Casa da Luna (exterior) - 15:04 hrs

A polêmica discussão da madrugada morreu e foi enterrada por todos que participaram dela. No colégio, ninguém soube do ocorrido. A única coisa que se espalhou foi a solteirice da Luna, que tratou de, ela própria, divulgar as boas novas.

À tarde, após gravar a sua música no estúdio, Prince pegou o violão e se preparou, decidido a tocá-la para Luna e, enfim, pedi-la em namoro. Ele foi sozinho dessa vez, afinal de contas era algo para ser vivido a dois.

Chegando próximo à frente da casa de sua musa, ele reparou em diversas pilhas de caixas espalhadas por todo o quintal. Pelo visto ela estava de mudança. Prince entendia que, talvez, poderia ser por conta da periculosidade do seu ex namorado, que provavelmente não reagiu bem ao término, mas estava torcendo para que ela continuasse ao menos na mesma escola.

— Luna!

Ele a chamou. A garota saiu da varanda, com um óculos de sol e uma blusinha colorida, parecia muito feliz.

— Oi, er… Qual é o teu nome?

— Prince. Eu... eu quero te mostrar uma música. Eu compus pra você. Posso?

— Hum… melhor não.

Prince já estava com dedos posicionados no violão, quando aquele “não” tão natural fez os seus sentidos travarem. Ele ficou um pouco confuso.

— Não…?

Luna negou com a cabeça. Seu sorriso jovial revelava que ela realmente não parecia interessada no que ele tinha a dizer.

— Escuta, Prince… Eu tô ligada no que você veio fazer. Eu sei que você gosta de mim, mas você presenciou a putaria lá na estação, não foi? Eu tô livre. Eu não quero mais compromisso, nem com ele, nem com você, nem com ninguém daqui. Eu vou me mudar, sair daqui, ver gente nova, então… Esquece, tá bom?

A garota fez um sinal provocativo de “tchauzinho”.

— Além de que eu não gosto das tuas músicas, eu não gosto de cara baixo, eu não gosto do teu estilo... Então para, tá ligado? Mas se ainda quiser desencalhar, eu conheço muito amigo gay que curte uns tipos como você. Fora isso, amor, não vai rolar.

Após essas palavras, que alfinetavam o coração do rapaz cada vez que eram proferidas, Luna se afastou e retornou para casa, deixando o jovem desiludido, ali, sozinho.

Prince sequer sabia como reagir. Ele não sabia se ficava com raiva e dava chilique ou se controlava toda a sua dor para que pudesse expelir em casa.

No fim das contas, sem pensar muito, ele apenas chorou.

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Praça de Minnesota - 16:10 hrs

A pequena praça de Minnesota não recebia muitos visitantes, pois viciados sempre estavam por perto para perturbar o ambiente familiar. Felizmente, naquele dia, a patrulha policial estava mais focada em fazer sua ronda direito, o que deixou a praça livre para os moradores. Crianças brincavam de frisbee, jovens namoravam, idosos alimentavam os animais, mamães passeavam com seus bebês, tudo parecia em perfeita paz.

Infelizmente, nem todos, ali, estavam felizes.

Prince encontrava-se em um banco solitário. Com o violão entre as pernas e as mãos cobrindo o rosto, ele já estava nessa posição há meia hora.

As palavras feriam tanto, e cada vez mais que eram relembradas, pareciam soar mais agressivas, mais hostis. Prince já estava há um tempo sem chorar, mas não conseguia descobrir o rosto e ver todo mundo feliz, quando ele próprio só queria sumir naquele momento. Estava sem forças para caminhar até em casa, sem forças para pedir ajuda ao André, então apenas esperou aquele momento ruim se tornar mais suportável para iniciar sua caminhada de retorno.

— Ei.

Prince demorou para perceber que estavam falando com ele. Ignorou, mas ainda tinha a sensação de que havia uma pessoa ali, perto de si, então lentamente descobriu o rosto para observar quem era.

— Veio terminar o serviço?

Murmurou, ainda com a voz um pouco embargada, mas com um leve desprezo no tom ao se dirigir ao Michael. Já o bad boy levou as mãos aos bolsos e se sentou no mesmo banco, tomando um pouco de distância do rapaz.

— Que serviço?

— Veio me matar, sei lá...?

O rapaz deixou escapar um riso de canto.

— Que ideia… Eu não sou um assassino.

Prince arqueou a sobrancelha.

— Não? A carta…

— Você acredita em tudo que lê? Que idiota… Eu só queria te deixar com medo.

Embora o tom da conversa fosse provocativo, Prince não se sentiu ofendido. Ele desviou o olhar para algum ponto no horizonte e deixou-se levar pela bela paisagem.

— Tem muitas coisas que eu não sei sobre você…

— É… tem sim.

Michael suspirou.

— Eu não sei se você vai acreditar em mim, mas eu preciso te dizer isso… Eu nunca cheguei a terminar com a Luna porque ela tem um comportamento ciumento-possessivo. Na última vez que tentei, tivemos uma briga pior do que aquela.

Disse. Tomou uma pausa e tornou a falar.

— Então eu comecei a tratá-la de forma que, talvez, a instigasse a terminar comigo. Enfim, isso aconteceu…

— Se isso é verdade mesmo, por que você se importou com o fato de eu estar na cola dela?

Michael revirou os olhos.

— Não me admira que você é trouxa. Eu estava tentando te livrar de um inferno, mas pelo visto você já teve uma demonstração.

Prince o encarou, com um olhar de desprezo.

— Está tão óbvio assim?

— Pode apostar… Mas acho que, no fim das contas, tudo tem um lado bom.

— Como assim?

Michael se espreguiçou e ficou mais à vontade.

— Eu vi como você olhava pra ela… e… eu sei que você ficou preocupado que eu a machucasse durante a briga. Você, como homem, sabe que são poucos dispostos a se importar assim com uma mulher… No final, quem acabou perdendo foi ela.

Prince virou o rosto, um pouco envergonhado.

— Ah, para de viadagem…

Michael deixou uma risada escapar.

— É sério, idiota.

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, até que o pôr do sol começou a se fazer presente. Pouco a pouco, o céu iluminado daria espaço para o véu negro de estrelas.

— Você bebe?

Prince arqueou a sobrancelha e encarou o rapaz novamente.

— Eu não quero namorar você.

— É sério. Você bebe?

Ainda meio contrariado, ele fez um sinal de “mais ou menos” com a mão.

— Eu também… Quer tomar uma cerveja?

Prince fez uma expressão de pena.

— Sério? Poxa, se quer me comer, paga uma bebida mais cara…

Michael riu novamente.

— Imbecil. Vinho. Topa vinho? É a minha “bebida cara” preferida.

Prince não estava muito a fim de vinho, mas topou pela companhia. Embora quisesse ficar sozinho, Michael tinha sido o único naquele dia que havia conseguido tirar sua atenção da amargura que sentiu mais cedo.

Se levantaram e seguiram em direção ao bar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.