Hypnotized

Capítulo II ~ Altair? Somos estrelas?


Capítulo II ~ Altair? Somos estrelas? Estava tudo escuro. A criança não enxergava mais nada. Estava perdida, não sabia nem ao menos se ainda estava viva. Até que depois de um tempo, ouviu o som de uma flauta. Tentou abrir os olhos, mas não conseguia. Estaria sonhando?

-Levante-se. - Ordenou uma voz - Levante-se, descendente da raça Altair.
-Q-quem...quem é você? Quem está aí? E...o que é Altair? - Perguntou Tsukiro.
-Altair, as estrelas que voam. Esses seres especiais receberam uma habilidade dívina. Não deves usá-la para o mal. - Instruia a voz.
-Altair? Somos estrelas? Eu...eu sou um Altair? - Disse o garoto, compreendendo o que a voz dizia.

A propósito, o garoto não estranhou estar conversando com uma voz. A voz era idêntica à dele, poderia ser sua consciência falando. Mas não fazia idéia de como a mesma teria tais informações.

-Certamente. - Respondeu, simplesmente.
-Então...meus pais. Foi por isso que eles...- Dizia, mas foi interrompido.
-Sim. Seus pais morreram por causa da guerra. - Concordou a voz.
-Porque houve uma guerra? - Perguntava inocentemente.
-Ah...isso. Eles querem decidir quem será o rei ou a rainha da raça. Algo como um líder. Eles entraram em guerra para conseguir respeito, e serem vistos como esse líder. Essa guerra continua até hoje, e acho que você já sentiu em sua pele isso. - Explicava a voz.

No mesmo momento Tsukiro se lembrou. Esteve prestes a perder sua vida. Cometeu um assassinato. Fugiu da vila. E agora, estava desacordado. Talvez estivesse até mesmo morto, mas não conseguia imaginar como.

-Você também vai tentar me matar? - Perguntava Tsukiro, envolvido pela dor.
-Porque eu faria isso? - Questionou a voz, rindo da pergunta do garoto.
-Aquela mulher tentou me matar. Ela disse que eu podia ficar forte, e trazer problemas pra ela. Você não quer me matar por isso? - O medo e a tristeza estavam presentes na voz do garoto enquanto ele falava.
-Por este motivo, uma vez tentaram te matar. E por esse mesmo motivo, agora, te deixo viver. Viva por um ideal, e um ideal somente. - Explicava a voz. -Você vai entender o porquê disso mais tarde. Mas é por isso que somos diferentes. Eu quero ver você se tornar forte. Garoto, você tem um enorme potencial. - Encorajou a voz.
-Você...acha mesmo? - Perguntou timidamente.
-Eu vejo isso. Mesmo assim, devo ir andando. Você vai acabar descobrindo mais sobre si mesmo com o tempo. Você tem um poder. Use-o com sabedoria. Adeus - Disse, despedindo-se.
-Espera! - Disse o garoto acordando no mesmo momento e abrindo os olhos.

Ele achou que estava maluco. Acordou a tempo de ver alguém desaparecendo nas folhas, mas não era isso o que deixava ele incomodado. O que o perturbava era: a pessoa que viu em sua frente era idêntico ao garoto, como um clone. Tentou não pensar muito nisso no momento. O que mais o preocupava agora era uma coisa: estava em uma guerra, e se queria sobreviver, precisava se tornar forte.

E o som da flauta ainda não havia desaparecido...
Quatro anos se passaram desde o incidente. O garoto se concentrou em saber como invocar a espada. Levou um ano até saber fazê-lo com perfeição, e no momento que desejasse. Via um fio que saia de seu coração sempre que a invocava, um fio transparente, mas brilhante, numa cor levemente azulada. O fio se ligava à sua espada.

Levou mais seis meses depois disso para saber como transformá-la em um instrumento, e o fez lembrando-se da \"fada\" que havia o atacado. Mas não achou um violão algo útil para batalhas, então concentrou-se em praticar suas técnicas com a espada. Passou dois anos e meio praticando.

Durante esses quatro anos, sobreviveu de um modo um tanto perigoso. Viajava de cidade em cidade, roubando alimentos, dinheiro para poder alugar um quarto, até mesmo chegou perto de matar pessoas inocentes. Não de propósito, é claro, entregue uma espada para alguém que nunca segurou e veja o resultado. Mas ele era habilidoso, e resistente também. A resistência veio com o tempo, lembrava-se claramente de quando era pequeno e acreditava em \"super poderes\". Foi acordado por um amigo, quando dormia no meio da floresta, e lhe disse: \"Ei, eu sinto algo diferente em mim! Será que tenho algum super poder?\". Para sua decepção, a resposta: \"Não, são só três costelas quebradas, você caiu do penhasco.\".

Ele havia crescido nesses quatro anos, não só em altura, mas em inteligência, força e resistência. Mas ainda assim, não era muito mais forte do que qualquer garoto de sua idade, e não entendia o porquê disso. Algo que o incomodava também: nunca mais encontrou outro de sua raça nesses quatro anos. Não fazia idéia de o que estava acontecendo, e sua vida já estava começando a ficar repetitiva.

Por fim, tomou uma decisão: \"vou voltar ao local onde tudo começou\". Levaria uma semana inteira a pé, então certificou-se de que estava tudo certo. Preparou todas suas coisas, tudo o que era necessário, dinheiro, comida, roupas, descansou à noite e partiu de manhã cedo.
-Aí vamos nós. Bom, primeiro vou ter que atravessar o deserto. Ah, vai ser moleza! - Falou para si mesmo, dando um passo a frente. - AAAAAAAHH!! - Gritou logo após pisar na areia.

A verdade é que os últimos dias têem sido bem quentes, e a areia estava fervendo.

-Não vou desistir! Vamos lá! - Disse, reanimando-se, e por fim partiu.

Bom...ele passou o dia inteiro gritando. Ele olhou várias vezes para suas mãos, pensando em arrancar os pés fora. Ele se recusava a usar sapatos. \"É algo que eu tenho que superar por mim mesmo!\", pensava ele. Era o jeito que ele arrumava de ficar mais forte. Mas é claro, tudo o que ele conseguiu foram queimaduras de segundo grau nos pés.

Desnecessário avisar que perdeu dois dias com isso, mas ao menos conseguiu atravessar o deserto num único dia, quando achava que levaria três. Motivo: tentava, de tempos em tempos, correr um pouco, para ver se não doeria tanto. Os dois dias de descanso também foram para recuperar as energias gastas no deserto. Descansou na pequena vila logo depois do deserto, que por sorte não se lembrava de ter expulsado o garoto por roubo a três anos atrás, então voltou ao seu caminho normal.

-Uum...eu não lembrava desse pântano aqui. Argh, vai ficar tudo bem! - Dizia, tentando encorajar a si mesmo, mas ainda estava um pouco apavorado, pois decidiu partir à noite.

Depois de 10 minutos andando dentro do pântano, já tinha relaxado um pouco.

-Aah, viu? Estava me preocupando atoa! Não tem nada aqui. Hehehee....Aaaaah!! - Gritou, depois de quase perder o pé para um crocodilo.

Ele...ele subiu em uma árvore. É, exatamente. Como um gato quando foge de um cachorro. E o crocodilho quase conseguiu alcançá-lo, mas desistiu depois de um tempo.

-O que eu estou fazendo? Haaaah... - Dizia, um pouco desanimado.

O que mais o assustou no caminho, foi o fato de levar quatro dias para atravessar o pântano, e entre um dia e outro tinha que dormir no caminho. Chegou a acordar uma vez com uma cobra em cima do mesmo, o que o fez desmaiar.
Mas depois de tudo isso, começava a reconhecer o local. Avistou a vila de longe. Mas não queria voltar, não queria reviver suas antigas memórias naquele lugar. Foi direto para a floresta, sem nem ao menos olhar novamente para a vila. Perdeu mais duas horas para encontrar o local de antes, e já estava de noite quando o encontrou.

O lago ainda era maravilhoso como antigamente, refletindo o brilho da lua. Assim que chegou, ouviu algo, mas talvez fosse só sua imaginação. \"Altair\'s. Eles chamam um ao outro.\". Mesmo assim, a frase o deixou pensativo. Se era verdade, porque nunca chegou a encontrar outro da mesma raça depois do incidente? Teriam todos morrido na guerra, restando só a criança? Chegou até mesmo a acreditar isso no momento. Mas só no momento.

Seus olhos se fixavam no lago, e, involuntáriamente, como fez quatro anos atrás, ele cantou. Cantou exatamente a mesma melodia de antes, mas sua voz já estava um pouco mais amadurecida. Ainda assim, o som ressoava no ar, como se estivesse voando junto com ele. Sentiu seu corpo ficar quente enquanto cantava, e sentiu uma energia que não se lembrava de ter sentido uma vez na vida sequer.

-Altair...somos estrelas. Somos estrelas porque brilhamos. Brilhamos porque cantamos. Quando cantamos, é quando somos mais fortes. - O garoto cantava, mas não tinha idéia de como sabia dessas coisas.

Ele parou quando notou alguém se aproximando. Se assustou, e na mesma hora invocou a espada, segurando-a de modo defensivo. A energia que estava em seu corpo o fazia sentir: ele se sentia mais forte, sentia como se fosse capaz de defender o que viesse para cima dele. Mas afrouxou um pouco quando viu quem apareceu, e sentiu medo.

-P...- Ele hesitou - ...pai?

Fim do Capítulo II