Uma semana.

Uma semana havia passado desde a assinatura, desde sua guerra com aquele que mais prezava, respeitava: Capitão América... Ou melhor, Steve Rogers.

Se tinha uma coisa que ainda lhe assombrava durante seu sono, era a figura do outro, imponente com o escudo em mãos, pronto para mata-lo, porém ele não o fez. Também havia sua própria imagem, cega por sentimentos – dor, tristeza, raiva e vingança –, atacando Steve e Bucky incansavelmente, tendo apenas alguns lampejos de razão, que era exatamente onde ele se defendia e atacava, apenas isso, de resto, estava cego, dominado pela vingança, como um monstro a procura de sangue.

Anthony Edward Stark soltou um longo suspiro e apoiou sua cabeça nas mãos, diante de várias janelas abertas brilhando em azul, confinado em seu laboratório, pensando nisso, parecia que sua cabeça não havia mais espaço para outra coisa. Nem em sua cabeça, nem em seu corpo, que ainda doía por causa dos ataques desferidos por Steve e Bucky.

Tentava se concentrar em Rhodes, seu melhor amigo, agora sem os movimentos das pernas, era sua prioridade desde o acontecimento. Tinha que acompanhar o progresso, melhorar o aparelho, o local, tudo. Ele queria que Rhodes estivesse curado o mais rápido possível... Em circunstancias normais, ele já estaria se saindo muito bem, com resultados ótimos no tratamento, mas Tony não era o mesmo desde tudo aquilo.

Do lado de seu cotovelo apoiado na mesa, havia um celular antiquado, com uma carta embaixo.

Ele não se separava deles. Estavam sempre por perto. Em seus bolsos, em cima de mesas, do lado de sua cama – mais especificamente, do lado de seu travesseiro, sempre por perto.

“Não vou fazer isso. Não preciso disso.”

Seu orgulho gritava, mas seus sentimentos também.

Sabia que não guardaria rancor de Rogers e por isso, sabia que, querendo ele ou não, já havia perdoado o supersoldado e agora culpava-se por não entender seu lado, seus motivos e por ter agido daquela forma.

“Se eu tivesse sido um pouco mais racional. Se eu não tivesse sido influenciado por sentimentos... Talvez...” – Ele balançou a cabeça, já havia passado. Nenhum desses “se’s” iriam mudar algo no presente.

Sentindo-se mentalmente exausto, Tony levantou a cabeça e encostou-se indelicadamente no encosto de sua cadeira. Fechou os olhos com a cabeça virada para cima, seus braços pendiam nas laterais da cadeira e suas pernas estavam esticadas.

Parecia que havia algo faltando.

E ele sabia que realmente estava.

— Tony?

Stark se assustou, debateu-se na cadeira, bateu a ponta do pé debaixo da mesa e arrumou-se. Rodou a cadeira e pode ver seu amigo, na cadeira de rodas, olhando-o.

— Rhodes. – Tony passou as mãos no rosto e levantou-se. – O que está fazendo aqui a essa hora? São mais de duas da madrugada.

— Eu sei e é isso que eu te pergunto.

— Você sabe muito bem que eu não consigo dormir cedo. – Ele sorriu.

Rhodes encarou o outro, mostrando-se desconfiado e sem hesitar, rodou as grandes rodas da cadeira e se aproximou das janelas abertas, com vários dados rodando, imagens, gráficos, contas, tudo.

Ele exprimiu os olhos para ler algo relativamente diferente: “Recuperação para afetados por soviéticos”.

— Tony.

Com um suspiro pesado, ele olhou para o título de seu novo projeto e disparou: – Sexta-feira, feche todas as janelas.

— Tony, você sabe o que quer, por que ainda não o fez?

— Rhodes, acho melhor voc—

— Aquilo tem a ver com o Bucky, não tem?

— Não.

— Tony. – Ele o encarou. Tony sabia que ele o conhecia melhor do que ninguém para saber o que ele fazia ou deixava de fazer.

— Você sabe que eu não estou fazendo isso por ele...

Rhodes sorriu.

— Bem, de qualquer forma, vá dormir logo, está fazendo barulho, cabeça de lata.

— Boa noite para você também, Rhodey.

Tony esperou ele sair, certificou-se de que ele havia ido dormir e então voltou para sua incansável pesquisa.

— Sexta-feira.

Logo vários pontinhos azuis expandiam-se e mostravam uma grande quantidade de conteúdo, muitas vezes sendo modificados por Tony, corrigidos e até mesmo excluídos.

— Palavras. Lavagem cerebral... E em russo... Tsc.

Anthony deu meia volta e passou a mão na cabeça, bagunçando seu cabelo, bufando pesadamente.

— Nada é impossível para mim... – Ele murmurou. – E eu preciso conseguir isso.

“Afinal de contas, ele é muito importante para o Steve.”

Com esse pensamento preso em sua mente, Tony olhou novamente para o celular em cima da mesa. E mais uma vez, conteve-se.

“Não vou ligar.”