I Can See a Liar

In a champagne supernova in the sky


Liam agarrou-o pela gola e pressionou seu corpo contra a parede, encarando-o profundamente. Uma veia saltando de sua testa coberta pelo cabelo escorrido com corte impecável e as costeletas tremendo sobre as mandíbulas, como se mastigasse algo, mas a boca de Liam estava cheia de palavrões.

“Agora me diz, seu grande idiota de merda, qual é o seu problema?!”

Os olhos de Noel perderam a cor. Estavam atônitos. Levemente arregalados. Um tanto surpresos pela reação do irmão mais novo, porém, indolente demais para soltar a garrafa de vodca.

“Só me larga, ok?” - os lábios crispando, os olhos ainda atônitos encarando um Liam irreconhecivelmente inconsolável pendurado em seu pescoço como um cão louco.

Uma pressão maior contra o seu peito comprimiu ainda mais suas costas contra a parede como resposta. Noel nunca vira um olhar tão intimidador em Liam. Nunca em toda sua miserável vida.

“Só me responde qual é o seu problema?”

“Cansaço.” - a calma se instalando em seu rosto velho mais uma vez, de uma maneira que irritava Liam. - “Só quero seguir outros rumos, sabe...”

O outro finalmente soltou sua gola amarrotada. Deu as costas por um momento, não analisando exatamente a adorável Manchester através da janela envidraçada, apenas mirando o chão. Os passos se dispersando lentamente pelo quarto, e voltando a Noel de forma ameaçadora. Liam se virou, deparando-se com uma imagem deplorável de Noel absorvendo a vodca.

“Sabe qual é o seu problema? Isso. Você não passa de um grande arrogante de merda.” - Liam o encarava de certa distância que não permitia um contato físico imediato - “Fica aí, tão cheio de si, achando que vai conseguir fazer melhor sozinho. É esse o seu problema, Noel.”

O argumento parecia válido levando em consideração a falta de reação do mais velho. E então, este repousou a garrafa com o conteúdo pela metade sobre a escrivaninha coberta de papéis rabiscados, puxou a cadeira de madeira e instalou-se nela, se curvado e apoiando os cotovelos sobre os próprios joelhos. Liam ouviu o suspiro sôfrego escapar dos lábios crispados do outro.

“Você já pensou como isso pode estar me afetando diretamente, hm?” - perguntou calmamente, as grossas sobrancelhas de Noel erguidas encarando o corpo a sua frente - “É um pouco complicado.”

“Não vejo dificuldade nisso. Quero dizer, em pleno sucesso, você decide sair da banda.” - Liam cruzou os braços - “Eu só gostaria de um motivo, será que é pedir demais?”

“O motivo é esse: novos rumos.”

Aquele argumento instigava a raiva em Liam. Não tinha o menor sentido e o vocalista não queria ater-se somente aquilo. Se a verdade não parecia valer nada para Noel, porque ainda guardá-la pra si em vez de oferecê-la a quem saberia o que fazer com ela?

Noel não viu, apenas sentiu o impacto contra o rosto o desnorteando.

“Seu desgraçado. Só quero saber por que você está indo e você continua mentindo. Vamos Noel, seja homem. Seja o que você sempre diz ser para mim toda noite.”

O mais velho se levantou, os olhos ameaçadores se retendo nos do outro. As cores iguais. Noel estava próximo o bastante para contra atacar - e foi o que fez. Dois socos foram o bastante para tirar Liam do lugar e fazê-lo cambalear rumo ao chão.

“Será que não é meio óbvio demais? Será que você não consegue ver?” - Noel abria os braços no ar, um tom de irritação e a expressão séria. - “É por causa dessa porra de mundo, dessas pessoas que nunca entenderiam, dessa fama, das aparências que a gente tem que manter. Imagine só, na primeira página do The Times, ou do The Sun, que é mais influente na linda Inglaterra como preferir:'irmãos Gallaghers mantinham relacionamento incestuoso'. Seria legal, não seria?”- Noel curvou-se, o cheiro de álcool exalando.

“...” - Liam não estava prestando atenção, apenas sentia o gosto metálico do sangue esvaindo do corte no lábio.

Noel apanhou a garrafa de vodca, deu um longo gole e limpou o resquício da bebida no canto da boca.

“Não tenho conseguido disfarçar...” - a calma voltando à voz arrastada - “Esses nojentos da mídia, você sabe, eles inventam todo tipo de coisa pros holofotes do mundo cair sobre você. E eles nem precisam de motivos para tal. O pior é que o mundo acredita nessas publicações de merda.”

Liam se recompôs. O encarava silenciosamente como se estivesse diante de um fantasma. Muito embora Noel estivesse levemente embriagado, finalmente as coisas estavam fluindo mais rápido do que ele poderia extrair. Tudo agora parecia fazer sentido no que ele dizia. Os mínimos vestígios de arrogância pareceram ter se dissipando por um breve momento.

“Você diz como se ontem não tivesse fodido seu irmão caçula.”

“Você sabe que as coisas têm de ser assim, pequeno Liam.” - Noel devolvia a garrafa para o lugar que repousara - “Não que eu não te ame, mas é que é preciso, entende? Vamos encarar isso como homens. Não quero ver seu nome difamado, sua imagem retorcida por aí... veja o Oasis como um legado.”

“Esse tempo todo você só estava preocupado com uma porra de imagem, nome? O cara que esteve comigo ontem aqui, parece que não é o mesmo cara que está comigo agora.”

“Veja como quiser, eu já decidi. Vou sair e anunciar isso amanhã.”

“... então é assim? É só isso?” - Liam murmurou as suas costas enquanto Noel girava a maçaneta. A outra mão levando a garrafa. - “Simplesmente se acovarda e vai embora? É orgulhoso demais pra ficar e aguentar...” - o tom particularmente frio estava aumentando gradualmente. Era para ser provocativo não frio. Qualquer coisa que fizesse Noel ficar. Qualquer coisa. - “Ora, Noel, fique e encare você, as coisas como homem. Mas esse é o seu problema. O seu maior problema: fugir das coisas.”

“Posso estar indo embora não só do Oasis, mas de você.” - disse, observando o outro pelo canto dos olhos.

Noel não fechou a porta, mas quando saiu do aposento pelo corredor, teve a impressão de estar ouvindo Liam chorando. Fechou os olhos, tentou limpar a mente momentaneamente, falhando espetacularmente pelo aperto na garganta e sorveu o resto de álcool da garrafa, largando-a no assoalho. No fim restaram apenas pedaços de vidro pelo caminho.

Pedaços de um homem arrogante pelo corredor.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.