“Pen, pen, peeeen”

Despertador chato. Eu queria dormir mais um pouco, mas o dever me chama. Levantei–me um pouco desanimado, mas saí pesarosamente e fui chamar meu irmão. Como no sábado, ele enrolou um pouco, mas levantou rapidinho. Descemos para a cozinha, nossos pais ainda não haviam acordado. Comemos nosso cereal, tomamos banho, vestimos nosso uniforme e fomos para o colégio. Mas antes de ir, deixei um bilhete para minha mãe, que dizia que eu poderia chegar mais tarde, tinha ido fazer um trabalho na casa de UM colega, e não deveria demorar, e Gerard sabia onde ficava a casa “desse” colega. Mamãe era muito ciumenta com seu caçula, e era melhor ela não saber que eu ia fazer o trabalho com uma garota.

Alguns metros de nossa casa, Ray se juntou a nós. Um pouco mais adiante, Bob. Eles e meu irmão comentavam sobre a noite de sexta–feira e já planejavam outra, que seria na casa de Ray. Não prestei muita atenção, estava mais pensando sobre a tarde de hoje. Nunca um trabalho me deixou tão... Preocupado. Andamos e mal percebi quando Frank se juntou a nós, bem mais adiante. Só voltei ao mundo quando entramos na escola, e cada um foi para sua classe.

Sentei–me em minha carteira, aula de matemática com o professor sr. Taylor. Ele passou algumas atividades sobre a última matéria que passou. Peguei meu livro e meu fichário, e quando começava a copiar as questões, senti um perfume floral, com certas notas cítricas, começava a me envolver. Já tinha sentido aquele perfume, mas nunca tão forte...

– Com licença, Way...

Estava tão acalantado pela fragrância, que demorei um pouco a voltar à realidade. Já era a segunda vez que isso me acontecia hoje, acho que vou procurar um psicólogo, ou se a coisa complicar, um psiquiatra, um psicanalista. Eu devo estar ficando doente.

– Way... – me chamaram baixinho. Ah, era a Germanotta.

– Pois não? – tentei parecer que estava concentrado na escrita.

– Então, tudo certo hoje lá em casa?

– Sim, sim. Daqui, direto para sua casa, certo?

– Sim. – ela sorriu. – Já falei com meus pais, eles estão tranquilos... Eles sabem quem é você.

– Sabem? – fiquei bastante surpreso.

– Você é o primeiro da turma, e como eu sou a segunda... É normal que se fale de nós.

– N-nós? – Corei. Nunca havia corado antes

– Sim... Somos os melhores da escola, Way.

Sorri de lado. Nossas aulas passaram tranquilas. Para o resto da turma. Tive aquela estranha experiência de taquicardia e ficar corado praticamente todo o período escolar. Não consegui prestar muita atenção nas aulas, apenas olhava de quando em quando para minha colega.

Tão distraído estava eu, que mal notei o término da aula. Eu deixei meus livros em meu armário. E de novo vi Stefani atrás de mim. Na saída, despedi de meu irmão e meus amigos. Para varia, Frank fez um gracejo: “Lá vai o príncipe encantado!”.

No meio do caminho, Germanotta me explicou que seus pais e sua irmã iam ficar fora, e ela achava isso bom. E eu também.

– Eles vão sair agorinha, dá tempo deles conhecerem você pessoalmente.

Sinceramente, acho que não represento perigo a sociedade nem acho que deixo os pais com ciúmes. Sou franzino, nerd demais, um pouco feio. Talvez até o pai dela gostasse de mim...

Mas por que estou pensando na opinião do pai dela?

Eu reparei que o Sol fazia lindas tonalidades nos cabelos morenos de Stefani, enquanto nos dirigíamos para sua casa. Fiquei um pouco bobo pela obra de arte. De novo fico nos ares.

O senhor e a senhora Germanotta são bem amáveis. A mãe de Stef deu algumas indicações e o pai de minha colega disse ter tido “prazer em conhecer o garoto mais estudioso de toda Nova Jersey”. Senti-me aliviado e agradeci as palavras.

A família saiu e Germanotta disse que ia trocar de roupa, e que eu ficasse a vontade. Sentei-me no sofá da sala, com a mochila do lado.

Tive uma sensação que aquele não seria um trabalho comum.