I'm Here Again

1. I'm Back - Parte 1


E mais uma vez dentro de um avião. Dessa vez eu sentia um enorme frio na barriga, eu estaria de volta, depois de um ano. Confesso que achei rápido, apenas um ano e não foi tão ruim esse tempo que fiquei longe, mas eu nunca vou esquecer o que senti quando meus pais disseram que poderíamos voltar para Stratford. E aqui estou eu, prestes a pousar no meu lugar.

Flashback on:

– Me conta mais uma vez como Ele era!

– Para que, Harper? Toda semana você me pede isso.

– Você fala tão bonito Dele. Afinal, você nunca me disse o nome do dito cujo.

– Para que? É apenas um detalhe.

– Ah! Fala Lua! Pelo menos então diz sobre Ele.

– Quer que eu comece por onde?

– Pode ser pelos olhos... É dessa vez pelos olhos – os olhos da minha amiga brilharam e eu revirei os meus, rindo da situação.

– Os olhos Dele eram uma coisa de outro mundo, era perigoso, eu me perdia completamente, não via as horas passar, se ele resolvesse sorrir, aí que era um desastre! Muito, realmente muito, perigoso.

– Por quê? – ela me perguntava como se não soubesse.

– Não iria resistir, eu faria o que seus lábios dissessem, desistiria de mim por ele.

– Que ruim!

– Não, era bom. Seu sorriso era perfeito, podia viver dele. Com aquele sorriso ele me tinha nas mãos.

– Que lindo – seus olhos verdes brilharam ainda mais. – Deveria ser só o rosto também – ri.

– Harper! Para! Você sabe que não!

– Então continua sem eu precisar perguntar!

– Ok, ok. Hum... Ele era perfeito em um todo, seus olhos me hipnotizavam, seu sorriso me dominava. Como se não bastasse, Ele fazia e dizia coisas que me faziam sair do chão, Ele tinha o controle total sobre mim. Eu sempre, sempre me importava com Ele, o que fazia, dizia ou sentia. Meu mundo, de repente, passou a girar entorno Dele, meu coração simplesmente não bate quando estamos longe.

– Está batendo agora, você está viva.

– Você entendeu, Harper! – ela sorriu.

– Sabe Lua, você o descreve com tanta perfeição, às vezes acho que ele nem existe. Você simplesmente mistura esses montes de livros que sempre lê e diz que é o seu garoto perfeito – eu voltava para casa da biblioteca, com o meu “Ladrão de Raios” numa mão e a minha melhor amiga nova yorkina, Harper Collins, me enchendo de perguntas sobre o amor da minha vida do Canadá. Pior, ela conhecia e nem sabia.

– Não, Harper. Por mais estranho que pareça, Ele é real, ainda é, eu acho.

– Acha?

– Já se passaram um ano, Har, e não nos vemos desde que vim para cá. Todo mundo muda, se eu mudei o que garante que Ele não? Essa minha vinda também, foi um grande passo para que mudanças acontecessem.

– Mas, nos conhecemos há um ano e você nunca me disse o nome Dele, nem me mostrou foto ou coisa do tipo – para que? Ela tem tantas.

– Já disse, nome é apenas um detalhe – paramos em frente ao meu prédio, ela morava a alguns quarteirões dali. – Agora é melhor eu ir para casa, meus pais devem estar preocupados já, meu pai então! Sem comentários! Sabe como é o Sr. Philip Houston! – rimos.

– Oh, se sei! Aquele dia da festa achei que ele iria voar em cima de mim por ter te atrasado um pouquinho.

– Pouquinho? Você me enrolou por três horas! Cheguei em casa quase quatro da manhã – ela riu.

– Certo, muito. Agora tchau. Até mais.

– Até mais, Har!

Subi as escadas do meu prédio vermelho de tijolinhos o mais rápido que deu, esperei o elevador – que demorou pela minha pressa – e logo cheguei ao meu andar, abri a porta do apartamento e meus pais me esperavam na mesa de jantar.

– Cheguei.

– Lua, preciso falar com você.

– Ih, sempre que ouço isso nunca é bom – fui até lá. – Sem contar que a última vez que você me disse isso eu tinha que escolher entre vir para Manhattan ou continuar em Stratford.

– A situação não é muito diferente agora – meu pai mal me olhava enquanto falava, já minha mãe não desviava os olhos de mim.

– Para de enrolar pai, fala logo.

– Parece que um tal de... agora eu não me recordo o nome, mas o sobrenome é algo como, Beatles...

– Beadles – corrigi e cheguei a sorri só de lembrar do meu pestinha, Christian.

– Isso. Parece que esse tal de Beadles, foi contratado pela empresa para exercer o mesmo que eu, mas precisariam de mais alguém já que a produção dobrou então me chamaram para voltar.

– Isso quer dizer que meu Chris vai para Stratford? – meu pai pareceu não entender. – Melhor, quer dizer que nós vamos para Straford? – agora sim meus olhos brilharam.

– Se você quiser – dei um pulo da cadeira.

– E quando vamos? – eu tinha quase certeza que meus olhos brilhavam sem contar que estava com um sorriso de atravessar o rosto.

– Final de semana que vem se preferir – gritei e pulei de felicidade. Meus pais riam e sorriam de mim.

– Droga! Sempre têm a parte difícil – parei de pular.

– O que você quer dizer? – minha mãe perguntou.

– Joe.

Flashback off

Lembro que voei para dentro do meu quarto, mas o resto da lembrança de nada importa agora, o que eu realmente deveria me importar era que o avião estava prestes a pousar. Eu estava com um frio na barriga de dar medo. Eu estava de volta depois de um ano.

– Pronta? – meu pai perguntou.

– Mais do que nunca – segurava firme no braço do assento, meu sorriso era de doer às bochechas e enfim o avião pousa, dando aquela sensação estranha, um frio na barriga ainda mais forte.

Queria correr dali, sair do avião, pular caso a escada ainda não estivesse lá, mas tentei disfarçar o sorriso, ficar calma e esperar algumas pessoas saírem, mas graças a minha ansiedade tudo isso demorava. Eu sussurrava “anda”, “rápido” e “lerdos” enquanto revirava os olhos e batia o pé no chão cheia da pressa. Já estava ficando com pena do boné roxo em minhas mãos – se fui com ele, nada mais justo do que voltar – já que o torcia, então o coloquei na cabeça com a aba virada para trás e passei a bater o pé em um ritmo mais acelerado até que pude entrar no corredor. Respirei fundo e andei normalmente, desci as escadas devagar mesmo querendo correr. Acertei minha mochila - que havia levado como bagagem de mão - nas costas enquanto esperava a minha mala maior passar na esteira, aquilo estava me matando, parecia que tudo demorava mais. Enfim ela veio, toda azul marinho, é grandinha até, a peguei e abri a paradinha que eu nunca soube o nome para poder arrastá-la por aí até chegar em um taxi, mas minha mãe tinha que esperar o dobro de malas que havia levado para Manhattan, o que demorou e aumentou ainda mais a minha ansiedade.

Eu queria voltar para minha casa.

Andei pelo aeroporto aparentemente tranquila, mas analisando cada centímetro quadrado até achar alguém que eu conhecia, daí sorrir foi inevitável. Todo o sorriso que eu controlava se soltou de uma vez forçando as minhas covinhas rasas aparecerem. Todos os quatro sorriram para mim, fiquei em duvida de quem abraçar primeiro, fiz mamãe mandou e eles riram disso. Quando meu dedo escolheu o primeiro para ser abraçado, soltei a mala e fui em direção a minha ex-ruivinha.

– Halle!

– Lua! Que saudades! – nos abraçamos forte.

– Eu também estava – me soltei dela e fui abraçar a Karol do seu lado.

– Você vai ser o último – disse ao serzinho que estava ao outro lado da minha, agora, ar... minha guria de cabelo laranja e abracei firme a minha outra melhor amiga.

– Na verdade todos nós estávamos! – Luka disse enquanto eu já ia dar o meu abraço apertado. Depois me afastei e fiquei encarando os quatro.

– Eu também estava morrendo de saudade de todos vocês! – um certo baixinho, mais novo pigarreou. – Não esqueci de você, Chris – ele sorriu fazendo as covinhas aparecerem. – Ah! – gritei. – Você tirou o aparelho! – voei para cima dele toda animada, com um sorriso na cara enquanto todos riam da minha histeria.

– Bom te ver também, Lua! Só não gostei de ter me deixado por último – me afastei.

– Para de show, pestinha. Agora vamos morar pertinho! E eu tenho que agradecer seu pai, graças a ele voltamos.

– Como assim?

– Meu pai vai trabalhar com ele, anta!

– Ah! Que máximo! – ele disse todo mais empolgado.

– Own, que saudades! – disse depois de um tempo em silêncio e fazendo uma rodinha abraçando todo mundo. Me deu vontade até de chorar.

– Fantasminha...

– Você ainda lembra disso, Chris! – ri.

– Nunca esquecerei – acabou que todo mundo riu – continuando: Justin viria aqui ao aeroporto, mas, teve uns problemas em Atlanta e ele acabou atrasando.

– Hum – tentei não dar importância, caso contrário iria gritar para quem bem quisesse ouvir que iria o matar por não ter vindo, do jeito que eu estava agitada, sim eu iria gritar e isso não daria muito certo.

Olhei para cada um ali, e todos me encaravam atentamente.

– Que foi?

– Sei lá... Justin – Hayley disse dando de ombros, o resto assentiu e também deram de ombros.

Nah! – juro que estava tentando dar o mínimo de importância possível.

Cumprimentei os pais dos meus amigos, Sr. e Sra. White, Clark, Brass e conheci os Beadles. Na hora de ir embora, minha mãe foi com os White, meu pai com os Brass e eu acabei tendo que ir com os Beadles, caso contrário, Christian iria fazer um escândalo, o que era bem capaz e também, eles moravam mais perto da minha casa. Foi melhor, mas acabou que chagamos todos ao mesmo tempo.

Me despedi e entrei na minha antiga casa, meus pais foram na frente e eu fiquei para fechar a porta. Ela estava com um leve cheiro de mofo, alguns moveis já estavam no lugar, mas os eletrodomésticos como a televisão e a geladeira chegariam ainda hoje, daqui a poucas horas, a minha nova velha casa estaria cheia de caixas e coisas espalhadas, mas mesmo assim, fiquei que nem besta parada na sala lembrando de tudo e até mesmo do meu último dia ali.

– Mãe! Vou para o meu quarto – subi as escadas e abri a porta repintada de branco.

O meu quarto ainda era em um azul bebê, e dessa vez mais forte já que reformaram toda a casa antes que pudéssemos voltar definitivamente. Eu ainda sentia o cheiro de tinta fresca. Meu quarto fora pintado ontem e minha cama mais meu guarda roupa estavam montados. As estrelinhas florescentes no teto foram retiradas e permaneceu apenas uma iluminaria simples. Nas paredes foram colocados – pintados, ou sei lá como – adesivos decorativos na cor branca, eram flores, gatos e mais cabos com folhas e pequenas flores. Estava lindo.

Guardei minhas coisas no meu guarda-roupa novo – preto e branco, com porta de correr e um enorme espelho na porta do meio – e na minha escrivaninha coloquei o notebook – dessa vez o único computador que eu tinha –, mas senti falta do meu violão, que droga, por que eu tinha que perdê-lo? Agora, do jeito que meus pais são enrolados, nem sei quando ganharei outro!

Depois de tudo mais ou menos jogado e socado dentro das gavetas, deitei na cama imaginando o que seria diferente dessa vez, mal estava acreditando que era Stratford, enfim! O que deixei para trás em Manhattan nem se compara ao que eu havia deixado para trás aqui no Canadá. Em Nova York, deixei a Harper, minha única e melhor amiga de lá e uma conta na biblioteca na qual há uma lista enorme de livros que eu havia pegado – vamos dizer que Manhattan não tem muitas coisas que pessoas como eu gostavam de fazer, como nunca gostei de compras, quando não estava em um café, ou em alguma lojinha de cupcake, estava na biblioteca fuçando em meio de prateleiras e mais prateleiras de livros velhos e outros nem tanto.

Dormi.