O sol nasceu preguiçoso naquela manhã, escondendo-se por trás das nuvens espessas. A brisa passava tranquila pelas folhas das árvores da floresta que cercava Storybrooke, arrepiando aqueles que encaravam as primeiras horas do dia. Regina espreguiçou-se na cama quando sentiu pequenos dedos contornando suas bochechas, seguidos de um peso extra em sua barriga. Com um sorriso, a morena passou os braços pelo corpo da filha, ajustando-a, e abriu os olhos aos poucos, acostumando-se com a claridade.

— Hey, princesa!

— Shi! – Júlia sussurrou levando um dedinho para cobrir a boca. – Sono, mamãe.

Regina sorriu para a imagem de sua pequena, encolhida, e puxou o edredom para que a cobrisse também, transformando-o em um casulo.

Acordaram horas mais tarde quando Henry se uniu a elas na cama. O garoto passou o braço por cima das costas da irmã, para conseguir abraçar ambas, e permaneceram assim, em silêncio, pelos próximos minutos.

— Eu estava pensando... – Henry recolheu o braço e coçou os olhos. – Eu sou um garoto de sorte.

Regina puxou Júlia e girou o corpo para ficar de frente para o filho, deixando a menina aninhada entre eles.

— E o que te faz um garoto de sorte?

— Eu tenho duas mães incríveis, uma irmã que é a fofura em pessoa. – Cutucou a barriga da menina com um dedo, arrancando-lhe uma risada baixa. – Eu tenho a família que qualquer pessoa desejaria e eu estou feliz que tenha percebido isso antes que fosse tarde demais.

A rainha esticou os braços chamando o filho. Ele elevou o corpo para que pudesse passar por Júlia e se jogou no abraço da mãe. Regina o agitou como fazia com sua versão menor, muitos anos atrás e, como costumava acontecer, ele contorceu-se em risadas.

Após mais alguns minutos de abraços, Regina desceu as escadas para preparar o café da manhã. Após abrir as portas dos armários, constatando que nada tinha para cozinhar, espremeu os lábios em desgosto. Correu silenciosamente para a porta da cozinha e olhou o topo da escada, conferindo a distância segura dos filhos. Voltou-se para a bancada da cozinha e, após segundos de consideração, conjurou os alimentos com sua magia. Sorriu satisfeita para a aparência de tudo e pegou a louça para colocar na mesa.

Quando Henry entrou na sala de jantar, com Júlia segurando sua calça e uma expressão ainda sonolenta, ele não pareceu perceber que o pouco tempo em que estava longe da mãe não era suficiente para que tudo aquilo fosse preparado. Ele sentou-se no primeiro lugar da mesa, próximo à ponta onde Regina geralmente ficava. A morena tomou a filha nos braços e buscou pela cadeirinha, colocando-a de frente para o garoto.

Henry perguntou à Júlia sobre os possíveis dragões que ela havia enfrentado em seus sonhos naquela noite. Regina sorriu para a interação, um sorriso que não saía de seu rosto sempre que estava com eles. Um sorriso que dizia que não havia a mínima possibilidade de existir uma única mancha negra em seu coração.

— Eu estava pensando em fazer um quarto para Júlia para que você voltasse a usufruir do seu. – Regina tocou o antebraço de Henry, que descansava sobre a mesa. – Não é justo que permaneça no quarto de hóspedes apenas porque ela se sente mais segura aonde tem pelúcias.

— Eu gostaria. – Henry sorriu para a mãe e olhou para a irmã com adoração. – Mas não que eu me importe com ela roubando o meu quarto. Eu estava apenas com ciúmes quando disse aquilo.

Regina lembrou-se da conversa que tiveram logo que ela voltou para Storybrooke pela primeira vez. Inevitavelmente, uma risada de satisfação lhe escapou. Saindo de um momento em que Henry a rejeitava e indo para um onde ele sentia ciúmes dela, era um longo caminho que haviam percorrido.

— Posso comprar tudo hoje, se quiser.

— Sem pressão. – O garoto apanhou a última fatia de bacon de seu prato e tomou um grande gole de suco de uva. – Não sei se em Storybrooke tem algo que vá agradar uma princesa como ela.

— Bom, acho que Marco pode me ajudar com isso. – Regina piscou para o filho e alcançou uma mão de Júlia, que brigava para cortar um pedaço de panqueca. – Querida, você se lembra do conto do Pinóquio? – A criança agitou a cabeça ainda interessada na refeição. – O que você acha de visitarmos o pai dele, o Gepeto?

Os olhos de Júlia brilharam para a sugestão da mãe. Imediatamente esqueceu-se da panqueca, elevando os braços e balançando ambas as mãos.

— Gepeto!

Os três visitaram Marco e encomendaram os móveis para o quarto de Júlia. A pequena apenas não pode deixar de pedir para que ele a pegasse e lhe apresentasse Pinóquio. Quando o homem chamou seu filho, já em carne e osso, a menina tirou um minuto para entender, quando Regina lhe explicou, que as fadas o haviam transformado em um menino de verdade porque ele foi bom. Então, Júlia se animou e pediu para descer do colo do homem para que pudesse tocar, ela mesma, a pele de Pinóquio certificando-se de que a mãe estava dizendo a verdade.

— Você não acha perigoso contar isso a ela? – Henry cochichou.

— Não. Ela mal completou três anos. Não é como se alguém fosse acreditar nela.

Regina levou mais alguns minutos para convencer a filha a parar de cutucar o, não mais, garoto de madeira e saíram de lá direto para as lojas onde roupas de cama, papel de parede e pelúcias foram comprados.

Depois da manhã de compras, Regina pagou pelo almoço e seguiram para a mansão. Após a refeição, a morena jogou-se no sofá lendo um livro, com Henry no sofá ao lado fazendo o mesmo e Júlia sentada no chão, com várias folhas espalhadas pela mesinha de centro, onde ela rabiscava com giz de cera. Quando o sol começou a se despedir, Henry levantou-se passando a mão pelas rugas da camisa.

— Eu prometi que jantaria no loft. A senhora quer ir? Tenho certeza de que iriam adorar.

— Hum... – Regina olhou para a filha concentrada em seu desenho. – Acho que vou passar essa.

Henry agachou-se para beijar o topo da cabeça da irmã e caminhou para a saída, sendo seguido por Regina. A morena pegou o casaco do menino e o ajudou a colocá-lo. Henry virou-se para ela e beijou seu rosto antes de girar a maçaneta. Com a porta já aberta e o vento frio refrescando a casa, Regina suspirou apressando seus pensamentos. Henry girou o corpo para despedir-se mais uma vez, quando viu a morena mordendo o lábio inferior. Ele sorriu brevemente e esperou alguns segundos, sabendo que aquilo significava que ela precisava de um momento para dizer o que pretendia.

— Talvez Swan queira vir jantar amanhã? – Finalmente sugeriu e Henry abriu um sorriso antes de piscar para ela e seguir seu caminho.

— Eu vou me certificar disso.

***

Swan desceu do carro empunhando uma garrafa de vinho que manteve intacta por todo o tempo em que esteve em Storybrooke. Parou diante da porta da luxuosa mansão, ajustou a jaqueta vermelha, bateu um pé contra o outro para livrar-se da sujeira das botas e bateu na porta. Passos apressados do outro lado se aproximaram até que um Henry sorridente lhe atendeu.

— Hey, garoto!

— Hey, mãe. Entra. Adivinha o que mamãe e eu estamos fazendo. – Henry pegou a loira pela mão e a puxou para dentro. Antes que pudesse pensar em algo, Emma se deparou com uma grande árvore de Natal sendo enfeitada.

— Swan! – Regina ofereceu um pequeno sorriso de lábios apertados enquanto manuseava bolinhas coloridas.

— Regina! – Emma sentiu as pernas fracas no próximo passo. Tanto tempo sem ouvir o som da rouquidão da morena e ela não podia se lembrar o efeito arrebatador que tinham. – Oi, mocinha. – Emma aproximou-se de Júlia, sentada afastada da árvore, colando brilhos em uma grande estrela de plástico.

Júlia ergueu os olhos para a loira e sorriu brilhante, erguendo o seu trabalho com orgulho. Emma sentou ao seu lado e passou os braços envolta do pequeno corpo, beijando seus cabelos. Júlia entregou alguns brilhos para Emma e indicou onde havia cola para que a sheriff ajudasse. Emma colocou o vinho no chão, ao seu lado, e passou a despejar os brilhos no objeto.

— Júlia, está tudo pronto para a estrela. - Henry tocou o topo da cabeça da menina, chamando sua atenção.

Júlia ergueu os olhos para a árvore, admirada. Levantou seus bracinhos segurando a estrela e tentou levantar-se desajeitadamente. Emma pôs-se de pé e pegou a pequena em seu colo, erguendo-a para que alcançasse o topo da árvore onde fixou a estrela. Henry aplaudiu quando ela conseguiu, fazendo-a sorrir. Emma girou a pequena no colo, para que ficasse de frente para ela e sorriu quando viu os lábios esticados da menina, expondo os pequenos dentes de leite. A semelhança com Regina era impressionante. Emma havia percebido desde o primeiro momento. Ela era, simplesmente, a cópia cacheada da morena.

Quando a árvore estava perfeitamente montada, Regina buscou os presentes e distribuiu embaixo dela. Emma apanhou a garrafa de vinho ainda no chão e a entregou para a morena, que agradeceu com um sorriso mais aberto, dessa vez, e seguiu para a sala de jantar convidando Emma com um aceno de mão.

Durante o jantar, Emma precisou se esforçar para não elogiar o talento de Regina na cozinha a cada garfada, e a morena, para conter os sorrisos que, simplesmente, escapuliam de seus lábios todas as vezes, juntos a um rubor crescente em seu rosto.

— Mamãe está preparando um quarto para Júlia, para que eu possa voltar para o meu. – Henry cutucou a mão de Emma, quando ela não reagiu ao seu comentário, perdida em pensamentos. – Claro, com muitas pelúcias para que ela se sinta segura.

— Muitas pelúcias. – Júlia repetiu abrindo e fechando os dedinhos e um gesto que vira Regina fazer naquela tarde, quando se referia a isso.

— Hummm. E como são essas pelúcias? – Emma perguntou gentil, cortando um pedaço do peixe.

— Gato. – Júlia encostou o indicador no queixo, pensando. – Tigle. Onça. Pantea. — Franziu as sobrancelhas e refletiu por alguns segundos antes de se corrigir. – Pan-te-ra.

— Todos os felinos que encontrou na loja. – Regina girou os olhos divertida. – Mas tem mais um que você não está se lembrando, e esse não é um felino. – Regina aproximou-se da filha e sussurrou em seu ouvido.

— Cisne! – Júlia gritou animada, batendo as mãos sobre o prato e deixando alguns grãos de comida escaparem.

— Um cisne? – O sorriso de Emma cresceu vendo a alegria da criança, que a encarava com olhos ansiosos. – Sabia que eu sou um cisne? Agora você tem uma Emma com você o tempo todo.

— Céus! – Regina resmungou com humor, recebendo o olhar animado de Júlia. Antes que a menina tivesse a chance, a morena respondeu à pergunta que viria. – Após o jantar você pode buscá-lo.

Regina percebeu que Júlia apressou-se em terminar a refeição e a acompanhou, consciente de que não poderia retardar a diversão da filha apresentando o novo brinquedo. Quando todos cruzaram os talheres, Regina levou o guardanapo até a boca e a limpou, juntamente com Henry, fazendo Emma imitá-los.

— Henry, você poderia...

— Claro. – Antes que Regina terminasse, o garoto tomou a irmã no colo e saiu do cômodo.

As duas mulheres permaneceram em silêncio pelos primeiros segundos, que arrastaram-se incômodos. Emma bateu as coxas uma contra a outra, tímida. Quando Regina notou o movimento, e a encarou, Emma limpou a garganta e ensaiou um sorriso.

— Gostei do cabelo. Se parece com o corte que tinha quando nos conhecemos.

— É, eu já não me reconhecia mais com os cabelos longos.

— Ficou muito bonito, combina com você.

Regina sentiu o rubor esquentar seu rosto e levou a taça de vinho à boca, falhando em disfarçar. Emma sorriu com a constatação e limpou a garganta novamente, mas logo Henry irrompeu pelo cômodo trazendo uma Júlia agitada em seu colo. O garoto entregou a irmã para Emma e correu para a cozinha. Quando voltou, trazia três porções de fondue de chocolate. Colocou uma a frente de Emma, outra para Regina e sentou-se com a própria.

— Você já escolheu um nome para ele? – Swan afastou a sobremesa para que o cotovelo de Júlia não trombasse com ela.

— Ela. – Júlia corrigiu e fez um carinho na pelúcia. – Ainda não.

— Ela é linda. – Emma acompanhou o carinho da menina no novo brinquedo. – Quando você escolher um nome, não deixe de me contar, tá bom?

— Uhum. – Júlia descansou o cisne nas pernas e cresceu seus olhos para o doce a sua frente. Quando os dedinhos estavam alcançando-o, Regina a interrompeu.

— Júlia, você vai comer comigo. Vem cá. – Levantou-se para pegar a filha.

— Eu posso fazer isso. – Emma pegou a colher e mergulhou na sobremesa.

— Você não vai querer comer toda a baba dessa bagunceira. – Regina riu da expressão de Emma e esticou os braços para a filha.

— Eu posso mesmo fazer isso. Até porque, ela parece ser bem limpinha. – Swan abandonou a colher e aproximou o nariz da boca da criança, fingindo cheirá-la.

— Oh! – Regina cruzou os braços em falsa arrogância. – É claro que ela é limpa. Não é, querida?

Júlia assistiu a interação entendendo pouco e, enfim, esticou os braços para a mãe, com uma mão agarrando a pelúcia. Regina voltou para o seu lugar, com a menina no colo, e apanhou um pouco de sobremesa, assoprando antes de oferecer para a filha. Henry falou sobre os presentes que ainda faltava comprar. Emma percebeu que os que Henry citava agora eram consideravelmente mais caros do que todos que ele já tinha comprado e não pode deixar de remexer-se desconfortável para o fato de que o filho havia deixado aqueles para quando Regina chegasse e, claro, lhe estendesse o cartão de crédito.

— Nós podemos ir às compras amanhã? – Henry ofereceu já de pé, ao lado da mãe morena.

— Claro. Amanhã é perfeito. – Regina levantou-se limpando o rosto de Júlia, onde o chocolate estava grudado. – Se não se importa, Swan, eu vou apenas terminar de limpá-la e colocar na cama.

— Fique à vontade. – Emma se pôs de pé e passou a recolher os pratos. – Enquanto isso eu ajudo com a louça.

Regina sorriu e caminhou para a escada, sendo seguida por Henry, que deu um beijo de despedida em Emma. Quando ficou sozinha, a sheriff puxou o ar com profundidade, recuperando-se de todas as vezes em que Regina lhe direcionou o olhar. Swan terminou de recolher a louça e as colocou na máquina de lavar. Desconcertada, andou em círculos pela cozinha, quando percebeu o que estava fazendo, interrompeu seus passos e pensou no que faria se estivesse na casa da morena em Boston. Quando a resposta chegou, andou até a sala e sentou-se reta no sofá.

— Demorei? – Regina entrou na sala segurando a garrafa de vinho e duas taças. Emma negou com a cabeça e levantou-se recebendo uma delas. – Júlia não dorme sem uma história. – Quando Swan apenas concordou com um aceno novamente, Regina derramou a bebida nas taças e sentou-se indicando um lugar para Emma ao seu lado.

— Eu não pensei que fosse aceitar passar o final do ano aqui. – Swan tomou um gole da bebida e cruzou as pernas, girando levemente o tronco na direção de Regina.

— Eu sei como família é importante para Henry e como ele considera os avós, então, eu não podia negar.

— Pensei que, talvez, você quisesse passar com os seus amigos.

— Foi difícil dissuadi-los da ideia me prenderem em casa. – Regina riu levando a taça aos lábios. – Mas eles compreendem que é importante para mim por ser o primeiro Natal após reencontrar Henry.

O silêncio novamente imperou entre elas naquela noite. Emma concentrou-se na ponta de sua bota e Regina no fundo de sua taça, que vez e outra balançava e misturava a bebida. Swan descruzou as pernas e trançou os pés em claro sinal de nervosismo. Regina buscou pela garrafa e serviu-se de mais vinho antes de começar a conversa que gostaria de ter desde o momento em que a loira entrou em sua casa mais cedo.

— Fazia algum tempo que não nos falávamos. – Regina iniciou insegura e ofereceu a garrafa para Emma.

— É. Fazia. – Swan completou sua taça e depositou a garrafa, novamente, na mesa a frente delas. – Eu estava reparando em Júlia e é incrível como vocês se parecem. Eu sei que foi Luna quem gerou, mas é apenas impressionante... – Emma parou quando Regina libertou a risada que tentava, em vão, prender. – O que foi?

— Nada. – A rainha balançou as mãos a frente do rosto. – É só engraçado você dizer isso.

— Eu sei. Soa um pouco ridículo, mas...

— Não. – Regina interrompeu tocando o braço da loira. – Não é ridículo. Ela realmente se parece muito comigo.

— Tudo nela lembra você.

Regina sorriu sincera, os olhos brilharam como uma constelação.

— Ela é minha filha biológica. – Regina anunciou e acenou com as mãos para que Emma ainda não falasse. – Quando Luna e eu pensamos em ter uma criança, ela sugeriu que tentássemos com o meu óvulo. Ela sabia que eu não posso engravidar, mas então colhendo meus óvulos e tratando, talvez a inseminação nela fosse possível.

— Então ela gerou uma criança sua?

— Sim. – Regina riu da expressão surpresa da loira. – Claro, com a ajuda de espermas alheios. – A morena entornou a boca em uma careta, fazendo Emma engolir uma risada.

— Isso é incrível!

— Parecia loucura, mas in vitro tudo funcionou. – Regina suspirou e Emma percebeu que sua mente não estava mais ali. – Luna queria gerar uma criança que fosse minha, que tivesse os meus traços, o meu sangue. Não que, se não fosse assim, ela seria menos nossa, mas era um desejo que ela tinha e eu compartilhei.

— Ela era, definitivamente, uma mulher perfeita. – Emma tentou sorrir, mas o fato de presumir que nada que ela fizesse superaria isso, causava dor em seu coração.

— Mas não estamos aqui para falar dela, estamos? – Regina escorou-se mais confortavelmente no sofá, direcionando um olhar simpático para Emma, como se soubesse o que passava pela cabeça dela.

— Não. Não estamos. – Swan tomou mais um gole de vinho. - E então, como você está?

— Eu senti sua falta. – Regina soltou abruptamente, ignorando a pergunta e fixando seu olhar no rosto pálido da loira. A boca de Emma abriu-se minimamente, mas o suficiente para o choque daquelas palavras serem capturados por Regina, que encolheu-se no sofá.

— Eu também senti sua falta. – Swan girou mais o tronco, espelhando a posição de Regina. – Todos os dias.

— Por que eu tive a impressão de que você não queria manter contato?

— Eu achei que você precisasse de um tempo. Não queria ser um incômodo ou passar a impressão de que estava te pressionando sobre qualquer coisa. – Emma colocou a taça ao lado da garrafa e uniu as mãos, apertando os dedos e os colocando entre os joelhos, nervosa sobre o rumo da conversa.

— Talvez eu precisasse mesmo de um tempo. – Regina deu um último gole na bebida antes de, também, abandonar a taça.

— Então, como você está agora?

— Muito melhor. – Regina deslizou pelo sofá, aproximando-se de Emma. – Obrigada por toda essa preocupação comigo.

— Não tinha como ser diferente. – A aproximação entre elas fez Emma sentir o estômago se agitar, então, em busca de controle, procurou por um ponto do outro lado da sala para observar.

— E você, como tem passado?

— Bem. A cidade segue sem grandes acontecimentos, o que me dá tediosos dias no trabalho, mas antes assim do que com a vida correndo perigo. – Uma risada escapou das narinas da sheriff e Regina a acompanhou.

— Caso alguma nova criatura mágica a ameace, me deixe saber.

— Porque você viria correndo para me salvar, é claro. – Emma implicou com falso deboche.

— É o que acontece com as princesas. – Regina cantarolou e afastou-se para recuperar a bebida. – Você vai conosco fazer as compras que Henry deseja?

— Eu vou trabalhar na parte da manhã. – Emma anunciou antes de olhar para uma Regina atenta a ela. Os lábios carnudos úmidos com o vinho, fazendo-a relembrar da última vez que beberam juntas, e o gosto que os lábios vermelhos tinham. Emma sacudiu a cabeça e voltou a encarar o ponto distante. – Talvez eu possa me juntar a vocês na parte da tarde.

— Claro. – Regina ofereceu um pequeno sorriso.

— É melhor eu ir andando se quiser me manter acordada na delegacia.

— Não me deixe viver em uma cidade dominada por bandidos. – Regina brincou levantando-se, acompanhando Emma até a porta

— Boa noite, Regina. – Emma guardou as mãos nos bolsos de trás do jeans, sem saber o que fazer com elas.

— Boa noite, Swan. Bom trabalho amanhã!

***

Regina caminhou lado a lado com Henry até o Granny’s, com algumas sacolas em mãos. Quando entraram no estabelecimento, o garoto apressou os passos até a mesa em que Belle estava sentada com Júlia. Jogou as sacolas sobre a mesa e tirou, de dentro de uma delas, duas camisetas em tamanhos diferentes. Em uma estava estampado os dizeres “big brother”, enquanto a outra dizia “little sister”.

— Olha, Jú, essas camisetas dizem que somos irmãos. Vamos usar? – Júlia analisou as letras coloridas, não identificando o que elas diziam ao certo, mas sorriu para Henry, concordando.

— Mãe, coloca nela. Eu vou me trocar.

Enquanto Henry corria ao banheiro, Regina retirou as sacolas de cima da mesa e as organizou no chão, ao lado.

— Muito obrigada por cuidar dela. Eu não conseguiria perambular por aí carregando-a no colo e ela rejeita o carrinho como o inferno. – A rainha passou as mãos por baixo dos bracinhos da menina e a pegou no colo antes de se sentar.

— Imagina. Ela é uma graça. – Belle ajudou Regina a retirar a camiseta preta que a pequena usava e substituir pela branca que Henry escolheu. – Parece que eles se dão bem.

— Sim! Henry está sendo incrível com ela. – Regina ajustou o peso da filha sobre suas pernas. – Uma das coisas que eu mais temi foi que ele a rejeitasse, mas hoje percebo que foi besteira. Ele é maravilhoso demais para uma atitude tão egoísta.

Belle sorriu para a rainha e lhe passou o cardápio. Enquanto a morena corria os olhos por ele, Henry voltou, já vestido, com a antiga camiseta dobrada embaixo do braço, ele a jogou dentro de umas das sacolas e ocupou um terceiro lugar na mesa. Quando Regina girou o pescoço em busca da garçonete, ela avistou Emma entrando no restaurante. Inconscientemente, a loira sorriu e, no mesmo instante, a rainha retribuiu.

— Quase pontual, Swan. – Regina implicou quando a loira ocupou o último lugar na mesa.

— Bom, um dia eu aprendo. – Emma passou os dedos pelo cabelo de Henry, bagunçando-o. – Boa tarde a todos.

— Agora que estão completos, eu vou para o trabalho. – Belle sorriu para os quatro e levantou-se, ajustando a bolsa no ombro.

— Mais uma vez, muito obrigada por cuidar dela. Eu estou totalmente disposta a pagar por isso.

— Não. Não, Regina. – A bibliotecária recusou passando uma mão pelo braço de Júlia. – Ela foi uma companhia muito divertida. – Abaixou-se para ficar da altura da menina. – Até mais, Júlia. – A pequena esticou sua mãozinha para o rosto daquela que foi sua companheira por toda a manhã, e fez um carinho no local.

Quando estavam sozinhos, Emma relaxou o corpo na cadeira e observou o trio.

— Então agora os dois vão andar por aí exibindo o parentesco?

— Muito legal, né? – Henry sorriu e olhou para Júlia, que sorria de volta.

— Muito legal mesmo. – Swan capturou o celular no bolso traseiro da calça e apontou para os dois. – Cadê os sorrisos?

Regina revirou os olhos, mas ergueu o corpo da menina para esconder o próprio rosto e exibir a camiseta. Júlia apoiou os pés nas coxas da mãe para manter-se de pé e abriu seu melhor sorriso.

— Lindos! – Emma elogiou em uma voz infantil e virou a tela para que todos pudessem ver.

Durante a refeição, enquanto Regina se dividia entre comer a própria e auxiliar Júlia, Emma notou que a morena não estava usando aliança. Havia apenas a marca mais clara no formato do anel que permaneceu ali por anos. A loira precisou encher sua boca com as batatas cada vez que a vontade de questioná-la sobre isso crescia. Forçou seu cérebro para se lembrar se na noite anterior Regina estava usando. Mas, simplesmente, não conseguia. Era como se ela tivesse bloqueado a ideia de olhar para as mãos da morena uma vez que sabia o que encontraria lá.

A excitação de pensar que Regina poderia mesmo estar superando e tentando seguir em frente, deixou a loira elétrica durante o restante do almoço. Henry lhe deu algumas cotoveladas quando seu comportamento tornava-se demasiado entranho. Apesar disso, Regina parecia não perceber, concentrada em evitar a bagunça que Júlia, geralmente, fazia. Emma respirou profundamente algumas vezes, antes de tentar uma conversa que a faria se distrair da recém descoberta.

— E então, o que falta comprar?

— Presentes, nenhum. Mas a mamãe concordou em ajudar com os enfeites aqui para o Granny’s e...

— Espera! – Regina o cortou, finalmente, prestando atenção ao que era dito. – Pensei que passaríamos a noite de Natal no loft. Você disse que seria em família.

— E será. – O garoto deu de ombros. – Acontece que a sua amiga, Snow, acha que todo mundo é família.

— Ela não acha que todo mundo é família, ela só não queria deixar Granny sozinha. E Granny não queria fechar aqui porque acha que sempre tem alguém sozinho que pode vir para cá encontrar outros solitários e então... – Emma batucou a mesa tentando criar um suspense. – Não estão mais sozinhos.

— Por causa disso a vovó transferiu a ceia para cá e convidou a cidade toda. – Henry completou voltando sua atenção para o restante da bebida em seu copo.

— Isso é a cara dela. – Regina retirou uma toalhinha da bolsa e passou pelos dedos da filha, livrando-a da gordura do almoço. – Então podemos ir atrás desses enfeites? Eu tenho algumas ideias.

— É claro que tem. – Emma colocou algumas notas sobre o balcão, levantou-se e pegou Júlia no colo antes de caminhar para a saída. – Eu já sou uma expert em decorar cômodos depois dos dias que passei com você em Boston.

Regina levantou-se e jogou seu cotovelo nas costelas da loira, acompanhando-a. Henry, que vinha logo atrás, girou os olhos, exatamente como a rainha fazia tantas vezes, para a implicância de suas mães, mas, inevitavelmente, um sorriso quebrou-se em seus lábios.