Oliver tomou todo cuidado para não acordar a beldade amada ao seu lado, pois parecia cansada demais para acordar naquela hora. Queria olhar mais um pouco para aquele rosto tranquilo, queria gravar cada pedacinho dela em sua memória, não queria ter que ir e acabar com aquele sonho mágico, algo do qual era essencial para a sua sobrevivência. Se ela soubesse como fora a primeira vez que a viu, na sala de sua mãe, escondido para que ninguém o descobrisse vivo. Foi quando a viu falar com sua foto, com sua maneira ortodoxa de elogiar a beleza de um homem morto. Como queria ter tido a chance, de naquele instante ter vivido seu primeiro segundo ao seu lado, pensava em quanto tempo perdera daquele amor, e doía-lhe a alma, doía-lhe mais do que imaginar qualquer espada transpassando seu coração. Se ele tivesse ao menos dito o suficiente o quanto a amava, aquela maldita dor de simplesmente desaparecer de sua vida, já não seria tão aterradora. Uma parte sua morreria antes que seu corpo o pudesse fazer, seu corpo já se sentia sem vida.

Teria que levantar para fazer o melhor café da manhã possível, preparar tudo o que pudesse com tanto amor e carinho.

Antes que ela o pudesse surpreender, ele se sentou na mesinha da sala e pegou papel e caneta, para lhe escrever algo, algo que pudesse, ainda que no silêncio de uma voz, mostrar toda a eloquência do amor que sentia por ela, algo que pudesse reacender seu coração para que um dia pudesse ao menos perdoá-lo.

Seus olhos enchiam-se de lágrimas, e não conseguia enxergar o papel abaixo das linhas d'água. Respirou uma ou um milhão de vezes antes de continuar, havia tanto a dizer e apenas algo que resumia tudo para ela, para que ela pudesse entender tudo o que fazia, e Deus sabia que era por ela, de toda a alma que ainda possuída, de tudo o que Lian Yo não teria lhe tirado, nem Nada Parbat o faria.

Quando por fim, conseguiu terminar, foi até o quarto. Encontrou o livro que ela amava. Sempre a pegava com alguns dos livros de Jane Austin. Não sabia se era algum que ela havia lido, porém sabia que em algum momento ela o pegaria.

colocou um post-it no criado-mudo dizendo o quanto a amava e foi preparar o café da manhã.

Felicity acordou com um cheiro bom de bacon e ovos. Quando olhou para o lado da cama, percebeu que estava fazia. Levantou-se, seguindo o doce aroma na cozinha. Encontrou-o apenas de cuecas e avental, terminando os pratos. Oliver pareceu estar muito aéreo, pois quando se virou parou um tempo para olhá-la e sorrir, o sorriso mais lindo do universo.

— Espero que goste do que eu fiz, porque fiz com tudo o que você gosta. - Ele pegou as frigideiras e voltou para o fogão. - Sente, meu amor. Vou servir você. - Vendo Felicity se sentar do outro lado do balcão, lhe deu um beijo. - Bom dia. - Sorriu-lhe apaixonado.

— Bom dia, meu amor. - Ela o sorriu na mesma intensidade. Foi servida por Oliver e comeu maravilhosamente bem. - Vou te dizer, esse é o melhor sanduíche que alguém poderia experimentar.

— Chame de especialidade da casa. - Beijou-a.

— Vai ter que me ensinar um dia essa especialidade.

Tomaram café juntos entre risos e histórias, para no fim terminarem de novo se amando na mesa da cozinha, parecia tão intenso, tão diferente.

Arrumaram-se para ir a cave. E havia pego a carona com Oliver, tudo o que veio depois, foi a aventura que fez com que o amor de Oliver e Felicity só crescesse, só se consolidasse ainda mais.

Mais forte até o fim.



Star City

Ano de 2040

Felicity entrou no antigo apartamento tão amado. O bairro, até então tão perigoso, não tinha desconfigurado o lar tranquilo e pacificador que aquele lugar era. Deveria ficar para Mia, uma vez que precisaria de um lugar melhor para morar. Ela certamente daria conta de se cuidar sozinha.

Olhou ao redor, lembrando-se dos tempos que sua vida era apenas perseguir traficantes, de gângsters metidos a poderosos ou egocêntricos chefes de empresas. De quando ainda não tinha sua filha, de quando seu marido era apenas um sonho de amor distante.

Já não se reconhecia mais naquele lugar, naquelas paredes gastas pelo tempo, naqueles móveis. Ela já não era mais a mesma Felicity e ainda sim, tinha as mesmas esperanças de um mundo melhor. Queria ao menos reencontrar Oliver, onde quer que ele estivesse. Precisaria manter sua filha segura, assim como William, como o havia prometido e depois tentaria encontrá-lo.

Passeou por seus quadros pendurados, pelas coisas empilhadas nas estantes, nos seus livros tão amados, precisava voltar ao hobby, incentivar ao menos Mia a fazê-lo.

Pensou em pegar alguns para levar pra casa, seus preferidos e mais alguns que sabiam que poderiam interessar a uma jovem como ela.

Foi andando para colocar os livros sobre a cama, e enquanto arrumava, um papel caiu de um dos seus livros preferidos de Jane Austin.

Quando olhou para o envelope, seu coração parou de bater: era a letra de Oliver. Abriu rapidamente a carta, tentando conter a surpresa e a expectativa. Sentou-se de casa pra ler, era simples, porém via as manchas no papel. Lágrimas do amado marido. Quando esta carta parara ali?

“Não sei como começar uma carta, por favor, tente não me achar um imenso imbecil por minhas palavras.” — Sorriu ao lembrar da falta de traquejo de Oliver ao expor sentimentos, todas as vezes. No final, sabia que havia melhorado infinitamente, já poderia chorar quando era preciso. - “Não sei se um dia poderá me perdoar por todas as decisões que tomei, por tantas coisas que eu fiz e me mantiveram longe de você, longe de nosso amor. Meu orgulho foi maior que minha coragem de tentar ser o mesmo homem que sempre lhe desejei. Não fique chateada comigo por ter ido para Nanda Parbat.”— Lembrou-se que era logo após ele ter ido pela primeira vez ao seu apartamento, na pretensão de se despedir dela. Oliver não poderia imaginar no que ela faria para depois, tê-lo de volta. Sorriu ao se lembrar, inclusive, que disso, acabou tempos depois, lhes dando uma filha. - “Não pense que faço isso porque não te amo, justamente o contrário. Sempre tomo as mesmas decisões para proteger quem eu amo, sempre será assim em relação a você, e jamais permitiria algum mal que te machucasse e te tirasse para sempre de minha vida, logo você, a mulher que me fez e que me faz quem sou. Saiba que sempre estarei em seu coração, não importa o que aconteça conosco e em seus pensamentos, porque sei que, na esperança de que viveremos um dia nosso amor, irei te encontrar. E eu sei que um dia, seu amor por mim, me encontrará. E saiba que lá, estarei te esperando. Te amo mais que o universo. Beijos, do seu e somente seu, Oliver.”

Felicity ficou emocionada com as palavras dele, chorou abraçada com a carta, desejando que pudesse senti-lo naquele momento.

No outro instante sabia o que fazer, estava determinada a voltar para o homem que amava. Precisava procurar o Monitor, para que a levasse até ele, e nada a faria desistir um segundo mais.

Assim sabia em seu coração, que que era o momento de viverem o que o tempo deixou para depois, porém o fariam e o fariam agora, pois o amor jamais deve esperar pelo tempo.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.