Casa do Prince (quarto) - 03:10 hrs

Era madrugada quando Prince despertou daquele sono intenso, completamente desconfortável. Ele olhou para baixo e teve a absoluta certeza de que tudo aquilo, de fato, havia sido apenas um sonho. Estava um pouco frustrado, mas aquele sonho apenas havia reacendido a certeza da paixão que ele possuía por sua musa, e que ele faria de tudo para conquistá-la.

Levou a mão por debaixo das cobertas e começou a se tocar, talvez isso o aliviasse um pouco. Ele não parava de pensar em como tudo aquilo foi real, em como ele queria a todo custo realizar aquele devaneio. O corpo de sua amada, seus gemidos, seus carinhos, até mesmo as cores da sua lingerie estavam tão arraigadas em sua mente, que não foi muito difícil o rapaz chegar no seu clímax. Não foi muito inteligente, pois ele acabou precisando por aquela roupa para lavar, mas era o de menos, aquele sonho não veio em vão e acabou o despertando para criar uma nova música.

x ----- x

Casa do André (quarto) - 14:23 hrs

“I wanna be your lover”

“I wanna turn you on, turn you out”

“All night long make you shout”

“Oh, lover! Yeah”

“I wanna be the only one you come for, yeah”

Prince e sua banda estavam ensaiando seu mais novo hit. Ele ligou para o André às 06 horas da manhã apenas para marcar um horário na sua casa. Ele estava empolgado para ensaiar essa composição completamente inspirada em seu amor, seria a sua mais nova aposta para se aproximar do coração de Luna.

— Isso… perfeito!

— Você fez essa música em 3 horas?

Indagou Gayle Chapman, a tecladista do grupo. Prince deixou evidente um sorriso de canto.

— Compus em alguns minutos. Digamos que eu estava cheio de inspiração…

Ele deu-lhe uma piscadela.

— O resto foi fazendo os arranjos… Eu testei com os instrumentos que tinha em casa e os que eu podia usar pela madrugada, porque meu padrasto é um pau no cu.

— É foda. Mas ficou do caralho! O que a gente faz agora?

Indagou Dez.

— Vamos gravar, ué. Amanhã, às 14 horas, lá no estúdio. Acho que hoje já devem estar com a agenda cheia...

— Já?

Prince se afastou do grupo para guardar a sua guitarra.

— Vocês pegaram as notas, não pegaram? Então sim, já.

Aquela decisão repentina provocou uma certa insegurança nos integrantes da banda, mas, devido à empolgação do Prince, nenhum deles quis questionar diretamente. Enquanto os demais pegavam os instrumentos que podiam levar, Dez encarou André por longos instantes a fim de que ele entendesse que precisava falar com Prince sobre aquilo, sabia que só ele seria capaz disso.

Assim que os jovens se retiraram, André chamou Prince para uma conversa.

— Ei… Você tá no hype, não é?

O rapaz deu ombros, mantendo aquela postura confiante e despreocupada.

— Acho que sim.

André cruzou os braços e ficou encarando o menor, ali, esperando que ele falasse mais, porém Prince resistiu e se fingiu de cínico.

— Só?

— E o que você quer que eu fale mais?

— É aquela garota, não é?

Ele ficou em silêncio. O seu amigo prosseguiu.

— Porque… eu realmente não sei se estou certo, mas algo me diz que essa nova música é pra ela.

Prince mudou sua postura, agora parecia mais nervoso. Ele levou as mãos até a cintura e andou de um lado para o outro.

— Hmm… Tá, vou te contar uma coisa. Eu tive um… eu tive um puta sonho com a Luna. Puta, que sonho… André, foi muito real...

Dado o teor da voz do Prince, André acabou entendendo do que se tratava aquele sonho. Ele já estava preocupado, antes, sobre até onde essa paixão desenfreada iria, mas, com aquela novidade, ele já havia aceitado que o amigo realmente não desistiria.

— Vish, cara… agora entendi porque tu não veio com aquela calça bate-enxuga.

— Eu adoro aquela calça. Enfim… cara, quando eu acordei, a única coisa que eu queria fazer era escrever essa música. Eu preciso mostrar pra ela, é isso que vai unir a gente.

— Você é doido, Prince…

André se afastou do rapaz para pegar o seu celular em um criado-mudo que havia ali. Ele jogou o aparelho ao amigo logo em seguida.

— Se vai marcar pra gravar amanhã, melhor ser rápido… mas, na real, dá uma trégua pra os caras. Não se faz coisa bem feita às pressas…

Prince soltou um suspiro. Ele começou a olhar à sua volta, até parar o seu olhar em sua guitarra. Isso o fez ter uma ideia.

— Hum… talvez eu possa apresentar essa música à Luna de outra forma, então.

Após ponderar mais um pouco, Prince deu ombros e jogou o celular de volta ao amigo.

— Gravamos outro dia. Vamos ensaiar mais. Tá bom pra você?

x ----- x

Casa do Sr. Nelson - 16:12 hrs

John Nelson estava preparando um café como tira-gosto para o jantar que seria preparado algumas horas mais tarde, quando ouviu a campainha tocar. Ele desconfiou, não estava esperando visita, mas foi ver do que se tratava.

Ajeitou as mangas e foi atender a porta. Era o seu filho.

Um silêncio desconfortável fez o clima esfriar. Prince e o Sr. Nelson se entreolharam, sem arriscar quem falaria primeiro. O jovem engoliu seco e iniciou a conversa.

— Oi… pai…

Silêncio.

— Eu posso pegar meu violão? Eu deixei aí…

O adulto não protestou, mas seu olhar fez Prince entender que deveria ser rápido. O jovem suspirou e adentrou ao local, indo diretamente ao seu antigo quarto.

Assim que subiu as escadas, Prince abriu a porta do quarto e encontrou seu antigo violão, ali, sob a cama. Ele se aproximou, sentou-se por ali e segurou o instrumento.

Ver o seu pai sempre deixava o jovem atordoado. John Nelson era um excelente musicista e a paixão de Prince pela música se dava, principalmente, pela influência dele. Todavia, eles não tinham a melhor relação do mundo. Prince sentia que faltava alguma coisa dentro de si para que o pai estivesse satisfeito. Ele sempre estava disposto a aprender com o homem, que não deixava de lembrá-lo como ele jamais poderia alcançar o seu nível de talento.

Mas entre ficar com raiva e se rebelar, Prince escolhia amá-lo. Por mais rudes que essas palavras pudessem soar, ele as transformava em trabalho, em música e em motivação.

Após um suspiro, se levantou e se retirou. Tinha muitas histórias naquela casa, mas o rigor de seu pai não o deixaria relembrá-las por agora.

— Prince.

O seu coração quase parou. Ao ouvir o seu nome proferido pelo seu pai, o rapaz, já fora da casa, lentamente se virou em sua direção.

— Eu vi a sua apresentação no Until Midnight.

Sem saber o que dizer, o rapaz engoliu seco novamente.

— O que achou…?

— Você fez uma ótima performance.

Prince segurou uma expressão de espanto, não queria estragar as coisas agora, mas aquele comentário definitivamente havia sido a melhor coisa que podia ter lhe acontecido naquele dia.

— Obrigado.

Com apenas essa palavra, Prince se virou e se retirou, escondendo o sorriso empolgado do olhar do Sr. Nelson.

x ----- x

Casa do Prince - 22:00 hrs

Um barulho foi ouvido do andar de cima. Veio do quarto do Prince.

A Sra. Nelson enxugou as mãos no avental e correu para ver do que se tratava.

— Querido, está tudo bem aí??

Já o rapaz havia acabado de sair do banheiro do térreo. Ele estava apenas com calças e uma toalha em sua cabeça.

— Mas que merda, não se pode nem lavar o cabelo!

— Ué, se você está aqui...

O rapaz arqueou a sobrancelha.

— Mãe? Então se você está aqui…

Eles se entreolharam. Isso não podia ser boa coisa.

Prince foi o primeiro a subir as escadas. Em passos lentos, ele se aproximou da maçaneta e girou, mas ao entrar, se deparou apenas com o vidro estilhaçado da janela e uma pedra do tamanho de uma mão sob o tapete púrpura.

— Filhos da puta… Tudo tranquilo, mãe!

Murmurou consigo, em seguida gritou para a mulher, que aguardava alguma resposta do andar debaixo. Ele relaxou os ombros, entendeu que apenas havia sido vítima de vandalismo. O bairro era pequeno, então ele acabaria sabendo quem fez isso uma hora ou outra.

Já preparado para limpar aquela bagunça, Prince ia começar com o principal, que era aquela rocha no meio do quarto. Quando a segurou, viu que havia um papel preso a ela.

“É bom que você leia essa carta até o fim, porque se não fizer o que eu disser, eu mesmo irei te buscar.

Eu sei quem você é. Eu sei o seu nome, onde mora, sua idade e tenho o endereço dos seus amigos. Falta apenas trocar uma ideia contigo.

Venha me ver na estação principal de Minnesota (02hrs), aquela onde acharam a cabeça daquele dinamarquês (deixa eu te contar um segredo: o assassino é meu amigo).

Você mexeu com a minha menina, agora tá na hora de acertar as contas.

Fica esperto.”