Idiota (Rakan x Xayah)

Parte 1 - Me perdi no centro dessa cara bonita


Xayah andava a passos firmes, revoltada pelas percas que tivemos nessa missão. Mas eu não podia deixar de reparar em quão fofa e linda ela ficava com aquele biquinho emburrado, parecia um peixinho dourado raivoso. Se bem que peixes não devem ser tão raivosos assim.

— Eu achei que você fosse se lembrar da porcaria do plano! – Disse ela, brava, acho que para mim.

— Mas... A gente tinha um plano? – Cocei a cabeça, sem lembrar de muita coisa.

Ela bufou, balançando sua asa como se quisesse me empurrar. Desviei, recuando um pouco com o corpo para trás e depois voltei a me aproximar dela. Talvez eu tivesse esquecido do plano, mas isso não significa que a culpa seja minha. Significa?

— Ei! Me desculpa... Eu só... Segui meus instintos e tentei fazer o melhor. – Disse, sorrindo amarelo enquanto tentava me justificar.

— É! E agora temos meia vila morta e a outra metade ferida. Como eles vão conseguir se defender depois disso, Rakan?! – Respondeu ela, esfregando a mão na testa, ligeiramente estressada.

Ok... A culpa foi minha... Mas... Eu ajudei... Não ajudei?

— Xayah... – Perguntei, em tom baixo, enquanto a seguia (aparentemente até o lago).

— Que foi? – Resmungou ela, colocando sua mochila com poucos pertences ao lado de uma árvore.

Olhei para ela, tentando me concentrar nas palavras e não naqueles olhos âmbar que me deixavam sem fôlego. Respira, Rakan, respira...

— Eu... Ajudei? – Perguntei, meio constrangido e desajeitado.

Ela soltou um suspiro escasso, cansado e pesado. Apenas retirou o capuz e a capa, em seguida sentou-se no chão (ao lado da mochila) e foi desamarrando as faixas de suas pernas, delicadamente e com toda paciência do mundo. Sua asa parecia inquieta, como se ela estivesse ponderando o que fazer ou dizer, com os pensamentos a mil.

— Eu... Só queria te ajudar, Xayah. – Disse para ela, soltando um suspiro tristonho enquanto tirava minha capa e jogava ela para o lado.

— Olha, Rakan... Eu não teria conseguido sem você. – Ela disse, como se tentando me consolar. – Mas é muito difícil contar com alguém que não parece ouvir uma palavra do que você diz.

— Mas eu te ouço... – Rebati, em tom baixo.

— Rakan, você não lembrava de nenhum detalhe do plano! Como quer me ajudar desse jeito? – Suspirou fundo novamente. – Eu deixei você se unir à rebelião, pois sua ajuda seria útil. Você iria distrair os soldados enquanto eu libertava vastayas ou matava humanos. Sempre foi esse o plano!

— É só me dizer o que eu preciso fazer que eu faço! Eu faço qualquer coisa por você, miela... – Respondi, mesmo sabendo que ela odiava isso.

— Esse é o problema, você nunca me ouve! Nós não temos nada, somos só parceiros de batalha. Não consegue lidar com isso, Rakan? – Suspirou de novo, estressada.

Olhei fundo em seus olhos, tentando acreditar em suas palavras, mas era impossível! O olhar dela parecia implorar por beijos e abraços, era quase como se eu conseguisse sentir sua alma me dizendo “Sou toda sua”, enquanto seus lábios diziam “Segue o plano, idiota!”.

— Eu já disse que não vou desistir de você, Xayah. Ainda vou te mostrar que pertencemos um ao outro, miela. – Sorri, fazendo carinho em seu rosto.

Ela recuou, mas notei suas asas balançando agitadas. Agitadas de um jeito bom. Inspirei fundo e não pude deixar de sorrir, pois havia uma parte nela que realmente concordava comigo. Havia uma parte de Xayah que queria ficar comigo tanto quanto eu queria ficar com ela.

— Eu... Eu vou tomar meu banho aqui no lago. Consegue ficar de vigia? – Perguntou ela, mudando o rumo da conversa e começando a desamarrar o vestido.

— Hã... Vigiando você? – Perguntei, meio incerto.

— Não, idiota! Vigiando a floresta ao redor. Não quero ser surpreendida com humanos, vastayas ou noxianos, por isso preciso que seja meus olhos. – Respondeu, séria.

Imaginei como seria se um grupo inimigo aparecesse aqui enquanto Xayah tomava banho. Quase pude ver ela se levantando da água, toda nua, e atirando suas penas em quem chegasse perto. Nesse caso eu não precisaria ser a distração... Suas curvas fariam isso por mim, enquanto eu apenas apreciaria a cena, usando meu escudo mágico para proteger miela de cada ataque.

— Rakan! Tá me ouvindo?! – Perguntou ela em tom alto, me tirando do transe.

— Ah... Não, desculpa. Pode repetir? – Perguntei de volta, sorrindo amarelo.

— Só... Fica de olho na floresta pra mim, ok? E tenta não me encarar desse jeito enquanto eu estiver me lavando. – Disse, terminando de tirar suas roupas e mergulhando nua na água.

— Pode deixar! – Sorri, sem ter conseguido me concentrar em muita coisa.

Sua pele clara reluzia à luz do sol, enquanto ia adentrando no lago e ocultando cada curva de seu corpo pela água turva. Soltei um suspiro fundo e voltei meu olhar à floresta. Todo aquele ambiente combinava muito bem com ela... Era quase como se Xayah fosse uma força da natureza: rebelde, selvagem, poderosa e indomável.

O que ela não parecia entender é que eu não queria domá-la... Queria me unir a ela! Queria ser um pouquinho mais como ela, a mulher que ganhou minha admiração, meu respeito e (acima de tudo) meu amor.

Quando saí de nossa tribo, eu queria ser livre para viver. Queria mostrar o poder da magia aos humanos, mostrar a beleza da magia. Queria que eles não nos temessem e libertassem nossa magia.

Hoje eu só consigo pensar em ser livre para viver com ela!

Quero a liberdade de todo povo vastaya, mas em especial, quero que ela seja livre para viver comigo e não em função da rebelião. Quero a liberdade para nós dois vivermos juntos, sem preocupações com morte, magia ou guerra.

— É... Lutar por liberdade cai bem em mim! – Pensei alto.

Olhei novamente para Xayah. Seus cabelos púrpura estavam molhados e ela nadava tranquilamente pelo lago, atravessando até o outro lado da margem e voltando. Conforme ela nadava, pude ver suas coxas grossas movendo-se rapidamente, os músculos das nádegas trabalhando e toda a atmosfera abraçando-a, como a deusa que era aos meus olhos.

— Pronto! – Disse ela, levantando-se após chegar até a margem ao lado de onde eu estava. – Consegue me passar uma toalha?

Eu assenti e fui até sua mochila, pegando um tecido de algodão para que ela se secasse. Xayah apanhou a toalha e saiu do lago, secando-se e trocando de roupa (colocando uma muda limpa, no mesmo modelo da anterior) logo em seguida.

— Obrigada por ficar de olho pra mim. – Sorriu ela, gentil, enquanto secava e penteava os cabelos.

— Não foi nada. – Respondi, sorrindo amarelo.

— Se quiser tomar seu banho agora, eu fico de olho para você. – Disse ela, alongando o corpo e balançando os cabelos soltos.

— Ah, vou sim! Obrigado. – Respondi, sorrindo.

Comecei a me despir, então recuei uns 3 passos e me preparei, só para correr em linha reta e pular com tudo no lago. A água estava gelada pra caramba! Levantei do pulo me tremendo de frio, enquanto Xayah observava a cena, distante e um pouco revoltada pelas gotas que respingaram sobre ela, mas também rindo pela minha reação de frio.

— É por isso que eu entrei devagar! – Gritou de longe, rindo em seguida.

Cara... Que risada linda! É a melhor coisa do mundo poder ouvir ela rindo assim, mesmo que seja de mim. Fiquei meio atônito por um tempo, só vendo a beleza daquela mulher, que (nesse ponto) já tinha parado de rir e estava sentada na raiz da árvore, ao lado de sua mochila, observando a mata ao redor e o céu.

Decidi me lavar logo, tomando cuidado para não perder nenhuma pluma sem querer e mantê-las brilhantemente impecáveis.

Demorei um pouco, admito. Era bom ter um momento de descanso depois dessas aventuras, bagunças e resgates, ainda mais porque eu podia confiar que Xayah estaria ali do lado me esperando. Saí da água e me chacoalhei inteiro, respingando água novamente em Xayah, que estava de costas para evitar ficar olhando minha beleza deslumbrante!

— Não precisa ter vergonha de olhar, meu amor. – Ri para ela, que estava me estendendo sua toalha (eu havia esquecido minha mochila no acampamento).

— Eu tenho o mínimo de respeito pela sua privacidade, assim como você deveria ter. – Disse ela, ainda de costas.

— O que é isso? É de beber? – Perguntei, sorrindo garboso enquanto me secava, enrolando a toalha em minha cintura.

— Engraçadinho... – Disse ela, revirando os olhos e se virando para mim. – Vamos logo, você precisa pegar uma muda de roupas limpas na barraca.

Assenti e fui andando atrás dela, que parecia um pouco menos estressada depois do banho. Ou quem sabe depois de me ver sem roupa. Sou uma tentação viva!

Logo chegamos em nossa barraca, o povo da tribo olhava intrigado nossa dinâmica, não tiro a razão deles, somos um casal e tanto! Pena que a Xayah não aceita... Enfim, fui para nossa cabana e tratei de me trocar, colocando uma calça confortável e bonita, que eu curtia bastante.

— Vai demorar ainda, Rakan?! – Gritou ela, do lado de fora.

— Já estou indo, miela! – Respondi, terminando de alinhar minhas penas (uma a uma, à mão).

— Céus, acho que se você fosse uma princesa humana demoraria menos. – Disse, de braços cruzado e revirando os olhos.

— Se eu fosse uma princesa humana não seria tão bonito quanto sou agora. Para começo de conversa eu não teria minha asa maravilhosa. – Respondi, sorridente enquanto movia a asa lentamente.

Xayah ficou hipnotizada por um breve instante, mas piscou os olhos algumas vezes e soltou um suspiro fundo. Ela virou-se de costas para mim e foi até o centro da tribo, ao lado de uma fogueira, provavelmente falar com o ancião sobre algo ou comer alguma coisa. Fui atrás.

— Boa noite, senhor. – Disse ela, olhando nos olhos de um homem bem mais velho.

O velho era um dos poucos que estavam na tribo quando chegamos, tinha chifres e pernas de cervo, sua pelagem já estava esbranquiçada pela idade, provavelmente ele beirava aos 700 anos. Mas mantinha sempre um sorriso sereno no rosto, como se qualquer ajuda já bastasse. Xayah devia aprender alguma coisa com esse cara...

— Boa noite, Xayah e Rakan dos Lhotlan. Tudo bem com vocês? – Sorriu, gentil, e eu cumprimentei-o de volta.

— Gostaria de me desculpar pelos imprevistos durante a missão de resgate. Meu parceiro é um tanto inexperiente e outro tanto imprudente. Assim como foi uma falha da minha parte confiar parte demais do plano a ele. – Disse ela, abaixando a cabeça.

— Tsc, tsc... – Balançou negativamente a cabeça. – Alguns sacrifícios são inevitáveis, pequena ave. Nós devemos muito a vocês, que arriscaram suas vidas para libertar o restante da tribo, e seremos eternamente gratos.

O velhinho sorriu e vi Xayah assentir, ainda séria. Eu assenti junto com ela, mantendo meu belo sorriso no rosto. Pelo menos alguém não estava colocando a culpa em mim aqui.

— Bom, agora fica por conta de vocês, pois estarei me retirando hoje à noite. Recebi um chamado da tribo vizinha que está sofrendo com constantes sequestros de jovens, acredito que estejam sendo escravizados também... – Falou Xayah, num misto de séria e preocupada.

Por que ela não tinha me contado isso?

— É uma pena, minha jovem... A ajuda de vocês seria muito bem-vinda nesse momento. Mas espero que consiga solucionar o problema deles. – Disse o ancião cabisbaixo.

— Por isso irei deixá-los com meu parceiro. Seus dons de cura irão ajudar a recuperar mais rápido seu povo. – Respondeu ela, sorrindo calmamente.

Peraí, com “parceiro” ela tá falando de mim?!

— OI?! – Perguntei, indignado com a situação. – Não combinamos isso. E você sabe que eu nunca te deixaria sozinha.

— Rakan, deixe de ser idiota, eles precisam de ajuda mais do que eu preciso de uma sombra. – Disse ela, séria e com raiva no olhar.

Fiquei atônito... Ela estava me abandonando? Só porque eu esqueci de um plano? Cruzei os braços e fechei a cara. Murmurando apenas um “não” em resposta. O ancião percebeu que estávamos em um impasse, então soltou uma risadinha.

— Acalmem-se, pombinhos. Acredito que ambos podem passar a noite aqui hoje e partir amanhã cedo. Eu odiaria causar tamanha briga em um casal tão bonito. – Disse ele, sorrindo gentil ainda.

— Não somos um casal! – Gritou Xayah, cheia de raiva e com a asa inquieta.

— Bom, desse modo peço desculpas pela minha interpretação errada. Mas devo dizer que a sincronia de vocês em batalha é algo que nunca vi na vida antes... Não deviam se separar por qualquer coisa. – Disse ele, calmamente.

O velho cervo estava certo... Dançávamos em meio ao caos da batalha de um modo único, era como se o chão virasse nuvens, o ar ficasse mais leve e a floresta inteira se silenciasse. Como se todo o mundo ao nosso redor parasse apenas para admirar a cena. Nossos corpos sabiam a sincronia perfeita um do outro, e toda a natureza - toda a magia - ao redor também sabia.

— Ele está certo, miela. E você sabe disso. – Falei, calmamente, enquanto tocava seu ombro de leve. Ela bufou.

— Partiremos em dez minutos, esteja pronto ou vou sem você, idiota. – Disse, tirando minha mão de seu ombro e apontando o dedo em meu peito.

Logo após ela saiu, dando meia-volta e indo em direção à barraca, pisando a passos firmes. Soltei um suspiro cansado e uma risadinha boba. Ela não iria me abandonar afinal...

— Ai, ai... Esses jovens de hoje em dia só complicam as coisas... – Riu baixinho o ancião, balançando negativamente a cabeça.

Somente Xayah se recusa a enxergar...