Humans

Capítulo 1 - Nascimento


O que nós faz humanos?

O desespero cresce em Coin à medida que chega à meia noite, faltam exatamente cinco minutos. Ele anda de um lado para outro em seu quarto, pensando em cancelar o plano de sair escondido com seu amigo para ir a uma festa.

Coin alcança seu celular em sua cama e disca o número de seu amigo.

— Já está pronto? – Seu amigo diz eufórico, Coin mal consegue entender as palavras em meio ao som que explode pelo telefone.

— John, estou começando achar que isso é uma má ideia – anuncia.

— Qual é Coin? É seu aniversario de 18 anos, temos que comemorar. Estou a um quarteirão de sua casa, me espera na calçada. Coin mal consegue responder e John cancela a ligação.

Coin termina de se aprontar e vai até a janela, a puxa e sobe no telhado, trajeto que Coin realiza frequentemente quando algo está o preocupando, caminha até a borda do telhado e, com a ajuda dos pilares da varanda, desce.

Não demora muito para um carro explodindo em música parar em frente a sua casa. Coin abre a porta e sente o cheiro de álcool exalando de John, depois senta no banco do passageiro.

— Seu pai sabe que pegou o carro dele? – Coin pergunta, sabendo a resposta.

— Não e não tem como saber, ele está viajando – John responde, Coin analisa o interior do carro, o mais novo carro do pai de John, equipado com as mais novas tecnologias que o dinheiro pode comprar.

A busca pela felicidade?

***

Fernanda corre para seu quarto e ao entrar tranca a porta, querendo que ela nunca mais se abra, mas ela sabe que ele vai entrar de qualquer forma. Olha ao redor, no intento de achar um novo lugar para se esconder.

Fixa seus olhos na porta do seu velho armário, corre até ele e puxa a porta, lembra-se que deixou de utiliza-lo pelo fato das portas emperrarem ao abrir. Procura outro lugar, mas não encontra nenhum, coloca as mãos sobre a maçaneta do armário e puxa com toda vontade que tem de se sentir segura. Nada acontece, tenta mais uma vez e outra... E a porta continua emperrada, Fernanda ouve a porta principal de “sua” casa abrir, seu padrasto acaba de chegar do serviço.

Com suas ultimas esperanças puxa a porta e como um milagre ela se move abrindo espaço para Fernanda entrar no armário. Ela encolhe-se no chão e olha pela fresta que deixou, a visão que possui é da porta e do relógio digital que marca 23h:56m.

Ouve passos fortes vindo em direção ao quarto e fecha os olhos quando a porta do quarto se abre revelando um homem, de aproximadamente 50 anos, cabelo ralo, acima do peso e com roupas sujas.

A busca em se livrar do medo?

***

Sora passa os dedos pelos seus lábios lembrando-se de sua tarde, onde os lábios de Helena a tocaram. Ao lembrar-se dela um sorriso boba se forma em seu rosto e lembra-se de cada detalhe do rosto dela.

Desde o dia que conheceu Helena não conseguia entender a fascinação que ela a atraia. Nunca tinha se interessado por homens, achava que com o tempo ia desenvolver esse desejo que todas as suas amigas tinham, mas já estava com 18 anos e nada. Tampouco desejava o corpo feminino, até o dia que viu Helena.

Sora pega seu livro e começa a ler “A energia interna de um sistema isolado é constante...”, porém a sensação do cabelo de Helena roçando seu rosto tira a atenção. Sora lê novamente a frase tentando fixar as palavras.

Depois de alguns minutos Sora joga o livro para o lado e desiste, rola pela cama e deita de barriga para cima fixando o teto. A tela de seu celular acende e uma mensagem de Helena aparece “Oiii, o que tá fazendo?”.

Ao ver a mensagem toda a felicidade de Sora desaparece e começa a entrar em desespero.

“Isso é errado... Eu não posso ser gay... Meus pais vão me odiar”.

Sora liga seu celular e abre a galeria de fotos, Helena insistiu em tirar dezenas de fotos das duas.

— Vamos... Por favor? – Helena diz fazendo sua “cara” de criança pidona.

— Eu... Eu não gosto de tirar fotos – Sora fala praticamente sussurrando com vergonha de realmente falar que se acha muito feia.

— Mas quero fotos com você – responde – Você é tão bonita – Agora é a vez de Helena ficar envergonhada.

Ao ver as fotos as bochechas de Sora ficam do mesmo vermelho que está na parede de seu quarto.

“Eu me sinto bem com ela, por que isso é errado?”

Depois de um tempo foca sua visão em seu reflexo na janela, olhos puxados, cabelos compridos negros, pele clara.

Nem percebe seus pais a observando da porta. – Feliz Aniversário – seus pais gritam em uníssono, ela se vira e tenta esboçar um sorriso, porém não fui muito convincente.

— Parabéns, meu amor – Sua mãe a abraça, percebendo seu descontentamento.

— Ainda nem é meu aniversário – Sora diz olhando para o relógio.

— Quatro minutos não fazem diferença – Seu pai diz abraçando-a. Depois se alastra um silencio desconfortável sobre os três, Sora queria muito pedir a ajuda deles para entender o que está sentindo, mas sabe que eles nunca vão concordar com isso.

Sora evita olhar para os olhos deles, com medo de descobrirem que beijou uma garota. Depois de um tempo, seus pais se despedem e saem do quarto, deixando-a só.

Ter coragem de ser você mesmo?

***

— Falta um minuto – sua mãe aparece em seu quarto com um bolo pequeno em mãos. Enrique se senta em sua cama e sua mãe ao seu lado, separados pelo bolo.

— No creo que meu pequeno hijo está fazendo 18 anos – ela acaricia seu rosto com as mãos – me lembro como se fosse ontem de você chorando, correndo por ai, subindo em árvores e agora você já está um moço. Os dois se fitam por vários segundos.

— Comprei esse bolo para você – empurra o bolo em sua direção – eu sei que é pequeno, mas...

— Não termine, você sabe que eu não ligo para essas coisas, se você quisesse eu arrumaria um emprego e te ajudaria. As feições do resto de sua mãe mudam.

— Não repita mais isso, você tem que se dedicar aos seus estudos e quem cuida do dinheiro sou eu. Já te disse para não se preocupar, eu sempre dou um jeito.

Seu relógio apita indicando que é meia-noite, sua mãe o abraça, diz mais algumas palavras e sai do quarto. Enrique coloca o bolo no criado-mudo ao lado da cama e se deita novamente, se sentindo estranho. Se sente leve, não sentindo absolutamente nada e ao mesmo tempo sentindo tudo.

Fernanda choca-se contra a parede, sentindo uma dor, não física, mas emocional, como se algo estivesse faltando, algo que nunca tinha se dado conta até aquele momento, fosse finalmente encontrado. Ela olha para o lado e uma menina japonesa está a fitando assombrada.

Lágrimas escorrem dos olhos de Sora, sentindo um sentimento que ela nunca tinha experimento antes, um sentimento bom e ruim ao mesmo tempo, que ela mal consegue descrever. Ela olha para a janela confusa, não é seu reflexo que vê, mas sim o de uma menina loira, magra, aflita.

Uma sensação de felicidade explode no peito de Coin, ele sente que encontrou aquilo que sempre esteve procurando, aquilo que almejava em seus sonhos. John grita desejando-lhe feliz aniversário com entusiasmo ao seu lado, porém Coin não está prestando atenção nele e sim em três estranhos que então parados ao lado de fora do carro. Coin sorri para eles e os três retribuem o sorriso.

A busca pelo amor?