Minha querida Sophie completou 10 anos antes mesmo que eu pudesse respirar. Não posso lhe dizer se ela era mesmo a mais bela garotinha que eu já havia visto ou se era apenas o orgulho de um pai feliz. Tinha os meus cabelos escuros e os belos olhos da mãe. Talvez minha moça fosse apenas uma garotinha ainda. Todos os dias me levava até o lago. Não tenho certeza do por que, mas ela era fascinada com as belas águas prateadas.

E tudo o que eu queria era mantê-la feliz, e não hesitava em acompanha-la em seus passeios. Porém aquele era um dia mais cheio de compromissos.

“Papai, vamos até o lago?”, eu lembrava de sua vozinha perguntando-me.

“Já estou indo, querida. Já estou indo. Você pode ir na frente”, respondi.

Eu encarava os documentos à minha frente. Definitivamente não queria resolver aquilo, pelo menos não naquela hora. Me levantei, afastando a cadeira ruidosamente. Desci as escadas em passos rápidos como uma criança. Ri de meu pensamento.

Aproximei-me da porta. Girei a maçaneta. E a abri. Esperava ver minha pequena Sophie caminhando perto do lago, ou sentada, esperando-me. Engano meu. Era ria. Brincava enquanto era trazida para perto da porta no colo de meu inimigo. De Godric Gryffindor.

- Salazar! – cumprimentou como se fossemos velhos amigos. Seriamos se não fosse por ele. – Ah, queria tanto vê-lo!

Ele deixou-a descer e ela veio correndo até mim.

- O que faz aqui? – perguntei, o tom agressivo o bastante para assusta-lo.

- Calma, meu amigo! – pediu e eu cerrei os punhos. – Trouxe algo.

- Não somos amigos. – contestei e avancei o primeiro passo em sua direção. Mas a mão macia e leve pousou sobre meu ombro.

- Ora! Quem diria... – exclamou. – Você não é um solteirão mal amado, não é mesmo? Uma esposa? Há, há! Rowena ficaria surpresa de alguém um dia ter amado você...

- Quem é Rowena, papai? – perguntou minha menina.

- Uma lady, bem mais que sua mãe, que preferiu a mim por causa do preconceito de seu pai... – respondeu Godric em meu lugar.

Nesse momento livrei-me da mão de Adrianne e avancei, acertando-lhe um soco no nariz.

- Não volte aqui. Nunca mais. – ordenei, pegando a folha de papel que ele me trouxera.

Sophie me encarava com os olhos arregalados.

- Venha, querida. – Chamei, pegando sua mão e entramos, seguidos de Adrianne.

A folha de papel lacrada com cera vermelha que continha o carimbo de Hogwarts me parecia convidativa. Eu a encarava indeciso, pretendia atira-la na fogueira, mas também lembrava-me de que o brasão era de Hogwarts, não da Família Gryffindor.

- Abra-a, Salazar. – sugeriu minha esposa. Não pode causar assim tanto mal, não é?

Suspirei. Ela estava certa, mais uma vez.

- Claro. – concordei e rompi o lacre.

“Prezada senhorita Slytherin,”

Fechei o papel assim que terminei de ler.

- Adrianne, ela não vai. – afirmei firmemente e ela assentiu.

- Não vou onde, papai? – Sophie perguntou, adentrando no quarto. Virei-me, assustado.

- Não é nada, minha querida. – respondi, puxando-a para meu colo. – Não é nada.