I'll be your Wine

Capítulo Único


Que olhar intenso o dele. Um olhar repleto, cheio de ternura, vivo. Como doía nega-lo. Eu podia não ter um coração, mas sentia meu peito se apertar. Lágrimas em meus olhos tornavam o rosto dele mais turvo, o que me dava forças para não desabar.

- Eu fiz uma promessa – ele murmurou, segurando minha mão.

- E você a cumpriu. – falei, com o choro entalado em minha garganta.

Não, não cumpriu. Mas não devia fazê-lo. Eu não me importava de ir. Victor estaria feliz. Estaria vivo e feliz.

- Não, não cumpri.

Ele se virou para Victória, que nos olhava atenta. Abriu um pequeno sorriso para ela. Então se virou para mim mais uma vez, soltou minha mão e fez um sinal para que eu esperasse. Por fim, foi em direção à mesa do altar.

- Com essa vela – começou a dizer, agarrando a vela e vindo até mim. – iluminarei seu caminho na escuridão.

Victor repousou a vela sobre o banco. Então puxou a aliança de meu dedo, apenas para coloca-la de volta.

- Com essa aliança – prosseguiu. – peço a você que seja minha.

- Victor... – murmurei de volta.

Tentei impedi-lo, mas ele segurou minhas duas mãos com força, me olhando nos olhos, e com um sorriso, sussurrou:

- Vou cumprir minha promessa, Emily. E não só porque eu a fiz e é minha obrigação. É porque te amo. Porque, por mais que eu estivesse muito assustado com tudo isso no começo, eu fui me apaixonando por você, pouco a pouco. Quando falei que beberia o veneno para ficar junto a você, tive a sensação de estar fazendo a escolha mais certa da minha vida. Eu quero passar esse finalzinho da minha vida e toda a minha morte com você.

Aquelas palavras me atingiram em cheio. Agora sim eu estava com dificuldades para nega-lo. Ele tornou tudo mais difícil.

Tentei contraria-lo, insistindo que deveria me deixar:

- Não, você não deve cumprir nada. Está confuso, não sabe o que está dizendo...

Ele me calou com os dedões, segurando a lateral do meu rosto com os outros dedos.

- Eu te amo, Emily. E vou repetir isso até você se convencer.

Olhei nos olhos dele. Ele falava a verdade.

- E Victória? – questionei, quando ele tirou as mãos de meu rosto.

Victor parou por um segundo. Os olhos dele caíram em direção ao chão, e logo depois se ergueram para Victória. Ela nos encarava o tempo todo, os olhos arregalados e atentos. Ele segurou suas mãos, e gentilmente, murmurou:

- Você vai ter o que deseja. Um marido que vai amar para sempre, uma família. Mas não sou eu. Ainda não é a sua hora.

Ela apenas assentiu.

Victor segurou minha mão e me puxou para o altar. Entreolhamo-nos, sorrindo um para o outro. Então servi o veneno à taça, e Victor deu um grande gole. Em alguns segundos, ele se encolheu e retorceu, por fim caindo no chão.

Victória colocou ambas as mãos sobre a boca, reprimindo um soluço. Eu apenas esperei.

De repente, o peito dele parou de insistir em respirar. Ajoelhei-me e tentei sentir seu pulso... Nada. Ele estava morto.

Lentamente, seus olhos começaram a se abrir. Victor me olhou, e abriu um sorriso.

- Até que a morte nos una, não?

Ele então se ergueu. Quando encostou a mão em meu rosto, senti sua pele gelada. Quando me beijou, senti seus lábios frios. Perfeito.

- Eu te amo, Victor – sussurrei, sorrindo.

Ele não precisava responder, e não o fez. Eu já sabia a resposta. Porque cobra-la?

De mãos dadas, caminhamos até a porta da igreja. A lua nos encarava lá em cima, brilhante e cheia. Queria nos receber, com seus braços de estrelas abertos.

Entregamo-nos a ela. Senti meu corpo ir se desfazendo em pequenos pedacinhos, e em Victor vi o que ocorria: borboletas, tão lindas e coloridas, saíam pouco a pouco de nós, levantando voo em direção ao abraço da lua.

- Eu também te amo, Emily.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.