Seb entrou numa joalheria.

Avistou uma vitrine, com anéis, colares e afins.

Observou atentamente cada um dos objetos. Qual deles ela gostaria mais?!. Sim, estava decidido a dar algo para simbolizar o que os dois estavam vivendo.

Imaginou cada peça, nas mãos e pescoço dela. Era difícil. Teria que usar algo também. Nada muito visível. Não podiam perceber. Jóias de formato diferente, mas com a mesma gravura.

Queria algo discreto.

Viu uma pulseira de ouro com alguns pingentes em forma de cruz. Delicada, muito bem trabalhada. Logo ao lado, fazendo parte do conjunto, um anel e um colar. Se comprasse todo o conjunto, e entregasse a maior parte para ela, ficando apenas com o anel, ninguém desconfiaria.

Costumava usar anéis e pulseiras em ambas as mãos. Decidiu comprá-los.

Se soubesse que Axl tinha olhos de águia para algumas coisas, não teria, sequer cogitado fazer isso.

Saiu da loja, e voltou para o hotel. Poucas horas o separavam da fantástica e maravilhosa semana ao lado de Mary, de uma realidade, muito desagradável aos seus olhos.

Voltaria para a rotina de mentiras e proibições.

Sua sensação de liberdade acabaria ali. Exatamente às 15:00 p.m. caíria o ultimo grão de areia da ampulheta.

Samuel, não conseguia mais andar. sentou-se na calçada, e encostou-se num muro,com uma garrafa de whisky na mão.

Samuel não aguentava mais a vida que levava. Seus pais não o entendiam de forma alguma. Passou a beber mais ainda.

Por pouco não acompanhou um colega à drogar-se. Se não fosse Daniel, seu amigo de infância, estaria perdido.

Lembrava-se de Mary o tempo todo. Ainda sentia algo especial por ela. Queria vê-la. Sentia-se um filho da puta quando lembrava do que havia feito à ela.

Lágrimas rolavam em seu rosto toda vez que pensava naquele maldito dia. Lágrimas de puro ódio de si mesmo.

A amava. Muito. Sentia que ela o correspondia, na época. Agora não mais. Amava-a, sabendo que não estava recebendo o mesmo afeto.

Sua vida poderia ter sido diferente. À essa altura, se estivessem juntos, poderiam estar pensando em se casar.Ah! como queria aquilo.

Recordava-se. Como era linda. Virou a garrafa mais uma vez, tomando um bom gole de whisky.

Olhos vermelhos, marejados. Se pudesse, voltaria no tempo. Maldita vagabunda, que o seduzira naquela noite!. Não estava lúcido.

Olhou a garrafa que estava em sua mão. Sentiu ódio do líquido que o fazia sentir prazer, que gostava tanto. Ódio daquele líquido amarelo-escuro que o ajudou a perder a unica garota com quem poderia ter sido feliz.

Talvez, se não tivesse gritado com ela,e a empurrado contra o carro, poderiam ter resolvido aquela história. Ela era criança demais, 13 anos... era a criança que ele queria cuidar. Provavelmente, ela estaria com outro agora. Talvez, se fosse procurá-la, não seria aceito de volta. Não tinha mais nenhum atrativo. Estava largado.

Encostou no muro. Era madrugada. Possivelmente, dormiria ali.

Daniel estava trabalhando, não fazia aquele caminho..... não poderia encontrá-lo. Não podia bater na porta da casa do amigo, para pedir um canto qualquer pra dormir, ele saía muito tarde do clube onde trabalhava como bar-man.

Observou a rua. Viu uma sombra se aproximando. Não conseguia enxergar direito. Sua visão estava embaçada, tinha tomado mais da metade da garrafa. A unica coisa que conseguia fazer, era pensar. Pensar nas merdas que fez na vida.

A sombra foi se aproximando cada vez mais, tomando forma de um homem, de estatura média, e corpo musculoso. Cabelos longos, como os seus. Só enxergava isso.

Não ligaria se fosse assaltado. Não tinha mais nada a perder. Se fosse assassinado, seria dado como indigente, pois, estava sem documento algum. A unica coisa que possuía, era a garrafa de whisky Jack Daniel\'s, que estava no fim.

O homem parou, e abaixou-se em sua frente. Podia ver melhor. Trajava uma jaqueta e calça jeans, e uma camiseta preta, com um patch, o qual identificou como o logo do lugar onde Daniel trabalhava. Uma voz familiar. Forçou a visão. O rosto parecia-se com o seu. Era o melhor amigo, Daniel.

Daniel - De novo, cara?!

Samuel - que cê tá fazendo aqui? - falou com a voz carregada -

Daniel - foi sorte eu passar por aqui. Raramente faço esse caminho de volta pra casa. - disse, fazendo careta. O hálito do rapaz cheirava a whisky puro. -

Puxou Samuel do chão, apoiando-o no ombro.

Daniel - vem...vamo pra minha casa...

Samuel - eu..não to tão bêbado assim...

Daniel - ah não. imagina. cala a boca.

O bêbado nada mais falava. Andava arrastado, muitas vezes tropeçando nos próprios pés.

Era a enésima vez que Daniel o encontrava daquela forma. Não o condenava, sabia dos problemas que passava. Piorou quando terminou com Mary, mas ela não era a unica razão.

Pensou muitas vezes em procurá-la, pra ver se adiantava alguma coisa, mas desistia na primeira oportunidade. Decidia, conversar com o amigo, ele mesmo. ajudá-lo de todas as formas possíveis,sem tocar na maior ferida. Mary.

Entrou em um prédio simples. Cumprimentou o porteiro, que sempre o via carregando Samuel nos ombros.

Subiu dois lances de escada. Com certeza, ao se deitar, dormiria profundamente. Estava cansado. Dias de show no clube eram os piores. Trabalhava dobrado, e ainda, carregar um cara de quase 70 quilos, acabava de vez com ele.

Abriu a porta do apartamento com a mão que estava livre. Jogou Samuel no sofá. Trancou tudo. O amigo ainda estava consciente, olhando para o teto. Pensativo.

Daniel - vou arrumar algo pra você comer.

Samuel - Não quero.

Daniel - eu não perguntei se você quer ou não. Eu VOU arrumar alguma coisa pra você comer.

Samuel - tá bom.

Daniel adentrou a cozinha. Viu dos pacotes em cima da mesa. Colocou as mãos. Ainda estavam mornos, com um bilhete em cima. Sua mãe, estivera ali à pouco.

Pegou o bilhete e leu.

\"preparei duas porções. Sei que Samuel anda dormindo aí. beijos. Mãe\"

Sorriu. Dona Katherine, como sempre, salvando a pátria.

Esquentou as duas porções no forno microondas. Minutos após levou a de Samuel para a sala.

Fez o amigo comer até o último grão.

Mesmo retrucando com Daniel, sabia que só queria o seu bem. Colocou o prato em cima da mesa de centro, bagunçada pelos cd\'s. O amigo já havia terminado seu jantar. Só o aguardava. No prato de Samuel não havia nenhum rastro do macarrão, o qual a mãe de Daniel havia preparado.

Samuel - tá bom assim pra você?

Daniel - tá ótimo. perfeito. fica enchendo o rabo de pinga e não come....cê tá querendo morrer... - levantou-se -

Ele nem esperou Samuel responder.Levou os pratos para a cozinha, e depois voltou. Guiou Samuel à um quarto e deixou-o estirado na cama. Depois foi aprontar-se para dormir.

Deitou-se. Estava preocupado com o colega.

Refletiu, tentando achar uma solução, mas acabou dormindo sem perceber.

Nuno foi embora. Axl ficou sozinho em casa. Deitou-se. Sabia que Mary chegaria só pela manhã. O fuso-horário confundia-o muitas vezes.

Achou estranho Mary mandar só um \"oi\" para Nuno. Aliás, tudo estava estranho desde o início.

Lembrou-se do que Izzy dizia. Ficarem juntos. Seb e Mary. Loucura.

Nuno que deveria ter ido com ela.

Via sempre Seb ficar de mau-humor quando via Nuno beijar e acariciar Mary. Parecia... ciúmes.

A filha sempre atendendo o celular do rapaz, e ele nunca estava. Estranho.

Axl tentava não pensar em mais nada, mas tudo eram, evidências!

Recordou-se da depressão de Mary. Passou sete meses procurando, terapeutas competentes, os melhores do país para curar a filha. Gastara muito dinheiro com consultas.

Estava quase a enternando numa clínica psiquiátrica. E num simples passeio, com o loiro, melhora. 100 %. Como se nunca tivesse ficado doente. Tudo elementar.

Iria observar mais um pouco. Não queria ser precipitado. Mas agora... sua desconfiança...era grande.

Ligou a televisão. Trocava de canal o tempo todo. Nada de interessante. Desligou.

`Sentia falta da filha. Estava preocupado. Sabia dos perigos do mundo. Por mais que tenha dado, ou pelo menos tentado, dar a melhor educação que podia, os alertas, e as regras, Sabia como era ter 18 anos.

Se arrependia de muitas coisas que fizera, quando tinha essa idade. Coisas que pra ele eram certas, na época.

Primeiramente de ter largado Erin e fugido com Mary, para tentar a vida em Los Angeles.

Muitas vezes largou a filha com a namorada de Izzy para sair, cantar e se divertir. Mas em nenhum momento esquecia da pequena, que o aguardava em casa, todos os dias, pra receber o carinho do pai.

Após conhecer Slash, a mãe dele, Ola o ajudou a cuidar melhor da bebê, que só tinha dois anos. Era grato à ela.

Amava Erin, ainda. Pensou várias vezes em voltar para Lafayette e a encontrar, mas sabia que ela estava com outro, então deixava.

A filha, pouco perguntava pela mãe.

Naquela noite, sabia, que não conseguiria dormir. Era a noite de recordar das piores e melhores lembranças.