P.O.V's Jade

O som alto da música só faltava estourar meus tímpanos, as luzes coloridas por toda parte só faltavam me cegar. Mas eu já estava acostumada. Já sabia o que fazer.

Edgar: - Meninas, círculo! - Chamou. O obedecemos e fizemos uma roda. - Os policiais estão chegando. Vamos dar um show! Aqui, essa noite vocês é que vão prende-los... Lá em cima no quarto! - Soltou uma risadinha sacana - Eles pagaram muito bem, então não vamos deixa-lós na mão. Confio em vocês. Alguém tem alguma pergunta? - Nos entreolhamos. Ninguém se pronunciou. - Então tá! Let's Go!

P.O.V's Beck

Estacionei minha Hilux Preta em frente a boate. Eu e Steven descemos do carro. Olhei para a faixada iluminada. WomanFire. Cartazes de mulheres seminuas com roupas provocantes estavam pregados nas paredes ao redor da porta de entrada.

Steven: - Que foi, cara? Até parece que nunca viu um par de peitos antes. - Riu, tirando sarro da minha cara. Vimos o Nissan Kicks branco parar atrás da minha Hilux. De lá saíram meus colegas de trabalho: Max, Phill e Bradley.

Steven: - Senhores, essa vai ser uma noite e tanto! - Rimos achando o mesmo. - Mas... A mais gostosa é do Max! Vamos deixar ele escolher. Concordamos rindo. - Agora vamos logo entrar porque eu tô louco pra foder umas putas! - Concordamos animados e fomos para a porta de entrada. Passamos a catraca de segurança e logo fomos recepcionados por uma dançarina.

XxX: - Boa noite, rapazes. Entrem e fiquem à vontade! - Falou a dançarina nos dando passagem. Ela tinha cabelos castanhos medianos, pele bronzeada, e não pude identificar a cor de seus olhos por conta de uma máscara de de gatinho que ela usava. - Qualquer coisa, é só chamar. - Avisou soltando um sorriso malicioso.

Phill: - Gostaria de saber seu nome, coisa linda. - Phil logo se engraçou pro lado dela. A morena apenas riu e disse.

Mari: - Podem me chamar de Mari. - Se apresentou.

Phill: - Oh, Mariana! Minha linda, Mariana. - Cantarolou com sotaque italiano. Quando Phill se encantava por alguma mulher não sossegava até conseguir uns amassos ou algo pior. A morena riu e disse:

Mari: - Boa tentativa, mas meu nome não é Mariana. - Rimos da cara que ele fez. - Venham, vou levar vocês até o local onde reservamos. - Nos levou até uma mesa grande com cadeiras estofadas em couro vermelho. A boate era refrigerada. Nos sentamos todos de frente para um palco. - Qualquer coisa é só chamar, vou estar logo ali atrás do balcão. - Apontou para um balcão de bebidas. - Assentimos. Quando ela ia saindo, Phill a chamou novamente. - Algum problema?

Phill: - Você não vai se apresentar? - Falou fingindo estar triste.

Mari: - Hoje não! Mas garanto que vão gostar do que preparamos para vocês está noite. - Piscou para nós e se retirou dali.

Bradley: - Essa noite vai ficar pra história! - Falou e rimos. - Só uma regra! - Levantou o dedo indicador e o olhamos. - Nada de se apaixonar.

Max: - É isso aí! - Comemoramos. Ficamos ali bebendo e conversando um tempinho, até que anunciaram que o show ia começar.

As luzes da boate se apagaram e iluminaram o palco. Lindas mulheres apareceram com fantasias provocantes de policiais, fazendo um trocadilho com nossas profissões. Dançavam sensualmente e aos poucos iam tirando lentamente partes das fantasias. Bati meus olhos numa morena que dançava sensualmente. Nossos olhares se encontraram e... O mundo parou. Nós olhamos intensamente, puder ver um brilho no seu olhar, um brilho diferente, senti meu coração acelerar e um sentimento diferente dentro de mim. O que estava acontecendo comigo? Ela acabou se perdendo na coreografia, mas logo se recompôs. O tempo passou e logo o show acabou e a morena se retirou do palco. Quêm era ela?

P.O.V's Jade

Edgar: - JADE! - Berrou e eu já sabia porque. Droga! Desci o último degrau da pequena escadinha que separava o palco do camarim. - O que foi aquilo? - Me olhou bravo. O show tinha acabado. Luiza e Scarlet desceram do palco e foram dançar para os rapazes. Já eu, estava indo retocar a maquiagem.

Jade: - "Aquilo" o quê? - Me fiz de desentendida enquanto passava mais blush. Ed lançou um olhar nada bom na minha direção. Suspirei. - Desculpa. - Terminei com a maquiagem e baixei a cabeça.

Edgar: - Todo mundo aqui! Reunião! - Chamou. Todas nos reunimos menos Luiza e Scarlet. Ele começou com o discurso de sempre. - Quero que me digam qual é a regra número um daqui?! - Perguntou bravo.

Todas: - Nunca se apaixonar, jamais se apegar!

Edgar: POR QUÊ? - Berrou.

Todas: - Porque clientes querem somente sexo casual. - Já sabíamos aquele discurso de có.

Edgar: - EXATO! É só sexo! Ou vocês acham que eles vem no puteiro pra encontrar o "amor da vida deles"? Isso aqui não é site de relacionamento! - Ralhou.

Megan: - Eu aposto que foi a "Freirinha Abandonada" que se encantou de novo por um cliente. - Falou debochada. - Querida, entenda uma coisa. - Veio na minha direção e olhou bem na minha cara. Ergui a cabeça. - Você é puta! Homem nenhum casa, tem filhos ou uma vida inteira com nenhuma de nós! Se acostume. - Me olhou com desprezo e foi embora. Não baixei a cabeça, mas aquele discurso sempre me deixava mal. Eu queria sair dessa vida, ter uma vida normal, terminar a faculdade, encontrar alguém que me ame de verdade, casar, ter filhos, uma casa, uma família. Mas eu já estava perdendo a esperança.

Senti uma lágrima solitária escorrer por minha bochecha. Megan sempre pegava pesado comigo. Nunca gostou de mim, desde o dia em que cheguei ela faz da minha vida um inferno, e sempre jogava na minha cara que eu não tinha futuro porque era... Puta. Edgar se aproximou. Limpei meu rosto rapidamente.

Edgar: - Olha, eu sei que você e a Megan não se bicam, que ela sempre pega no seu pé... Mas dessa vez ela tem razão, querida. - Assenti. Me abraçou. - Agora limpa o rosto e não demore que tem uns gatos policiais aí que estão loucas para trepar. - Me soltou e foi em direção ao seu escritório. Assim que ele fechou a porta, suspirei e sentei num puff rosa pink.

Megan tinha razão, eu estava fadada a ser puta o resto da vida. Como isso foi acontecer? Por quê o Santa Rita foi a falência? Por quê durante minha vida inteira ninguém me adotou? Eu era tão horrível assim? Mas de repente veio a lembrança de olhos, lindos olhos castanhos me olhando atentamente como nunca me olharam antes. Solucei e vi uma sombra na porta. Sequei as lágrimas rapidamente. E se fosse a Megan? Não poderia deixar ela ver que eu estava chorando por conta do que ela disse.

Lexy: - A Megan pegou pesado de novo? - Lexy entrou no camarim e fechou a porta atrás de si.

Jade: - Depende. Se o peso que você estiver falando for mesmo peso de um Navio Cargueiro, sim! - Me olhou triste. - Será que eu nunca vou conseguir sair dessa vida, Lexy? Eu só queria... - Desabei chorando horrores.

Lexy: - Eu sei, amor! - Me abraçou e afagou meus cabelos. Lexy era mais que uma amiga, era uma mãe para mim. Ela tinha 35 anos, era a mais madura dali, o que significava que daqui à 8 meses ela teria que deixar a boate. O limite máximo ali era 30, mas depois de muito insistir, acabou fazendo um acordo com o Ed, ela disse que ela podia ficar por mais tempo até resolver sua vida, mas o tempo passou e nada, agora ela não tinha escolha, teria que deixar a WomanFire de vez. Fora que ela era casada, tinha um filho de dois anos e estava grávida de um cliente. Seu marido era doente, ela dizia a ele que era empregada doméstica. Ela não teve escolha, ela viu que uma prostituta ganhava mais que uma caixa de supermercado, ela tinha que pagar o tratamento e remédios caros do marido. - Se você quiser eu converso com o Ed pra ele deixar você ficar quietinha hoje. Tudo bem? - Assenti incerta se seria uma boa idéia. Lexy levantou e foi em direção ao escritório de Ed. Minutos depois, ela voltou. - Tá tudo bem, ele permitiu. Pode ir dormir, eu dou conta deles. - Falou sorrindo.

Jade: - Tem certeza? - Ela assentiu ainda sorrindo. - Muito obrigada, Lexy, te amo! - A abracei aliviada. Lexy riu.

Lexy: - Tudo bem, vai logo que esses policiais são fogo. - Falou rindo. Me levantei e fui pelo corredor, passei pela sala do Ed, e fui para o final do corredor onde ficava a escada para o segundo andar. Entrei no dormitório. Sentei na minha cama e tirei os saltos, tirei minha roupa e botei confortável para dormir, uma blusa cinza de mangas compridas e um shortinho preto.

Abri a gaveta do criado mudo que tinha ao lado de cada cama e de lá tirei o meu Rosário. Era a única lembrança que tinha dos meus pais. A Irmã Judith me ensinou a rezar ele quando completei 10 anos. Rezei ele todinho, quando terminei fiz o sinal da cruz. O guardei de volta na gaveta e me deitei e dormi.

Eu estava entrando na Igreja da Sé, com um longo vestido branco. Tinham muitas pessoas nos bancos da Igreja, mas eu não conhecia ninguém. Ao final, via o Padre com uma Bíblia na mão. E finalmente... Meu noivo. Subi no altar. Eu estava muito feliz. Estava realizando meu sonho.

Padre: - Se tiver alguém contra esta união, fale agora, ou cale-se para sempre! - Foi aí que meu sonho...Virou um pesadelo.

Megan: - ESSA MULHER NÃO É QUEM VOCÊS PENSAM QUE É! ELA É UMA TRAIDORA! UMA PUTA!

Puta!

Puta!

Puta!

Me assustei e dei um pulo da cama. Meu coração estava disparado. Eu estava sonhando? Parecia tão real. Mas de um coisa eu tinha certeza.

Jade: - Ah, Megan, você não vai mesmo me deixar em paz? - Gritei. Precisava tomar um ar. Levantei da cama, abri o roupeiro individual, tirei um casaco preto vesti. Saí do quarto desci as escadas, dei uma olhada para a boate. É as coisas estavam animadas ali. Meus olhos procuraram certos olhos castanhos. Não os vi. Suspirei. E fui em direção à porta dos fundos. Aqui perto tinha um parque, tinha um lago, árvores e bancos. Era bem legal, eu sempre ia lá quando precisava de sussego, ou seja: quando a Megan abria a boca dela pra falar o que não devia, argh! Abri a porta e saí. Era um beco ao lado da boate. Senti o vento frio bater no meu rosto, me arrepiei toda. Fui caminhando em direção ao parque.