MERGULHO DAS SOMBRAS!

A batalha quase inteira poderia ser resumida com Shiro fazendo suas ações exatamente após sua oponente fazer o primeiro movimento. Dessa vez, a quantidade de energia mágica concentrada por Minnds tinha sido grande o suficiente para fazê-lo se preocupar por um segundo. Já ela, não se preocupava com nada.

Depois de juntar energia nas mãos, ela as separou, criando um tipo de esfera oval entre as duas mãos. Essa esfera tinha um brilho branco e era muito mais concentrada, magicamente falando. Era algo deveras perigoso, até mesmo para ela.

Mas como dito antes, ela sabia controlar as magias. Então ela moldou essa magia para explodir uma área retangular em sua frente. Vendo que eles estavam em um corredor, poderia se considerar que ela iria explodir TUDO.

E assim o fez. Movimentou as duas mãos ao mesmo tempo para frente, e aquela esfera oval voou em direção à Shiro. Mas ela não precisou chegar tão perto dele para que pudesse explodir. Muito pelo contrário.

Assim que foi disparada, ela criou um brilho intenso e depois dispersou toda a energia contida nela de uma vez só, criando uma explosão única e muito mais poderosa. Se Shiro fosse pego nessa explosão, mesmo que por muito pouco, nem mesmo sua aura poderia ter o protegido. Mas claro, a magia não o atingiu.

Isso porque assim que Minnds atirou a esfera de energia para frente, o ninja usou sua já conhecida técnica de mergulhar na própria sombra para aparecer só lá Deus sabe onde. Fazendo isso, ele escapou perfeitamente da enorme explosão que consumiu tudo o que havia restado no corredor. Portas dos quartos se foram. O que havia sobrado das tochas também, tornando o corredor quase totalmente enegrecido. As paredes estavam caindo e se continuasse daquele jeito, o teto naquele lugar iria ceder.

Tudo tinha sido atingido. A explosão foi tão larga que quase atingiu a filha de médica, deitada muito no final do corredor. Para a Capitã, tinha sido uma magia perfeita. Não tinha sobrado nada. Nem o seu oponente. Ele havia virado pó! Que potência! Nem sangue havia deixado!

Ela parou de sorrir. "Nem um pingo de sangue?", pensou ela. Será que uma magia de explosão poderia ter tanta força assim para não manchar as paredes com um pouco de líquido vermelho de um ser humano? Mesmo a magia mais forte dela deixava os inimigos espedaçados, mas não em migalhas! E se fossem migalhas, ainda haveria algo para ver! Então por que estava tudo limpo? Tudo sem sangue? E por que o peito dela doía tanto?

Minnds olhou para baixo, para o próprio peito. Uma lâmina estava atravessada ali, vinda das costas e saindo na frente de seu corpo. A garota sentiu o sangue correr pela garganta e escorrer pela boca. Virou a cabeça lentamente para encontrar o rosto raivoso do seu oponente.

— Tomar no cú, vadia! — gritou Shiro, ao empurrar a espada ainda mais fundo.

BARREIRA EXPLOSIVA!

Dessa vez, foi Shiro que não esperava o que viria a seguir. A ideia dele foi mais do que perfeita, como o ataque foi mais do que preciso. Shiro sabia que a tocha atrás de Minnds estava fazendo ela ter uma pequena sombra em suas costas, o que era perfeito para ele agir. Ele desapareceu e apareceu lá, sem fazer nenhum barulho. Perfeitamente silencioso e mortal. Mirou as costas da garota que ainda olhava para frente e a atravessou fora a fora.

O mais estranho foi que ela não gritou. Dor ela tinha sentido. Mas não gritou e nem sequer abriu a boca no momento do golpe. Shiro sentiu um arrepio quando ela virou a cabeça para ele, com aquele sangue escorrendo pela boca e com os olhos vermelhos de fúria. Ela pareceu que iria explodir. E por mais cômico que pudesse parecer, ela REALMENTE explodiu.

Bom, não foi nada de dentro pra fora. Ela usou sua aura ao redor do corpo e a transformou em energia mágica, depois a disparou em todas as direções ao mesmo tempo. Essa era uma magia que ela usava como um tipo de proteção contra outras magias, mas ela não pensou nisso quando viu a lâmina negra atravessada em seu peito. Foi incrível como ela ainda tinha concentração o suficiente para fazer tal magia naquele estado.

Shiro voou para trás e foi cair no chão só uns seis metros depois, bem perto da bifurcação de caminho que o corredor fazia. Toda a frente de seu corpo ardia. Ele se revirou no chão, tentando ficar de um jeito onde ele respiraria melhor. Ficou de costas para o chão, tossindo como um cachorro velho. Ele estava temporariamente cego, já que até seus olhos haviam sido pegos pela explosão.

A única sorte dele era que quando ela explodiu e ele foi jogado para longe, ele ainda segurava firmemente a própria espada, o que fez ele arrancar do corpo dela. Isso poderia ter causado mais dor ainda na mulher se ela não estivesse exaustada com a liberação intensa de energia mágica.

Agora no chão, pela primeira vez, ele conseguiu ouvir o barulho ligeiramente próximo dos soldados em guerra. Parecia que eles batalhavam na sala ao lado. Mas se fosse mesmo isso, pelo menos um deles iria ser curioso o suficiente e iria até aquele corredor. Mas ninguém havia aparecido. Ninguém MESMO. Nem qualquer empregado ou qualquer outro soldado.

Agora que Shiro tinha percebido o quanto isso foi estranho. Primeiro, como ele foi encontrado por uma Capitã logo de cara, em vez de ser um soldado raso qualquer? Essa pergunta não teria uma resposta simples, então o ninja desistiu de pensar sobre isso. Se virou de lado e tentou ficar em pé.

Ele até conseguiu, mas percebeu que estava passando por um momento tenso. Ele estava sentindo muita dor pelo corpo, mas o braço direito havia voltado a fisgar mais ainda. "Se não fosse por esse machucado aqui, eu já teria matado essa vaca!". Não adiantava muito fazer proposições naquela altura do campeonato.

Ele se apoiou na parede para não voltar ao chão. Viu que além de muito machucado, ele também estava quase zerado de energia mágica por causa daquela magia que tirou ele e a mulher de dentro do quarto. O ninja sabia que aquilo iria complicar uma luta dele. Era impossível usar sua Magia Suprema naquelas condições. E como estava sua oponente? Olhou para frente.

Minnds estava em pé. Sim. Em pé ainda. E virada para Shiro. Com a cabeça abaixada e a mão esquerda no ferimento grave no peito. Ela respirava lentamente. Controladamente. Ela estava em uma condição chamada de "Pseudo Consciência". Sua mente ainda estava acordada, mas o corpo estava dormente. Ela não conseguia se mexer, mesmo querendo correr na direção do maldito e explodi-lo com todas as forças. Não dava.

Tentou dar um passo sequer. O corpo não obedeceu. Cuspiu no chão. Sangue. Olhou novamente para o oponente, que estava encostado na parede. Ela sabia que ele também não estava em grandes condições. Então o que fazer?

Minnds parou de respirar. Seu cérebro trabalhou três... Quatro vezes mais rápido. Havia uma ideia. Uma opção. Uma magia. Ela fechou os olhos e tentou concentrar todo o resto de energia que ainda tinha sobrando. Não era muito, mas seria mais do que o suficiente.

Shiro apertou os dentes. Ela ainda tinha energia. Ele levou a mão na bolsa de shurikens. Onde ela estava? Procurou com os olhos pelo chão. Não encontrou. "Mas que porra?".

Em algum momento da batalha, a bolsa devia ter caído pelo corredor e... Foi totalmente destruída pela última magia daquela doida. Estava sem kunais. Isso ele sabia porque teve que usar algumas quando fugiu daquele salão da reunião. Estava sem mais nenhuma arma arremessável. Tinha duas bombas de fumaça em um dos bolsos. Coisa que iria ajudar muito aqui, não é?

Apertou novamente os dentes e xingou a família da Capitã mentalmente. Ainda tinha sua espada. Sua companheira de poucos combates. Teria que dar um jeito. Ele tinha outra magia especial que ele andava treinando há pouco tempo. Mas além dela não estar completa ainda, ele não tinha a energia mágica o suficiente para utilizá-la. Shiro baixou a cabeça e olhou para a lâmina energizada de sua espada. "E se eu usasse o restante de energia da Izayoi?", pensou ele. Sorriu.

Daria certo! Ele precisava se preparar. Enterrou a espada no chão na sua frente, a segurando com a mão esquerda. Depois levantou a mão direita com a palma aberta para frente, na direção de sua oponente. E então concentrou energia.

Minnds percebeu isso, mas ignorou. Não poderia perder a própria concentração, que já estava difícil. A dor e a perca de sangue estava deixando tudo mais mole. Seu corpo não estava aguentando. Se ela não fosse tratada na próxima hora, iria morrer. Seu pulmão já estava falhando. Mas ela iria atacar. Ela precisava! Não se daria por vencida tão facilmente. Ela só precisava atirar antes que ele usasse a magia dele. E ela fez.

MÍSSIL PERSEGUIDOR!

Ela deveria ter levantado a mão em direção ao oponente para atirar essa magia, mas seu corpo não estava a obedecendo, então tudo o que ela conseguiu foi concentrar toda a energia nos cinco dedos da mão direita, os abrir e depois disparar tudo de uma vez.

De sua mão saiu um foguete de pequeno porte, brilhoso e pontiagudo. Inclusive, essa ponta era a única coisa que era pintada e muito chamativa, já que era em um vermelho forte. Essa magia, como se o nome já não tornasse tudo óbvio, se tratava de um míssil que marcava um inimigo e o perseguia até atingi-lo.

Minnds escolheu utilizar essa magia porque ainda não tinha entendido como Shiro fez para escapar de sua outra magia e do nada, aparecer em suas costas. Talvez ele pudesse se tele-transportar usando magia. Mas mesmo com isso, o míssil o perseguiria até sua morte. Essa magia tinha uma total desvantagem ao ser usada em lugares pequenos e apertados, mas dada a atual situação de Shiro, isso não importaria muito. "Te desafio a desaparecer de novo!" disse ela, em um tom muito baixo. Ele não precisou.

BURACO NEGRO!

Shiro estralou os dedos da mão quando a apertou, depois a abriu de novo. Nesse momento, ele estava segurando uma esfera negra bem diferente. Era feita totalmente de energia mágica, mas ela parecia liberar uma estranha sensação. Ela tinha uma cor caracteristicamente enegrecida, mas havia muitos brilhos que reluziam dentro da esfera, como se fossem várias estrelas cadentes cortando o céu da noite.

Mesmo de longe, Minnds sentiu como se estivesse sendo atraída para o inimigo, contra a sua vontade. A magia do ninja foi disparada um segundo depois da magia dela, então pode se dizer que elas se encontrariam no meio do caminho entre os dois. Minnds estava a uns sete ou oito metros de distância dele agora, pois tinha cambaleado para trás depois de soltar a sua magia.

O míssil era obviamente mais rápido, mas ele não cruzou os oito metros de distância porque a esfera negra de Shiro voou até uns dois metros de distância dele e depois cresceu. Cresceu enormemente falando. A pequena esfera tinha se transformado em um buraco negro de verdade, sugando tudo o que estava em redor.

Portas, poeira, vidro quebrado, tochas, insetos que só estavam de passagem, parede, madeira destruída, tecidos queimados, velas dos candelabros, suportes para as tochas na parede e... O mais importante de tudo: o míssil mágico perseguidor de Minnds. Tudo que entrava no buraco negro, simplesmente desaparecia. Era como um apagador da própria existência.

A Capitã viu sua magia sendo sugada para o nada, não tendo a clássica explosão que ela esperava. Que na verdade, teve sim. Três segundos depois de ter engolido tudo ao redor, fazendo uma verdadeira faxina no local, o buraco negro simplesmente sumiu, como se ele tivesse sido engolido por ele mesmo. E no quinto segundo, houve, de fato, uma explosão ao longe.

A maga não entendeu o que tinha acontecido, mas pelo sorriso de Shiro, a última cartada dela tinha falhado. As pernas de Minnds não aguentavam mais o seu peso e o machucado no peito estava fazendo ela perder a consciência. Ela caiu de joelhos, com uma expressão de horror e de dor, com as duas mãos no machucado do peito. Depois foi de cara ao chão frio e parcialmente limpo.

Shiro permaneceu na mesma posição. Ainda estava rindo. Sua magia, mesmo tendo treinado muito pouco, tinha sido totalmente efetiva. Ele conseguia abrir um buraco negro em sua frente para sugar qualquer coisa e depois despejar tudo em uma área qualquer, até vinte metros de distância dele. Ou seja, o buraco reabriu em algum lugar aleatório do castelo e soltou tudo o que absorveu, para só no final, soltar o míssil que explodiu em uma parede qualquer. Alguém desavisado poderia ter visto isso ou até mesmo ser atingido, mas o ninja não estava nem aí pra esse fato.

Essa magia lhe consumiu toda a energia mágica restante e inclusive fez sua espada desaparecer, pois tinha consumido a energia dela também. Sem apoio, Shiro se jogou na parede e começou a respirar rápido. Foi caindo devagar até ficar sentado no chão. O braço estava doendo horrores aquela altura.

Ele ficou olhando para Minnds. Ela estava criando uma excessiva poça de sangue ao seu redor, e não estava nem se mexendo. Se não morreu ainda, ela estava no processo.

Viu outra coisa se mexer. Barulho. Mesmo com o corpo doído, Shiro se manteve alerta. Quando viu que se tratava da moça que tinha lhe ajudado mais cedo, ele relaxou os músculos novamente.

A mulher parecia perdida e aturdida. Estava com a mão na parede e olhava ao redor. Destruição total. Viu a Capitã caída no chão, sangrando. Olhou mais para frente e então viu o ninja que ela mesma tinha decidido ajudar mais cedo. Ele parecia vivo, mas muito ferido. A próxima reação dela não pode ser explicada simplesmente por "impulso".

Ela correu enlouquecidamente na direção do ninja machucado. Passou por Minnds sem nem verificar se a Capitã estava ou não viva. Chegou na frente de Shiro e se abaixou, para ficar cara a cara com ele. Nem pediu permissão: foi logo puxando o braço dele levemente para medir o seu pulso. Depois o olhou nos olhos:

— Seu batimento está caindo! — disse ela, preocupada. — Você está perdendo sangue e seu corpo não está aguentando o estresse acumulado.

— Agora me diz uma coisa que eu não saiba... — respondeu o ninja, sarcasticamente. Ele tentou forçar um sorriso, mas não conseguiu mantê-lo por mais de dois segundos. — Precisamos sair daqui. Não é seguro. Nem pra você.

— PARADOS!

Esse grito não veio de nenhum dos dois. E também não era de Minnds. Era um grito com voz masculina, mas não parecia tão imponente quanto pareceu. Shiro e a filha de médica olharam para o outro lado do corredor e viram um soldado real, apontando a lança para os dois.

Ele não era Capitão ou General. Era só um soldado normal. Aquele com curiosidade o suficiente para vir verificar o porque de tantos barulhos e explosões. Mas isso não justificava qualquer tipo de sorte para os dois.

O ninja estava em péssimas condições, tanto físicas quanto mentais. Sem pensar duas vezes, ele forçou suas pernas e usou a parede como apoio para voltar a ficar de pé. A garota tornou a olhar para o pobre ninja machucado, querendo dizer para que ele não se esforçasse mais do que deveria. Mas isso não adiantaria de nada. Olhou para o soldado de novo. Ele estava sozinho? Sim, com certeza.

— Não se mexam! Vocês estão sendo acusados de invasão e destruição à propriedade Real! — disse o soldado sem medo. Ele tinha começado a caminhar lentamente na direção dos dois. Estava longe ainda.

— Temos que sair daqui. — disse ela no ouvido de Shiro. — Você não está em condições para enfrentar outro soldado!

— Porra nenhuma. — respondeu Shiro, sem dar bola para seu próprio tom de voz. — Não vai ser um "Zé Ruela" desses aí que vai me fazer fugir com o rabo entre as pernas!

— Não tentem fugir. — disse o soldado ao ouvir o que Shiro tinha dito. Para falar a verdade, esse soldado tinha uma boa audição, pois a distância entre os dois estava ligeiramente grande. Ele continuava caminhando lentamente na direção dos dois, com a sua afiada lança em posição de ataque. — Vocês serão presos e...

ESTILO DO FALCÃO, RASANTE DO CAÇADOR!

Se aquele soldado pudesse ter lido o próprio futuro em alguma cartomante, ele escolheria ter saído desse trabalho e ter voltado para a fazenda dos avós, ao nordeste de Riven.

Enquanto ele andava pelo corredor totalmente destruído do local, ele passou por várias entradas dos quartos dos empregados. Quase todos estavam sem as portas, pois a maioria tinha sido explodida ou sugada pelo buraco negro causado durante a batalha fervorosa de um minuto atrás. De longe, ele podia ver o corpo estendido da Capitã Minnds, mas ele não a reconheceu por estar virada de cara para o chão.

Continuou andando normalmente até passar pela entrada do quarto da empregada que ajudou Shiro. Foi exatamente nesse ponto que aconteceu.

Alguém apareceu por aquela entrada. Não foi uma aparição muito normal. A pessoa apareceu voando, acertando um chute voador no pescoço do pobre guarda. O mesmo pescoço dobrou para o lado, quebrando o esôfago e obliterando as veias arteriais do homem. Uma morte instantânea.

A pessoa que deu o chute caiu no chão antes do soldado cair morto para trás. O assassino foi até o corpo e começou a revirar sua blusa e sua calça. Quando Shiro se deu conta de tudo.

— EI! — gritou o ninja. — CARALHO! Eu conheço você!

— Mais eim? — disse San, ao se virar para trás e ver Shiro e a garota na parede do outro lado do corredor. — Ah, é você Shiro? Espera... O que você ta fazendo aqui?

— Eu ia te fazer a mesma pergunta! — disse ele, querendo andar até o garoto que tinha acabado de aparecer. Ele não conseguiu e só não foi ao chão porque a garota o segurou antes.

— Você não está em condições de andar! Precisa ver um médico urgentemente! — falou a garota, segurando Shiro para que ele não andasse mais.

— Ela tem razão, Shiro. Você está bem machucado, e seu braço está sangrando bastante. — San precisou de dois segundos para analisar a situação do ninja. Shiro olhou para o próprio braço e só agora tinha percebido que o sangramento tinha ultrapassado o curativo que a bondosa garota tinha feito. — Eu não vou questionar o que o Líder do Esquadrão de Espionagem da White Lotus está fazendo dentro do Castelo Real de Riven ENQUANTO ele está sendo atacado por um exército rebelde. Mas admito que estou curioso.

— NÃO REPITA ISSO! — Shiro tossiu duas vezes depois de ter gritado com toda sua força. — Nunca mais repita o nome dessa maldita Guilda para mim outra vez! Não me coloque junto dela!

— Ah... — San parou e deixou seus pensamentos envolverem sua mente. Seu cérebro estava trabalhando em um ritmo acelerado pois sua adrenalina estava em alta e ele estava com uma certa pressa. Ele ainda não tinha encontrado seus companheiros e os barulhos de explosões só o deixaram mais tenso. — Bom, eu não sei o que aconteceu entre vocês, mas não é da minha conta agora. Você precisa sair daqui antes que outro soldado desse te encontre. Quem é ela? — perguntou San, olhando para a garota que servia de apoio para o ninja.

— Ela... — Shiro olhou para a garota e pensou no que falar antes. Os dois se olharam profundamente, como se já se conhecessem há anos. Um fato engraçado se visto pelo fato dele nem fazer ideia do nome da mulher. — Ela me ajudou quando eu estava fugindo, ferido. Ela é empregada aqui, mas é filha de uma médica e me fez os primeiros socorros. — o ninja decidiu não mentir para encurtar a história de uma vez. A aparição de San era a coisa mais estranha que já tinha acontecido, mas ele não era um inimigo. Eles estavam em times oponentes no Coliseu, mas aqui já era outra história.

— Filha de médica? — San olhou para a garota, dando alguns passos na direção dos dois. — Sua mãe trabalha aqui?

— Sim, ela tem uma clínica na Avenida Feltesk, bem ao sul da cidade. — respondeu ela, olhando novamente para San. Ela não parecia mais perdida, mesmo estando muito confusa sobre a situação e sobre o que San tinha dito no começo. "Ataque de um exército rebelde? Quem imaginaria isso?". — Não é um lugar muito grande, mas é uma boa clínica! Ela é uma curandeira mágica de renome!

— É perfeito. — disse San. — Preste muita atenção no que eu vou dizer. Coloque um cobertor ou uma jaqueta grande em cima dele e leve-o até a clínica. Se alguém perguntar, diga que ele é um colega de trabalho que foi ferido durante o ataque e que está o levando para um médico, mas não diga qual. — Shiro e a mulher prestavam bastante atenção nas palavras de San. O ninja estava de boca aberta e sem ter o que dizer. — Quando chegar até a clínica, mande sua mãe fechar o local e dispensar qualquer paciente que não esteja seriamente precisando de atendimento. Diga a ela que é uma ordem direta da Família Musubi e que ela será fartamente recompensada por seu trabalho. Absolutamente ninguém pode saber quem está sendo tratado lá, e ela só irá deixar entrar as pessoas que falarem um certo código. O código é "3348". Está entendendo até aqui?

— Eu... Sim. Acho que... Mas por quê... — a garota parecia confusa, mesmo tendo entendido tudo perfeitamente.

— Não faça perguntas. Você quer salvá-lo, não quer? — a pergunta foi tão direta, que a garota foi quase que obrigada a responder positivamente com a cabeça. — Então você vai seguir esse plano.

— Espera um pouco, puta que pariu! — disse Shiro, levantando a cabeça para o teto e vendo que ele ainda estava com perigo de desabar. — Velho, que plano é esse? Como diabos você conseguiu pensar nisso tudo em um maldito segundo?

— É algo que estou pensando para salvar você e para mandar meus companheiros que podem estar feridos, já que a enfermaria do Coliseu não nos ajudará por se machucar FORA do Torneio. — respondeu o garoto prontamente. O casal ficou paralisado sem saber o que dizer. A garota sentia que precisava seguir aquele plano a risca, já que existia um peso de verdade sobre as palavras de San. — Eu sei que você está preste a perguntar algo como "Por que você me salvaria?", então para encurtar a conversa, eu vou te responder isso com "Porque eu quero saber o que está acontecendo entre você e a White Lotus". E eu não quero ouvir um não como resposta.

Não havia como rebater as palavras de San. Shiro se sentiu sem saídas. "Como esse desgraçado conseguiu bolar um plano tão bom em tão pouco tempo?". O pensamento dele era compartilhado pela garota, que estava pasma. Tudo estava acontecendo rápido demais, e ela mesmo estava impressionada com o fato de ter conseguido entender todas as instruções de uma só vez.

Ela sabia que estava correndo contra o tempo. A situação no castelo era mais complicada do que ela poderia imaginar. Mas ela se sentiu na obrigação de salvar o garoto que tinha invadido seu quarto, machucado e cansado. Foi um sentimento que ela não conseguiu fugir. Aquela vontade de querer ajudar. Era tão estranho quanto a situação em que ela estava metida no exato momento.

Quando San percebeu que os dois estavam perdidos em pensamentos, ele gritou um grosso "VÃO LOGO!", que fez a garota começar a carregar o ninja para longe. Ela passou olhando para os quartos e entrou em um deles que estava sem a porta, pegando um lençol branco da cama e depois colocando em cima de Shiro.

A essa altura, o ninja já estava quase desmaiando de cansaço. Ele não viu San voltando para o corpo do soldado morto e retirando a armadura e a capa do infeliz.

San tinha outro plano em mente, e já estava o colocando em ação. Havia preocupação em sua mente. Por um segundo, ele tinha se lembrado de que possivelmente o torneio não iria parar só por causa dessa rebeldia toda acontecendo aqui, o que significava que seu time tinha menos de quatro horas para estar lá na frente do ringue para enfrentarem os próximo oponentes... Que seria o Time de Jimmy.

Logo, se algum membro de seu time tivesse lutado aqui, eles poderiam não estar em condições para lutarem no ringue. Mal sabia San que seus companheiros já não tinham mais condições nem de chegar até o Coliseu.