Stephen abriu uma das grandes portas que separavam o pequeno corredor que estávamos de algum lugar que eu não fazia idéia do qual fosse.

Ele me empurrou para dentro, entrou e fechou a porta com facilidade, apesar do tamanho e do peso que provavelmente tinha.

Eu estava num salão praticamente vazio; de móveis havia apenas as cortinas escuras cobrindo as janelas e no centro quatro cadeiras. De pessoas havia vários vampiros encostados nas paredes e no centro, sentados nas cadeiras mais belas e altas estavam Isabela e Allex, na sua frente Vincent estava sentado e ao seu lado havia uma cadeira que provavelmente seria para mim.

-Belle- Vincent se levantou quando eu me aproximei das cadeiras sorrindo de uma maneira que nunca o vi sorrir antes – você está bem – pelo tom de sua voz pude ver que aquele sorriso era de alívio, alívio por me ver bem, provavelmente ele estava muito aliviado, pois mal terminou de falar e me abraçou.

-Vincent, vocês está bem? – ele estava estranho, embora mantivesse uma expressão natural e relaxada ele me abraçou com força e em seus olhos eu via um receio anormal, parecia que ele estava com medo. Mas Vincent não sente medo, ele simplesmente não pode.

-Estou – ele me abraçou mais forte como se quisesse garantir que eu não fosse a lugar nenhum. Que eu não saísse do seu lado.

Ouvi um pigarro e olhei na direção do som. Allex fora quem o fizera – que tal começarmos logo com isso? – ele falou sério.

Vincent se afastou e se sentou fazendo um gesto com a cabeça para que eu o imitasse. Respirei fundo e me sentei, encarando os dois vampiros à minha frente.

De alguma maneira, me lembrei dos meus pais, Allex, sério e de poucas palavras, parecia o tipo de pessoa que não falava muito, mas sempre sábio o que falar. Já Isabela mesmo séria, parecia estar sorrindo, dela emanava uma simpatia e animação que tornava impossível levá-la a sério.

-Pode começar, irmão – Vincent falou cínico para provocar o mais velho.

-Senhorita Stevens, onde está meu filho?- Allex foi direto ao ponto, assim como meu pai provavelmente faria se estivesse em seu lugar.

-Quem é seu filho? – eu tenho certeza de quem seja, mas quero ouvir da boca deles

-Você sabe muito bem quem ele é – Allex cuspiu as palavras – você estava lá quando ele foi para a Associação.

-E isso foi à quanto tempo? Porque se for algo da minha infância eu não vou lembrar nem se eu quiser – retruquei dando um sorriso cínico.

-Querida, meu filho é o William – Isa disse gentilmente – eu sei que você o conhece, afinal era a filha dos presidentes.

-Sim, eu conheço o William – afirmei baixinho olhando para baixo. Por que exatamente de todos os vampiros do mundo o Will tinha de ser filho deles?

-Onde ele está? – Allex retornou a falar.

-Agora? Não faço idéia – se eu ainda fosse uma caçadora nunca falaria o que estou prestes a dizer, mas um ataque deles às Associação é exatamente o que eu preciso para chegar no Conselho sem problemas. Com certeza é o melhor plano no momento – mas se eu fosse chutar um lugar para ele estar seria na sede da Associação.

Vincent olhou surpreso para mim, mas não disse nada, conterei meu plano para ele quando tiver uma oportunidade. Mas agora, ele precisará confiar em mim.

-Na sede da Associação? Você acha que eu sou idiota? O Conselho nunca permitiria que um vampiro ficasse por lá – Állex deu uma risada cheia de escárnio – onde ele está?

-Eu já falei! Se ele não estiver na sede eu não sei. Última vez que o vi ele estava no meu quarto! – espero que eles não entendam isso mal.

-Você está escondendo algo – Isabela afirmou – o que é?

-Como? – perguntei mecanicamente tentando ganhar tempo para pensar.

-Aconteceu alguma coisa com o meu bebê? – embora ela estivesse séria, não pode deixar que sua voz saísse emotiva.

-Belle – Vincent falou tão baixo perto do meu ouvido que tenho certeza que nem mesmo Allex ouviu – se você tem algo a esconder, é por que tem uma boa razão. Lembre-se dela. Não fale mais nada.

-Certo – foi o que eu precisava para colocar meus pensamentos no lugar – não estou escondendo nada. Nada que lhe interesse, pelo menos.

-Ora sua – Allex murmurou irritado – Stephen!

Stephen veio andando calmamente da parede em que estava assistindo até parar na minha frente.

Vincent olhou preocupado de Stephen para Allex já começando a ligar os pontos e a prever o que iria acontecer. Eu também já estava preparada, não sou uma imbecil – espero que seja algo que valha a pena – ele sussurrou prestando atenção no ‘sobrinho’.

-O que deseja, papai? – Stephen perguntou com um sorriso sádico.

-Faça-a falar.

-Certo – Stephen se aproximou perigosamente de mim e se abaixou até ficar cara a cara comigo – tem certeza que vai esconder algo? – perguntou.

-Tenho – o provoquei. Nas aulas de combate sempre ensinaram que, embora perigoso, irritar o inimigo era útil para desconcentrá-lo.

-Pena – ele se afastou um pouco e, quanto ia me bater, Vincent o impediu segurando-o pelo pescoço.

-Encoste um dedo nela, e será a última coisa que irá fazer – ele ameaçou coma voz perigosamente baixa e irritada, suas feições realmente assustava pelo perigo que continham, não posso negar, se estivesse no lugar do Stephen eu também teria engolido em seco.

-Vincent, largue-o – Allex ordenou, mas Vincent não mexeu um músculo – se você matá-lo ela morre – ele olhou para mim – e tenho certeza que além de ser a pior morte possível farei você assistir e depois te matarei da mesma maneira – completou sério e muito ameaçador. Senti um frio percorrer toda minha espinha, ele não estava brincando.

Vincent soltou Stephen bem lentamente, mas continuou de pé – parece que o teatrinho de bons irmãos, finalmente acabou – ironizou e voltou a sentar-se do meu lado. Seus músculos estavam tensos, ele com toda certeza estava perdendo a calma e eu acho que vê-lo perder a calma não deve ser algo que alguém gostaria de ver.

-Caçadora, você entende que da mesma forma que posso matá-la na frente dele, posso fazer o inverso.

Engoli em seco e segurei minhas mãos para que elas não me traíssem. Respirei fundo mais de uma vez, mas eu apenas encarei Allex, sem dizer uma palavra sequer.

-Papai, ela não vai falar – Stephen se pronunciou – talvez ela precise passar um tempo sozinha para pensar.

-Sim – Allex ficou pensativo – leve-a, vou ver o que meu irmãozinho tem a dizer.

Stephen me segurou pelo braço e me levantou – se eu fosse você abriria o bico – comentou enquanto me puxava para fora do salão.

-Se eu fosse você, seria menos cretino – retruquei.

-Sabe caçadora – ele começou com a boca bem próxima da minha orelha falando no mesmo tom baixo de voz que Vincent usara antes – quanto menos meus pais souberem sobre o William melhor para mim. Então, continue assim.