Lacrimosa

Dois dias depois –

(Hannah´s pov)

Caminhavam pelas ruas da Califórnia em busca da roupa perfeita para a ocasião. Depois do episódio dos cupcakes Shannon convidou-a para ir a uma das boates mais badaladas da cidade; Viper Room.

Na companhia de Elisa, andaram por quase duas horas sem achar algo que lhes chamassem a atenção.

– Vêm, vamos entrar nessa loja – falou Elisa já puxando a moça pelo braço

– Posso ajudá-las? – anunciou uma vendedora da loja, com seu melhor estilo esnobe

– Ahm...só estamos olhando

A mulher continuou no encalço das jovens.

Hannah olhou para a mulher atrás de si mostrando uma expressão questionadora incomodando-se com a falta de bom senso da vendedora.

– Hannah, olha só esse vestido! – exclamou Elisa mostrando a amiga um belo vestido vermelho

– Adorei! – disse empolgada. A peça, tomara - que - caia, era de muito bom gosto, rendada e adornada com pequenas pedrarias dando todo o charme ao vestido, além de ser na cor predileta da jovem

– Eu quero provar esse vestido – disse mostrando a peça a vendedora

– Qual o tamanho?

– 46

– Só trabalhamos com modelos até o número 40 – falou de forma indiferente

Hannah mordeu o lábio inferior num evidente sinal de frustração – Eu gostei tanto dele

Elisa pegou o vestido da mão da amiga analisando-o atentamente – Acho que você devia levá-lo

– Não vai entrar!

– Olha só – disse mostrando a costura do vestido – A modelagem dele é grande, além do mais há várias pregas que podemos desfazer

– Como você sabe dessas coisas?

– Minha mãe era costureira

– Mas isso deve dar trabalho para fazer, o encontro é amanhã

– Não se preocupe, eu garanto que vamos conseguir - disse com convicção

– ´Tá bom, eu vou levar

(...)

Dia seguinte –

– E ai, como ficou? – perguntou Elisa. Estava ansiosa, passaram as últimas quatro horas trancadas no quarto da morena enquanto ajustavam o vestido. Estava exausta, porém tinha certeza que o trabalho valera a pena

Finalmente Hannah saira do banheiro, e para a satisfação das duas o vestido ficara perfeito.

– Ficou lindo! – disse Elisa animada – Aconteça o que acontecer não deixe ele ver a sua cinta – recomendou

– Pode deixar. Para dar um caimento perfeito a peça, a moça usava uma cinta que comprimia levemente seu abdômen na qual chegara na altura do umbigo

Dia seguinte -

Boate Viper room -

Shannon fora buscar Hannah em seu apartamento. Chegaram a prestigiada boate às 22:10.

– Se importa de entrar primeiro? Quero evitar falatórios – pediu Shannon enquanto abria a porta do carro para a jovem

– Tudo bem – concordou

O local estava lotado, por todo o canto que olhava via top models e alguns artistas com relativa fama. A diversão do público ficou por conta do Dj Fatboy Slim. Caminharam até o bar. Hannah já sentia o ambiente causar-lhe certo desconforto haja visto o calor infernal que estava fazendo, sentia como se estivesse em uma sauna.

– Aqui é muito quente, não? – resmungou

– Faz parte do charme daqui – disse Shannon já mostrando a fronte levemente suada

Sentaram-se em frente a bancado do bar. Hannah pediu uma dose de whisky com licor de damasco enquanto Shannon bebericava o clássico dry Martini.

Conversaram sobre assuntos extremamente triviais até seu acompanhante fazer-lhe um inevitável convite.

– Vamos dançar? – sugeriu

– Ahh eu não sei dançar essas músicas – desculpou-se

– Não precisa saber dançar...é só se....mexer

– Acho melhor não, pelo bem de todos

– Ahh deixa de frescura – falou já puxando pela mão em direção a pista de dança

Hannah esforçou-se para acompanhar Shannon. Estavam partilhando de um momento bem agradável juntos. Porém, não demorou muito para o bateristaser reconhecido e, para o desapontamento de Hannah, aparecessem algumas mulheres dançando sensualmente com o intuito de chamar-lha a atenção.

Uma das características que Hannah mais se orgulhava em possuir era o bom senso e, naquele momento, soube reconhecer que havia perdido o seu já pequeno espaço.

Enquanto seu acompanhante era cercado por jovens esguias e ridiculamente belas, a loira foi se distanciando em direção ao balcão. Sentou-se no mesmo lugar onde estava anteriormente. Pegou o aparelho que mais salvava as pessoas de situações constrangedoras como aquela de ficar sozinha em um lugar, seu celular. Fingiu estar entretida com o mesmo enquanto, mentalmente, rezava para que aquela noite passasse o mais rápido possível.

– Hey, porque saiu da pista de dança? – perguntou Shannon próximo ao seu ouvido surpreendendo-a

– Ahm eu estava cansada – respondeu rapidamente enquanto voltava sua atenção para ele

– Tem certeza que foi essa a razão? – pressionou

– Claro, qual seria o outro motivo?

– Não sei, me diz você – aproximou-se mais dela

Ele está se aproximando...será que ele quer me beijar? – pensou Hannah enquanto sentia seu coração acelerar num ritmo frenético

A moça resolveu arriscar uma aproximação mais enfática inclinando sua cabeça em direção ao homem, podia sentir o hálito quente de Shannon demonstrando o quão próxima estava.

Ao perceber a investida o baterista afastou-se – Desculpe Hannah, eu não quero que você confunda as coisas entre nós. Eu estou me envolvendo com outra pessoa e...

– Não precisa se explicar Shannon, eu não me importo, está tudo bem – interrompeu-o endireitando-se sobre a cadeira. Podia sentir seu rosto queimar de constrangimento

Estava sentindo-se envergonhada, não por ter levado um fora...isso frequentemente acontecia com ela, mas sim por ter tido a audácia de supor que um homem como Shannon Leto mostraria algum interesse romântico em relação a ela.

– Olha, você não precisa ficar aqui comigo, eu não quero te atrapalhar...Eu vou pegar um táxi e voltar pra casa

– Ahh não, você estava dançando tão bem....vamos lá, fique mais um pouco

– É melhor eu ir, amanhã tenho que trabalhar

– Já que não tem outro jeito...nos falamos depois – disse dando-lhe um beijo na bochecha

– Tudo bem, até mais – despediu-se

(...)

Em menos de uma hora já estava de volta ao seu apartamento. Abriu a porta, entrando rapidamente. Sentou-se sobre o sofá e retirou seus sapatos. Em questão de segundos perdeu seus imponentes 15 cm a mais de altura.

Se vocês pudessem falar estariam gritando, né? – sussurrou olhando os próprios pés, agora um tanto inchados causado pelo desconforto do altíssimo sapato

Ligou a TV, deixando em um canal destinada a ópera. Olhou vagamente para o conteúdo do programa que estava passado enquanto refletia sobre o que acontecera nas últimas horas.

Sem sua permissão algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto. Mesmo tendo passado por situações como aquela desde sua adolescência sempre sentia-se mal por ser descartada. Muitos “Shannons” já haviam cruzado sua vida e desaparecido na mesma velocidade em que entraram.

Lacrimosa

(Lágrimas)

Lacrimosa dies illa

(Aquele dia de lágrimas)

Qua resurget ex favilla

(Em que ressurgirá das cinzas)

Judicandus homo reus.

(Os culpados para serem julgados)

Huic ergo parce, Deus

(Portanto, poupe-os, Senhor)

Pie Jesu Domine

(Misericordioso Senhor Jesus)

Dona eis requiem, Amen

(Dá-lhes a paz, Amém)

Enquanto se dirigia a cozinha em busca de algo para jantar ouviu a campainha tocar.

– Que visita é essa que chega de madrugada? – murmurou para si própria enquanto corria para atender a porta. Com um único solavanco abriu-a

– Shannon, o que faz aqui? – perguntou surpresa ao vê-lo parado a sua porta

– Lembra quando eu te disse que estava me envolvendo com outra pessoa?

Hannah apenas assentiu com a cabeça.

– Eu estava mentindo – respondeu fitando-a

– Lembra quando eu disse que não me importava?

– Sim – respondeu o homem

– Também estava mentindo

Sem mais delongas Shannon avançou sobre a moça dando-lhe um beijo sincero que exemplificava o sentimento de busca para algo seguro e concreto que ambos buscavam possuir.