I see everything, bitch.

Taking this one to the grave


"Got a secret.
Can you keep it?
Swear this one you'll save
Better lock it in your pocket
Taking this one to the grave"

Vinte e três de novembro, Rosewood, dia de ações de graças.

A menininha loira cantava feliz as cantigas que aprendera na escola aquela semana, escovava seus curtos cabelos loiros, que batiam pouco abaixo do ombro e contava os minutos para quando sua pequena família chegasse e pela primeira vez em anos, todos estariam reunidos novamente.

Após escovar seus cachos, prendeu com um laço metade do seu cabelo para trás, deixando o resto cair em cascatas sobre as costas, vendo o resultado ficou orgulhosa. Um dom que a menina de sete anos não tinha, era ser paciente. Sua mãe havia dito que arrumaria o cabelo dela, mas isso já fazia uma hora.

Ouvindo um barulho que alguém fazia no quintal de traz, a loirinha sorriu imaginando que a sua família já estava reunida, feliz desceu as escadas.

Mal sabia ela que poderia estar perto do seu fim.

O contentamento acabou quando abriu a porta e não achou ninguém. Será que era uma festa de aniversário atrasada? Não. Só se fosse super atrasada, pensou a garota.

Caminhou no sereno segurando a barra do seu vestidinho rosa, estranhando o silencio repentino e as gramas arrancadas do chão, fazendo parecer que alguém se arrastou por ali.

Não se ouvia um pio, a não ser o riso dos ventos.

vinte e sete de janeiro 2015, seis e quarenta e três da tarde.

Poseidon coçava sua pequena careca que se formava no topo da cabeça. Não é por menos. O pai de família, empresário, marido e detetive, já estava ficando velho e cansado. Ele tinha várias profissões, mas a sua predileta era ser detetive. Desde pequeno, seu pai e seu irmão mais velho o encorajavam a seguir a carreira de médico e ficar longe da área de direitos humanos. Poseidon não deu bola, continuou com seu sonho e mesmo que agora esteja bem sucedido, se encontrava sentando na típica poltrona de couro marrom, estudando alguns papéis e tomando café preto.

O caso da vez (de sempre) se chamada Chase. Era sobre uma família que desapareceu no dia de ações de graças há dois anos, sem mais nem menos. Colocando a xícara de café na mesinha ao lado onde um aglomerado de papeis serviam de suporte, Poseidon levantou-se da poltrona e seguiu até sua escrivaninha, rolando o olhar entre um post it a outro, caminhou até o outro lado da sala parando em frente a lustrosa estante de livros. Empurrou. Poseidon observou seu mural. Fotos, post its, notícias de jornais, tudo colado e interligado entre linhas amarelas, azuis e vermelhas. O detetive pegou o barbante vermelho, rolando a ponta entre os dedos, barbante que estava solto, esperando para ser grudado ao grande ponto de interrogação no meio de tudo. Ouviu o som de alguém estacionando na garagem e suspirou. Teria que terminar o trabalho depois.

Antes de sair da sala, sentiu gotas de uma brisa fria roçar sua pele, fazendo seus pelos se eriçarem. Caminhou até a janela e a fechou, mas não antes de ver seu filho correr até a varanda, fugindo da chuva.

Poseidon estava descendo as escadas quando sentiu o celular vibrar em seu bolso. Era Ares, seu parceiro em investigação. O detetive estranhou olhando no relógio de pulso. Ares não ligava a essa hora, só se fosse algo importante. Poseidon recuou quando ia aceitar, pois ouviu o filho chama-lo para uma partida de futebol no novo vídeo-game que ganhara no natal. Iria atender? Dessa vez não. Chamada perdida, leu Poseidon no visor.

Do outro lado da linha, Ares torcia para o amigo, atende-lo. Ele sabia que essa era a hora em que Poseidon mais esperava todos os dias, quando ele ficava longe do trabalho, a sós com a família. Mas não aera sempre assim, esse “a sós” nunca acontecia. Ares tinha pena do amigo.

O barulho da escavadora ensurdecia seus ouvidos, a vizinhança toda já havia saído de suas casas para ver o que estava acontecendo. Atrás do manicômio para crianças e adolescentes Roseville Cruz, faixas e carros da polícia interditavam o local. Na terceira chamada, Poseidon finalmente atendeu.

Poseidon não tinha tempo para explicar ao filho do porque teria que sair ás pressas, deixando-o sozinho. De novo. Apenas pegou o carro e dirigiu a caminho da cidade de Rosewood.

A chuva engrossava cada vez mais, batendo no para-brisas e pegando a atenção do detetive a estrada de novo.

Assim que chegou, correu em direção ao amigo Ares, que acenava para ele.

Ares explicou tudo o que sabia até ali. A chuva estava fraca ainda, mas não demoraria muito até o temporal de Hampshire alcançar os detetives.

Poseidon percebeu todos os olhares dirigidos até o buraco no quintal de trás do manicômio. Andou entre as multidões, e mostrando seu crachá, teve permissão para chegar perto do delegado, e assim conversar.

O delegado Brooke não parecia satisfeito com a situação, mas explicou com mais detalhes e precisão o porque de tudo.

Poseidon ficou chocado. Sabia que não deveria sorrir diante daquilo tudo, pois convenhamos, era uma das coisas mais horríveis que o detetive já havia presenciado. Mas sua alegria era maior do que o horror que sentia. Poseidon Holmes Jackson depois de quase três anos, finalmente havia uma pista do paradeiro dos Chase.