Eu continuei arrumando minha mala por algumas horas, e nesse tempo fui interrompida duas vezes por minha mãe, que foi me levar comida. Não vou descrever detalhes de algo tão sem detalhes como arrumar suas malas, uma coisa simples e que todos já fizeram uma vez na vida.

Havia acabado de arrumar tudo quando minha mãe entrou pelo quarto pela terceira vez, só que agora sem intrromper-me em nada, ela parecia em uma parte feliz, mas a outra parte parecia preocupada, aflita e triste ao mesmo tempo triste sabendo que eu iria partir. Ela fez novamente o mesmo gesto que havia feito hoje mais cedo, aproximou-se da cama só que desta vez empurrou minha bolsa de mãe e sentou-se na cama, na minha frente, olhou para mim, e imediatamente quando abriu sua boca para começar a falar soltou um belo e largo sorriso.

– Empolgada? – Perguntou-me.

– Talvez... – Não sabia como continuar, porém vi a cara que ela fez ao ouvir aquelas palavras, então antes que eu pensasse em algo ou que ela falasse continuei – Quero dizer, ir para Londres é empolgante, mas ao mesmo tempo penso no que vou deixar para traz, e ter que me enturmar novamente em um país estrangeiro não me deixa muito feliz. Vou morar sozinha, legal, novas oportunidades de aprender a me virar, mas vou sentir sua falta mãe, eu te amo, não quero lhe deixar para traz, sozinha.

– Filha... – Essa foi a única palavra dita por ela, mas foi o tom em que ela a falou que mudou as coisas, foi em um tom que parecia que ela me dizia “ Filha não se preocupe comigo,eu ficarei bem, você sabe o quanto lutamos por isso, eu quero que você vá!”

Eu realmente já estava decidida a ir, mas não sei se a melhor palavra para descrever o que eu sentia era empolgação, então todo aquele silêncio me deu uma angustia, e tive de quebrá-lo.

– Eu já estou decidida a ir, só queria dizer que vou sentir sua falta – Ao terminar essa frase eu ganhei um grande abraço dela, aquele fora o melhor abraço que já ganhei.

Depois de o abraço terminar ela se levantou, pegou a bolsa que havia colocado ao lado para se sentar e então ela entrega-me a bolsa e em seguida diz:

– Está na hora, já são cinco e meia da tarde, temos que ir para o hotel no Rio. – Quando ela ia saindo do quarto pegou uma das malas e a levou para fora, e com a mão que estava livre apontou em direção à outra mala que restou e com sua cabeça indicou a direção da saída do quarto, depois foi para fora.

Era talvez a ultima vez que eu estaria naquele quarto por um bom tempo, então virei-me e comecei a olhar cada detalhe, tudo estava mudado, agora a escrivaninha só tinha o abajur, a cama estava apenas com uma colcha, o mural estava vazio e o guarda-roupa fechado, porém quase sem nada dentro.

Depois de olhar cada detalhe fui em direção à porta, virei novamente; agora dando uma última olhada por cima lembrei-me de que tinha que ir, voltando para a direção da porta peguei na alsa da mala e fui em direção ao jardim, onde pude ver minha mãe colocando minha mala no porta-malas do carro. Andei mais rápido em direção a ela e a ajudei a colocar a mala que eu carregava no porta-malas, e em seguida fechei-o para ajudá-la. Entramos juntas no carro, só que eu como passageira e ela como motorista; seria uma longa viagem pela frente.

Enquanto íamos chegando cada vez mais perto do Rio, mais frio na barriga eu sentia. Desde quando minha mãe pegou a mala no meu quarto não nos falamos mais, apesar de ela não parecer brava, triste ou coisa do tipo. Pensei em quebrar o silêncio novamente, mas não sabia o que falar, estava quase abrindo minha boca quando fui interrompida em um ato e duas palavras...

– Nós chegamos. – Não sabia o que ela estava pensando ou sentindo, ela não demonstrou nada disso em sua fala, foi como se ela tivesse dito apenas palavras soltas sem uma conexão, apenas um comunicado, algo falado por obrigação, exatamente isso, uma obrigação de falar comigo, mas isso não era tão importante agora.

– Mãe? – Chamei-a

– O que?

– Obrigada. –Foi isso apenas que eu a disse.

Ela sorriu, adoro quando ela sorri deste jeito, simples, porém o mais belo que alguém pode dar; aquele sorriso que vem de dentro da alma, e não aquele quando se está apenas rindo de uma piada, o sorriso que mostra a felicidade que se está sentindo.

Ela olhou para os meus olhos e disse:

– Não foi nada, eu fiz porque eu te amo, e quero só o melhor para você.

Estávamos agora entrando no estacionamento do hotel. O hotel era um paraíso, com várias piscinas, tobogãs e o prédio era lindo, os detalhes da arquitetura do prédio eram uma mistura dos detalhes Gregos com os Romanos, era lindo, uma obra de arte moderna, grande e inspirada na arquitetura antiga.

Antes que eu pudesse elogiar, laçou-se uma pergunta a mim:

– E então, gostou?

– Claro que sim, eu amei, é muito lindo aqui, estou louca para ver os quartos, muito obrigada novamente mãe. – Tenho que admitir que agora eu realmente estava empolgada.

O manobrista manobrou o carro, e outro funcionário do hotel levou nossas malas para o quarto enquanto eu e minha mãe pegávamos a chave do mesmo. O nosso quarto fica no 14º andar, o mais alto de todos. O quarto é lindo, parece um aqueles quartos de hotéis em filmes de cinema, a vista é ainda mais bela, e o pôr do sol complementava sua beleza que passava de simples a uma beleza nunca vista daquela forma.

Quando chegamos as malas já estavam no quarto, então minha mãe abriu sua bolsa e tirou um envelope de lá, ela foi em direção ao sofá que tinha no quarto, e se sentou, pelo seu olhar em minha direção soube que era para mim me sentar ao seu lado.

Quando me sentei, a primeira sensação que eu tive dói que o sofá era muito fofo e a segunda é que ela tinha algo de importância para me dizer.

– Filha, como você sabe não tinham mais quartos disponíveis na faculdade, então você terá de morar em um apartamento pequeno e ir para a faculdade apé. – Tudo o que ela estava falando ali eu já sabia, mais não a interrompi. – Então você terá de morar em um apartamento perto na escola, sem ser muito caro e grande. Eu achei esse aqui. – Ela agora estava tirando de dentro do envelope fotos, que eu acredito ser do futuro lugar onde vou viver durante a faculdade. – Queria saber o que você acha. – Disse ela entregando em minhas mãos as fotos.

O apartamento era realmente lindo, não era muito grande, e assim é melhor, pois não terei muito trabalho para limpar, era antigo, mas muito bem decorado, a presença da arquitetura Roma era visível, porém por fora o prédio era esteticamente um dos mais belos presentes ali, e o melhor, somente a duas quadras da escola.

– É aqui que eu vou morar? – Perguntei.

– Somente se você gostar, então, gostou?

Eu não consegui disfarçar minha empolgação na fala:

– Está brincando? Eu amei, é lindo, é demais, é... é...é... PERFEITO!

Ela sorriu, acho que desta vez ela acertou em cheio alugando este apartamento.

– Mas o aluguel é muito caro? – Perguntei

– Ai vem a melhor parte... – Comecei a ficar curiosa. – Eu não aluguei, eu comprei, é seu.

Agora estávamos as duas sorrindo de orelha a orelha, aquilo era meu. Foi a melhor noticia que eu havia recebido o dia inteiro.

– Muito obrigada mãe. – Falei, me contendo para não chorar.

Logo depois de nossa conversa acabar ela me mandou dormir, eu resolvi obedecer, afinal, amanhã seria um dia muito cansativo. Tomei um banho quente e fui me deitar, sem abrir as malas, com a mesma roupa que tinha antes. E logo que deitei, peguei no sono.


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.