Amanhã será seu aniversário... O terceiro aniversário sem ela... Já faz três anos, mas mesmo assim não consigo me acostumar a viver sem sua presença, seu amor e carinho... Foram três anos difíceis sem ela, eu estava, não apenas em nossa casa e no mundo, mas na vida sozinha... Completamente sozinha. As pessoas a minha volta perderam a esperança dela voltar para tribo, dela voltar viva... Acho que eu também, mesmo que eu não queira admitir isso.

Ela era tão carinhosa, mal consigo pensar nela sem chorar e sem ficar nostálgica... Lembro-me de quando ficávamos observando o céu em uma noite estrelada, ela me carregava no colo e me dizia os significados de cada uma das estrelas... Lembro-me também das histórias que me contava antes de dormir... Ela sempre me dizia que quando resolveu me adotar, ninguém acreditou que ela seria uma boa mãe pois era nova demais, dizia que as pessoas sempre davam palpites sobre minha criação... Mas ela nunca os escutava e ainda bem que ela não o fez, já que me criou muito bem.

Muitos dizem que mesmo eu não sendo sua filha de sangue, herdei muitas coisas dela... Como sua coragem, seu espírito livre e sonhador, e seu senso de moralidade e justiça. Mas uma coisa que sei que não herdei dela foi sua teimosia... A coragem e seu senso de moralidade e justiça vinham acompanhados da teimosia... Era seu ponto positivo e negativo. Uma prova disso foi seu desaparecimento quando resolveu ir, por conta própria, até Heihachi Mishima perguntar sobre os desaparecimentos de talentosos lutadores (que até hoje é um mistério) e nunca mais voltou...

As más línguas de minha aldeia sempre inventavam boatos maldosos sobre ela... Cresci escutando alguns, que faziam sentido por sinal. Já ouvi falar que acham que minha mãe se envolveu com alguém de fora da tribo e que eu sou sua filha de sangue por nossa semelhança física... Apesar de ser um simples boato mexeu comigo... Já havia reparado que éramos parecidas e metade de mim quis acreditar nesse boato... Mas a outra me diz que isso não faz o menor sentido, pois ela não seria cruel ao ponto de abandonar um bebê recém-nascido em um cesto de roupas e... Deixar a própria sorte... Ela não faria isso!

Com o tempo, nós duas nos tornamos grandes amigas e... No meu aniversário de oito anos ela me contou a verdade... Contou que eu havia sido abandonada e que ela me adotou como sua filha e que se eu, um dia, quisesse encontrar meus pais verdadeiros, eu teria esse direito... Obviamente eu fiquei chocada e ferida. Um misto de sentimentos me invadiu naquele momento: tristeza, choque, raiva, mágoa e gratidão... Olhei-a em lágrimas e ela me olhava com atenção e parecia esperar pacientemente por minha resposta, provavelmente esperando que eu a xingasse ou alguma coisa do tipo, já que seus olhos estavam temerosos... E eu apenas lhe abracei, enterrando minha cabeça na curva de seu pescoço e sussurrando um ‘’obrigada’’ e ela... Apenas me abraçava mais forte.

Nunca disse a ela que já pensei em meus pais biológicos... Tentava imaginar seus rostos e imagina-los juntos... Nunca disse a ela, pois não queria parecer ingrata e não queria magoa-la por mais que tivesse dito que podemos conversar sobre qualquer coisa... Mas não posso negar que uma parte de mim quer conhecê-los, não para correr para seus braços e dizer que senti saudades... Queria conhecê-los para dizer que nunca precisei deles e que se eles me abandonaram provavelmente porque no fundo sabiam que não seriam bom pais e queria agradecê-los porque se não fosse por eles nunca teria conhecido uma mulher tão incrível como minha mãe adotiva.

Na sua última semana comigo aqui no Arizona, nós brigamos. Nossa primeira briga séria. Obviamente eu não concordei com sua brilhante e suicida ideia de ir falar com Heihachi Mishima SOZINHA, afinal era perigoso demais principalmente se fosse aquele homem o responsável pelos desaparecimentos dos lutadores. Ela, como era de se esperar, teimou comigo e iniciamos uma discussão. Eu estava preocupada... Só queria o bem dela, mas ela estava decidida... Eu apenas desejei-lhe boa sorte e lhe dei um forte abraço. Aquela foi há última vez que a vi... Mas não pense que eu não a procurei.

Hoje em dia penso que ela não foi apenas maluca... Foi também corajosa. Ela fez o que ninguém teve coragem de fazer... Por um bem maior. Eu a admiro por isso...

Sou grata a você, mãe... Não tenho palavras para agradecer tudo o que fez por mim... Eu te amo, feliz aniversário.

(Uma parte de mim ainda espera pacientemente por sua volta onde quer que você esteja).

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.