Ilusões

Felicidade Ilusória


1.0 — Felicidade Ilusória

Quando nos mudamos, toda aquela situação parecia desastrosa demais para mim. Eu não gostava daquele local, sentia falta de meus amigos e de toda a movimentação da minha antiga cidade, e sentia que aos poucos nós nos afastávamos cada vez mais uns dos outros, nossa família estava despedaçando-se aos poucos, e mesmo que possa parecer tolice algo em mim me alertava desde o começo que aquele local, ou ao menos a atmosfera que o cercava, era grande contribuinte para isso.

Eu tinha quatorze anos e simplesmente me isolara em meu mundo, afastando qualquer um que tentasse se aproximar, principalmente minha hiperativa irmã mais nova, a quem eu ignorava por completo simplesmente por ver um reflexo meu em sua tristeza e desanimo raros, ou um reflexo do que eu fora nos momentos em que ela encontrava coisas para se alegrar mesmo num lugar mórbido como aquele.

As aulas começaram mais rápido do que eu poderia prever naquele ano, e tão rápido quanto eu conseguira me isolar completamente ao me mudar, eu conseguira me rodear de pessoas, conseguir novos amigos com uma facilidade impressionante até mesmo para mim naquela local. Aquele ponto eu podia ver como minha irmã e eu poderíamos facilmente ser confundidas com que a outra fora em nosso antigo lar, a sempre tão radiante Aureole construíra um castelo em volta de si mesma, permitindo que poucos a conhecessem, e a sempre tão revolta Celeste parecera desabrochar se permitindo encantar por tudo que a rodeava. Hoje, toda essa ironia me faz sentir náuseas.

Certa noite, pouco antes das três da manhã, eu vira minha frágil irmã mais nova olhando indecisa para a porta do quarto, mesmo que eu não estivesse realmente interessada na súbita crise de melancolia que parecia tê-la tomado nos dias anteriores eu perguntei o porquê daquilo. Pela primeira vez em dois meses, eu senti que ela era honesta, enquanto narrava como descobrira onde antes estivera uma parede de tijolos havia a porta para um mundo completamente novo, um mundo perfeito no qual cada uma de suas ilusões tornava-se realidade.

— Um mundo no qual eu sinto que sou amada! —

Aquela frase ficou em minha mente. Mesmo naquela época eu me senti abalada por aquilo, por ela achar que não era amada na realidade, e mesmo assim eu tomei o comportamento mais descrente possível, eu a criticara, nomeara-a como uma criança tola que acabaria se perdendo em meio a tais doentia ilusões.

No dia seguinte aquela noite, Aureole amanheceu doente, e meus pais permitiram que ela permanecesse em casa. Horas mais tarde, quando cheguei em casa ela já havia desaparecido. Não haviam quaisquer pistas, nada apontava para um sequestro ou assassinato, tudo permanecia perfeitamente intocado, como se ela nunca tivesse partido, ou melhor, como se ela nunca tivesse pertencido aquele local.

Duas semanas depois do desaparecimento dela, eu já contava com a certeza de que tal como eu premeditara ela perdera-se em seu maravilhoso mundo de ilusões, embora talvez esse mundo fosse mais real do que eu jamais poderia crer. Duas semanas depois, eu estava me despedindo, juntamente com meus pais, daquele local.

Mesmo que tenhamos permanecido na cidade, fomos para uma casa o mais longe possível do local no qual havíamos perdido minha irmã, talvez eles também soubessem que ali uma porta para um reflexo distorcido do nosso mundo estava, talvez eles temessem que eu me deixasse seduzir pelas doces ilusões desse mundo também.

Três anos mais tarde, enquanto andava pela cidade, eu soube da notícia que uma nova família instalara-se naquele lugar, ou melhor não apenas para lá, mas para o mesmo apartamento em que minha família se instalara anos antes. Inconscientemente eu orei pela aquela família, e apenas aumentei meu desejo pela segurança daqueles desconhecidos quando soube que eles tinham uma filha única, da idade que minha irmã tivera quando desaparecera, parecia um desejo inconsciente de proteger aquelas pessoas da constante sombra daquele terrível mundo fantasioso.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.