Duas semanas se passaram após ter regressado a Nova Iorque, foram dias completamente cheios e muito atarefados, quer para mim, quer para toda a cidade que finalmente se estava vendo livre das reconstruções após o ataque. As escolas voltaram a reabrir, ou seja, a minha universidade também e tinha bastantes saudades daquela vida académica. Consegui terminar o extenso trabalho de avaliação, agora só faltava algumas aulas e o estágio para acabar o curso e graduar-me. Ainda não sabia aonde ou o que faria no estágio, mas iria saber esta tarde quando fosse finalizar os últimos pormenores e depois teria de me dirigir ao local para uma apresentação.

Olhei-me ao espelho, tinha de estar apresentável para comparecer ao concelho administrativo das Belas Artes da universidade e depois ao que seria o meu emprego durante quatro meses. Vesti um vestido branco e por cima coloquei um blazer azul-claro, calçando umas sapatilhas da mesma cor do vestido. Peguei na minha mala e sai de casa dirigindo-me para a paragem do ónibus. Estava desejosa em voltar ao meu anterior apartamento, pois era bastante perto da universidade e poderia ir a pé, felizmente próxima semana já poderia regressar, só estavam a resolver alguns problemas com a eletricidade. Quando voltasse procuraria uma nova colega de quarto, a minha antiga tinha saído pois desistiu do curso.

Pelo vidro podia ver que a cidade já estava a ultrapassar o ataque que sofreu a algumas semanas atrás, não só as infraestruturas, mas também a população pois havia muito movimento nas ruas, como era antes, sentia saudades daquela circulação toda. Steve veio-me à cabeça, nunca mais o vi, nem falei para ele e também a S.H.I.EL.D não entrou mais contacto comigo, de certeza que o Capitão teve de contar o que se passou na viagem e muito provavelmente não confiavam mais em mim. Meu tio também não deu sinal de vida e não sei se isso é bom ou se dever-me-ia preocupar por este silêncio todo, já que a organização tinha tanta certeza de que ele iria tentar contactar comigo, podiam ter-se enganado. Porém agora não me podia preocupar com isso, mas sim com o estágio que teria um enorme valor na nota final e que me poderia abrir portas em vários museus na cidade.

Cheguei à universidade e caminhei pelo campus, até chegar ao departamento de Belas Artes. Estavam lá vários colegas da turma também à espera de saberem aonde iram estagiar, acenei a alguns alunos e juntei-me ao meu grupo de amigos, um grupo de cinco pessoas incluindo comigo.

– Oi gente – cumprimentei cada um com um abraço.

– Então como foi a viagem ao seu país, divertiu-se muito? – perguntou Camille.

– Sim foi divertido, mas foi pouco tempo não deu para quase nada.

– Mas vi que você foi a uma festa, conheceu lá algum garoto giro? – perguntou Danielle.

– Talvez- disse rindo.

– Me mostra agora! – exclamou Camille.

Logo as três, Camille, Danielle e Hope, outra minha amiga, me rodearam à espera de que lhes mostrassem uma foto de Liam. Os garotos apenas riram-se de nós e pude ouvir Luke suspirar e dizer “garotas” e logo continuaram a falar sobre o estágio e como imaginavam que iria ser.

– Ele deu-me o seu número, mas não mandei mensagem – contei-lhes.

– Não vai mandar? – perguntou Hope.

– Não sei, talvez. Até me tinha esquecido.

– Como se esquece de um loiro como este Grace?

– Podemos falar de assuntos mais importantes, como o nosso estágio? – perguntou Elliot, o outro garoto do grupo.

Antes de alguém responder as portas do auditório se abriram e os alunos começaram a entrar. Sentamo-nos enquanto esperamos que o coordenador de curso começasse a falar. Após um longo discurso de como estava orgulhoso pela turma de 2020, que temos um longo futuro à nossa frente e que devemos aproveitar o estágio ao máximo, pois é uma experiência enriquecedora e única, finalmente começaram a distribuir as folhas que continham a informação de onde iria estagiar, que dependia da nota que obtivemos ao longo dos semestres, quão mais alta maior a probabilidade de estagiarmos em algum lugar popular. Todas as pessoas no auditório estavam nervosas, o estágio é uma grande oportunidade e se gostarem de nós podem-nos oferecer um contrato.

Por fim recebi a minha folha, as minhas mãos tremiam e o coração batia forte, saltei o texto que estava no início passando para aonde estava a informação que queria saber. Ao ler o museu que iria estagiar dei um grito, mas ninguém percebeu para além dos meus amigos pois a sala já estava num alvoroço grande.

– Aonde ficaste? – perguntou Camille, na sua face tinha um grande sorriso, por isso, parti do princípio que estava contente para aonde tinha sido selecionada.

– Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque – respondi sem acreditar ainda. Era um dos melhores museus na cidade, com peças de arte deste tempo dos melhores artistas mundiais.

– Eu também fui selecionado para o mesmo! – Exclamou Elliot vindo-me abraçar.

Todos os meus amigos tinham ficado em bons museus e fiquei muito feliz por isso, estudamos bastante para conseguir este feito. Depois de mais umas palavras do coordenador e de termos despedido do resto do grupo, eu e Elliot dirigimo-nos com o resto das pessoas que também iriam estagiar connosco para um dos parques de estacionamento aonde se encontrava uma pequena carrinha que nos levaria para o museu para fazermos uma pequena visita, os horários e outros pormenores. Falamos o caminho inteiro, cerca de quinze minutos, com o resto das pessoas, todos estavam felizes e ansiosos para o estágio.

Já tinha entrado no museu para ver uma exposição de esculturas, mas fiquei maravilhada ao olhar aquele enorme museu, as paredes brancas, grandes janelas de vidro, havia vários cartazes a anunciar algumas exposições. Um bom ambiente, com várias pessoas à espera de entrar, o que significaria que iriamos ter muito trabalho. Passamos as grandes portas de vidro e entramos no hall do museu que tinha vários caminhos que dariam possivelmente para as exposições. O funcionário do museu que nos orientava levou-nos até uma pessoa que seria a nossa coordenadora de estágio. Esteve a falar sobre algumas regras, dividir trabalhos, o que esperaria de nós, mas foi bastante breve pois era só uma apresentação e que teríamos uma semana inteira para nós preparamos para começar o nosso trabalho no museu. Após isso deu-nos a liberdade de circular pelo museu à vontade.

– Vamos dar uma volta Grace? – perguntou Elliot.

– Sim vamos, quero conhecer algumas obras que não tinha aqui quando visitei pela primeira vez.

Caminhamos lado a lado, observando algumas pinturas e esculturas contemporâneas seguidamente as analisando e dando opiniões um ao outro. Aquilo para mim era um mundo, estar rodeada de tanta coisa bela e única. Saímos da primeira exposição e ao lado tinha cartazes do Capitão América, sobre a sua vida pessoal, profissional e os seus feitos. Fiquei a olhar para este, no longo papel estendido estava uma foto de Steve com o seu uniforme, mas não era uma foto recente, mas sim doutro tempo, décadas passadas.

– Quer entrar? Até estou curioso para saber mais sobre a vida do Capitão América – perguntou Elliot.

– Outro dia Elliot, acho que vou embora – respondi.

– Está tudo bem? – a sua face mostrava preocupação

– Sim está, acho que só estou cansada de tanta euforia, preciso de ir para casa.

– Quer que vá com você? – perguntou.

– Não é preciso, aproveite o resto do museu. Até manhã – me despedi dando um pequeno sorriso para o tranquilizá-lo.

Elliot assentiu e virei-lhe costas indo em direção à saída do museu. Não queria ver nada que relacionasse com Steve por agora, ainda me sentia mal por tudo o que tinha acontecido em Milton. O olhar de desilusão do Capitão fazia-me sentir a pior pessoa do mundo, mesmo não o conhecendo bem, fazia-me sentir terrível. Sentei-me em um banco próximo da paragem do ónibus e suspirei, não havia nada que pudesse fazer para remediar a situação, se alguma vez o voltasse a ver, teria de levar com a minha culpa.

Cheguei à porta do meu apartamento e girei as chaves para entrar. Pousei a minha bolsa e o blazer na mesa e voltei a andar outra vez para a porta para apanhar o correio que tinha chegado. Algumas contas, publicidade, mas um envelope chamou me atenção. Era completamente branco excetuando aonde estava escrito o meu nome em azul, uma caligrafia bastante cuidada. Senti algo atingir-me no meu peito, era uma carta de meu tio. Rasguei rapidamente a parte em que se abria o envelope e sentei-me no sofá a ler a carta.

“Querida Grace,

Já sei que a S.H.I.E.L.D lhe contactou. Provavelmente contou algumas verdades e milhares de mentiras sobre mim, não acredites neles, só querem saber do seu próprio benefício. Estou ciente também que lhe vão usar para me encontrar, por isso, ainda não tentei me aproximar de si, mas o que mais desejo é poder lhe abraçar e contar o meu lado da história e toda a verdade que lhe escondo à duas décadas. Porém temos tempo, aproveite a sua vida de estudante e me orgulhe pelas suas conquistas, para que um dia conquistemos o mundo e depois as estrelas.

Com amor,

Tio William

P.S – Parabéns por ter conseguido entrar no Museu de Arte Contemporânea, mas não me admiro por ter conseguido, está destinada a grandes feitos”

Não queria acreditar no que estava que estava a ler. Ele sabia onde morava, que a S.H.I.E.L.D falou comigo e até que tinha entrado em estágio. Como ele sabia de tantas informações? Lágrimas escorriam pelo meu rosto, sentia-me apavorada, ele andava a vigiar-me. Só havia uma pessoa a quem poderia contar, por isso, peguei o meu celular e mandei mensagem.