Hurricane

How to get a broken heart


Pov. Ally

Eu diria que, minha primeira semana de volta a Miami estava sendo ... estranha.

Fazia, sei lá, quase 3 meses que fiquei longe daqui. Sem contar os três anos. Quer dizer, já estava de volta a Miami antes de sair de férias, mais agora, parecia ter um peso a mais. Uma pressão, apenas. Algo invisível que puxava uma parte de mim.

Até agora, o que aconteceu foi : Meu pai se tornando menos obcecado com o trabalho, me deixando até mesmo assustada com o quanto ele estava se esforçando para saber os mínimos detalhes da minha vida. (Acho que ele deveria fazer isso nas férias,digo,as férias são pra relaxar não são ? Ele parecia ter ficado muito pior na Austrália do que está agora.) Minha mãe está contente. Vibrando por seu casamento estar dando certo. Pelo menos,eu acho que é isso.

Trish voltou do cruzeiro com sua mãe, e eu me encontrei com ela ontem. Fomos até uma sorveteria para conversarmos. E depois de ela me dar um abraço tão forte - e que eu pensei que fosse quebrar minha clavícula - , ela me contou detalhes sobre o cruzeiro.

" - Você precisava ver como era bonito olhar,assim, para o oceano com a luz da lua ... - ela começou - Não tinha nada em volta,sabe ? Eram só as pessoas do navio,digo,era só o navio no meio do nada. Era bom,tranquilizante em alguns pontos. Claro que minha mãe ficou enjoada no primeiro dia,e não parava de vomitar - Ri nessa parte - Mas depois ela se acostumou. E foi ótimo, as festas, apresentações ... Um tempo pra nós duas. Não tínhamos isso a um bom tempo. E eu não poderia ter ficado mais feliz.

– Isso é ótimo. Fico feliz por você. - Pronunciei enquanto comia mais um pouco do meu sorvete.

– E como foi o resto das férias ? - Ela perguntou enquanto arrumava alguns cachos do cabelo. Ela voltou sua atenção para mim, e seu olhar ansiava por uma resposta. Fiquei imaginando se ela queria que eu contasse coisas interessantes assim como ela fez, ou se ela queria saber sobre a minha "situação". (Não, nada a ver com meus pais ou as férias em si, mas sim sobre o Austin.)

– Legais. - Murmurei.

Ela franziu a testa.

– Legais ? - Ela perguntou meio incrédula. Assenti enquanto brincava com a colherzinha do sorvete. - Legais ? - Tudo bem, agora seu olhar tinha ficado um pouco maligno. - Tenho certeza que você deve estar escondendo alguma coisa de mim. Quer dizer que não aconteceu nada de bom depois que eu fui embora ? Quando perguntei como foram o resto das férias quis dizer que quero saber de TUDO. - Ela deu uma pausa enquanto se recuperava do pequeno momento de loucura. Deu um sorrisinho malicioso antes de continuar. - E isso quer dizer : Todos os detalhes picantes.

Comecei a gargalhar. Quase curvei minha cabeça para trás na mesa toda estufada e confortável do lugar. Mesmo eu estando rindo, tenho certeza que deveria ter corado. Ou simplesmente ficando vermelha, por todo a risada e tal. Trish me encarava com os braços cruzados e a expressão parada. Apenas esperando o meu surto psicótico acabar.

– Não sei por que tantas risadas - ela recomeçou assim que eu estava acabando com meu momento de passar vergonha - As coisas já estavam bem quentes quando eu saí de lá, então sim, eu quero detalhes.

– Trish - falei,apenas.

Balancei a cabeça em discordância enquanto ela começava a falar mais uma vez. E mesmo tentando fugir do assunto,contei a maioria das coisas pra ela. É claro, deixando de fora a parte da conversa que Austin e eu tivemos naquela pedra á beira do mar, e mais alguns detalhes também foram tirados. Sim, algumas coisas eu acho pessoais demais.

– Você deveria ter beijado ele naquela hora - ela falou quando contei sobre a aeromoça assanhada do avião.

Ri novamente. Embora,a parte infantil da minha mente concordasse um pouco com aquilo."

Sorri ao lembrar da conversa com ela. Era bom vê-la de novo.

Nessa semana também liguei para Lauren. Ela estava arrumando suas coisas para voltar pra Chicago, que é aonde ela mora. Ficamos quase 1 hora no telefone até que ela teve que desligar. Por algum motivo, eu gostava de falar com ela e também gostava do jeito meio "durona" dela. Como já disse, ela me lembrava um pouco a Trish. E tenho certeza que nossa amizade ainda vai durar.

Meus pensamentos foram interrompidos pela minha mãe. Ela tinha entrado no meu quarto, sorri ao vê-la bem mais feliz do que aparentava na Austrália.

– Ah, Ally, será que eu posso te perguntar uma coisa ? - Ela perguntou enquanto se sentava na minha cama,ao meu lado.

– O que foi, mãe ?

– Você e o Austin estão ... Juntos ? - Ela perguntou com um leve sorriso no rosto enquanto passava as mãos pelos meus ombros.

– Hã ... Por que acha isso ? - Perguntei com a voz fina.

– Eu vi vocês no aeroporto - ela respondeu - Acho que ficam ótimos juntos. Mas sabe,eu sou apenas a sua mãe, ninguém se importa com a minha opinião. - Ela levantou as mãos enquanto sorria maliciosamente.

– Mãe - falei enquanto começava a rir - Ah, esquece. Tá tudo bem.

Não importa o que acontecesse, sempre teria minha mãe e Trish,e na verdade,até mesmo a Lauren, para falar as mesmas coisas sobre mim e o Austin. Não sabia se isso era bom ou ruim,mas teria que aguentar.

Suspirei pesadamente.

É claro que o que aconteceu a seguir, também não melhorou muito os pensamentos de Penny com relação a minha "situação".

Naquela mesma tarde, enquanto eu assistia um programa na televisão com minha mãe e meu novo pai super atencioso e preocupado,que chegava a me dar medo, a campainha tocou.

Me levantei de bom grado para abrir a porta. (Só que não. Eu estava muito bem no sofá estarrada enquanto fingia assistir aquele programa chato e pensava sobre as mais recentes mudanças na minha vida.)

Mesmo assim, tive que levantar.

Sorri ao ver Austin encostado no muro da varanda. Ele retribuiu o sorriso enquanto dava leves passos na minha direção.

– Oi - falei um segundo antes dele me beijar. Simplesmente o beijei de volta, mas pouco tempo demais para mim, pois alguém pigarreou atrás de nós.

Me virei esperando, talvez, encontrar o meu pai. Seria provavelmente um momento exatamente igual ao que aconteceu na praia, ainda nas minhas Férias Perfeitas.

Mas era só a minha mãe.

E com o sorriso que ela me lançou, significava que ela não estava brava ou constrangida, - não que eu esperasse isso dela - , mas ela parecia feliz.

E agora sim que ela não deixaria de insistir na minha "situação".

– Olá Austin - ela disse,ainda sorrindo. Dei espaço para que ela pudesse o abraçar. - Não vai entrar, querido ?

– Não,senhora. Eu só vim convidar a Ally pra caminhar comigo. - Ele falou,certinho demais para o que eu estou acostumada.

– Tudo bem. - Ela gesticulou para que eu fosse e fiquei pensando em quantas mães no mundo ficariam felizes em um momento como assim. Ela parecia mais estar me expulsando dali.

Apenas fui até a porta novamente e olhei para Austin um pouco desconfiada. Caminhamos até a calçada da rua enquanto eu podia imaginar minha mãe dando pulinhos dentro de casa. Nunca vou entender o fato de ela ficar feliz com o meu "quase-relacionamento." Feliz, tipo, mais do que eu.

– Sua mãe sempre gostou de mim não é ? - Austin falou enquanto caminhávamos pela rua. Um dia extremamente quente,como todos,aliás.

– Errado. Minha mãe sempre foi apaixonada por você.

Ele riu.

– Fiquei pensando se deveria te levar flores ou uma caixa de bombom - ele murmurou depois de um minuto.

– Brega demais. - Falei. - Quer dizer, você não precisa fazer essas coisas. Eu gosto do seu jeito, exatamente assim.

O fitei por um minuto. Pude ver seus olhos brilharem e seu sorriso se espalhar,tomando conta do seu rosto.

– É,eu acho que sei disso. - Austin disse.

Ele pegou minha mão e não a soltou até chegarmos na praia.

No momento em que suas mãos se fecharam nas minhas, me senti bem e mal ao mesmo tempo. Bem porque,eu gostava daquilo, gostava quando ele me tocava,principalmente num simples gesto como aquele. E mal porque, tive uma sensação ruim. Não, não exatamente uma sensação,era mais como ... Um pressentimento.

Mas não deixei que aquilo estragasse o passeio.

Assim que chegamos na praia, o sol era tão forte que praticamente me ofuscava. Coloquei uma das mãos por cima do rosto para tentar me esconder. O que não foi muito eficiente, minha testa continuava enrugada enquanto o sol batia forte no meu rosto.

Austin soltou nossas mãos e se colocou na minha frente. Tirei a mão do rosto, realmente não me importando mais com a droga do sol. (E o que mais eu esperaria em Miami ?)

Ele colou nossos lábios mais uma vez.

E ficamos um bom tempo ali, nos beijando,como se o resto do mundo não existisse. E talvez, fosse mesmo clichê demais esse tipo de pensamento, mas era a verdade.

Andamos na praia, de mãos dadas mais uma vez, enquanto o sol finalmente ia embora. E quando já estava praticamente quase escurecendo, senti de novo aquele estranho "pressentimento".

O ignorei de novo.

( ... )

– Não pensem que esse ano será fácil - O professor de biologia falava - É o último pra vocês e todos terão que se esforçar o máximo possível.

E finalmente, o sinal tocou.

Aquele tinha sido o primeiro dia das aulas na Marino. A mesma escola que eu frequentava três anos atrás. E tinha sido estranho pra mim, quer dizer, muita coisa já tinha mudado. E eu não esperava nada diferente, pequenas reformas na escola diferenciavam as minhas lembranças.

Os professores não eram os mesmos. E a verdade é que, eram - ou pareciam ser - mais severos do que os que eu tinha em Los Angeles. Mesmo assim, teria que me esforçar.

Eu só tive uma aula com a Trish. E foi antes do intervalo.

E também não tinha visto o Austin o dia todo. E aquele pressentimento ruim, havia acordado junto comigo hoje. Me senti esmagada quando acordei. Como se tivesse dormido com aquela coisa.

E a verdade, é que eu estava esperando qualquer coisa de ruim. E talvez,dependendo do que acontecesse, não ficaria assim tão surpresa.

E um lado de mim, não ficou quando vi aquilo.

Finalmente tinha visto o Austin naquele dia, só que, não tinha sido nada como eu imaginei. Me senti ... Acho que eu não conseguiria descrever como estava ... esmagada. De novo, assim como acordei. Ou pior. Tipo, muito pior.

A garota loira ... Trish já tinha me falado dela,e a vi naquele dia, quando vi Austin novamente depois de três anos. Cassidy, eu acho.

Eles estavam se beijando.

Me escondi no corredor ao lado, para que não me vissem. Não, não era como naqueles filmes quando a garota má beija o garoto na frente da boazinha para que ela fique brava,ou apenas muito triste.

Eles estavam se beijando.

De verdade. Os dois queriam aquilo, e nenhum deles tentava parar. Então sim, era muito muito muito pior. Pra mim, eu digo.

Ontem mesmo, Austin me beijou. Ele me tocou,da mesma maneira que estava tocando ela. E todas as coisas que tinham acontecido nas férias ... Foram fortes demais pra mim, eu acho. Porque eu nunca tinha sentido algo como aquilo. E naquele momento, enquanto via aquela cena, percebi que se apaixonar, é quase igual ter uma decepção amorosa. As duas coisas eram ... Intensas demais. E de alguma forma , machucava muito.

Não iria chorar. Isso seria estúpido ... Eu preferia ficar brava. E estava decidido, eu ficaria apenas com raiva, mas não choraria ...

Como se eu realmente pudesse controlar aquilo.

Enquanto dava passos largos na rua e pisava no chão com força, como se pudesse quebrá-lo, para descontar minha raiva. E lágrimas escorriam dos meus olhos. Não iria começar a soluçar,nem fazer uma ceninha ridícula, mas não podia evitar as lágrimas. Lágrimas de raiva.

Pensei em todas as coisas que aconteceram nas férias,e de como algumas delas me magoaram de verdade. Levando em conta tudo isso, eu poderia escrever um manual de como conseguir um coração partido.