\"Se você morrer eles param de ter perseguir, certo?\" essas palavras martelaram minha mente aquela noite, num sono cheio de sonhos em que eu morria e revivia das maneiras mais bizarras possíveis.

Acordei cansada, como dormir a noite toda e nada tivesse sido a mesma coisa, coloquei uma roupa qualquer e fui procurar Vincent, temos mais assuntos pendentes do que eu gostaria. Mas ao sair do quarto me dei conta de uma coisa muito importante: não sei onde é o quarto de Vincent. Pela sua personalidade deduzo que seja algo como o melhor quarto do último andar. Ele com toda certeza que é do tipo que sempre pega o melhor só para ele, mas esse lugar é tão grande que eu provavelmente iria me perder e não acharei nada.

Desci as escadas quase que automaticamente, parecia que meus pés me conduziam por vontade própria, me guiaram pelos corredores e saletas até chegar à cozinha. Onde, para minha surpresa, Vincent estava aparentemente me esperando apoiado na bancada de pedra enquanto mordiscava uma pêra.

-Bom dia Belle - me cumprimentou sorrindo - vejo que me achou bem rápido.

-Não dê uma de sonso para cima de mim - retruquei - precisamos terminar a conversa de ontem.

-Precisamos? Achei que ela já havia acabado muito bem, obrigado - ele ironizou com seu sorriso cínico.

-Vincent, por favor, pelo menos uma vez, vá direto ao ponto sem fugir ao assunto - pedi cansada.

-O que quer tanto conversar?

-O que, exatamente, você tem em mente? - perguntei calmamente - e sem floreios, enrolações e meias palavras.

-Assim fica difícil - ele reclamou - bem, a idéia principal é te matar, mas não te matar - contou - forjar a sua morte sabe.

-Até aí eu entendi - o interrompi - só quero saber como você vai fazer isso e o que faremos depois.

-Essa é simples - ele sorriu animado - você vai se disfarçar, até tenho a sua identidade nova e história, mas isso é algo para contar outra hora, afinal não é para fugir do assunto, certo?

-Por favor, não use minhas palavras contra mim - rolei os olhos - isso vai dar certo?

-Sempre dá certo nos filmes - disse como se decidisse toda a questão - então com certeza vai dar certo.

-Eu ainda não acredito que realmente exista alguém como você - comentei - e digo isso como algo ruim.

-Belle confie em mim, você terá sua vingança e eu vou poder me gabar eternamente para meu irmão como quem ajudou a matar o Conselho da Associação de caçadores.

-Você e seu irmão tem sérios problemas que precisam ser resolvidos com urgência - observei - por que tanta raiva dele?

-Ele é o primogênito, o mais velho, quem sempre tinha tudo primeiro e sempre foi o preferido da mamãe e do papai - ele começou - mas eu nunca liguei muito para isso, aliais até gostava da falta de atenção porque assim eu me sentia independente, mas isso até Ela aparecer - fez uma pequena pausa para respirar - Isabella, a mais bela caçadora de todos os tempos, eu e Allex ficamos tão apaixonados por ela, que fazíamos de tudo para que ela se aproximasse por um de nós, mas é claro que no final...

-O escolhido foi ele e você foi apenas o cunhado - conclui.

-É como sempre acontece - comentou amargurado.

-Vincent eu... Bem, se quiser depois do Conselho eu te ajudo a acertar as coisas com seu irmão.

-Não precisa - ele deu um sorriso sincero - sabe, você tem muita sorte de ser filha única.

-Eu sei - concordei rindo.

-Sua sinceridade me surpreende - ele comentou sorrindo.

-Deve ser porque você não é sincero, qual a graça de sempre esconder algo?

-Sabe, todos esses séculos, todas as garotas com quem eu já saí disseram que ser misterioso é meu charme especial - ele retrucou com um sorriso sacana.

-Tenho de admitir, foi uma boa resposta - ponderei - mas mudando de assunto, porque você não me conta todos os detalhes do plano.

-Você confia em mim? - ele perguntou olhando fixo nos meus olhos.

-Se não confiasse eu não estaria aqui - respondi dando de ombros - agora fale.

-Agora sim, posso te contar.

O plano de Vincent era insano, no mínimo, sem contar perigoso, mas não posso negar que pode muito bem dar certo, talvez eu deva apenas confiar nele.

Corri para o meu quarto e ele já estava lá, sentado na cama e amarrando um lençol no outro para formar uma corda, amarrou uma ponta no pé da cama e me passou a outra ponta.

-Eles vão cair neste truque er... Clichê?

-Pensa assim isso é algo tão óbvio que eles não vão pensar que teríamos a ousadia de tentar - ele disse sério - e para mim isso é algo que você faria para fugir - apontou para a \'corda\'.

-Você está certo nisso - concordei.

-Coloque isso na boca e só engula quando chegar ao chão - ele instruiu colocando três pílulas na minha mão.

-Isso não deveria ser injetado? - perguntei antes de colocar a pílulas na minha boca.

-Deveria, mas ingerido demora mais para fazer efeito - me explicou e foi até a porta - bom rapel - saiu do quarto.

Era agora ou nunca, abri a janela e espiei lá em baixo, não tinha ninguém à vista, joguei a corda de lençóis, que ia quase até o chão, e comecei a descer usando a parede como apoio.

Uma vez no gramado eu engoli as pílulas com muita dificuldade, já que não tinha água para ajudar a descerem, corri pelos jardins. Me escondi entre um arbusto para \"ninguém\' me ver e comecei a correr e me esconder, como se estivesse fugindo mesmo, até eu chegar ao muro de pedra.

Usei as saliências para escalar e pulei o muro sem muita dificuldade. Meu corpo parecia formigar e comecei a correr pela estrada que passava ao lado da mansão, quando Vincent apareceu na minha frente com as feições sérias e me segurou meus ombros.

-Onde pensa que vai? - perguntou com a voz meio sussurrada, mas alta o suficiente para qualquer vampiro próximo ouvir.

-Estou fugindo, ou você é tão idiota quanto aparenta? - retruquei - agora me dê licença - tentei o empurrar, sem sucesso.

Ele me empurrou, me forçando a dar vários passos para trás até bater com força as costas no muro - isso é o que veremos - ele segurou minhas mãos com uma mão e com a outra colocou todo meu cabelo para um lado para deixar meu pescoço à vista - que tal termos o jantar mais cedo? - ele falou com a boca na curva do meu pescoço, o que me fez sentir um arrepio pela espinha.

-Por que você não vai para o inferno? - sugeri com a voz fraca.

Ele afastou o rosto e passou a unha pelo meu pescoço, até parar em um ponto e fazer um corte fundo o suficiente para escorrer uma quantidade razoável de sangue. Neste momento senti meu corpo parar de formigar a começar a adormecer, já não sentia direito minha perna e se não fosse por Vincent eu teria caído no chão. Ele colocou os lábios no corte, consegui sentir que estavam fechados depois disso eu apaguei.