I Will Possess Your Heart

Capítulo IX – Give me a shot to remember.


Gerard...” Gerard ouviu uma voz fraca o chamando, não enxergava nada, nem ninguém. “Gerard, mostre a eles.” Gerard sentiu uma leve sensação de pânico tomar conta de seu corpo. Ele sabia de quem era aquela voz. Era do corpinho que ele tanto almejava. Era de Frank.


“Frank?”


Gerard, você sabe... você sabe onde eu estou. Por favor. Acorde.” Gerard sentiu uma mão em seu ombro, enquanto ouvia a voz de Bert de longe o chamando.


“Eu não consigo.”


Eu vou te ajudar.” Gerard sentiu frio. “Por favor.


“Gerard?” Acordou. Olhou ao redor, Bert estava do seu lado, segurando-o pelos ombros. “Sh, ele acordou.”


“Frank...” Quinn encostou o carro e olhou para Gerard. “Eu sei onde ele está.” Notou Ray no banco da frente, com um sorriso maníaco em seus lábios. “Eu sei.” Oh, Frank. Por favor. Me ajude.

“Certo.” Quinn falou. “Acalme-se.” Olhou para Bert, pedindo ajuda. “Eu... Gerard, eu não sei se...”


“Faça o que ele mandar, Quinn.” Bert sibilou. “Confie nele. Confie em mim.”


Quinn suspirou e olhou para Ray, que estava quieto e ofegante. Quinn estranhou, mas não disse nada. Voltou a olhar para Gerard, que parecia perdido. Gerard olhava de Bert para Quinn, nervoso. Suas mãos suavam, seu coração palpitava. Não fazia idéia por onde começar, não sentia nada, não sabia onde Frank estava. Estava desesperado.


“Certo. Nós vamos...” Quinn ligou o carro e olhou para Gerard. “Nós...” Gerard ia inventar qualquer caminho, mas sentiu um vento em sua nuca. Era Frank. Seu corpo todo estremeceu, olhou para Quinn, mas seu rosto não passava de um borrão. Fechou os olhos e sentiu um líquido quente descer pelas suas narinas. Lágrimas brotaram no canto de seus olhos. Sentiu duas mãozinhas quentes em seu peito, o reconfortando. “Espera.” Saiu do carro e abriu a porta do motorista. “Eu dirijo.” Quinn olhou desesperado para Bert, que pediu silenciosamente para ele obedecer. Quinn saiu do carro a contragosto e se jogou ao lado de Bert. Gerard se sentou no banco do motorista, com os olhos fechados. Respirou fundo e deslizou os dedos finos sobre o volante. Abriu os olhos, mas não conseguia enxergar ninguém. Sentia a presença dos amigos, mas via apenas um enorme borrão preto no rosto de cada um. Olho fixamente para frente, a pista se movia sozinha, podia ver luzes piscando, indicando inúmeras direções. Seu coração batia numa velocidade inumana. Tentou controlar sua respiração. “Por favor, por favor... Frank. Por favor.” Sussurrou para si mesmo. “Por favor.” Sentiu um leve tremor em seu corpo, suas órbitas se reviraram, sua expressão se congelou. Ligou o carro e pôde ouvir Quinn ofegar atrás de si, e um Ray ansioso, batendo os dedos em suas próprias pernas. Fechou os olhos e acelerou. Ouviu a voz de Quinn berrando para Bert, e Bert tentando argumentar. Gerard relaxou, deixou seu corpo ser invadido pela presença de Frank e perdeu a noção do tempo. Não sabia se estava há uma hora ou um minuto na estrada. Não sabia de nada, não sentia nada, apenas ansiava encontrar seu pequeno. Uma freada brusca. Gerard abriu os olhos, Bert agora estava do seu lado, com os olhos arregalados. Quinn estava atrás, juntamente com Ray. O primeiro estava petrificado, o segundo sorria sem parar.


“Gerard?” Bert segurava uma camiseta encharcada de sangue. Gerard sentiu uma pontada de dor em seus pulsos, que estavam abertos, com o sangue escorrendo livremente. Deslizou os dedos pelo seu rosto, também havia sangue saindo de suas narinas. “Nós... nós chegamos? Estamos dirigindo há umas duas horas.” Bert passou o tecido no rosto de Gerard, retirando o excesso de sangue. “Espera.” Rasgou a camiseta e amarrou o pedaço de pano em cada um dos pulsos de Gerard. “Pronto. E então?”


Gerard tentou falar, mas sua garganta doía. Abriu a porta. Os três o seguiram e também saíram do carro. Estavam numa estrada deserta, de terra, com enormes árvores os cercando. Gerard andou até o grande matagal, seguido pelos amigos. Ray correu até ele e agarrou seu pulso. Gerard sentiu sua pele queimar com o toque e se afastou rapidamente, arregalou os olhos e parou, frente a frente para Ray.


“Desculpe...” Ray olhou para a palma de suas mãos, que estavam negras e abriu um enorme sorriso. Notou que os outros dois estavam se aproximando e colocou as mãos nos bolsos da calça. “Continue.” Gerard sentiu seu corpo estremecer ao ouvir a voz de Ray. Estava com medo. “Vamos.” Os olhos de Ray estavam vermelhos, arregalados. Seus lábios estavam petrificados num enorme sorriso.


“Você... se importa se eu for na frente?” Gerard sussurrou, olhando para os próprios pés, com medo de encarar os olhos de Ray. “Eu acho que... que seria melhor.”


“Tem certeza?” Ray perguntou, afetado. Gerard fez que sim. “Certo. Eu vou esperar os dois, e depois vou atrás.”


Gerard mal esperou Ray terminar de falar e se atirou no meio da mata, se sentia tonto, seu corpo estava gelado, o sangue não parava de jorrar de seu nariz, mas ele não ousava parar. Sentia como se sua cabeça estivesse sendo esmagada. Não conseguia distinguir mais nada. “Frank...” Se agarrou a uma árvore e olhou para baixo, tentando se recuperar. “Frank, por favor.”


Gerard?” Sentiu duas mãozinhas em seus ombros. “Gerard, eu...” Gerard sentiu uma fisgada em seu pescoço. “Eu não agüento mais... por favor.” Gerard estava sufocando, algo apertava seu pescoço, seus pulsos. Marcas arroxeadas apareceram em seus braços. “Ger... aww.” Gerard voltou a caminhar, cambaleante.


“Frank...” Gerard tentava gritar, mas não tinha forças. Tropeçou em galhos e caiu num monte de terra. “Fran... Frank...” Agarrou-se em uma árvore e se pôs em pé novamente. Seu corpo todo doía, a pele de seu pescoço estava rasgada, o tecido de seus pulsos estava encharcado de um sangue negro. “Eu vou...” Gerard fechou os olhos e voltou a caminhar, se agarrando em galhos e árvores. “Frank...” Sentiu um vento gélido em seu rosto. Tentou andar novamente, mas seu corpo não obedeceu. Abriu os olhos. “Ah, meu Deus...” Havia um enorme buraco no chão, com uma pequena escada enferrujada na lateral. Gerard correu até a escada e se pôs a descer rapidamente. No interior, havia lamparinas acesas e um túnel apertado. Gerard se espremeu entre as paredes de terra e seguiu as luzes. Metros depois, Gerard encontrou um buraco escuro na lateral do túnel. Pegou seu celular, trêmulo, e o ligou, tentando iluminar o local. Ouviu um pequeno gemido. “Frank?” Pôde ouvir sons de correntes se colidindo, estremeceu e sentiu mais uma pontada de dor em seu pescoço. Caminhou lentamente para o interior do buraco, tentando iluminar com a luz fraca do celular, e ouviu uma respiração acelerada, arfante. Andou mais um pouco e sentiu algo macio sob seus pés. Um colchão. “O... o quê?” Apontou o celular para frente, imediatamente seu coração passou a palpitar freneticamente. Havia um corpinho ensangüentado, preso em correntes, em posição fetal. “Frank?” Gerard correu até o corpinho, e o segurou em seus braços. “Frank... Frank? Eu tô aqui. Fala comigo.”


“Ger...” O menor abriu os olhos com dificuldade pela claridade, Gerard desligou o celular, ficando apenas no escuro.


“Shhh. Tá tudo bem... Tá tudo bem.” Gerard afagava os fios sujos do topo da cabeça do menor. “Eu vou te tirar daqui.” Colocou o corpinho encostado na parede enlameada e segurou as correntes. Pegou o celular novamente e viu que as correntes estavam presas exatamente onde seu próprio corpo estava ferido, e havia marcas iguais as suas em todo o seu corpo. Notou que as correntes não estavam presas a nada, apenas no próprio corpo do menor. “Eu vou te levar embora, você consegue se agarrar em mim?” Frank tentou falar, mas sua voz não passou de um arquejo. Gerard pegou as duas mãos presas em correntes e colocou-as em seu pescoço. “Sh. Já vamos sair.” Encostou a cabeça do menor em seu pescoço e o segurou pelas coxas magras. “Pronto?” Ouviu um leve gemido. “Fica calmo.” Fez um impulso e se levantou.


“Gerrr.”


“Sh, não fala. Calma...” Seguiu o mesmo caminho lentamente, com as pernas trêmulas pela falta de força, e parou na escada. “Agora nós vamos subir, okay? Feche seus olhos.” Gerard subiu a escada, vacilante, com Frank pendurado em seu corpo. No topo, jogou seus corpos para fora do buraco, ofegante. “Pronto... Passou.” Tirou as mãos de Frank de seu pescoço e o deitou delicadamente sobre a terra. Notou que o menor estava esquelético, como se não comesse há meses. O menor se rastejou para mais perto de Gerard. “Calma, eles já estão chegando. Nós vamos para casa.” Gerard encostou a cabeça na terra, exausto. Ouviu um som de galhos se quebrando e sorriu.


“Gerard?” Era Bert. “Gerard? Cadê você?”


“Meu Deus... MEU DEUS. É O FRANK?” Quinn correu rapidamente até os dois e pegou Frank nos braços. “Bert!” O outro se aproximou e segurou Gerard pelos ombros. Ouviram outra pessoa se aproximar lentamente.


“Você... você o achou?” Ray gritou. “Eu sabia. Caralho, eu sabia.”


“NÃO!” Frank rasgou o ar em sua volta. “Você... não...” Gerard olhou para Frank, desesperado. “Foi ele. Foi ele... Ele me colocou lá.”


“O quê?” Bert ficou em pé. “O Ray o quê?”


“Ah, pelo amor de Deus.” Ray disse, sorridente. “Vocês não percebem o que está acontecendo aqui?” Passou as mãos sujas de terra pela enorme cabeleira. “Vocês são tão idiotas. Olhem o que aconteceu. É um milagre!” Gerard olhou para Frank, que se encolhia nos braços de Quinn. “Bert, você não é tão estúpido assim. Você não se lembra?” Retirou um pedaço de papel do bolso e jogou em Gerard. Era a imagem de um livro que Ray mostrara para ele em sua casa. “É um milagre... Eu sabia. Eu consegui.”


“Que porra você tá dizendo, seu filho da puta?” Bert se jogou em Ray e o agarrou pela sua camisa.


“Ei... Calminha aí, Bert.” Ray empurrou Bert para o lado. “Você...” Apontou para Gerard. “É tão patético. Tão estúpido. O Frank sempre te amou, sempre foi capaz de morrer por você... E você nunca notou a presença dele. Estava sempre metido no seu mundinho ridículo.” Gerard arregalou os olhos e tentou se levantar, sem sucesso. “Não. Fica aí, seu babaca. Vocês... vocês não percebem o que eu fiz? Eu juntei vocês. Vocês são almas gêmeas... E nunca teriam percebido isso se não fosse por mim.”


“Por quê? Por que você fez isso com ele?” Gerard ofegava.


“Ah, como por quê? Olhe para a imagem, Gerard. Olhe para esse maldito papel.” Chutou um monte de terra no rosto de Gerard. Bert deu um grito, mas Ray o olhou de forma maníaca. “Almas gêmeas. Só conseguem se comunicar ante o desespero. Se eu não fizesse algo do tipo com algum de vocês, isso não aconteceria. Ele tinha que precisar da sua ajuda.”


“Você é doente... É louco.” Bert vociferou e voou em cima de Ray.


“Pelo amor...” Ray segurou Bert pelo colarinho e o jogou novamente no chão. Se aproximou lentamente de Frank e se ajoelhou. Olhou para Quinn e começou a rir. “Sai.” Empurrou Quinn que acabou caindo no buraco. Agarrou Frank pelo pescoço. “Você não vai me agradecer? Eu fiz aquele professorzinho de merda te amar.” Frank olhava para Ray com repugnância. “Vamos, você tem que...” Um grito cortou a frase. Gerard corria na direção de Ray com um pedaço de madeira.


“Seu filho da puta.” Lançou o objeto na nuca de Ray, que caiu estirado no chão. “Bert, pegue o Frank.” Gerard se ajoelhou e olhou para o interior do buraco. “Quinn?” Um tufo de cabelo loiro apareceu nas escadas, Gerard ofereceu sua mão e o puxou. “Jogue esse desgraçado aí dentro.” Gerard se virou para Ray, mas ele havia desaparecido, juntamente com Bert e Frank. “O quê?” Ouviu um grito. Gerard cambaleou ao lado de Quinn pela floresta escura e viu o corpinho de Frank desmaiado. Bert estava em pé, com um galho grosso e pontudo em uma das mãos. Olhou para Gerard, desesperado.


“Ele... O Frank...” Gerard andou até o corpinho, que estava com uma ferida enorme no topo da cabeça. “Gerard... Eu...” Bert tremia. “Eu o matei...” Gerard notou o corpo de Ray ensangüentado, com um pedaço de madeira fincado em seu peito.


“Ah, meu Deus...” Gerard olhou para Frank e o segurou em seus braços. “Frank... Frank?” Nenhum movimento. “Frank, acorda... Sou eu.” Gerard beijou os lábios feridos do menor. “Frank...” O menor abriu os olhos. “Você... você tá bem?”


“Aw...” O menor piscou algumas vezes e focalizou o rosto de Gerard. Arregalou os olhos. “Quem é você?"