Idiot Guy

6 - V de vitória ou vingança?


Capítulo seis

V de vitória ou vingança?

“Ah, se eu pudesse abrir a minha cabeça, colocar tudo para fora. Arrumar tudo direitinho como quem arruma uma gaveta. Ou tomar um banho de chuveiro por dentro.”
(Caio Fernando de Abreu)

Abri o armário, em uma terça-feira chuvosa, e me deparei com algo que me deixou completamente chateada e irada. Sabia que provavelmente meu rosto estava em chamas neste instante, legado que tenho por ser ruiva.

“Vincent e Ellie estão juntos?

Ontem o dito cujo disse que estava namorando a melhor amiga dela, Alisson. Só que pela foto que vimos abaixo a popular de cabelos de fogo está furando o olho ao estar tão próxima do Mitchell na semana passada. Ela se agarrando nele enquanto segredavam algo parece cena de novela, mas não seria nada emocionante sem um possível triangulo amoroso.

Seria digna de novela mexicana não?

Pamela”

A que tinham batido de mim também estava na reportagem. E eu pensando que usaria apenas para mostrar o meu look como das outras vezes. E ainda tive a coragem de sorrir que nem uma boba.

Lie, isso é verdade? – murmurou a Ally.

– Claro que não, você sabe que eles adoram uma fofoca. Ainda mais quando mexem com a elite da escola, todavia vou conseguir reverter. – e dei uma risada maléfica.

– O que vai fazer dessa vez? – o tom divertido.

– Sempre tenho uma carta na manga. – revidei.

Acabamos por rir quando levantei uma sobrancelha, tentando parecer ser séria. Só que eu realmente sabia muito bem como limpar a nossa imagem.

E iria fazer isso hoje mesmo.

– O Ben falou algo contigo? – começou o Patrick ao chegar.

James veio logo atrás e sorriu para mim de maneira tímida. E confesso que ficava mais lindo assim.

– Por que a pergunta? – brinquei.

Fez um muxoxo e continuou.

– Eu vi vocês dois trocando bilhetinhos! – escandalizou.

– Acho que não irá gostar de saber. – fui sincera.

Do jeito que está fascinado ia ficar muito abatido.

– Posso ser bicha, mas não sou medroso. – revidou.

– Tudo bem, eu conto. Ele pediu para você o deixar em paz. – com os olhos fechados.

Quando os abri vi que colocou a mão no coração. A mão estava na boca, mas percebi que estava aberta. E isso significava que ia chorar a qualquer instante. Num ato impensado peguei sua mochila e vasculhei o que tinha dentro, sorrindo ao encontrar um pacote de jujubas.

– Me devolve vaca! – gritou.

Simplesmente os peguei enquanto revezava com a Ally, que também se divertia com a situação. Fiz isso para que esquecesse o assunto anterior e, confesso, para comer esse delicioso doce.

Ficava alternando entre o verde e o azul, que era o que mais gostava.

– Amanhã vão ter de me trazer um saco. – persistiu.

– É uma das coisas que mais gosta não é? – entre gargalhadas rebateu a outra.

Quando percebi a malicia na pergunta a acompanhei.

– Depois sou eu o safado. – balbuciou.

Entramos na sala rapidamente e eu peguei o que precisava, dando o resto para os dois. Mastigava com lerdeza, saboreando cada mordida com receio de que acabasse logo. E quando quase me afogava por conta do gosto açucarado tomava a água da minha amiga.

Ela reclamava, mas eu pegava mesmo assim.

– Parece uma esfomeada. – comentou com o James.

Deu de ombros e deitou a cabeça na carteira.

– Não te ensinaram a dividir com os outros? – rebati.

O professor chegou quando uma briga cotidiana ia começar entre nós. E sempre é por coisas fúteis. Como o nome do esmalte ou a melhor escova para o cabelo.

– Passa isso para o Ben. – sussurrou o gay.

Verifiquei o recado, até para estar a par do assunto.

“Vamos assar uma linguiça juntos hoje?

– P.”

Era um código, provavelmente estava o convidando para transar com ele. Tive um ataque de risos quando terminei de ler e não parei mais, tanto que o professor se virou e me mirou de maneira irritada. O sorriso dele era dos mais sacanas.

– Como disse, esse é um dos sintomas dos usuários de drogas. – alfinetou.

Olhei para o quadro e notei que realmente estava explicando aquela matéria, o que me fez gargalhar mais ainda.

– Professor, isso é coisa de gente carente. E sabe que eu não teria necessidade e nem motivo para acabar com a minha vida desta maneira, até porque ela é perfeita. Estava apenas rindo do seu zíper aberto. – menti sobre o motivo com maestria enquanto mexia no meu cabelo.

Ficou indiferente a minha resposta, mesmo com a salva de palmas que recebi dos meus colegas. No entanto verificou se eu estava falando a verdade, fechando-o em seguida.

1 a 0 para mim.

– Na saída conversaremos sobre essa má educação para comigo. – esbravejou.

Rolei os olhos pela raiva e passei o papel para o Sullivan. Constatei que depois de um tempo ficou roxo e rasgou o bilhete após mandar o dedo do meio para o meu amigo. E eu pensando que era certinho.

“Assim fico mais apaixonado.

– P.”

Servi de pombo correio por alguns minutos. Quando me chateei mandei o meu amigo continuar a conversa no intervalo. Ninguém merecia ficar exercitando os braços e ter de cuidar para que os outros não ver ao mesmo tempo. Cansar a beleza desta maneira era desperdício.

Quando chegou o segundo momento mais esperado por todos eu fui correndo para o meu local sagrado, encontrando o Vincent nos esperando lá. Como era compromissado com a minha amiga nem o questionei.

– Onde está a Ally? – foi direto.

Grosso!

– Não falou com a sua namorada hoje Mitchell? – ironizei.

– Tenho de anotar que você tem de fazer umas aulas de como contar uma boa piada também. Só que não estou para brincadeiras, então faça o favor de responder a minha pergunta. – revidou de maneira autoritária.

– Está na fila da cantina. – desisti de o incomodar.

Odiava pessoas de péssimo humor.

Estava sozinha agora. Só eu e ele. Já que o Patrick havia ido atrás da sua nova paquera. E provavelmente poderia aparecer com algo machucado ou roxo. Notei que colocou um fone de ouvido, e quando escutei que era a música de uma banda que adorava me cocei para não pegar um deles e ouvi-la com mais exatidão.

Pareceu perceber minha vontade e me ofereceu o outro. Ia aceitar, todavia ao ver que a equipe do jornal estava pelo pátio neguei com a cabeça. Mais um escândalo não seria bom.

– O que foi? – perguntou em um tom alto.

– Eles estão aqui. – apontando.

Deu de ombros e diminuiu o volume ao tirar a peça do aparelho. Seu ato me fez sorrir, principalmente por poder escutar bem na parte do refrão. Meus pés se mexeram involuntariamente e de minha boca saiu a cantoria. Tudo estava gravado em minha mente.

Pareceu me acompanhar, para depois rirmos quando errávamos algo bobo. Era tudo baixo e feito só para nós. Como se ninguém pudesse saber. Assim como no caso de eu ser fã de Pokémon.

Amor. – berrou a Alisson.

Minha animação diminuiu e eu dei espaço, fazendo-a abraça-lo enquanto ficava espremida no canto. E fiquei pior por ter desejado que ela não viesse neste instante, apenas para que continuássemos com o que estávamos fazendo.

– Vejo que estão se entendendo. – fez uma observação.

– Falávamos sobre o jornal. – escondi a verdade.

Senti-me mal por isso e engoli em seco.

– Logo se ocuparão com outro assunto. – devolveu com calma.

Ela sabia do que eu era capaz de fazer.

Pisquei para ela e o silêncio reinou. Depois só o que houve foram beijos e carinhos, sem contar os apelidos melosos. E em alguns momentos o Vincent me encarava de maneira decepcionada. Como se fosse me dar um sermão a qualquer momento.

– O sinal bateu. – interrompi-os.

Soltaram-se rapidamente e deram as mãos, entrelaçando-as em seguida. No corredor o Patrick veio com o outro integrante do grupo, e o primeiro massageava a bochecha.

– Apanhou? – quis saber.

– Eu dei um tapa nele e ele revidou. Como o James estava lá eu não pude machucar mais aquele rosto bonito dele. – confessou.

– Por quê? – dessa vez foi a Ally que perguntou.

– O Ben disse que me odiava e que sentiu nojo ao me beijar. – começou a chorar.

Ia falar mais algo, mas o garoto que estava conosco o levou para a enfermaria. Ao entrarmos na sala avisamos a professora onde eles estavam, e ela entendeu. Quando a aula acabou ia ir embora, mas antes de sair da sala o educador de biologia me parou.

– Temos de conversar não acha? Foi muito feio o que fez. – reprovou.

Fechou a porta e me obrigou a sentar na carteira da frente.

– Só falei a verdade. – revidei.

Apertou meu braço e me olhou de maneira irritada.

– Já que ficou de brincadeira terá de abrir o meu zíper. – declarou.

Queria fugir, mas fiz o contrário ao encará-lo com firmeza.

– Isso é abuso sexual! – exclamei.

Só riu em resposta.

– Vai dizer que nunca percebeu meus olhares? Que não vinha com aqueles tops apertados e essa saia curta para me provocar? Eu sei que você é uma puta, e elas servem apenas para dar prazer aos outros não é? Então pare de enrolar e se fingir de santa. - revelou-se.

Puxou-me pelo pulso e me fez ficar ajoelhada.

– Abre vadia. – rosnou.

– Não manda em mim. – esbravejei.

Lágrimas saiam de meus olhos, correndo pelo meu rosto. Eu tinha vontade de sumir, o que me fez ficar estática.

– Mas posso muito bem inventar um motivo para te suspender, ou até te expulsar. – o tom sombrio e malicioso.

– Isso é impossível. – devolvi.

– Então deixa que eu mesmo faço. – parecia sem paciência.

Tirou a calça, e percebi que estava sem o pano de baixo. Como me segurava com brutalidade não consegui escapar, ficando presa junto a ele. Sequer tinha visto um homem pelado, e ao vê-lo fiquei com medo. Do que poderia fazer comigo. Justo eu que sempre exigi respeito e nunca aceitei dormir com alguém.

– Não quero! – berrei.

– Como se nunca tivesse tocado em um. – e começou a gargalhar.

– Por favor não. – soluçava e gritava ao mesmo tempo.

Fazia um escândalo. E quando forçava a boca naquela direção escutei um barulho alto. Era a porta que tinha sido aberta. E nela estava nada menos que Vincent Mitchell. Ele correu até o professor e deu um soco no nariz dele, fazendo-o cambalear e me soltar no intuito de se equilibrar.

– Se quiser pode me dedurar, não me importo. Mas também não ficará assim. – brigou o meu ex rival.

Quando tive a chance de fugir abracei o meu salvador, meu herói, e o deixei me levar. Foi até a parada comigo, sem sair de perto em nenhum momento.

– Não deveria ter dito aquilo para ele, capaz dele contar para o diretor. – estava preocupada.

– Eu falarei sobre o que aconteceu, e tenho certeza de que irão entender a minha razão. – explicou.

– Era melhor que ninguém soubesse. – sussurrei.

Estava com muito medo de que interpretassem erroneamente a situação. Que me achassem mais fácil do eu sou, apesar de raramente ter sido.

– A questão é que esse tarado tem de ser demitido. – urrou.

– Não foi nada. – menti.

– Você está chorando e tremendo até agora e tem a coragem de me responder isso? Além de ficar berrando o tempo todo quando estava naquela sala. – rebateu.

– M-mas como nos descobriu ali? – mudei de assunto.

– Estava te esperando para dizer umas boas verdades, mas quando ouvi seus protestos tive de entrar. E realmente minhas suspeitas eram verdadeiras. Se você não tivesse se agarrado em mim acho que o deixaria no hospital de tanta surra que levaria. – confessou.

– O que ia dizer? – disse entre soluços, tentando sorrir.

– Acho melhor não conversamos sobre isso agora. – hesitou.

– Sem problemas, nada será pior do que eu passei naquela sala. – a tristeza me abatendo.

Entramos no ônibus nesse momento, sentando lado a lado.

– Ia dizer que é para parar de ficar mentindo sem parar. Daqui a pouco vira uma bola de neve ou nem lembrará mais o que tinha dito. E quando descobrirem a verdade será pior. – alertou.

– Está sendo até bonzinho comigo. – fui sincera.

– Dei um desconto. – piscou para mim.

Quando chegamos na minha parada desceu junto, e me acompanhou sem pedir autorização. O telefone tocou, e eu sabia que era a minha amiga ao ver a tela por um momento.

– Tenho de ir. Vai ficar bem? – perguntou.

Neste instante suspirei.

– Sim. – sussurrei.

Abraçou-me quando o respondi, massageando as minhas costas com delicadeza. Sua face ficou de encontro com o meu pescoço, fazendo-me ficar arrepiada quando a sua respiração se chocou com a minha pele.

– Qualquer coisa me liga. – finalizou.

E então virou de costas, partindo a passos lentos, até ouvir a porta sendo fechada. Senti-me sozinha e com medo, querendo a todo o custo que ele não tivesse saído.

Como se com ele me sentisse segura.

Só o que poderia fazer agora era preparar um brigadeiro e ver as programações, deixando para chantagear a Pamela amanhã. Até porque não estava com cabeça para isso.