Fora de forma perceptível que fizera minha casa se tornar nossa. Em duas semanas era amiga de todos os vizinhos, frequentemente requisitada para jantares em que eu era carregado a tiracolo e talvez provavelmente a próxima síndica do prédio sem fazer campanha. Me divertia assistindo-a interagir com as pessoas, já que ela era superior a mim nessa arte social.

Nosso apartamento tinha cheiro suave de essências que não me faziam mais espirrar constantemente, as paredes e moveis eram repletas de fotografias de sua família, de nós dois sorridentes e inclusive algumas minhas com meus meios-irmãos que ela desenterrou de algum lugar. Há doze semanas me maravilho invariavelmente com o cheiro de madressilva que seus cabelos exalam toda a manhã e me pego a perscrutar seu rosto de maneira involuntária, acredito que a procura de uma confirmação egocêntrica de que ela sonha comigo.

Por vezes, como nessa manhã, Parvati acordava com o rosto amassado e semblante de poucos amigos e eu me perguntava como ela conseguia ser a mulher mais linda do mundo.

– Está com aquela cara de feliz às sete de manhã outra vez. – Bufou.

– Eu sei, sem sorriso até as nove. – Mostrei a língua e ela sorriu. – Viu? Inevitável.