I know i'm not alone

Capítulo 1 - I'm alone


Essa noite eu tive um sonho, eu estava em um grande campo de girassóis, uma cena muito bela. Você estava nele, olhando para os girassóis, com tamanha curiosidade que eu nunca vi. Estavas muito bonito, o típico, olhos azuis, cabelos dourados e lábios finos e bem desenhados, curvados em um sorriso.

Pena que o sonho durou pouco...

Abri lentamente meus olhos, piscando-os algumas vezes devido a forte luz que adentrava o cômodo pela janela. Me levantei e abri a cortina, deixando o quarto ser iluminado pelo Sol.

Fiz minha higiene diária e fui para a sala, encarando o relógio parado. Eu tinha algo para fazer hoje, o que era? Lembrei-me, uma reunião, como pude esquecer?!

Peguei meu cachecol e uma maçã da cozinha, saindo apressado do apartamento e chamando o primeiro táxi que vi. Era uma reunião em Tokyo, sobre assuntos direcionados à ataques terroristas entre outros problemas.

Olhei para o relógio em meu pulso, dez minutos, nada tão grave, mas conhecendo as outras nações, eles não me popupariam de sermões e reclamações, principalmente Alfred e Arthur. Incrível como eles eram parecidos em ocasiões distintas, mas também muito diferentes.

O motorista chamou minha atenção, indicando que já tínhamos chegado ao lugar. Agradeci com meu japonês um pouco enferrujado e lhe entreguei o dinheiro que devia, saindo do veículo e encarando o prédio. Enorme, era tudo o que eu via, muito moderno também, típico do Japão.

Entrei e fui até a recepcionista, perguntando a sala onde deveria ocorrer a reunião. Ao receber a informação necessária, agradeci e me dirigi ao elevador, onde vi Toris e Eduard. Cumprimentei os dois com um aceno, fazendo os dois abrirem um sorriso torto. Estavam tremendo, como sempre.

— Доброе утро.

— B-bom dia para o senhor também, Ivan — Falou Toris, ainda trêmulo.

— Por que está tremendo Toris? Não vou lhe fazer mal...

— E-eh!? Não é nada! É apenas o frio!

— Certeza?

— Ah, Toris, nosso andar chegou, tenha uma boa reunião — Foi a vez de Eduard falar, puxando Toris para fora do elevador.

Revirei os olhos com um sorriso cômico, aqueles dois nunca mudaram.

Chegou ao meu andar, sai do elevador e andei pelo corredor, cumprimentando algumas nações que eu conhecia, que como sempre tremiam sob a minha presença. Isso é um pouco enjoativo.

Cheguei na sala, hesitei um pouco de entrar, queria ouvir as conversas antes de entrar, isso virou um costume para mim. Tudo parecia normal, brigas, discussões, Ludwig tentando colocar ordem mas falhando várias vezes. O típico de uma reunião. Mas eu senti falta de algo, senti falta de alguém, senti falta de uma voz, senti falta dele.

Entrei na sala, comprovando o que percebi, Alfred não estava lá. Percebi os olhares sobre mim, me deixando um pouco nervoso. Tentei ignorar e sentar em minha cadeira, o que não funcionou muito.

— Está atrasado — O britânico exclamou, mexendo uma pequena colher numa xícara, provavelmente chá — Poderias explicar o motivo, Ivan?

— Desculpe a demora, eu tive alguns imprevistos com o horário e acabei perdendo alguns minutos — Expliquei — Perdi algo importante?

— Não se preocupe, até agora só tivemos discussões por parte de Francis e Arthur — Arthur revirou os olhos, sem paciência — E alguns comentários desnecessários sobre o possível motivo do seu atraso — Ludwig, junto de todos, direcionaram olhares irritados para Francis.

— O quê? Apenas disse que estar com alguém era uma possibilidade mon chérie — Francis protestou.

Sentei-me na cadeira, observando o lugar vazio de Alfred, tentando imaginar o porquê de sua falta, não fazia sentido. Ele não faltava com tanta freqüência, ou melhor, não faltava nunca. Fiquei praticamente toda a reunião encarando aquele lugar.

— Ivan, está ouvindo aru? — Yao estava repetindo aquilo à algum tempo.

— Ah! Sim, estou, o que foi?

— Está olhando bastante para o lugar que o Al senta, vee~ — Feliciano disse, com o típico tom de voz infantil — Aconteceu algo?

— Nada, apenas estou me perguntando a falta, ele avisou algo?

— Não, aquele idiota faltou sem nenhum aviso, falta de cavalheirismo, diria eu — Arthur se pronunciou — Provavelmente está dormindo, comendo ou fazendo idiotice por aí.

— Oui, oui, é o típico do Alfred

—De qualquer forma, deveremos continuar essa reunião sem ele — Kiku falou indiferente, fazendo todos concordarem.

Voltaram aos seus afazeres, me deixando ali, mais curioso sobre o paradeiro do americano. Aquele grande capitalista de merda, além de fazer questão de esfregar na minha cara que ganhou a Guerra Fria, ainda rouba meu coração? Tsc, grande filho da puta.

A reunião terminou, rapidamente saí daquela sala e me dirigi a saída, ignorando os olhares que se direcionavam à mim, quando vão entender que eu não vou matar eles? Tenho coisas mais importantes que torturar nações pequenas.

Comecei a caminhar pelas ruas vazias de Tokyo, com um pouco de receio, afinal, sempre pode aparecer algum louco para te roubar, e esse é um dos motivos de sempre estar armado para qualquer lugar que eu vá.

Ainda procurei um motivo aceitável para a falta de Alfred, aquela suspense toda estava me fazendo ficar maluco. Ele sempre fazia questão de ser o primeiro à chegar, ou pelo menos tentava, para falar aquelas baboseiras sobre heróis que ele via em seus filmes e jogos, e de alguma forma, ele conseguia fazer aquela sala de reunião ficar mais animada, viva. Essa era, de fato, uma de suas habilidades mais notáveis. Conseguir fazer todos rirem e deixar Arthur menos irritado é sim um grande feito. Ao contrário de mim, que sempre deixo todos com medo sob minha presença.

Parei bruscamente minha caminhada, sentindo uma mão segurar meu cachecol e puxar para um beco. Gelei. Tentei alcançado meu revólver do casaco, mas a pessoa fora rápida demais e segurou meus pulsos, fazendo a arma cair no chão. Fechei fortemente meus olhos e virei o rosto, ficando naquela posição desagradável e indefesa. Não tinha mais como fugir.

O homem prensou seus lábios contra os meus, deixando-me em choque. Empurrei o mesmo para longe com as forças que tinha. Ao abrir os olhos, me deparei com a última pessoa que eu imaginava em ver ali.

— Alfred?!

— Que posição curiosa Ivan!

— O que está fazendo aqui?! — Perguntei, ainda surpreso pela repentina, e deveras curiosa, aparição.

— Ora, vim salvar você, afinal, eu sou o herói! — O mesmo me encarou com um sorriso convencido no rosto.

— Não pode sair beijando os outros por ai, idiota!

— Não? Mas eu ouvi o Francis falando para o Kiku que essa é a melhor forma de conhecer alguém — Disse, fazendo uma pose pensativa.

Tem como isso ficar pior?

— O que quer, Alfred?

— Eu quero ser seu amigo!

— Pra me dar uma rasteira depois? Não, muito obrigado.

— Por que eu faria isso? Não estamos numa guerra.

— Alfred, não tente me enganar, você já fez isso diversas vezes. Você acha mesmo que eu nunca quis ser próximo de você e dos outros, sem segundas intenções? Ou você acha que só porque eu chego perto de algum ser, é para matar ele, ou seja lá o que vocês pensam. Você nunca deixou eu dirigir uma palavra com você, Alfred. Isso dói, Al, isso machuca, eu não quero ser visto como um psicopata por causa de erros passados — Lágrimas escorriam pelo canto dos meus olhos, ótimo, só faltava isso.

— Eu nunca pensei que você se sentia dessa forma, quero dizer, você sempre age como se isso fosse normal.

— Claro que você nunca pensou nisso, tudo o que você faz é pensar em si mesmo, nem que isso afete negativamente os outros. Você é nojento, Alfred.

— Ivan...

— Para, eu cansei de mentiras, me deixe sofrer sozinho.

— Você não está sozinho.

— Mesmo? Garante que se formos amigos, não irá me abandonar com a primeira crítica e ameaça que receber? Não minta para si mesmo.

Ele se silenciou, me encarando com os olhos azuis arregalados, a sua expressão demonstrava surpresa e... Arrependimento?

— Olhe, Ivan, apesar de tudo, apesar de todos os conflitos e brigas, de todo esse ódio que tínhamos um pelo outro à alguns anos atrás, e até mesmo atualmente, saiba que eu quero lhe ver bem. Você é importante para o mundo, assim como para mim também — Ele se aproximou e deu-me um selinho, se afastando e me deixando a sós.

Toquei meus lábios, encarando o chão daquele beco. Sorri, um sorriso pequenos, sincero, um dos poucos que eu dera em minha vida que fora verdadeiro. Um dos poucos que dei sem segundas intensões. Eu estava ali, parado, com um sorriso besta no rosto.

Agora eu sei que não estou sozinho.

Sai dali, caminhando em direção do apartamento que estava hospedado, ainda com as esperanças em minha mente.

~XxX~

De novo, tive o mesmo sonho da noite anterior, mas o mesmo estava mais alegre, estava mais ensolarado. Ele ainda continuava lá, olhando os girassóis como uma criança, com um sorriso no rosto.

Acordei, levantando-me e fazendo as ações rotineiras da manhã. Encarei o relógio, era cedo ainda, faltavam cerca de uma hora pro início da reunião. Sai de casa e peguei um taxi, indo até o prédio onde ocorreria novamente a reunião.

Algo me diz que ele estaria lá hoje, e isso me motiva a vê-lo.

Cheguei ao prédio, pagando o taxista e entrando no mesmo. Encarei as pessoas dali todas eram as mesmas de ontem, exceto pelo pequeno garoto loiro de olhos azuis e roupa de marinheiro, que tentava chamar a atenção das outras nações. Ignorei e fui ao elevador, me deparando com Arthur.

— Bom dia, Arthur.

— Bom dia, Ivan, estou feliz por não ter se atrasado de novo, essa reunião é importante.

— Todas as reuniões são importantes para você, Arthur — Soltei uma pequena risada, atraindo um olhar curioso do rapaz loiro.

— Aconteceu alguma coisa, Ivan?

— Nada, por quê?

— Está diferente, menos sério. Algo deve ter acontecido, mas como eu sou um cavalheiro, deixarei que não conte caso não queira.

— Agradeço.

O elevador chegou no meu andar, saí do elevador me despedindo de Arthur e comecei a caminhar até a sala de reuniões, cumprimentando todos no caminho, arrancando as mesmas expressões receosas. Mas eu não ligava, tudo o que eu queria era ver Alfred.

Cheguei à sala, um pouco hesitante em abrir a porta, tinham vozes lá dentro, vozes conhecidas. Alfred e Kiku. Abri a porta, fazendo o mínimo de barulho possível, ignorando meus pensamentos. Arregalei meus olhos ao ver a cena. Kiku e Alfred estavam se beijando ali, na mesa. Kiku parecia calmo enquanto Alfred estava aparentemente surpreso.

Ótimo, mais uma vez me deixei levar pelo charme daquele monstro.

Fechei a porta com força, saindo dali rapidamente, com lágrimas saindo dos meus olhos. A última coisa que vi fora os dois olhando para a porta. Eu me senti nojento, por acreditar mais uma vez nas mentiras dele, por pensar que o mesmo seria honesto ao menos uma vez na vida. Eu estava enganado.

Agora eu tenho certeza, eu estou sozinho.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.