- E então... – ele estava refogando as cebolas e o alho. – por que você acha isso?

- Sei lá. Me sinto bem quando fico perto dela.

- Só?

- Não... Gosto de pensar nela. De conversar com ela, e quase tudo me lembra ela.

- Tipo o quê?

- De sorvetes a unicórnios!

- Nossa! Ela realmente deve ser sua princesa Peach!

Rimos. Contei para ele tudo o que aconteceu, desde o dia que fomos sorteados para fazer o trabalho. Ele achou a história muito bacana, mas tinha um problema: e se ela gostasse de outro…? Respondi que não, era improvável, impossível, dificílimo.

- Tá certo. E aí você me confirma que realmente gosta dela. – ele sorriu. – Agora, prefere salsicha inteira ou cortada?

- Cortada.

π

Amanheceu chovendo. O ar estava gelado e havia um pouco de neblina cortando a serra. O dia estava cinza e sem graça. Eu não estava muito a fim de ir para o colégio, mas lembrei que Stefani estaria lá. Então pulei da cama e fui tomar meu café.

*

A chuva estava realmente feia. Papai nos levou de carro, pois já estaríamos ensopados antes de chegar à esquina. Meu irmão e ele conversavam sobre coisa qualquer e eu apenas via as silhuetas das casas. Meu pensamento vagava em Stefani e no sorriso dela. Meus amigos reclamam que quase nunca rio, mas porque antes não tinha motivo. Mas agora eu tenho. E sorri com isso.

Nossos amigos já estavam no pátio. Nem vi sinal de Stefani. Frank reclamava de alguma coisa, Ray concordava e Bob estava jogando em seu Playstation Portátil. Nós os cumprimentamos e o assunto mudou: era sobre um jogo novo qualquer. Fiquei sentado em um banco vendo se a baixinha estava lá. Não estava. Decidi então dar uma volta no pátio para ver se a encontrava.

Acabei indo pra entrada do colégio, onde vi uma garota sentada ensopada e tremendo de frio. Logo reconheci Lady Germanotta. Seu cabelo estava encharcado e seu uniforme estava bastante molhado. Fui ao seu socorro. Apesar de ainda sentir frio, tirei meu blazer e coloquei sobre ela. Ela levantou os olhos e sorriu. Aquele sorriso derreteu meu coração. Ela gaguejou um “muito obrigada” e me abraçou. Meu coração já amolecido disparou e a envolvi com meus braços.

A levei para a Secretaria, e pelo caminho tentei mantê-la aquecida. A deixei numa cadeira acolchoada e bati na porta da Secretária. Ela era uma mulher chata, ninguém da escola gostava dela. Dizem que ela fora uma pessoa boa, mas após seu marido abandoná-la, se tornou a amargura em pessoa. A verdade mesmo, é que eu não sei o motivo. Mas ela é muito temida na escola.

Fiquei com certo receio. A secretária odeia a todos, incluindo os bons alunos e os gênios, no caso, eu. Ela ainda nem havia chegado, então fui até a sala dos professores. Só havia um professor, de Geografia. Pedi licença e peguei um copo de café. Estava bem quente, e o entreguei a Stefani. Ela agradeceu e o tomou, em pequenos goles. Tentei secar seu cabelo, puxando a água suavemente dos fios com as mãos. Ela ainda tremia de frio, e eu precisava dar um jeito de mantê-la aquecida. A secretária não havia chegado ainda, então lembrei que tinha amigos e um irmão, que poderiam me ajudar. Sei que seria caçoado, mas antes ser um herói apaixonado do que deixar Stefani doente por simples orgulho.

- Já volto; não se mexa. Aliás, se a srª. Ciccone chegar, peça para ela te dar uma roupa seca e uma toalha, tudo bem? – ela assentiu, e saí correndo. O sinal não havia batido ainda, mas faltava pouco para ele tocar. Não sou de correr, primeiro pelo meu porte físico, segundo, por falta de equilíbrio e terceiro, por que por via de regra nerds têm maiores chances de cair no chão do que pessoas comuns. Mas, dane-se! Eu tinha que correr. Para minha sorte, a secretaria não ficava tão longe de onde meu irmão estava. Quase o derrubei no chão, como de costume. Estava recuperando o fôlego (o motivo encontra-se a partir de quatro linhas acima) e joguei as palavras. Gerard ficou um pouco confuso, mas repeti mais calmamente. Após uns segundo pensando, ele decidiu ir para o ginásio, onde estava seu armário. Meu irmão disse que tinha um secador de cabelos lá. Esperem! Parem esta fanfiction! Por que diabos o meu irmão teria um secador de cabelos no armário da escola dele?!

Após o choque dos amigos, expliquei onde Stefani estava. Voltei à secretaria. Ela ainda estava com meu blazer, e com frio. Disse a ela que meu irmão estaria chegando com um... Secador de cabelo. Ela me olhou como se pensasse: “seu irmão corta pro outro lado?”, mas nada disse.

Ela me contou por que estava naquele estado. Disse que quando saiu de casa. Não estava chovendo, mas esqueceu-se de se prevenir. Deu o casaco para irmã e ficou na chuva. Senti uma espécie de orgulho misturado com ternura. Respondi a ela que com certeza, aquele ato será pago, pois sempre que somos gentis, educados ou generosos, receberemos um prêmio, um presente. Agora ou mais no futuro.

Ela sorriu; pergunto-me porque fico tão fascinado com o sorriso dela. E sorri também. Tive ímpeto de abraçá-la, mas me contive, pois meu irmão havia chegado.

- Tem cinco temperaturas, para dar brilho nos cabelos e deixa-los macios, macios...

- Gerard, por favor, para. – Pedi.

- Tá, bom, cara enjoado. Cadê a minha cliente?

- Cliente?

- É. Vou virar cabelereiro por um dia. Um luxo!

Stefani começou a rir.

Fomos para uma sala. Gerard secou os cabelos da garota. E meu irmão tinha razão, o cabelo dela estava brilhante! Ela passou o jato de ar não muito quente na roupa. A aula já havia se iniciado, mas nem me preocupei. Sr. Dirnt teria que nos esperar.

Ela já estava praticamente seca. Resolvemos correr para a sala de aula. Meu irmão teve que levar o secador na mão mesmo. Estava imaginando as expressões que seus colegas fariam.

Já Stefani e eu, fomos de mãos dadas para a sala de aula.