I'm Never Changing Who I Am

O melhor desde Paris e Helena!


POV Percy

Cair do olimpo não foi tão ruim quanto imaginava. Bem, acho que pular de paraquedas deve ter a mesma sensação, apenas com o acréscimo de que na última hora o meu paraquedas não abriu, e eu senti como se eu fosse voar... mas lembrei que mesmo deuses não tem asas. Então começou o desespero e a sensação que a morte estava vindo até mim, novamente, para variar. A única coisa que me confortou é que eu sou um deus, portanto, imortal. Oficialmente, não é divertido virar uma panqueca de Deus no asfalto! Nem imagino o que os mortais devem ter visto, só sei que se as panquecas sentem a mesma dor que eu senti ao serem viradas nós deveríamos ter mais cuidado com elas, porque a única coisa pior era a dor que eu senti ao ser atacado pela filha da Aracne. Alias, deuses, como eu odeio aranhas! Agora sim entendo tanto os filhos de Atena como as panquecas. Frase estranha, não?

Depois de um tempo como panqueca eu fui ganhando forças pra levantar do chão, e quando consegui ficar em pé ouvi Ares gritar lá de cima, provavelmente do Olimpo, é claro “pelo jeito você é mesmo um Deus!”. Deseus tem audição melhor ou Ares grita pra caramba? Nunca saberei. Minha vontade era de usar os superpoderes divinos que tenho para acabar com aquela cara feia, mas a verdade é que ainda tenho minhas dúvidas sobre tais poderes, e, bem, também não gostaria de fazer Zeus se arrepender de me transformar em deus nos primeiro 5 minutos de tal feito. Portanto, usei os para algo que eu considerei responsável e não tão difícil, e me teletransportei para o Acampamento Meio Sangue. Pude ouvir uma discussão do Olimpo, mas não sei importância, depois perguntaria para meu pai as “regras de como ser um deus” ou “as boas maneiras de um bom deus”.

Só posso torcer para que a pratica leve a perfeição, por que minha primeira tentativa de aparecer como vapor nos locais do nada não foi lá muito bem sucedida. Minha tentativa era aparecer direto no acampamento, mas acabei aparecendo em seu lado de fora, bem em frente a arvore de Thalia, o dragão de guarda e a proteção contra monstros.

Nota mental, pensar em um lugar mais exato para aparecer. Mas acho que até foi bom meu erro, quero dizer, a poucas horas atrás eu estava deitado em uma cama, morrendo, e agora apareço como um ser divino? No mínimo deixaria os campistas assustados. Não, era melhor que eu fosse discreto, o mais possível. Me lembrava que estava na enfermaria, e já ia me transportar para lá, mas algo me impediu, a sensação de mal estar e melancolia de encarar aquelas barreiras contra monstros e me perguntar se deuses talvez fossem barrados também. Aquela barreira impedia a entrada de mortais, deixava apenas que semideuses entrassem... mas e deuses? Será que poderia ser barrado ao entrar no único lugar que pude chamar de lar por anos? Será que agora que não posso mais ser chamado de semideus por ser agora um completo deus impediria a minha passagem?

Com um suspiro, dei um passo à frente, e não talvez não devesse ter ficado tão surpreso quando não fui impedido a entrar nas barreiras do acampamento. Ouvi Peleu, o dragão que protegia o velocino de ouro levantar a cabeça para mim, farejar o ar e me encarar por alguns segundos, em seguida ele balançou a cabeça e voltou a dormir, sem me considerar uma grande ameaça.

Ponto para mim.

E a partir daí me senti seguro para tentar de novo, e novamente fechei os olhos e com a concentração antes usada para controlar as ondas e explodir bebedouros escolares, fiz-me aparecer dentro da enfermaria do acampamento.

Minha primeira visão da enfermaria era que ela estava completamente vazia, devido ao silencio quase perturbador que essa exercia, mas, por outro lado, era bom tem uma visão não moribunda do local. Observando melhor, finalmente pude ve-la, Annabeth estava dormindo serenamente, tão tranquila e em um sono tão profundo que parecia que o próprio Hipnos havia a colocado para dormir...E foi mesmo.

Tive medo de acorda-la, eu tive medo por nós, o que nós seriamos agora? Meus deuses, minha cabeça é uma confusão e já não sei o que pensar, agora realmente não sei o que fazer, só quero ficar aqui a observando dormir enquanto ainda posso, a observando ter sonhos ternos e tranquilos enquanto nossa vida real está totalmente desestruturada, sem rumo, sem nada, sem um objetivo principal. Estamos apenas vivendo. Porém, não podemos ignorar os fatos, eu sabia que não poderíamos ficar juntos agora que ela é uma caçadora e eu sou um deus, mas e a nossa amizade? Será que vai prevalecer? Ou será que vamos nos afastando gradualmente até que um dia nós sejamos apenas uma boa lembrança de um dia ter estado juntos como companheiros de guerra e melhores amigos, vamos virar apenas isso um do outro? Vou virar o garoto que um dia salvou a vida dela? Será que ela vai me esquecer rapidamente? Ou será que ela sofrerá tanto quanto eu por estarmos separados?

Tenho tantas perguntas sem respostas em minha cabeça que não consigo nem organiza-las em um pensamento continuo. Annabeth me deixa assim, confuso e inseguro, pois antes eu tinha como a única certeza que ela sempre estaria do meu lado me ajudando sempre. Me acostumei a ter tal certeza em minha cabeça, a certeza que não importa o que acontecesse, nos sempre estaríamos juntos, mas agora, levando em conta os acontecimentos recentes, não tenho nem mais certeza se ela me quer ao seu lado, ou se pode me ter ao seu lado. Ela pode ser muito feliz como caçadora e longe de mim, talvez seja até mais feliz do que poderia ser comigo, e eu devia respeitar a escolha dela, eu sei disso.

Mas ainda tenho um lado egoísta que a quer só pra mim, e pra mais ninguém, que não quer dividi-la com ninguém, ela tem que ser minha, eu gostaria de poder gritar para ela, gritar um “Seja minha Annabeth! Só minha que eu jamais deixarei o mundo lhe derrubar!”. Mas eu não posso dizer isso, não posso gritar e não posso viver o que sinto. Conforme-se Percy, a realidade e a fantasia não são duas linhas cruzadas, são linhas paralelas e distantes, no meu caso, muito distantes, onde posso ver Annabeth, mas jamais poderei tê-la.

Mas por mais que eu goste de Annabeth de uma forma que jamais gostei de ninguém mais, e por mais que eu a queira de uma maneira que jamais a poderei ter, também como minha melhor amiga. Se não posso te-la como mulher, quero te-la como uma amiga, afinal, ela continua sendo a garota mais incrível que eu já conheci a minha vida toda, não quero passar minha eternidade longe dela... E mesmo que a eternidade agora seja clara, percebi que o para sempre é feito de ágoras, e o meu agora é dolorido por ter que vê-la sendo feliz como caçadora longe de mim, e o meu pra sempre será composto apenas de dor e sofrimento por não poder segurar em meus braços a garota mais especial que já conheci, o único amor da minha vida. Sofro por não conforta-la nos momentos de dor, e nunca poder sussurrar em seus ouvidos meu sincero “eu te amo”. Acho que o amor não é para mim, já que a razão do meu sorriso passará a eternidade bem longe de mim. Mas o que talvez me console um pouco é pensar que nenhum homem jamais poderá te-la também. Mas será que melhor seria perde-la para outro, ou para a vida, ou no nosso caso, a eternidade?

Decidi afinal acorda-la, precisava explicar pra ela essa situação louca, e então veríamos o que faremos: se vamos dizer adeus e seguir caminhos separados ou vamos fazer o máximo para conseguirmos ficar juntos como amigos pelo menos. Apenas espero que nossa amizade e nossa necessidade um do outro seja maior que nossas novas diferenças, que, cá entre nós, são bem grandes.

– Annie. – digo com a voz mais terna que consigo ter após deitar sua cabeça com seus cabelos cor de ouro em meu colo, e mesmo sabendo que, talvez, coloca-la assim não seja lá uma boa ideia, o faço mesmo assim. – Annabeth, acorde.

Finalmente, Annabeth começa a se mexer, primeiro se encolhendo em meu colo, como uma criança manhosa.

–Percy... – ela sussurra, enquanto abre os olhos delicadamente. Ela se levanta do meu colo assim que abre os olhos, arregalados. Se é pelo fato dela estar dormindo no colo de um ex moribundo, ou por simplesmente estar dormindo em meu colo, eu não sabia dizer.

Na verdade, não acho que tenha achado o problema em onde dormia, pois ela avançou em mim, me abraçando forte, mas de forma fraternal e preocupada, e não romântica. Era um abraço como os de antes, e eu me perguntava se isso era bom ou ruim. Quando ela se afastou, tocou meu rosto assuntada, como se procurasse os ferimentos que antes lá estavam.

O surto veio logo em seguida, é claro.

–Perseu Jackson, o que aconteceu? – ela diz como uma voz levemente alterada e com um toque de preocupação – você estava morrendo a tipo, 3 segundos atrás e agora está ai, ótimo, como se nada tivesse acontecido! Meus deuses! Me explique isso, mocinho!

Faço um resumo de todos os acontecimentos exuberantes recentes para Annie, que mantinha sempre um olhar de preocupação, porém ao desenrolar do meu relato seu olhar e sua expressão foi mudando tanto que ao final dele suas feições estavam totalmente indecifráveis, e acho que pela primeira vez na minha vida eu vi Annabeth Chase ficar confusa e sem saber o que fazer ou dizer. E admito ela fica linda assim, mesmo que esse não fosse um pensamento sensato no momento... Mas o que posso fazer? É verdade.

–Então voce aceitou. Agora é um deus mesmo? – ela diz com um pouco de dúvida em seu tom.

–Era isso ou o Elisio, então... sim. Sou o deus das ondas, para ser mais exato. –digo com um pouco de orgulho, afinal ser um deus é algo muito importante, mas admito trocaria todo esse poder para poder passar a vida ao lado dela. Mas, infelizmente, essa não é um opção.

–E Ares lhe empurrou mesmo do Olimpo? –ela fez uma careta e eu concordei com a cabeça. –essa deve ter doido...

–Voce acha? –dei um sorriso de lado.

–Tem uma lenda que diz que Hefesto é manco por que foi jogado do Olimpo por Hera quando nasceu por que era feio, e a queda o deixou ainda pior.

–Acha que estou mais feio? –ela sorriu.

–Acho que certas lendas são exageradas. –levantei uma sobrancelha e ela continuou. –Convencido! –ela sorrio, um sorriso divertido e honesto que faria com que eu me jogasse do Olimpo novamente apenas para ver de novo e de novo... -Mas fico feliz que esteja bem, pelo menos vamos viver a eternidade juntos – ela diz agora com um sorriso torto e triste.

–Não vamos viver juntos Annabeth, eu vou viver no olimpo e você na caçada. Vamos viver a eternidade juntos, porém separados. – digo, não tenho nada arriscar, já perdi tudo quando ela disse sim para Artêmis. Gostaria de ser seu amigo, porém agora vejo que não iria mudar muita coisa, já que Artemis não permite que suas caçadoras vejam garotos, muito menos garotos deuses que querem namorar com suas caçadoras. Mas o que eu quero dizer, é que nos sendo amigos ou não eu nunca vou poder ficar com ela sozinho novamente, sempre haverá caçadoras castas com ela, e comigo, um grupo de olimpianos irritados.

–Percy... Eu sinto muito. Eu disse, eu achei que você gostava da Rachel. Eu...Eu não sabia. – ela diz com cautela, percebo o arrependimento em sua voz e um pouco de remorso também. –eu não sabia que tudo poderia acabar assim. –ela abaixou os olhos, mas em seguida voltou a me encarar. –não pensei que fosse aceitar a divindade, para ser sincera.

–Eu também não, mas não tinha muita escolha, era isso ou a morte e... Não sei, acho que não estou pronto para morrer. –Annabeth levantou a mão e tocou o ponto em minha cabeça onde antes tinha pontos por um ferimento profundo, e que agora nada mais havia.

–Estou feliz por voce estar bem novamente. –ela abriu um pequeno sorriso, porém, sincero. Senti seus dedos passarem por meu cabelo, pendendo uma mecha entre o indicador e o dedo médio e a puxando levemente. –voce perdeu a mecha.

–Mecha?

–A branca, de segurar o céu. –ela soprou uma mecha que lhe caia nos olhos, mais especificamente, a mecha esbranquiçada.

Fechei os olhos e me concentrei, não pude ver exatamente o que aconteceu, mas observei Annabeth soltar meu cabelo com surpresa, e deduzi que minha tentativa de esbranquiçar o cabelo havia funcionado.

–Incrível. A não ser pelo fato que você deixou apenas metade dela branca. –ela sorriu e a pegou de novo, observando meu trabalho.

–Um dia desses eu consigo. –a vi enrolar a mecha no indicador e soltar em seguida, recolhendo a mão para o colo e me olhando com tristeza.

–Parece que nossos presentes acabaram virando maldições, não é?

Depois disso entramos me um silencio constrangedor. O que aconteceu com nossa amizade? Foi destruída por que eu quis colocar o amor no meio do que foi feito para durar para sempre, mas o para sempre de um ser mortal. E agora Annabeth e eu seremos apenas estranhos aos olhos um do outro, por minha culpa.

–É melhor não pensarmos nisso, não vai mudar as coisas remoer nossas magoas. Vamos apenas seguir nossas vidas como sempre. – ela diz tentando consertar a situação. Então ela olha para a janela e posso ver seus olhos levemente marejados, percebo que ela também não quer acabar com nossa amizade, porém, infelizmente não consigo ver um jeito de sermos amigos. Se ao menos ela tivesse falado comigo....

–O problema, Annabeth, é que nossas vidas nunca vão ser iguais novamente, os últimos cinco anos nunca vão voltar, e mesmo que nós tentemos ignorar os fatos, eles não vão sumir. Não sei, talvez não fosse para ser, não há nada a nosso favor, ainda mais com você na caçada e eu no olimpo, o que não ajuda muito. Mas não quero desistir de nossa amizade mesmo não podendo ter voce como minha ou não podendo demostrar tudo que eu sinto. E mesmo que todas as minhas tentativas de nós ficarmos juntos falhem, eu vou persistir pelo menos nessa amizade, se voce quiser e apenas se quiser. Farei qualquer coisa de voce me pedir e aceitarei qualquer coisa de disser, e sabe porque, Annabeth? Por que eu te amo. Não a nada no mundo que eu não faça por você, com toda certeza eu preferiria passar minha vida segurando o céu novamente do que passa-la longe de você, mesmo que sendo apenas seu amigo, se me permitir.

Disse tudo isso tentando mascarar a expressão dolorida, mas Annabeth não tinha expressão alguma. Idiota! Como eu fui idiota! Por que fui dizer uma coisa daquelas? Por que fui pior a situação? Ela nunca mais vai olhar na minha cara....

Para a minha surpresa, Annabeth se aproximou de mim, estávamos ambos ainda sentados no chão, mas ela ficou sobre os joelhos, ficando mais alta que eu e se aproximando. Por um momento, pensei que ela iria me beijar, não me mexi, apenas fiquei parado e fechei os olhos enquanto ela virava o rosto do último segundo e me beijando levemente da bochecha. Ela se afasta lentamente, com os olhos cinzas fixos em mim, eu me aproximo e a beijo na bochecha também, mas meus labios deslizam para os seus em um gesto espontâneo e rapido. Sério, foi muito sem querer.

E o mais assustador de tudo isso, foi que ela não se separou e nem me estapeou no rosto como pensei que fria. Ela me puxou pelo pescoço enquanto eu abraçava pela cintura e com dedos em seus cachos. Sabíamos que não era certo, tínhamos consciência disso, mas naquele momento nada mais importava a não ser a necessidade um pelo outro. Não havia espaço para qualquer outro sentimento a não ser a paixão e o desespero. Nos beijávamos com uma paixão forte e com uma delicadeza misturada com o desespero de uma saudade que sabíamos que viríamos a sentir. Um beijo geralmente é um começo, o nosso era um adeus.