I'm Not the Enemy

Capítulo 41- Perigo as Cegas


O avião havia decolado fazia duas horas. Eu e minha irmã entramos no ultimo, era um pequeno e Burlem estava com a gente além de outros. Era estranho ver o porta aviões da base de Moscou totalmente vazio, imagine como estariam as outras bases da Rússia?

—Para você dormir. Vai ser uma viagem longa. –Djok, um dos antigos melhores amigos do meu pai me entregou um copo com um comprimido. –Isso é para você também.

—Obrigada. –eu olho para os fones de ouvido e o comprimido.

Eles realmente queriam me relaxar. Afinal, essa é a batalha final. Tudo que a ALRS esperou, finalmente derrotar a maior potencia do mundo e mostrar de onde vem a alienação que todos adoram. Meus pés mexiam inquietos. Eu também veria meu pai e todos os agentes da SHIELD. Minha irmã disse que fomos preparadas a vida inteira para isso, mas acho que ela queria apenas mostrar que estava sendo forte.

—O que temos aqui? –antes de tomar a pílula, sentei na poltrona ao lado da minha irmã e peguei seu celular. –Mozart. Está escutando Mozart.

—O que foi Flyer? –ela revirou os olhos bufando.

—Vim apenas despedir de você. Vou dormir por umas boas horas e vou levar o Mozart comigo.

—Flyer! –ela fica estressada.

—Fica com o meu celular. Tem ótimas músicas também.

Volto para o meu assento, tomo a pílula e a musica muda para uma bem melancólica dele, Réquiem Lacrimosa.

(...)

—Flyer. Vamos pousar em meia hora. –Burlem me acorda.

Eu me assusto. Havia tudo passado muito rápido. O nervosismo assume meu corpo e eu verifico se meus cintos estavam apertados. Todos do avião acordaram junto comigo. Eles pareciam assustados, alguma coisa estava acontecendo.

—Recebemos mensagens dos outros aviãos. O RS 25 disse para não nos aproximarmos agora, mísseis com formatos estranhos estão saindo do céu. Eles não conseguiram identificar muito bem.

—O que? E o meu pai? –Gabrielle resmungou.

Os outros membros começaram a conversar entre si. Estavam todos sentindo o clima de guerra no sangue. Principalmente agora que “mísseis estranhos” estão vindo do céu.

—Eles não conseguiram ficar lá por muito tempo, porém conseguiram enviar um drone com câmeras e está sendo ativado nesse momento. O RS 527 teve parte da asa atingida, mas todos estão bem. Parece que os ataques são também contra a ALRS.

—E se for a SHIELD realizando esses ataques? –perguntou uma menina.

—Agora que estamos aqui, iremos para lá averiguar.

—Burlem. Querem falar com você. –entregaram um dispositivo para ele.

Burlem se afastou e entrou na cabine de aviação. Troquei olhares perplexos com Gabrielle. Será que capturaram meu pai? Levantei para ir atrás do meu treinador. Na cabine, havia um monitor que exibia imagens de má qualidade vindo do drone que enviaram.

—Está melhorando. Está faltando focalizar. –Burlem murmurava pelo dispositivo.

A visão melhorava aos poucos e dava para ver uma forte presença de fumaça, havia pedaços de vidro e concretos espalhados no chão. Vejo uma van blindada chegar com extrema velocidade acompanhado por uma aeronave.

—É o símbolo da SHIELD. –Djok reconhece.

Vários agentes saem da van e um deles era claramente Nick Furry. Ele tinha uma expressão séria e olhava a destruição em sua volta. Os agentes discutiam algum plano para subir no prédio. Uma mulher de cabelos ruivos aproxima do Furry, ela olha em direção ao drone. Parecia que ela podia nos ver.

—Natalia Romanova viu a nossa câmera.

Natasha pega uma pistola e atira na direção da nossa visão. Não conseguimos enxergar mais nada, apenas escutamos ruídos estranhos.

Isso... da ALRS. O ataque... É comandado... pela ALRS. Eles... aqui.

Escutamos outros tiros e não ouvimos mais nada.

—Perdemos o sinal de transmissão. A SHIELD não está comandando o ataque. Eles acreditam que somos nós. Provavelmente avistaram Hugh Morozov.

—E agora?

—Vamos atacar.

O nosso avião para um pouco distante de onde está acontecendo os ataques, especificamente no Brooklyn. Pousamos sobre um campo de baseball e acabamos chamando atenção.

Teríamos que ir a pé. Então Burlem dividiu em equipes, a minha era eu, minha irmã e mais três homens. Nosso objetivo era encontrar o meu pai como havíamos treinado durante dias. Não olhar para trás e manter a mente em foco.

—Chegou o momento Flyer. Eu sei que você está preparada e você também sabe disso. Não hesite em nada, estaremos te protegendo. –Burlem segurou minha cabeça e beijou minha testa, como nunca havia feito.

—Obrigada Burlem. Você não poderia ter sido melhor em me ajudar a realizar meu desejo.

Por mais que eu tenha treinado durante todos esses anos e a minha mente também, ao colocar os pés no chão, eu me senti perdida. Minha irmã liderou nosso grupo. As pessoas nos olhavam carregando armas e pediam ajuda. Nova iorquinos deixavam a cidade e escondiam em suas casas. Provavelmente eles acreditavam que éramos uma força armada americana.

—Não podemos ajudar. Apenas saia da cidade.

Aos poucos, nossas respostas eram mais curtas e grossas. Até que chegamos a um momento em ignorar quem passava. O trânsito estava terrível, nenhum carro avançava. A expressão de terror dominava o rosto dos nova-iorquinos, não acreditavam em um segundo ataque. Podiamos escutar leves barulhos de explosões. Se de onde estávamos podíamos escutar, imagina quando chegarmos lá. Eu apenas queria saber o que estava acontecendo.

—Estamos indo pelo caminho certo? –perguntei.

—Estamos. –um dos agentes que estava com agente, 88, mostrou o GPS.

Os prédios residenciais não nos deixavam ver. Ouvimos um barulho estrondoso, forte o suficiente para quebrar o vidro das janelas dos carros e das casas.

—Droga! Estamos próximos.

Começamos a correr e finalmente eu vi. A ponte do Brooklyn era um caos total, todos corriam, esbarravam na gente e no fundo, não menos importante: Manhattan coberta por uma imensa fumaça e névoa. Era impossível enxergar o que se passava lá.

—Vamos correr.

Forcei as minhas pernas como nunca. Se não fosse pelas pessoas atravessando a passagem estreita entre os carros, teríamos chegado mais rápido. A poeira e fumaça irritavam minha garganta.

—Não consigo correr mais. –começo a tossir.

—Tome isso. –um dos agentes arrancou o pedaço da blusa, molhou com água e amarrou na minha boca.

Todos fizeram isso. Eu recuperei. Eram só nos cinco na ponte do Brooklyn. Diminuímos nosso ritmo, estava impossível de enxergar alguma coisa no topo dos prédios e se meu pai estivesse lá não teríamos como vê-lo. E as chances de encontrar um vingador no chão eram altas.

—Entramos nesse prédio e subiremos até o andar que tenha a melhor visão. Vamos nos dividir para que cada um pegue um lado. Eu vou pelo norte, você pelo sul, leste e vocês dois para o oeste.

Eu iria para o leste. Subimos os andares de escada, nada de elevador com medo que houvesse alguma paralisação no caminho. Foi um longo momento para pensar no meu pai. Uma parte de mim acredita que não é ele no comando e ele está sendo usado apenas como cobaia.

Por mais que esse seja seu real sonho, destruir a SHIELD após eles terem matado meus avós que eram agentes soviéticos, meu pai foi praticamente cegado pela vingança. Mas afastar de mim e da minha irmã sem dar motivos? Não fazia parte do plano.

—Preparados? –o agente perguntou e abriu a porta das escadas que dava para o andar.

—Leste. Leste. –eu concentrava em minha cabeça.

Entro em um consultório odontológico, a porta estava aberta e havia papeis espalhados por todo canto. Pela janela não era possível enxergar nada, além de uma forte fumaça.

—Continuemos a subir. –tomo as rédeas e vou na frente.

Andar 14, impossível de enxergar. O 23º também. Estava quase perdendo as esperanças quando a porta de entrada do 32º andar estava brilhando pelas gretas. Uma iluminosidade tão intensa.

—Droga! Meus olhos. –grito quando abro a porta cuidadosamente e me jogo no chão.

Minha cabeça começou a doer, minha visão estava branca, mesmo quando eu fecho os olhos e sentia lágrimas escorrerem. Alguém me puxa e escuto barulhos de tiros.

—Nos viram.

—Quem? –pergunto mantendo as mãos sobre os olhos e sentindo a pessoa que estava me guiando fazendo força contra isso.

—É impossível de se ver, Flyer. –Gabrielle disse em tom de deboche.

—Vamos descer as escadas e sair pela janela no lado oeste. Não está conseguindo abrir o olho Flyer?

—Não.

—Dói quando você abre o olho?

—Sim. Muito.

—Vira a cabeça para trás e me deixe ver. –disse um dos agentes.

—Precisamos ir. –falou Gabrielle impaciente.

—Eu não consigo enxergar droga! –grito nervosa.

O dedo do agente puxou a minha pálpebra e me impediu de fechar o olho enquanto o outro segurou meu corto, enquanto eu me contorcia de dor. Senti gotas pingarem, era um colírio.

—Pode fechar.

—Temos que ir agora. Não temos tempo! –as unhas de Gabrielle passaram sobre mim me arrastando escada a baixo.

Eu sentia minha sensibilidade melhorar aos poucos, mas havia uma estranha vontade de coçar meus olhos. Escuto o barulho de uma janela destruída e depois de um tiro de guincho.

—Segure isso Flyer. Você vai descer por essa corda até o prédio do outro lado, onde sua irmã está te esperando. –um dos agentes me informou.

Segurei no cano de metal e fui empurrada. Senti um frio na barriga imenso, eu sentia que estava em uma altura absurda e então me choco contra um corpo. Fomos atravessando por vários prédios e eu ainda não fazia ideia o que estava acontecendo a minha volta.

—Estou vendo membros da ALRS! Ali em baixo.

—Desçam até lá, eu vou subir. –Gabrielle falou determinada.

—Eu vou com você. –digo.

—Você não pode nem enxergar! Não posso descer com vocês, algo me diz que meu pai está lá em cima e não está deixando ninguém vê-lo.

—Cuidado! Eu acho que vi algumas formas escuras antes de não conseguir enxergar mais nada.

—Formas escuras? Aonde?

—Quando estávamos no prédio. Eu abri a porta e vi do outro lado da janela, pareciam aeronaves.

—Ok. Certificarei.

Ela beijou minha testa e eu achei estranho. Parecia a minha mãe. Descemos, eu e os agentes, mais inúmeros degraus abaixo. Eles vigiaram a rua, para ver se poderíamos sair e me arrastaram. Estava livre por enquanto, mas como a fumaça não nos deixava enxergar a parte superior dos prédios, não fazíamos ideia do que havia lá. Gabrielle estava subindo. Eu sentia que ela não deveria ter ido sozinha. Eu paro de escutar ao ouvir algum barulho estridente. Os agentes que me guiavam apertaram forte meu braço.

—Vocês estão escutando alguma coisa? –eu pergunto.

—Sim. Som de metais batendo.

—Está vindo lá de cima.

—Acho melhor irmos para algum lugar coberto.

—Ei... É o Ty! TY! TY!-um dos agentes começa a gritar.

Por mais que seja o Ty, eu fico mais segura. Escuto o barulho de uma porta sendo quebrada e entramos em um prédio. Ao menos não ficaríamos sozinhos.

—Onde estamos? –pergunto.

—No Museu.

—Qual museu?

—Eu não parei para ler inglês, ok?

Vozes se aproximam em uma conversa em russo e percebo que uma delas é Ty. Eu me sentia muito mal por ser ele quem está me dando segurança. Eu esperei esse dia por anos e não poderia fazer nada, porque estava com dificuldade de enxergar.

—O que aconteceu com a Flyer?

—Teve problemas lá em cima... –um dos agentes começou a explicar. –Encontramos alguns agentes da SHIELD também, eles tentaram nos atacar.

—E cadê a Gabrielle?

—Está lá em cima. Ela não quis descer.

—Você está bem Flyer? –Ty perguntou e senti uma mão tocando meu rosto, mas eu bato nela.

—Estava. –cruzo os braços secamente.

—Você consegue me deixar irritado. Já basta o que nós estamos passando.

—O seu nós, não me inclui Ty.

—Agora, cospe no prato que comeu? Bela atitude para uma Morozov, seu pai vai ficar orgulhoso de você. Parece uma criança, como ele sempre temeu.

Aquilo doeu em mim porque era verdade, não a parte de eu cuspir no prato que comi. Mas meu pai, Hugh, odiava crianças. Ele tinha algum problema com elas. E quando ele teve duas de uma vez, custou para saber lidar.

—Vocês dois! Precisamos saber o que vamos fazer.

Um barulho nos interrompe. Algo lá em cima, novamente sons de metais começa a soar. Pareciam várias máquinas ativando alguma coisa ou se transformando.

—Melhor nos separarmos. Não sabemos o que está acontecendo lá em cima e seja o que for, são vários. –uma voz de mulher sobressai.

—Eu concordo. –digo.

—Você não pode nem enxergar. –Ty resmungou e escutava seu dedo digitando em um notebook, nas suas mãos.

—Continuo mais forte que você.

—Calem a boca. Vamos fazer isso.

O som soa novamente e meu coração dispara. Quem era o inimigo?