San Diego

Aquele era um ambiente completamente novo para os irmãos Winchester.

Quer dizer, o lance deles eram a caça aos monstros, não andar em um pavilhão repleto das mais variadas fantasias. Sam até poderia entender e talvez se sentir em casa, mas para Dean aquilo era um completo absurdo. Se quando conheceram Charlie ele mesmo já estranhou todo aquele lance de RPG, estar novamente inserido em uma realidade que nem ao menos uma história coerente tinha.... Ele poderia usar a desculpa que era pela sua idade, mas com certeza haviam pessoas muito mais velhas do que aqueles trinta e nove anos dele ali presentes, então não seria uma coisa muito aceitável. Não, ele apenas não conseguia entender o mundo Geek mesmo. Dean Winchester era e sempre será o típico garoto popular que não dá a mínima para outras coisas que não sejam garotas e cerveja.

E era justamente por Charlie que estavam naquele ambiente completamente novo: da última vez que haviam se encontrado os Winchester’s haviam perdido uma aposta para a garota, ficando devendo uma. E bem, havia chegado a hora de pagar. Sua instrução fora de que fossem com seus disfarces de federais, apenas isso.

—Você por acaso tem alguma ideia de como vamos encontrar Charlie aqui? – Sam olhava para os lados a procura da ruiva, mas falhando completamente.

—Ainda não tô acreditando em como ela me colocou no meio de um monte de nerds fantasiados.

—Isso se chama cosplay, Dean.

—Tanto faz.

Eles rodaram com um pouco de dificuldade pelo pavilhão por cerca de vinte minutos até enfim encontrarem Charlie sentada no trono de ferro fazendo pose para uma foto.

—Meninos! Vocês realmente vieram! – Charlie se apressou para o lado deles assim que os viu.

—Aposta é aposta. – Dean disse completamente entediado.

—É bom te ver de novo, Charlie. – Sam ignorou o irmão, abraçando a amiga.

—Não acredito que me deixou plantada no painel da DC, Charlie! – Uma voz foi ouvida se aproximando dos três, impedindo qualquer outra interação.

Com curiosidade, os irmãos se viraram de costas na procura da fonte, dando de cara com você. Charlie riu imediatamente após perceber os olhos de Dean brilharem, assim como dar uma leve afrouxada na gravata e ver seu pomo de Adão subir e descer com dificuldade.

—S/n! Eu já estava indo para lá!

—Nem tente me engan.... Espera aí! Não acredito que você encontrou alguém representando Supernatural aqui! Isso já faz tanto tempo! – Você ignorou Charlie, observando os dois homens a sua frente.

—Representando o quê? – Sam realmente havia esquecido daquele infortúnio.

—Vocês sabem, Sam e Dean Winchester, obviamente.

—Ah não, isso de novo não.... – Dean estava levemente decepcionado por logo você comentar no fato que mais gostaria de esquecer.

—Já vi que são aqueles tipos de caras que não gostam de ser lembrados do cosplay. Tudo bem, não tem o menor problema. Então, Sam e Dean – você revirou os olhos com um sorrisinho – Muito prazer.

—Prazer...? – Sam esperou pelo seu nome.

—Meninos, esta é a....

—Hatsune Miku. – Você se apresentou como o personagem, na tentativa de não os deixar constrangidos com a total imersão deles nas fantasias.

—Hatsune Miku.... Asiática, uhn? – O olhar de Dean mudou, voltando ao primeiro brilho.

Você apenas piscou os seus olhos de forma infantil e hipnotizante, atraindo ainda mais a atenção dele para você. Aquilo era exatamente a definição de sonho se tornando realidade para Dean: embora ainda fosse contra, era a personificação de uma asiática, bem na frente dele, obviamente dando mole. Certo, você não era peituda, e talvez sua peruca transformasse aquilo em algo ainda mais irreal, mas era encantador do mesmo jeito. Seu cosplay era bem fiel a adolescente: usava lentes de contato azuis, assim como uma peruca azul clara em forma de maria Chiquinha que ia até o seu quadril. Uma blusa de colegial sem mangas, com luva até seus cotovelos. A saia preta plissada – e curta dava todo um ar colegial, juntamente de suas botas de saltos. Embora você tivesse seus vinte e cinco anos, agia como uma garota de dezesseis quando era Hatsune.

—Você realmente se pegou aos mínimos detalhes, cara. Gostei de você! – Você estava chocada com o fato de Dean estar se referindo as asiáticas peitudas de quem seu personagem tanto tinha gosto.

—Mínimos detalhes? – Sam tentava acompanhar até com que profundidade Chuck havia escrito sobre eles.

—É, ele conseguir se lembrar sobre aquela revista pornô que Dean tanto ama. Isso que é comprometimento.

Charlie não fazia outra coisa senão segurar o riso.

—S/n é a maior fã de Supernatural que já conheci, rapazes. – Charlie soltou a frase cheia de veneno, sabendo da reação que causaria.

—Seu nome é S/n? – Dean perguntou interessado, sendo completamente ignorado.

—Você sabe que isso é mentira, Charlie!

—Não gosta, então? – Dean se sentiu ofendido.

—Não é isso. O livro tinha de tudo para dar certo, mas todo aquele apelo e tensão sexual entre os dois irmãos chegava a enjoar quem realmente só queria ler uma boa história de terror.

—Então você só queria ler o terror? – Sam já imaginava aonde aquilo iria dar se você continuasse a defender a história deles. Ele provavelmente ficaria sem carona para casa.

—É, basicamente isso. Mas admito que tinha sim uma quedinha pelos dois juntos. – Você deu uma piscadela para Dean, que havia amarrado a cara de novo.

—Eu nunca vou entender as mulheres!

—Só porque eu tenho uma queda por eles juntos não significa que eu não tenha preferência por apenas um, daddy. – Você abriu seu sorriso mais inocente, seguida de uma posição que somente uma adolescente muito animada conseguia fazer: piscava os olhos enquanto balançava delicadamente seu tronco.

Charlie quase escondeu o rosto no braço de Sam, devido a surpresa e cara de pau que viu. Sam também não estava muito atrás, já pensando em como voltaria para o hotel.

—V-você me chamou do quê?! – Dean tinha a confusão estampada no rosto, te olhando de cima a baixo, procurando a certeza de que era realmente aquilo que tinha escutado.

—Daddy. – Em passos lentos, você começou a se afastar a princípio de costas, até se virar e se misturar no meio da multidão.

—Você vai ver quem é seu daddy... – Dean te seguiu afrouxando a gravata ainda mais, ignorando a existência do irmão e de Charlie ao seu lado.

Com um suspiro, Sam expressou o que mais o preocupava no momento:

—Pode me dar uma carona para casa?

—Sem problemas.

***

Já se passavam das nove da noite quando você finalmente atravessou a porta do quarto de hotel, dando de cara com Charlie te olhando divertidamente. Vocês tinham se conhecido por intermédio do RPG, quando os Winchester’s ainda não haviam entrado na vida da ruiva. Apesar da diferença de idade entre vocês, não era algo tão estranho assim. Vocês estavam dividindo o quarto durante a Comic Con, então era de se esperar que quando chegasse a encontraria lançando olhares nada furtivos em sua direção.

—Você demorou. – Seu sorriso pervertido quase rasgava seu rosto.

—Ele me manteve bem ocupada, sabe?

—Eu tenho uma leve noção. Não vai me contar nada?

—Certeza que quer saber?

—Ah, com certeza sim. Não é só porque não gosto de homens que não iria querer saber como você fez Dean Winchester gostar de um cosplay.

—Até você imergiu no Winchester?

—Eles são bem convencidos disso, não posso fazer nada.

—Deixa só eu tomar um banho antes.

Minutos mais tarde você já estava devidamente livre de todo o suor e maquiagem pesada derivada de Hatsune, sendo completamente S/n. Quando enfim saiu do banheiro, encontrou Charlie rindo na própria cama enquanto encarava o celular.

—O que aconteceu?

Ela apenas estendeu o telefone, mostrando a mensagem recebida segundos antes:

Samuel Winchester: eu tenho medo de perguntar o que S/n fez com Dean para ele estar pesquisando sobre o show de abertura que Hatsune fez para a Lady Gaga.

Samuel Winchester: droga, ele encontrou um álbum só com imagens dela.

Samuel Winchester: Charlie, acho ele virou um geek.... LOL

Você mesma não aguentou e riu junto da ruiva, não acreditando que ele realmente estava fazendo aquilo.

—S/n, o que você fez?

— Bem...

“Quando eu saí de perto de vocês eu andei um pouco mais rápido para você me perder de vista e não ficar me sacaneando mais tarde, e ele acabou se perdendo quando a turma do Scooby-Doo passou logo atrás de mim. Ele demorou uns minutinhos para conseguir me encontrar, e quando encontrou, eu estava tirando foto com uns caras. Eu não entendi porque ele amarrou a cara na hora, mas fazer o que né?

—Precisa de ajuda, S/n? – Ele estava igual a um guarda costas naquele sobretudo atrás de mim.

—Hatsune, Dean. E não, não preciso não.

—Tem certeza? Não foi o que me pareceu ali atrás.

—Não sou eu quem preciso de ajuda, daddy.

—Se você leu todos os... Livros, sabe que eu não resisto a uma tendência asiática, e me chamando desse jeito... – Ele tinha se aproximado muito, quase colocando a mão no meu pescoço.

Charlie, eu conheço a personalidade dele com a palma da minha mão, e aquele cara se dedicou mesmo com o cosplay. É sério, eu ficava assustada as vezes! Era nítido nos olhos dele a dúvida se ficava comigo ou não, e eu só fui entender depois dele perguntar minha idade umas três vezes. Ele realmente queria ter a certeza que eu não era nenhuma adolescente. Ele depois até admitiu que minha fantasia era bem convincente, e eu chamar ele de daddy não ajudou muito na situação. Eu sinceramente não sei o motivo daquilo ter mexido tanto com ele, mas ele realmente se empolgou com aquela ideia.

Quando ele finalmente me beijou, eu nem soube como reagir direito. Aquilo foi... UAU! É sério, eu nunca tinha beijado ninguém daquele jeito. Se por algum momento eu pensei que fosse só ficar nos beijos, eu me derreti toda quando ele usou aquela desculpa de ir para um lugar mais calmo. Tá, eu sei que isso é totalmente loucura, eu nunca sai com ninguém de um evento antes e eu realmente fiquei com um pouquinho de medo nos primeiros dez minutos. Eu até tentei te avisar, mas você não atendia o telefone. Charlie, ele tinha o Impala. Eu não sei como, mas ele tinha. Ele também estava hospedado num motel de estrada, que nem nos livros.

Quando entramos no quarto e começamos a tirar a roupa eu percebi que só tinham duas opções: ou ele era um fanático por Supernatural ou ele realmente era Dean Winchester, mas isso é impossível. Não é? ”

—Olha.... Eu diria que é totalmente possível sim. – Charlie revelou te olhando profundamente.

—Você tá de brincadeira comigo.

—Dessa vez eu não estou não é sério.

Você não tinha motivos para duvidar de Charlie, então se ela dizia que era verdade, então é porque era verdade. Você rapidamente sentiu o sangue se esvair do seu rosto, seu coração acelerando.

—MEU DEUS DO CÉU, CHARLIE! EU FIQUEI COM ELE MESMO?!

—E fez alguma coisa para ele estar procurando sua sessão de fotos como Hatsune no google. Não vai me contar não?

—Se eu falar não vou saber onde enfiar meu rosto.

—S/n, o que você fez? – Charlie já tinha um sorriso sacana no rosto.

—Digamos que... Ele tenha tido uma experiência nova...

—Sua bunda?! – Charlie gritou rindo enquanto você se jogava na cama completamente vermelha, mas sem tirar o humor do rosto.

—Eu gosto, ué... Merda, me explicar é bem mais constrangedor do que fazer. Por que você tinha que me dizer que ele era real?

—Porque só assim eu veria você envergonhada de alguma coisa.

—Não acredito que realizei minha fantasia adolescente.

—Pensei que ela fosse ver os dois juntos.

—Isso também, mas isso era o mais próximo da realidade, não é?

***

Dean Winchester: Charlie, você poderia fazer o favor de passar o número da Hatsune? Acho que encontrei a mulher dos meus sonhos.