POV MARTIM
FLASHBACK
–A gente vai continuar com a banda? - perguntou Julie.
–Vou ficar triste de ver você com o Nicolas - ele respondeu -, mas vou ficar mais triste ainda se a gente parar de tocar junto.
Depois disso ela sorriu e o abraçou. O show teve início e Daniel alternava o olhar entre Julie, a guitarra e o público, como sempre fez, mas havia algo diferente, já que ele observava um espectador em particular: Nicolas. É claro que Daniel estava possuído de ódio naquela noite, e queria mais do que tudo que o show acabasse. Inúmeras canções depois, a apresentação finalmente acabou e pudemos ir para casa.
–Eu vou embora - Daniel anunciou, quando Julie já estava dormindo.
–O quê? Porque?
–Menti para ela. Disse que ia ficar triste de vê-la com aquele idiota, mas isso é resumo demais. Não vou suportar isso.
–Está desistindo? - perguntei. - Chegou absurdamente perto de conseguir e agora está jogando a toalha.
–Claro que não - ele negou, desviando os olhos dos meus. - Estou respeitando a decisão dela. Eu a amo, mas ela quer a ele, então por amor...
–Ou orgulho... - cantarolou Félix.
–Não estou sendo orgulhoso - ele resmungou. - Só quero a felicidade dela.
–Vamos com você - dissemos eu e Félix em coro. Por mais que gostássemos de Julie, não podíamos deixar Daniel sair por ai fazendo loucuras.
–Não podemos perder tempo. Quanto mais cedo formos, melhor para ela.
Em poucos minutos, saimos da casa sem nem deixar bilhete.
–Onde vamos? - perguntei.
–Não sei, a ideia inicial era só sair.
Félix nos dá a ideia de dormirmos em uma casa abandonada, em cuja sala de estar há três grandes sofás. Nos jogamos neles e tentamos dormir. Félix é o primeiro a apagar de vez, e quando estou quase sonhando, ouço Daniel murmurar:
–Eu te amo Julie, e algum dia vou voltar para você.
FLASHBACK OFF
–Contei tudo - respondo.-Entende o ódio agora?
–Entendo - ela meneia a cabeça. - Falo com ele?
–Com certeza. Eu o conheço desde criança e sei que ele nunca gostou de ninguém, só de você. A única garota que ele quis ou quer é você. Nunca na vida vai conhecer um cara mais decente do que ele.
–Vou dar a ele a chance que merece.Obrigada! - ela me deu um beijo na bochecha.
POV JULIE
Agradeço de novo e subo as escadas. Daniel e Félix estão no antigo quarto de Pedrinho. Chego, encosto a cabeça no batente e Daniel pede que Félix nos deixe a sós. Com um movimento de cabeça, ele sai e me sento ao lado de Daniel.
–Perdão - digo. - Desculpe por ter sido idiota, imbecil, cega...
–Julie - ele coloca o indicador em meus lábios. - Não há nada para pedir desculpas. Você foi idiota, cega e imbecil, mas gosto de você assim mesmo. Todo mundo tem defeitos, isso é uma regra do universo, e também a parte mais díficil em gostar de alguém, porque, se não fossem eles, não teria graça nenhuma.
Ele disse que gosta de mim. Eu o amo, mas não é a mesma coisa. Gostar não é amar, mesmo que Martim tenha me dito que Daniel me ama. "É uma história", digo a mim mesma. "Ele pode ter editado. Eu não estava lá para provar nada". Amigos, é isso que somos. Ele é meu guitarrista e eu a vocalista dele, no máximo.
–Hum... Julie? - ele me chama.
–Sim? - viro-me temerosa.
–Me beija?
Avanço e sou bem recebida. Nossos lábios se juntam num encaixe perfeito, como se tivessem sido moldados para serem assim. Beijei Daniel cinco vezes a vida toda, mas foram minhas melhores experiências. Uma correção se faz necessária: somos mais do que amigos agora, mas não sei se algum de nós será capaz de verbalizar isso.
–Vamos chamá-los - ele diz. - Podem pensar que...
–Não fizemos nada errado - corto-o bruscamente.
Ele sorri, acaricia meus cabelos e beija meu rosto. As pontas de meus cabelos lisos se enrolam em seus cachos, nos prendendo. Crio coragem e o beijo de novo.
–O que somos? - pergunto, olhando-o fixamente nos olhos.
–Somos... - ele hesita por um longo tempo. - Juliana Spinelli de Almeida... Julie... Você aceita ser minha namorada?