As duas crianças corriam livremente por aquele belo campo das mais variadas e coloridas flores, com um sorriso de orelha a orelha estampados em seus rostos e gargalhadas saindo espontaneamente. Um era esbelto e com os fios de cabelo morenos — quase negros de tão escuros — enquanto o outro era um tanto mais baixo que o primeiro e possuía os cabelos azulados, mas também eram tão escuros que só era possível de observar essa cor diante do sol que refletia nos fios. Pareciam ser muito próximos um do outro — suas mãos permaneciam grudadas por mais rápido que andavam sem parar por todo o ambiente — e nada parecia os incomodar, era como um momento mágico onde tudo que importava era correr sobre aquele enorme campo onde mal dava para enxergar o que havia pela frente.

— X —

E então, de repente, um feixe de luz vindo de uma fresta rasgada da cortina impregna entre as pálpebras dos olhos de Jaebeom, que resmunga baixo e reluta para não ter que abri-los, mas era inevitável, o sol já havia nascido e refletia bem na frente da janela do quarto do jovem. Os cílios começam a se erguer lentamente e aos poucos ele vai abrindo os seus olhos negros, coçando-os com os dedos por cima das pálpebras, enquanto também franzia a testa espontaneamente.

Já não era a primeira vez que ele tinha um sonho como esse, para falar a verdade, era continuo, sonhava a mesma coisa quase todas as madrugadas. O mesmo campo, as mesmas crianças, a mesma felicidade estampada nos rostos deles e a brisa um tanto quanto gélida balançando seus cabelos de um lado para o outro, mas o que não entendia era que após esse sonho ele acordava com lágrimas escorrendo em seus olhos e uma tristeza profunda. Não conseguia raciocinar o motivo desse tão misterioso pensamento mexer tanto com os seus sentimentos.

E então ele boceja de repente e estica seus braços para cima, entrelaçando os dedos e os estralando, depois faz o mesmo com seu pescoço. Se tinha uma coisa que Lim Jaebeom não gostava, era ter que acordar cedo. Ele fica ali sentado na sua cama com o lençol todo desarrumado e tocando no chão de madeira clara, olhando para o nada e pensando em muitas coisas, principalmente naquele sonho. Até que olha o relógio que ficava em cima de uma pequena cômoda ao lado da cama, e percebe que estava extremamente atrasado para a faculdade.

— Merda! — exclama alto.

O moreno desce as escadas correndo e vai em direção ao banheiro para tomar uma ducha antes de sair, tirando seu pijama no meio do caminho e deixando as peças espalhadas pelo chão. A casa como sempre estava um breu e extremamente silenciosa, uma vez que ele morava sozinho a dois anos, desde que o velho que havia o adotado tinha falecido por conta de uma doença de família. Ele sentia saudade do senhor Kim, afinal havia sido criado por ele desde os seis anos de idade, quando foi abandonado na porta dele naquele inverno incessável de anos atrás, apenas enrolado em dois cobertores finos e com poucas roupas em seu corpo. Mas Jaebeom era o tipo de garoto que queria mostrar a todos que era capaz de superar qualquer desafio que aparecesse em sua frente, sabia que deveria se esforçar para deixar seu pai adotivo orgulhoso, queria poder retribuir tudo que ele havia feito por ele.

Apesar de ficar sabendo da história de como havia chegado até ali, graças ao senhor Kim, o moreno não recordava de absolutamente nada de antes dos seis anos. Nem seus pais, amigos ou sobre ele mesmo, outrora sabia seu nome pois estava em uma etiqueta pregada aos lenções que havia vindo enrolado naquela noite. Mesmo se esforçando ao máximo, nenhuma recordação vinha em sua mente...

Enquanto a água morna escorria pelo seu corpo levemente musculoso — mesmo sem fazer exercícios físicos, seu abdômen levemente marcado pelos gominhos era de dar inveja e deixar as garotas malucas — tirando o sabão e molhando seus cabelos — fazendo-os escorrer em frente a testa — ele continua a pensar naquela criança de cabelos azuis, como se estivesse tendo um pequeno déjà-vu, mas era tudo muito confuso, não sabia da onde aquelas imagens vinham. No começo pensava que era apenas uma recordação de algum livro — já que amava ler contos fictícios — ou talvez de algum filme que havia visto na televisão, mas revirou toda sua estante e não possuía nenhum livro com essas características e o google não encontrou nada com essa sinopse ao pesquisar na internet. Até que de repente solta um suspiro profundo, voltando a si e apagando aqueles pensamentos de sua mente, desligando o chuveiro logo em seguida.

— Vamos Lim Jaebeom, pare com esses pensamentos. — dizia a si mesmo. — Falta pouco tempo para você se formar e precisa se concentrar.

Assim que saiu do chuveiro, o moreno veste seu roupão azul marinho que estava pendurado em um cabide côncavo ao lado do box, e caminha em direção a cozinha apressado, pois o tempo corria mais do que ele podia acompanhar, onde assim que coloca seus pés no cômodo, liga a cafeteira para preparar seu café americano, e coloca duas fatias de pão na torradeira. O moreno se senta na mesa após pegar a geleia de frutas vermelhas em sua geladeira. Assim que o café fica pronto, ele bebe em goles apressados, mesmo sabendo que poderia se queimar. O garoto adorava o cheiro amargo que se espalhava pelo ar conforme a fumaça daquela bebida quente saía da xícara. E apesar de não gostar de fazer nada sobre pressão, não podia se atrasar mais, portanto apenas dá algumas mordidas na torrada e sobe novamente ao seu quarto para trocar de roupa.

Ele não possuía muitas peças pois não podia gastar comprando novas até que as antigas ainda fossem usáveis, seu emprego de meio período — do qual ele havia tirado folga por toda a semana — apenas pagava o necessário, então ele sempre fazia um rascunho das contas do mês para poder controlar os gastos. Ele veste uma calça preta com os joelhos rasgados e uma camiseta branca por baixo, uma sem nenhuma estampa, e por último coloca a jaqueta da mesma cor da calça por cima. Suas mãos vão em direção a um perfume em cima de sua estante, o qual ele dá duas esguichadas, possuía um cheiro adocicado, mas ao mesmo tempo cítrico graças a essência de limão que o mesmo possuía. Ele ajeita seu cabelo com os dedos olhando no espelho atrás da porta de seu quarto, jogando os fios todos para a esquerda, e aproveita para colocar um dos seus mais variados piercings, um na orelha e o outro na sobrancelha. Ele não era um garoto rebelde, mas gostava de usar essas coisas que a maioria dos pais provavelmente odiariam ver os seus filhos usando.

E então ele pega a sua bolsa que estava jogada no chão, retirando as suas chaves de um dos bolsos laterais dela. Jaebeom desce as escadas ainda mais apressado e pega sua bicicleta em um quarto que servia como depósito de tranqueiras — lá dentro podia-se encontrar desde ursinhos de pelúcia da infância do garoto, até algumas revistas proibidas para menores de idade e algumas garrafas vazias de bebida de quando ele estava entrando na puberdade.

Por fim, sai de sua casa, trancando a porta cuidadosamente, uma vez que a fechadura estava com problemas, deixando-a aberta várias vezes por descuido graças a esse problema.

— X —

Jaebeom gostava de observar os cenários ao seu redor, desde as pétalas de flores despregando dos galhos das árvores, indicando o outono, até o pequeno e absurdamente azulado rio que cruzava o caminho até a faculdade, podendo ser perfeitamente visto da ciclovia pela qual o moreno passava praticamente todos os dias para ir até o centro da cidade. Era de seu feitio reparar nos mínimos detalhes — era da turma de artes, afinal — e também nas pessoas de todas as idades caminhando durante o trajeto, fosse para trabalhar ou estudar, ou até mesmo para regar as flores dos jardins, qualquer coisa ao ar livre, era maravilhosa aos olhos de Lim Jaebeom.

E foi assim — distraído, olhando as belezas daquele caminho — que ele não consegue desviar a tempo de atingir em cheio um garoto que surge misteriosamente na frente de sua bicicleta, como se literalmente tivesse brotado naquele lugar. Os dois caem, e o veículo do moreno se estraçalha no chão áspero da ciclovia, fazendo até mesmo a buzina se desprender do guidão.

— Cara você tá maluco? — berra aos ventos. — Será que não viu que eu estava vindo bem na sua direção?

— Ai, ai, ai... Doeu! — o garoto misterioso franzi as sobrancelhas e enche a bochecha.

— Respira Jaebeom, apenas respire fundo... — dizia a si mesmo. — Você está bem? Levante-se. — exclama estendendo a sua mão para ajudá-lo.

O garoto volta a ficar de pé com a ajuda do moreno, ele estranhamente possuía cabelos azuis — um tom não tão claro, mas também não muito escuro — e olhava confuso para tudo ao seu redor, sem dizer uma única palavra.

— Cabelo legal! — Jaebeom tenta quebrar o silêncio.

— Sinto muito caro humano, não era minha intenção trombar com essa... Como é o nome dessa coisa onde você estava montado?

O jovem de cabelos morenos fica sem entender nada do que o outro falava, ele dizia tudo em uma linguagem extremamente formal que o garoto não conseguia sequer compreender.

— Olha, eu acho que você deve ter batido a cabeça quando caiu, quer que eu te leve para o hospital? — pergunta ainda confuso com tudo.

— O que é um hospital? — o outro questiona.

— Merda! Será que eu te fiz perder a memória? Veja, é sangue escorrendo da sua cabeça! Vamos ver um médico, eu te levo na minha bike... Se ela estiver viva, claro.

— Não, não! Minha memória está ótima humano, me lembro de tudo sobre a minha missão! — exclama de repente. — Preciso encontrar o príncipe dos reinos que foi enviado para a terra ainda criança, para assim salvar o meu povo, o do reinos das fadas, e todos os outros do reino encantado. Não! — ele mesmo se interrompe em súbito. — Eu não devia ter dito isso, eu não devia ter dito isso, eu não...

— Mano, o que é que você fumou? — o moreno fica de boca aberta com a história sem sentido do garoto misterioso. — Esquece, venha aqui! Já que não quer ver um médico eu faço um curativo na sua testa, devo ter um band-aid na minha mochila. — diz já puxando o outro pelas mãos e sentando junto com ele num banco de concreto ali perto.

Ao revirar os vários bolsos de sua mochila, ele encontra um único band-aid, e um remédio para aliar a dor que já estava praticamente no fim do vidro. O moreno se aproxima do rosto do outro em sua frente e assopra o machucado levemente antes de passar o líquido.

— Deve estar doendo, sinto muito mesmo. — se desculpa pelo ocorrido casualmente dessa vez. — Venha mais perto, vou passar isso em você, é o mínimo que posso fazer.

Os rostos ficam ainda mais próximos. Sem perceber, seus olhares se cruzam de repente, e Jaebeom fica hipnotizado por aquele brilho intenso nos olhos daquele garoto misterioso. Seu coração começa a palpitar mais acelerado sem que pudesse controlar, ele não conseguia imaginar o motivo disso ter acontecido assim tão subitamente e em uma situação como essas. Então ele chacoalha sua cabeça para esvair seus pensamentos, e logo em seguida passa o remédio em volta da ferida — após limpar o sangue que escorria com um pedaço de lenço — e depois coloca sobre a mesma o curativo.

— Pronto! Isso vai amenizar a dor e logo logo não vai sobrar nem uma pequena cicatriz que seja. Agora se me dá licença, preciso ir... — Jaebeom serrava os punhos para se conter, estava confuso do porquê seu coração ter acelerado aos seus olhos se tocarem, e pega novamente sua bicicleta as pressas, sem nem ao menos ver os estragos causados pelo pequeno acidente. — Nos vemos por ai, estranho! — É tudo que o moreno diz ao outro garoto enquanto já se afastava do mesmo e seguindo seu rumo sem olhar para trás um único segundo.

— X —

Jaebeom fica ali parado no estacionamento da faculdade montado em sua bicicleta, pensando em tudo que havia acabado de acontecer e em como aquele garoto era estranho até mesmo em seu modo de falar.

Até que ele desperta desse pequeno transe ao escutar seu celular tocando, com o som vindo de dentro da mochila. Era seu amigo, Jackson.

— Alô? — o moreno mantinha uma voz distante.

— Cara cadê você? Já perdeu a primeira aula e a próxima temos que entregar nosso trabalho em dupla. — dizia o outro desesperado pelo telefone.

— Relaxa, eu acabei de chegar e o trabalho está na minha bolsa. E antes que pergunte, sim, eu coloquei o seu nome. Mas na próxima vez que for dar uma festa e não me ajudar no projeto, eu não vou ser bonzinho assim.

— JB, você disse essa mesma frase nas últimas sete vezes. — brinca, usando o apelido dado ao amigo. — Eu não poderia deixar de dar uns pegas esse final de semana, não é mesmo meu caro?

— Haha, queria ver dizer isso na minha cara se eu tivesse aí do seu lado. Aliás vou desligar, estou subindo.

— Até logo amor da minha vida.

— Vai se foder. — e assim termina a ligação dos dois, do modo mais carinhoso possível.

— X —

— E vamos encerrar essa apresentação com uma fala de Leonardo da Vinci que sem dúvidas foi uma das que mais me inspirou na hora de escolher esse curso, mesmo sabendo que era um caminho difícil de se andar, ele dizia: “A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê.” E desde que ouvi ela pela primeira vez na minha juventude, nunca mais saiu da minha cabeça. — e assim o moreno e seu amigo Jackson terminam a apresentação e entregam o relatório escrito ao professor da história da arte.

— Ei, senhor Lim! Espere um instante! Gostaria de saber se o senhor Wang participou do trabalho dessa vez invés de curtir o final de semana como sempre.

— Professor... — o mesmo, cujo nome foi citado, interrompe. — Está dizendo que não acredita que eu ajudei meu grande amigo aqui? Mas que coisa feia, duvidando do seu próprio aluno.

— Vindo de você Jackson, qualquer um duvidaria. — interrompe o moreno. — Mas não se preocupe Mr. Park, ele me ajudou sim, na maneira do possível.

— Certo, em você eu confio plenamente. Podem se sentar. — e assim o próximo grupo se levanta para apresentar o seu trabalho.

Jaebeom já estava quase pegando no sono — vendo e ouvindo todos os seus colegas de classe falarem sem parar e se perguntando como o senhor Park conseguia prestar atenção até nos mínimos detalhes de cada apresentação sem ao menos abrir a boca uma única vez para bocejar — quando Jackson o cutuca por trás, chamando-o baixinho.

— JB... JB... Cara, olha para mim! — ele insistia.

— Eu já sei o que você vai me perguntar e sim, eu topo com você sair hoje a noite. Preciso espairecer meus pensamentos um pouco então uma boa dose de soju provavelmente vai ajudar.

— O que acha de irmos ao novo caraoquê que abriu no quarteirão perto da sua casa? — sugere.

— Fechado! Passe em casa as seis e então vamos. — e assim novamente se encerra o assunto com uma conversa breve e num tom baixo para que o professor não escutasse.

— X —

Na hora do intervalo, os dois vão até a cantina da grande faculdade comprar algo para comer. Não era de se espantar o tamanho do lugar, afinal acoplavam vários cursos — desde engenharia até odontologia e por isso precisavam de um espaço para abrigar a todos os alunos, e mesmo assim os três andares já não estavam sendo suficientes. A cantina ficava no primeiro, bem no fim do corredor em uma área aberta. Eles eram um dos últimos da fila então já sabiam que não iria sobrar muita coisa quando chegassem a vez deles.

— Tá vendo cara? Não tem mais nada! — exclama o mais extrovertido. — Eu te disse para cortar fila comigo.

— Você não toma jeito mesmo, não é Jackson? E olha que estudo contigo desde o primário. — o moreno balança a cabeça em sinal de reprovação. — Com licença, poderia nos ver duas tortinhas de morango, por favor? — pede educadamente para a garçonete da cantina.

— São oito reais no total. — diz a moça retribuindo o sorriso de Jaebeom com outro.

— Cara, ela está tão na sua! — exclama Jackson após pegarem os seus aperitivos. — Pede o número dela.

— Vamos comer de uma vez, antes que eu tenha que enfiar minha cara num buraco graças ao seu jeito de ser discreto.

— Nossa que bicho te mordeu hoje, hein? E pra sua informação eu odeio morangos.

— Beleza, eu como as duas. — diz deixando o amigo falando sozinho e indo em direção a uma mesa afastada no espaço aberto onde estavam, era a única sobrando em meio a tantas outras ocupadas.

— JB... Espera aí cara, não toca na minha tortinha! — o outro o acompanha.

Jackson observa seu amigo comer lentamente, distraído olhando para todos os cantos da cantina sem esboçar uma única reação. Eles se conheciam a muito tempo, então sabiam quando um estava agindo de maneira estranha e diferente do habitual.

— O que você hoje? Tá tão estranho... Precisa de companhia para visitar o seu pai? Eu compro as flores para você se quiser.

— Não é isso, relaxa está tudo bem. Só estou pensativo sobre algo que aconteceu hoje pela manhã.

— Estou a todo ouvidos. — diz para tentar animar o moreno.

— Eu sinceramente nem sei o motivo de estar pensando tanto nele... Estava vindo para cá quando de repente atropelo um carinha que tinha mais ou menos a nossa idade, ou pelo menos aparentava.

— Meu deus JB você matou um cara? Puta merda a gente precisa se esconder da polícia! É o seguinte, minha família tem uma casa na China, eu deixo você ficar por lá até a poeira baixar. Vamos logo para o aeroporto, eu envio suas cuecas depois. — ele corta a fala do amigo desesperado com sua conclusão errada da situação.

— Jackson, foco! Eu não matei ninguém idiota. E para de querer tocar nas minhas cuecas, todo dia isso irmão. — o moreno interrompe o raciocínio dele.

— Ufa! Achei que iria perder você para sempre. Quem ia me passar as respostas das provas? Trate de nunca fazer besteiras, ok mocinho? Mas vamos, pode continuar!

— Ótimo saber o meu valor, assim são os amigos de hoje em dia... Mas enfim, continuando. — ele respira fundo antes de prosseguir com a história. — Esse cara e eu nos trombamos e eu acabei caindo da bicicleta, ele terminou com um machucado na testa. Acontece que ofereci ajuda para levá-lo a um médico.

— Por um mero arranhão no rosto? — o ouvinte questiona.

— Na verdade não, foi porque ele começou a falar umas coisas estranhas sobre missões, reinos e outras coisas que nem consegui entender. Ele falava e agia de um modo muito entranho, dai comecei a pensar que eu tinha quebrado os neurônios dele com o impacto né. Mas o mais estranho de tudo isso foi o fato de que eu sentia, bem lá no fundo, que eu o conhecia de algum lugar, venho pensando nisso o dia todo, porém nada me vem na cabeça.

— Ah cara, as vezes ele só tinha um rosto comum e você confundiu ele com algum conhecido, afinal caras com uma beleza sem igual como a minha são difíceis de se encontrar hoje em dia, e quando aparecem pode ter certeza de que eu já peguei. — o amigo de Jaebeom pisca confiante.

— E me diz uma pessoa que você não pegou Jackson! — franzi o cenho rebatendo-o.

— Você me respeita Lim Jaebeom! Porém é verdade, vou ter que concordar.

— Quer saber, eu vou voltar pra casa e descansar um pouco! — profere de repente. — Definitivamente eu preciso tomar um remédio que me derrube por algumas horas para botar minha cabeça no lugar.

— Vai matar aula? — pergunta Wang entusiasmado.

— Não, você não ficar na minha casa vendo tv. Eu vou voltar e tentar me distrair antes da gente sair durante a noite.

— Seu grosso! Egoísta! Mal-amado! Eu é que não vou ficar aqui ouvindo mais sobre a história da arte enquanto você vai estar se divertindo, vou vazar daqui também e procurar algo para fazer.

— Você quem sabe... Ah quase me esqueci, não era bem esse o curso que você gostaria de fazer mesmo, não é?

— Maldita cidade que não possuí faculdade para ser ator. Eu seria um protagonista de novela tão perfeito, não acha? Já até consigo imaginar os meus pares românticos. — dizia olhando para as nuvens com uma expressão distante.

— Hahaha, só você mesmo Jackson. Bem, até mais tarde?

— Eu passo na sua casa, bro!

— Sem entrar de fininho pra me ver de cueca, seu tarado! — brincam um com o outro antes de se despedirem.

— X —

Tudo que o moreno mais queria era chegar logo em sua casa e tomar um remédio para dormir, sua cabeça estava explodindo e o sol forte daquele dia não ajudava muito para que isso melhorasse. Ele faz o mesmo trajeto de volta, a mesma ciclovia, o mesmo rio azulado, as mesmas flores, as mesmas pessoas... A única diferença é que não trombara com nenhum desconhecido desta vez.

Quando faltavam apenas alguns metros até a sua casa — que ficava de esquina em uma rua côncava, tornando-a inclinada — o garoto decide ir a pé, arrastando a bicicleta. Os passos eram lentos e sem preocupações — apesar de querer chegar o quanto antes — e ia olhando para o asfalto, chutando uma pedrinha, completamente distraído.

Até que, de repente uma luz extremamente forte e clara surge em sua frente, obrigando Jaebeom ter que tampar seus olhos com as mãos graças a intensidade da mesma, mesmo que quisesse saber do que se travava. Quando o clarão começa a desaparecer ele abre lentamente as suas pálpebras, e as figuras misteriosas começam a surgir. Seus olhos ainda estavam embaçados por causa da luz, então ele não tinha certeza se o que estava vendo era real. Eram mais ou menos cinco daquelas figuras humanoides encapuzadas e cobertas com um manto prateado, não tinham rostos — ou pelo menos o moreno não os viu — e eram muito maiores do que qualquer ser humano comum. Todos eles estavam indo em direção a um outro ser — esse aparentemente com físico humano aos olhos do jovem, a não ser pelo fato de que flutuava pelo ar e possuía algo estranho em suas costas — e pareciam estar atacando-o de alguma maneira.

Jaebeom esfregava os olhos incontáveis vezes para ter certeza do que via, estava dizendo a si mesmo que aquilo tudo não passava de um sonho e que logo acordaria, até tentava se beliscar para tentar acelerar o processo, mas tudo é interrompido com o grito vindo da figura que flutuava no ar. Sua voz parecia estar fraca, mas ao mesmo tempo tentava se esforçar ao máximo para proferir algumas palavras estranhas...

É quando mais um clarão daquele surge subitamente, obrigando o moreno a ter que cobrir os olhos mais uma vez.

Desta vez aquela luz demora um pouco mais a sumir, cerca de mais ou menos um minuto e meio. E conforme ia desaparecendo, o garoto também voltava a forçar a vista, e o que ele vê quando tudo já estava completamente normal novamente — e as figuras negras haviam desaparecido por completo — faz o seu coração disparar desesperado.

Era aquele garoto misterioso de cabelos azuis. O mesmo com quem o moreno havia trombado mais cedo e colocado o curativo em sua testa — que aliás, ainda mantinha-se no mesmo lugar. Ele estava estirado no chão, e por mais que fosse por um milésimo de segundo, Jaebeom viu algo desaparecendo de suas costas, junto com alguma espece de pó brilhante que estava em volta do corpo. JB fica em choque, olhando o garoto deitado enquanto suas pernas tremiam descontroladamente por algum motivo desconhecido. É quando ele escuta alguém chamando o seu nome.

— Jaebeom! Jaebeom! — era uma voz familiar, mas ele estava paralisado e não conseguia se virar. — Porra, você é surdo cara? Eu te segui porque estava entediado sem nada para fazer então vou ficar aqui com você e... Meu pai amado! Que merda é essa aqui? Você matou mesmo alguém? — era Jackson, que se espanta ao ver aquele jovem desacordado no chão.

— Não me pergunte nada porque eu também não faço a mínima ideia do que aconteceu aqui, só me ajude a levar ele pra dentro. — finalmente consegue proferir alguma palavra.

— Cara o que você fez? Quem é essa pessoa? É pra levar ele para dentro do caixão? Não estou vendo nenhum aqui! Não seria melhor jogar no rio para se livrar das provas do crime?

— Para dentro da minha casa seu grandíssimo idiota. Coloque o braço dele em volta do seu pescoço desse lado, que eu seguro do mesmo jeito pelo lado oposto.

E os dois garotos levam o outro para a casa de Jaebeom, que continuava tremendo tentando processar novamente todo o estranho ocorrido. Definitivamente aquele dia era um dos mais insanos de toda a vida do moreno.

— Me ajude a subir as escadas, vamos levar ele para o meu quarto. — diz para Jackson assim que abre a porta de entrada. — Temos que correr e ligar para alguém vir ver o que aconteceu com ele.

Eles o levam até a cama do moreno, deitando-o com cuidado sobre a mesma e esticando suas pernas e braços sobre os lenções ainda desarrumados desde a manhã. Ele ainda se mantinha desacordado, e JB abre a janela do cômodo para entrar um pouco de ar e ventilar o ambiente.

— Cara ele parece morto! Por favor me diga que ele não está... Não quero ser preso como cumplice, você que lute. — agora era Jackson que tremia.

— Eu não matei ninguém bobão! Veja o peito dele, ainda está respirando. — para falar a verdade Jaebeom não havia reparado nisso antes, mas quando percebe, ele alivia sua tensão. — Rápido, pegue o telefone na sala lá em baixo! Precisamos ligar para alguém vir examiná-lo.

— Certo, eu já volto. — afirma o amigo que sai em disparada.

Jaebeom continua olhando fixamente para garoto de cabelos azuis e novamente seu coração dispara, mas desta vez não era porque estava assustado, na verdade ele não entendia o motivo...

Mas engole um seco quando os olhos daquele jovem misterioso se abrem subitamente e esbugalham em direção ao moreno. O garoto desperta assustado e respirando rapidamente pela boca, como se estivesse em desespero, é quando ele agarra com força o braço de JB com as mãos e torna o olhar fixo em seus olhos.

Jaebeom estava assustado e mais uma vez mantinha-se parado sem conseguir reagir, até mesmo seus lábios tremiam por alguma causa. De repente, o garoto quebra o silêncio em meio a sua respiração ofegante...

— Meu... Príncipe... — sussurra com uma lágrima escorrendo de seus olhos e torna a desmaiar, deixando o coração do moreno palpitando ainda mais.