I Surrender

Capítulo 19 - Annie, a bêbada


Capítulo 19 - Annie, a bêbada


– Ah meu Deus! Ah meu Deus!



Segurei o antebraço esquerdo de Jason, preocupada com o estralo que seu queixo tinha dado.


Para ser sincera, estava mais chocada do que preocupada.

– O que aconteceu com você?

Annie piscou com a fúria, que não tinha nenhum motivo, desaparecendo de seus olhos. Ela passou os braços em torno do meu pescoço, me abraçando e começando a soluçar.

Franzi a testa olhando confusa para Dallas.

– Ela está completamente bêbada – Explicou falando mais alto que a música.

Ainda chorando e esfregando os olhos vermelhos, Annie afastou-se de mim, só não a caindo por causa dos braços de Dallas que a seguraram bem a tempo.

Ela encontrava-se bêbada. Até aí nada de surpreendente, mas o que tinha dado na cabeça dela para dar um soco, do nada, em Jason?

Era nessas horas que eu odiava a sua altura de modelo, se não fosse tão alta, seu soco teria menos força.

– Ai – disse Jason massageando sua mandíbula, abrindo-a e fechando-a. – Você bate forte para uma garota.

Foi só ele dizer isso para minha amiga dar um pulo, saindo do seu estado aparentemente desmaiado, para partir para cima novamente de Jason. Cerrou os olhos, o encarando como se ele fosse uma coisa repugnante e tivesse feito alguma coisa terrível.

Um segundo depois, Annie segurava a gola da camisa de Jason com a mão direita e a mão esquerda voou para o seu nariz, fazendo-o começar a sangrar.

Parecendo não satisfeita, iria dar outro soco, mas graças à Deus, Dallas a segurou e puxou seus braços para trás. Eu juro que queria fazer alguma coisa, mas tudo que eu consegui fazer foi ficar parada, olhando para tudo pasmada.

– Qual o seu problema? – Gritou Jason. – E você, argh, realmente tem muita força.

– Annie pratica Jiu-jitsu desde os quatorze anos. – disse Dallas com dificuldades para segurar uma Annie aos berros.

– Me solta! – Gritou esperneando na falha tentativa de soltar-se de Dallas. – Você o que ele estava fazendo?

Hã... Beijando-me?

– O que ele estava fazendo, Annie? – perguntei confusa.

– Como assim o que ele estava fazendo? – Ela parou de debater-se para me olhar, incrédula. – Sophie, essa cara estava tentando te estuprar! Ele é um tarado pervertido, chamem a polícia!

– O que? – Foi a minha vez de gritar.

Acho que com tanto berreiro, nós estávamos chamando atenção, porque algumas pessoas, subindo apressadamente a escada, começavam a formar uma pequena plateia. Ótimo.

– Logo você que se diz melhor amigo da Sophie, Dallas! Devia estar me ajudando a espanca-lo, não ficar me segurando! Me solta porcaria!
Balancei a cabeça, começando a pensar que Annie bêbada era mil vezes pior do que ela sóbria.

– Eu não estava fazendo nada demais. – Jason subiu sua camiseta para tentar estancar o sangue que ainda escorria de seu nariz.

– CALA A BOCA QUE EU NÃO FALEI COM VOCÊ, SEU FILHO DA MÃE!

– Acalme-se Annie! – Dallas fechou os olhos com força, perdendo a paciência.

– Annie, pare com isso! – Também gritei ficando na frente dela. – Jason não estava me estuprando.

– Não precisa ficar com vergonha, – Annie me olhou com pena. – eu sei que você é virgem e que só vai perder quando estiver coroa, tipo naquele filme “A Virgem de Quarenta Anos” porque francamente, você é muito chata. Então, não vai ser esse idiota que vai estragar seus planos.

Arregalei meus olhos, meu rosto ficando da cor de um tomate. Eu não acredito que Annie disse isso, eu quero que um buraco se abra no chão para pular lá dentro.

– Chega, nós vamos embora. – Dallas falou irritado, de um jeito que eu raramente o via ficar.

– E deixar a Sophie com esse aí? Você está ficando louco.
Percebi que o número de pessoas assistindo aquela confusa tinha aumentado consideravelmente.

Num momento de distração de Dallas, Annie correu na direção de Jason. Como estava bêbada, seus sentidos estavam terríveis, por isso antes que pudesse agredi-lo, caiu de cara no chão. Agora era o seu nariz que sangrava.

– Como dá trabalho. – Revirei os olhos, apesar de estar preocupada, agachando-me para levantá-la.

Annie recusou minha ajuda, tentando recuperar o equilíbrio sozinha.

– Eu vou te bater tanto, Jason, que amanhã você não vai conseguir nem abrir a boca.

Vi Nate correndo para ajudar Dallas a levanta-la, mas ela continuava recusando ajuda enquanto resmungava coisas sobre eu ter vindo com uma roupa muito curta. Ela quem escolheu a roupa e agora a culpa é minha!

Aos poucos foi se formando um círculo ao nosso redor, pude ver Ethan em um canto observando a cena com um sorriso de canto como se adorasse o fato de que uma bêbada estava prestes a matar seu amigo.

No meio de todo o caos, escuto a voz de Blake se sobressair.

– O que diabos está acontecendo aqui?

Foi instantâneo, todos pararam para olha-lo, até Annie parou com seus ataques. Ele estava com uma expressão séria e ao mesmo tempo confusa tentando afastar Ruby que se pendurava em seu pescoço.

– Eu vou dizer o que está acontecendo aqui. - Começou Jason - Essa louca chegou do nada e resolveu me espancar. - falou apontando para Annie.

– Foi você que agarrou a Sophie na maior cara de pau, deveria ser preso por abuso sexual! - Revidou Annie com a voz embargada.

– Espera aí, Sophie e Jason se beijaram? - O tom de voz cortante de Blake me fez ficar com um pouco de medo.

– Nós nem chegamos a nos beijar, pois fomos bruscamente interrompidos - Jason pelo amor que você tem à sua vida, cala essa sua boca.
Blake se aproximou de mim, passando reto por Jason sem nem lhe dirigir a palavra, me pegando pelo braço com força.

– Vamos para casa.

– Mas...

– Não quero saber, nós vamos para casa agora.

Blake me puxou rapidamente sem dar chance alguma para me despedir de Jason ou Nate.

– Me solta! Blake você está me machucando.

Não sei se ele ouviu ou não, apenas continuou andando no mesmo ritmo e sem afrouxar o aperto em meu braço.
Somente quando paramos do lado de fora, e eu senti o frio cortante que fazia, Blake me soltou deixando uma marca avermelhada onde ele tivera segurado.

– O que eu estou fazendo aqui? Era pra eu estar lá em cima, porque, se você não percebeu, minha amiga está quase entrando em coma de tanto que bebeu e meu amigo está machucado!

– Amigo? – Blake disse com um timbre sarcástico na voz. – Está se referindo à Jason como seu amigo? Então você beija seus amigos. Já beijou Dallas também?

Eu não beijo meus amigos, mas pelo que eu fiz alguns dias atrás, até pessoas que eu odiava eu andava beijando.

– Você é irritante.

– Você é oferecida.

– O que disse? – Apertei os olhos, sentindo vontade de bater em Blake.

– É isso mesmo que você ouviu, mal beija um e parte para outro.

Ah, então era disso que ele estava falando. Contra minha vontade corei, eu ainda não queria falar logo agora sobre o nosso beijo, e se pudesse, nunca falaria disso.

– Em primeiro lugar, você se aproveitou do meu estado aquele dia. E em segundo, quem me beijou foi Jason!

– Se fosse só isso, sua amiguinha não faria aquele escândalo.

Esfreguei meus braços em torno do meu corpo. Meu sangue fervia e meu corpo morria de frio.

– Ela está bêbada, Blake! Bêbada! – Gritei.

Um sentimento que eu não tinha certeza do que era fervilhava dentro de mim fazendo meu estômago revirar. Seria humilhação? Raiva? Mágoa? Eu não sabia.

– Isso não apaga o fato de que você beijou Jason.

Meu estômago pareceu revirar com mais força e senti minha cabeça latejar.

– A vida é minha e eu enfio minha língua na boca de quem eu quiser! – Arrependi de dizer isso no momento em que a última palavra saltou da minha boca. Eu nunca falara de modo tão vulgar assim, Blake era uma péssima influência para mim.

Irritada, virei na direção contrária em que ele se encontrava. Comecei a tirar meus saltos conforme andava, sentindo o frio da calçada sob meus pés que logo ficariam sujos.

Qual era o problema de Blake? Ele podia fazer sabe-se lá o que com a Ruby enquanto eu tinha que ficar sozinha. Talvez eu fosse mesmo perder minha virgindade com quarenta anos, como Annie disse.

Droga, eu chorava sem, aparentemente, nenhum motivo.

Apressei meu passo.

– Onde está indo, Sophie? – Pela proximidade de sua voz, Blake parecia me seguir.

– Para casa. – disse limpando a umidade que indicava que eu estivera chorando.

– A pé?

– Você se importa?

Silêncio.

Nada surpreendente. Blake não ligava para mim.

– Vai responder minha pergunta?

Assustei-me ao ouvir a voz dele ao meu lado.

– Vou com o carro do meu pai. – Dei de ombros fracamente.

– Hã?

– Ah, qual é Blake, acha que eu sou idiota e não perceberia que viemos no carro de David?

Ele parou de andar, mas eu continuei com meus passos, vendo que meus pés estavam um pouco dormentes pelo frio.

– Sophie, espere. – Blake segurou meu ombro.

Blake girou-me, fazendo com que eu ficasse de frente para ele.

– O que foi ago...

Não deixou que eu terminasse minha frase, sua boca grudou-se na minha de surpresa. Tentei me afastar, mas Blake não deixou, passando um braço em torno da minha cintura e deixando a outra mão em minha nuca. Seus lábios eram quentes contra minha boca fria e pálida.

Sua língua pediu passagem e foi aí que eu parei de resistir, cedendo. Acho que Blake percebeu isso, pois a mão que estava em minha nuca deslizou para minhas costas, apertando-me possessivamente. Minhas mãos, apertadas em punhos em seu peito, foram para a gola de sua jaqueta, onde eu apertei o tecido, o puxando para curvar-se e fazendo-o ficar mais colado do que estava á mim.

Beijávamos-nos desesperadamente, como se quiséssemos fazer isso desde que saí daquele hospital, desde que ele entrou pela porta do hospital para tentar conversar comigo sobre nosso beijo.
Nos separamos com a respiração ofegante. Blake ainda tinha as mãos em minha cintura.

“- Você é oferecida!”

Minhas mãos deslizaram de sua jaqueta e penderam ao lado do meu corpo.

Burra! Idiota! Blake indiretamente me chamava de puta e eu ainda ficava com ele. Eu era mesmo oferecida.

Afastei-me dele. Eu parecia bipolar, mas eu não sabia agir quando o assunto era Blake Folk.

Recomecei a andar, seguindo outro caminho, na direção contrária em que estava o carro.

– Sophie? O que foi agora?

– Nada, a puta aqui já foi usada e agora está indo embora.

– O que...?

Olhei para trás, coisa que precisei de muito do meu orgulho para fazer, e vi Blake parado, sua expressão era a de quem resolvia um complicado exercício de matemática. Ao ver que eu o observava, ele cruzou os braços e ergueu a sobrancelha.

– Vai a pé? – disse sarcasticamente. – Boa sorte e cuidado, vestida do jeito que está não posso garantir que vai chegar em casa com segurança.

– Tenho certeza que vou chegar muitíssimo bem. – falei mais para mim mesma.

Antes de contornar uma esquina, olhei mais uma vez para trás e Blake tinha voltado com a expressão de antes.

O que estava acontecendo entre nós dois?