I Surrender

Capítulo 15 - Tchau Blake!


Capítulo 15 - Tchau Blake!

Estava correndo pela casa de Ashley com um desconhecido em meu encalço, seus dedos às vezes roçavam no tecido do meu vestido, mas sempre que ele quase me alcançava eu corria mais rápido.

O corredor parecia não ter fim, quanto mais corria, mais longe ficava a escada.

Meus pés doíam tanto que parecia que eu andava sobre cacos de vidro. Quando olhei para baixo a fim de vê-los, percebi uma lagoa de sangue por todo o corredor que deixava o ar com o cheiro de ferrugem e o perfume de minha mãe. Havia sangue salpicado em meus tornozelos.

Olhei desesperada para os lados, mas as portas haviam desaparecido. Minha única chance de fuga realmente era a escada.

O teto também começou a escorrer sangue, este pinga em mim. O cheiro é tão forte que me faz querer vomitar.

Quase sem forças, dei um pequeno sorriso carregado de esperança ao ver que os degraus da escada estavam pertos.

Quase lá.

Quase...

Estanquei com os olhos arregalados de medo e surpresa.

O mesmo assassino da minha mãe encontrava-se segurando Félix que miava sem parar. O único presente vivo de minha mãe e o meu único amigo de verdade em Londres.

O assassino sorriu sadicamente para mim e balançou Félix em sua mão. Foi questão de segundos para aquele monstro esquartejar meu gato com as mãos. Seus pedaços pútridos são jogados em mim.

Permaneci parada, chocada. Uma dor dilacerante ia crescendo dentro de mim.

Meu perseguidor me agarrou.

Comecei a gritar sentindo os olhos marejados. Agarrava-me em algo macio que percebi ser um colchão.

– Querida, fique calma.

– Pare de chorar, estamos aqui Sophie.

Um pouco aliviada percebi que tudo tinha sido um maldito blecaute.

Pisquei repetidas vezes olhando ao redor. Em meu braço esquerdo havia uma agulha com esparadrapos por cima, esta era ligada a um tubo que levava soro para minhas veias. Eu estava vestido em um camisolão que fazia com que eu parecesse uma obesa.

Ah, claro, era um hospital. E algumas pessoas continuavam falando comigo.

Demorei alguns segundos para focalizar os donos daquelas vozes. Foi aí que eu me lembrei de tudo que tinha acontecido. Meu pai sempre traiu minha mãe com Ashley Vagabunda, Blake fez questão de contar tudo com o maior prazer. Oh, não, Blake! Ele tinha me beijado, quer dizer, eu que tinha o beijado. Ah, eu quero morrer!

E o ele ainda encontrava-se bem ali na minha frente, me vendo naquela camisola altamente sexy. Háhá. David e Ashley também estavam junto dele. Eu não conseguia ouvir o que eles falavam, minha cabeça rodava de fúria dos dois.

– O que vocês estão fazendo aqui? – perguntei com a voz rouca.

– Ah, céus, Sophie, você está bem?!

– Não haja como se importasse!

– Mas nós nos importamos.

Ri sarcasticamente balançando a cabeça e logo sentindo uma pontada na mesma.

– Não se importam! – Eu estava praticamente gritando, pulsava de raiva. – Saiam daqui!

– Sophie, pare de ser infantil! – David disse com a testa franzida e o corpo tenso. Não liguei, não me importava em ser uma péssima filha. Não mais.

– NÃO ESTOU QUERENDO SABER SE ESTOU SENDO INFANTIL! – Minha cabeça doía horrores, mas eu continuava gritando. – SAIAM DESSA MERDA DE QUARTO!

Ashley me olhou assustada e David começou a falar alguma coisa que não ouvia direito, muito menos queria. Não desviei meu olhar para Blake, sabia que se o fizesse minha coragem is desmoronar e tudo que eu iria fazer era ficar o olhando como uma idiota e querendo me matar por tê-lo beijado.

– EU ESTOU FALANDO SÉRIO, SE VOCÊS NÃO SAÍREM AGOR-

– PARE DE GRITAR, SOPHIE MONROE! – Meu pai começou a gritar mais alto que eu.

– VAI SE FERRAR! E APROVEITA E LEVA JUNTO ESSA VAGABUNDA AÍ DO SEU LADO!

A minha madrasta me olhou espantada, quase chateada, ela pensava que enganava alguém.

– QUE TIPO DE PALAVREADO É ESSE QUE VOCÊ ESTÁ USANDO?

Coloquei a mão no lado que latejava minha cabeça. Parecia que ia estourar.

Antes que eu pudesse gritar mais coisas uma enfermeira com a expressão aflita entrou no quarto. Aquilo na mão dela era uma seringa? Pronto, agora David e Ashley resolveram se livrar de mim me matando.

– Por favor, não se altere. – Ela andou até mim com o cenho levemente franzido.

Olhou alguma coisa na minha cabeça e suspirou aliviada. Será que isso que doía tanto era por causa da minha queda depois do meu surto “eu beijei o Blake”?

– EU NÃO QUERO NUNCA MAIS VER SUA CARA! – Gritei para David, o olhando com raiva.

– Senhorita, você está muito alterada, eu só vou te acalmar um pouco.

Dito isso, a enfermeira aplicou alguma coisa no meu braço sem soro. Minha visão foi ficando turva aos poucos, mas ainda consegui ver a enfermeira falando para todos no quarto se retirarem. Uma voz foi contra, não tive certeza de quem tinha sido.

Ótimo, me drogaram.


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Sentia minha cabeça latejando e uma grande fraqueza, tentei me lembrar do que aconteceu. Certo, de uma coisa eu tinha certeza, eu estava em um hospital e havia acordado antes com Ashley, David e Blake no quarto, mas agora só havia o silêncio, parecia que não tinha ninguém.


Abri os olhos com dificuldade, a claridade me incomodando. Sem a confusão de quando acordei pela primeira vez e a onda de raiva, percebi que não era apenas a cabeça que doía – ela parecia a mais machucada, mas ainda assim -, meu corpo parecia ter sido moído.

–Olá... Sophie - disse a mesma enfermeira que tinha me drogado com um tom simpático conferindo meu nome em sua prancheta - Que bom que acordou, estão todos muitos preocupados.

– O que aconteceu? - falei me levantando um pouco e me escorando nos travesseiros.

– A senhorita teve um desmaio e bateu a cabeça durante a queda, foi um pouco grave, levou três pontos, mas já está tudo bem.
Tudo bem, claro, eu nem sabia se tinham raspado meu cabelo pra dar esses pontos. Nada estava bem.

– Meu cabelo está inteiro? – Ergui as sobrancelhas escutando a enfermeira rir um pouco.

– Sim, a sua mãe não deixou que os raspássemos, disse que sabia que quando você acordasse iria ter um ataque ao descobrir que isso tinha sido feito.

– Minha mãe?

– Sim, aquela jovem de cabelos ondulados e pretos.

Ah, Ashley. Aquela vaca nem se parecia comigo. Minha mãe, eca. E ela ainda tinha a ousadia de falar como se me conhecesse, e fingir que se importava com o que eu pensaria.

Respirei fundo sabendo que não podia começar a gritar com a enfermeira. Ela não tinha culpa de nada. A não ser pelo fato de ter me drogada, mas mesmo assim, eu realmente tinha ficado histérica naquela hora.

Optei por perguntar outra coisa.

– Há quanto tempo estou aqui?

– Três dias. Sabe você tem muita sorte por ter um namorado como aquele, ele não saiu daqui para quase nada, só quando a mãe o obrigava. - Comentou regulando meu soro.

Namorado? Eu nunca tive um namorado, a relação mais duradoura que tive foi com Bryan, de qualquer jeito, nunca conheci sua mãe.

A moça deve ter visto minha expressão confusa e esclareceu:

– Um garoto alto, cabelos pretos, olhos azuis, bem bonito por sinal.

Espera aí, quer dizer que Blake esteve todo esse tempo aqui?

Um choque percorreu meu corpo ao me lembrar, novamente, do que ocorrera antes do blecaute.

Começando por David e Ashley. Aquela vadia ainda teve a cara de pau de vir aqui? Depois da briga entre Blake e David. E por último o meu beijo com Blake.

Ai meu Deus, como eu iria encara-lo depois disso? Ele ficou aqui do meu lado esse tempo todo. Ainda bem que eu não tinha acordado bem na hora que ele estava no quarto. Durante a minha gritaria, meu foco era Ashley e David, embora eu estivesse bem consciente da presença de Blake, mas agora não havia nada para me atrapalhar de pensar nisso.

Eu tinha o beijado. Eu que me inclinei para ele. Eu que tomei a iniciativa. Eu quero cavar um buraco e me esconder.

A mulher se retirou dizendo que iria trazer meu café da manhã, me deixando sozinha naquele quarto, totalmente perdida. Principalmente em pensamentos que envolviam Blake e meu orgulho ferido.

Depois de um tempo contemplando o nada, ouvi a porta se abrir, mas não, infelizmente não era a enfermeira.

Blake caminhava em minha direção. Observei seu rosto e vi que ele ainda tinha um arroxeado sob seus olhos. Sua postura mostrava cansaço, mas ao mesmo tempo alívio, sentou-se na ponta da cama e me olhou com aqueles olhos azuis elétricos onde um pouco acima da sobrancelha ainda tinha um minúsculo corte. Deixei por último sua boca – Que eu já tinha beijado! Ah Deus, eu estava ficando vermelha. Pare de pensar nisso Sophie. –, o que eu vi tinha servido de consolo para o meu orgulho ferido, sua boca estava bem inchado e meio arroxeada.

Vai ver foi de tanto você beijá-lo, não estava tão ruim assim antes de você morder os lábios do coitado, chutou minha consciência. Fiquei mais vermelha ainda.

– Você está bem? - Sua voz saiu quase como um sussurro

– Estou.

Ficamos em um silêncio desconfortável. Isso era estranho, eu nunca passei mais de um minuto com ele sem estar brigando ou o beijando, mas isso não vem ao caso e eu tenho que parar de ficar pensando que o beijei.

– Sabe, você me assustou, quer dizer nos assustou. David estava a ponto de ter um ataque.

– Como se ele se importasse.

– Você também não foi um exemplo de comportamento. – falou depois de um tempo.

– Vai ficar do lado deles? Então faça o favor de sair do meu quarto.

– Esse quarto não é seu.

– Mas eu estou instalada nele, então nesse momento, ele é!

Para ser sincera, fiquei um pouco aliviada em ter voltado a discutir com Blake, as coisas pareciam voltar ao normal fazendo isso.

– Por que não me contou?

– Hã? – Fiz uma careta estranha com a repentina mudança de assunto. Parecia que ele não estava mesmo a fim de brigar.

– Por que não me contou sobre sua mãe e seus blecautes? – Seus olhos me encaravam diretamente.

– Q-Quem te disse isso?

– Seu pai.

– Ele não tinha o direito de fazer isso! Isso é problema meu! Como ele pode sequer mencionar o nome da minha mãe depois do que ele fez?

Eu me sentia exposta, vulnerável. Agora Blake sabia dos meus problemas e provavelmente estaria achando que eu era uma louca psicopata. Desde quando o que Blake pensa de mim importa?

– Acalme-se Sophie, você não pode se exaltar.

– Mas é claro que eu estou exaltada, eu... eu...

– Ok. Vamos mudar de assunto. – Blake sentou-se na poltrona cinza que havia no quarto, mais longe do que antes. – Se lembra de tudo que aconteceu depois que você saiu de casa á noite?

OH NÃO! Vamos voltar para o assunto dos meus blecautes! Eu não quero falar sobre isso!

– Hm, hmmm... – Uma desculpa. Rápido! – Hmmm.

Blake me olhou estranhamente.

– Tem certeza que você está bem?

– NÃO! Na verdade eu estou passando muito, muito, muito mal! Acho que você vai ter que sair, não vai querer me ver vomitando!

– Mas...

Coloquei as mãos na boca, fingindo que iria vomitar. Como eu sou idiota.

– Sophie, acho que se você for vomitar precisa de ajuda e... – Blake falou levando-se e chegando mais perto da cama.

Ah, graças a Deus! A enfermeira abriu a porta com uma bandeja com o meu café da manhã.

– Não! A enfermeira já chegou! – disse tentando conter o meu sorriso, pela primeira vez eu tinha tido um pouco de sorte. – Tchau Blake, não preciso da sua ajuda, foi muito bom te ver. TCHAU!

Ainda me olhando como se eu fosse um alienígena, Blake saiu do quarto, dando uma última olhada para mim.

Suspirei aliviada. Essa foi por pouco.