I Surrender

Capítulo 6 - Treinando Minha Morte


Caítulo 6 - Treinando Minha Morte

Blake ergueu a sobrancelha com um ar provocador ao me ver descendo as escadas.

– Então resolveu seguir meu conselho?

– Cala a boca. – disse passando reto por ele e indo para a garagem.

Eu não poderia deixar Blake simplesmente dar aquele sorrisinho vencedor e rir da minha cara por eu estar usando calça jeans, e não vestido ou saia. Sim, eu tinha resolvido fazer o que ele tinha dito. Vai que seja lá para onde estávamos indo fosse um lugar cheio de tarados. Era melhor não correr o risco.

Fomos silenciosamente até a garagem onde Blake fez tudo rapidamente, como se tivesse prática em sair escondido. Revirei os olhos para mim mesma. Óbvio que ele tinha prática em sair escondido de casa. A carteira de motorista que era bom, eu não fazia ideia se ele tinha.

Ele estava com uma cara mal humorada. Hesitei e quase voltei atrás. Quase. Se a minha curiosidade em saber o que Blake fazia não fosse tão grande.

Quando o carro saiu da garagem eu ficava olhando para todos os lados, com medo de que algum vizinho xereta estivesse vigiando o que a gente estava fazendo. A casa da onde tínhamos saído (Ainda me recusa a chamá-la de minha casa) encontrava-se completamente escura. Ainda bem.

– Quer parar de ficar agindo como se estivéssemos indo assaltar uma casa?

Olhei para Blake que prestava atenção na estrada. Bem, quem sabe para onde iríamos? Assaltar uma casa parece uma coisa que caras drogados como ele fazem.

– Eu não estou agindo assim!

– Ah, claro. – E deu um sorriso irônico.

Fiquei calada. Não queria fala com Blake, ainda estava brava por ele ter descoberto meus lanches noturnos.

Um tempo depois ele parou num lugar escuro.

Ai meu Deus. Onde esse garoto está indo?

Apertei os olhos tentando ver alguma coisa fora do carro. Bancos, alguns postes, grama... Aquilo ali era uma praça (?). Em um canto uns garotos conversavam, eles deveriam ser os amigos drogados de Blake.

Ok... Eu definitivamente não vou sair desse carro com aquele grupinho de marginais á cinco metros.

Blake saiu do carro e bateu a porta sem nem olhar para mim. É, ele estava mesmo com raiva de mim. O vi se aproximar dos elementos e ficar aquela batida que garotos costumam fazer, só que mais estranha.

Eu tinha razão, o grupinho de marginais eram os amigos drogados que Ashley tinha me dito serem umas pestes, se até a vaca da minha madrasta tinha falado isso, a coisa era feia. Com toda certeza eu não iria sair do carro, muito menos pra socializar com os amigos do Blake.

Fique dentro do carro pelo que pareceu ser cinco minutos. Por incrível que pareça Blake e seus amigos não tinha feito nada ilícito. Mas então tive de sair do carro quando o grupinho de delinquentes começou a andar para a direção oposta onde eu encontrava-me, saí do carro e dei uma pequena corrida até o grupo. Óbvio que não iria ficar sozinha naquele breu. Antes mal acompanhada do que sozinha, e também, vai saber o que eles iriam fazer.

Quando me aproximei tomei o cuidado de ficar um metro de distância deles.

No total era um grupo de cinco pessoas, Blake, um cara loiro e baixinho, outros dois de cabelos pretos, - não tinha certeza, já que eu não conseguia ver muita coisa naquele escuro – e uma garota que se vestia de um jeito que a pessoa teria de ter um mal gosto terrível para usar aquelas roupas, ela parecia se dar perfeitamente bem com aqueles garotos (Inclusive Blake) e não parecia nada deslocada, diferente de mim.

Ao perceberem minha presença, ficaram me encarando. Foi estranho.

– Quem é essa? – perguntou um dos garotos de cabelo preto, a diferença é que a cor de seus olhos eram quase negros, ou talvez fosse a pouca iluminação que não me deixasse ver direito.

– Longa história. Resumindo, ela é a minha nova “irmã” que veio de Doncaster, Sophie. – Ao terminar de falar, Blake revirou os olhos.

A única garota do grupo me lançou um olhar furioso que ninguém além de mim pareceu ter percebido.

– Caramba cara, se deu bem hein. – disse o outro garoto de cabelos pretos, seus olhos eram claros. Ao dizer ficou olhando minhas pernas, isso por que eu estava de calça. Mandei-lhe um olhar reprovador.

A gótica me encarou mais feio ainda.

– E o que ela faz aqui? Ela parece mais uma mimadinha filhinha de papai – A gótica disse me avaliando de cima abaixo.

O que achava de tudo isso? Ridiculamente patético, mas não podia fazer nada, acho que estava com medo do que aqueles marginais fariam comigo caso falasse a coisa errada. Não sei se Blake iria permitir que fizessem qualquer coisa comigo, mas acho que sim, do jeito que se encontrava irritado comigo.

– É porque ela é. – disse Blake dando de ombros

Apertei os lábios e não consegui deixar de respondê-lo.

– Não se esqueça de que a garotinha mimada pode muito bem contar para o pai dela que o seu querido irmão roubou seu carro para se encontrar com um grupinho de drogados.

– Não esqueça de que você também veio! – falou aproximando-se de mim.

– E em que você acha que ele vai acreditar?!

– Sua moral não está das melhores com ele depois das suas birrinhas estúpidas! – Gritou ignorando as outras pessoas ali.

– E a sua está lá em cima, não é mesmo? – Sorri sarcasticamente.

– Quer saber, Sophie? Vai pra...

– Ou, ou, já chega! Daqui a pouco as pessoas vão chamar a polícia achando que somos mesmo um grupo de drogados com essa gritaria – O cara de cabelo preto e olhos escuros me olhou de um jeito frio quando disse “um grupo de drogados”. O que? Eles eram mesmo!

Olhei para Blake, enraivada e ele me encarava do mesmo jeito.

– Grupinho de drogados, – O loirinho riu – cara, sua irmã é pirada.

– Nós não somos irmãos! – Eu e Blake gritamos para ele ao mesmo tempo. O garoto loiro se encolheu e fez um sinal de rendição com as mãos.

– Vamos logo começar. – disse novamente o cara de olhos escuros. Percebi que segurava um... skate? Um skate! É sério isso? Ele apontou para uma pista skate que eu nem tinha notado.

Então era isso. Eles só iam andar de skate? Fala sério, Blake me decepcionou agora. Eu esperava voltar pra casa dele e contar para meu pai e para a Ashley que o bebezinho dela tinha assaltado metade da cidade. Mas ele só ia andar de skate. Grande coisa!

No pequeno caminho até a tal pista, os amigos de Blake me falaram seus nomes. O garoto de olhos escuros era Ethan, o loirinho Nate, o de olhos claros se chamava Jason e a garota que continuava me olhando feio disse que seu nome era Ruby. Nate parecia ser o mais decente do grupo, e ele era uma gracinha.

Ruby ficou andando do meu lado e quando os garotos se afastaram um pouco começou a conversar comigo. Depois da nossa pequena conversa tensa, eu tive certeza que ela gostava do Blake, agora estava claro que ela tinha mesmo mau gosto. A garota meio que me ameaçou dizendo que não era pra eu chegar perto dele.

Eu apenas revirei os olhos para a gótica estranha.

Era óbvio que eu e Blake não tínhamos nenhuma relação além de um pequeno laço familiar. Pais casados, sabe como é.

E se a amiguinha drogada de Blake gostava dele eu não me importava. Sério. Contato que ele me levasse para casa podia até sair por aí dormindo com a tal de Ruby (Eca!).

Sentei perto da ponta de um lado da pista e fiquei com os pés pendendo no ar. Observei Blake e falar com seus amiguinhos drogados conversando e rindo. Acho que nunca tinha o visto rindo antes, não de verdade, (Aquele sorrisinho irônico não conta).

Ótimo. Isso não poderia ser mais entediante. Até agora Blake não tinha feito nada ilícito, ele só estava simplesmente andando de skate, e eu quase com hipotermia de tanto frio. O que exatamente eu tenho na cabeça para não ter trago um casaco? Londres é um dos lugares mais frio que eu conheço, ainda mais á noite.

E para piorar minha madrugada, o grupinho de delinquentes pareciam se divertir enquanto eu definhava no frio de sei lá quantos graus negativos.

Não entendia muito de skates ou coisas relacionadas, mas Blake era bom. Como a vida é maravilhosa.

– Então, a princesa só vai ficar sentada aí? – Fala sério, essa garota já está me irritando.

– O que mais eu faria? Não sei andar de skate. – Dei de ombros.

– Por que você não tenta? – Jason me estendeu seu skate preto.

Olhei meio hesitante.

– Não sei...

Olhei para Blake que tinha aquele meio sorriso no rosto. Ah não! Ele estava claramente me desafiando a andar naquele skate.

Quer saber, eu vou sim, jamais desafiavam Sophie Monroe. Eu sempre vencia. Podia ser sobre qualquer coisa, até mesmo andar em uma pista de skate com cinco metros de altura.

Segurei o skate de Jason e ele me deu um sorriso como se me desejasse boa sorte.

Quando já estava quase pronta para cair e quebrar o pescoço, dei uma ultima olhada para trás. Ruby me encarava como se realmente quisesse que eu quebrasse o pescoço. Maluca. Jason ainda sorria e Nate também, Ethan parecia não estar ligando e Blake me olhava de modo zombeteiro. Idiota.

Levei o skate até ponta da pista com um pé em cima dele, o fazendo inclinar levemente.

Eu sabia que o que iria acontecer não era nada bom, mas eu não podia dar o gostinho para Blake de me ganhar em alguma coisa. Nem para a gótica insuportável.

Coloquei o outro pé no skate e fiz impulso para a frente fechando os olhos. Ai meu Deus, se for pra eu morrer, pelo menos morro com dignidade.

Não sei exatamente o que aconteceu depois disso. Ouvi vozes gritando, não sei se eram de incentivo ou desesperadas. Cinco segundos depois percebi que eram de desespero, depois do meu impacto na madeira dura e fria. Ai!

O skate saiu rolando em alguma direção e eu gritava xingamentos que normalmente eu não falaria. Eu vou morrer.

– Droga Sophie! – Blake entrou em meu campo de visão e tinha um vinco de preocupação na testa.

– Ai! Não me toca! Eu vou morrer. – Comecei gritar quando Blake tentou me levantar.

– Ela tá bem? – Nate perguntou quase colocando seu rosto no meu.

– O que você acha? – Rosnou Blake.

Meu corpo inteiro doía e eu não estava nem um pouco preocupada em lamentar minha derrota. Minha vida era mais importante.

Tentei me mexer o que só me fez gritar mais.

– Deixa de se preocupar Blake, a garota só está fazendo drama. – Adivinha quem disse isso. Sim, a tal de Ruby. O que ela tinha contra mim? Eu já tinha garantido que não havia nada entre mim e Blake.

– Cala a boca, Ruby! – disse Blake. Se eu não estivesse quase morrendo, teria sambado na cara da gótica.

– Temos que levá-la para um hospital – Ouvi a voz de Jason vindo de algum lugar.

– Ficou louco? – Interveio Ethan. – O que acha que vão pensar de seis adolescentes vagabundeando de madrugada?

– Querem ficar calados?! – Gritou Blake. – Ela é minha responsabilidade, e eu vou cuidar dela!

Franzi o cenho achando estranho o surto de Blake. Será que ele só estava nervoso pelo fato de que meu pai e Ashley descobrirem tudo?

– Fica calmo, cara. – Ethan disse. – Pode levá-la para onde quiser, contanto que não fiquemos ferrados.

Blake o ignorou e me pegou no colo.

– Que merda Sophie! Sabia que não deveria ter trago você.

Levou-me até o carro no colo com uma força surpreende, - quer dizer, era mesmo surpreendente que ele conseguisse me carregar sem problemas até o carro. Não que eu fosse gorda, por que eu não era! - colocou o cinto em mim e a última coisa que me lembro de antes de desmaiar é de o carro estar em movimento.