How to fix a broken heart

Capítulo 5 | Agosto de 2025


"Good morning, mamas and daddys!” Megan saudou animada, sorrindo para a câmera. “E bem vindos a mais um My Life With the Kids!”

Os presentes na plateia aplaudiram entusiasmados, enquanto Megan se levantava de sua poltrona estilosa e caminhava pelo palco. Aquele era um dos seus momentos favoritos do dia, e isso não podia negar.

So, no programa de hoje, vamos falar um pouco sobre a volta às aulas. Of course, férias de julho são mais tranquilas, sem material escolar, mas ainda assim, it’s very hard para as kids voltarem a rotina. Jack hoje não levantava nem com ameaça de balde de água.”

Havia começado o programa pouco depois de engravidar de Liam. A ideia de Pamela havia surgido após uma olhada no Instagram da filha, que compartilhava muito sobre sua atual vida de mom, e trocava muitas experiências com as seguidoras.

No início, era algo quinzenal. Agora, o programa era exibido três vezes na semana, e era um verdadeiro sucesso. Era inacreditável como a antiga patricinha fútil, mimada e inconsequente havia se tornado uma excelente mãe, extremamente carinhosa e cheia de boas ideias.

Liam tinha dois anos e meio, enquanto Jack e Ally haviam acabado de assoprar sua sexta velinha. Apesar de bastante obedientes (se comparados ao que Megan Lily havia sido em sua infância), os pequenos eram bastante geniosos e cheios de ideias mirabolantes, que rendiam bons temas ao programa.

“Eu acho que, até o 5º ano, estudar no período vespertino ou semi-integral seria mais indicado. A criança tem mais energia para gastar após o almoço, o que a deixa mais participativa. Além do que, acordar uma criança pequena as 6h da manhã é uma judiação.” Opinava uma pedagoga, sentada no sofá dos convidados.

“Minha filha de quatro faz inglês, ballet, ginástica rítmica, natação e aula de piano, e você só encontra bons professores e escolas para isso no período da tarde. E ela não gosta de estudar de manhã, o que posso fazer?” Questionou uma mãe da plateia, e Megan anteviu uma briga chegando quando outra se levantou.

“Que tal deixar a menina respirar? Ela só tem quatro anos, pelo amor de Deus, para que tantas atividades extracurriculares?”

E lá se foi ela tentar acalmar o ânimo das convidadas da plateia. Não era sempre, mas quando começava um bate-boca, ele ia longe. Afinal, ninguém tem mais garra e veneno do que uma mãe “ofendida”.

Well, Jack e Ally estudam em um colégio muito bom, com uma carga semi-integral. Eles entram às 9h, e já tem no currículo aulas de natação, música e dança. Eles ficam lá até às 16h, o que é very good para uma mom que trabalha fora, like me. Já o Liam ainda fica apenas meio período, after lunch, em uma escola que segue o modelo Montessoriano, que eu e o Tuca achamos, like, fantástico. Quando ele fizer quatro, irá para a mesma escola que os irmãos.” Megan já havia falado sobre aquilo, mas não via mal em explicar mais uma vez. “Acho que é uma boa solução para o seu caso. And no, guys, esse não é apenas uma escola para riquinhos. Ok, talvez a Montessoriana, mas eu digo o modelo semi-integral. As escolas públicas ainda não têm adotado isso, mas cada vez mais particulares tem, e elas tem faixas de preço bem variadas. And yeah, tem algumas que custam uma pequena fortuna, mas a que minhas kids estudam, por exemplo, tem um valor razoável e uma boa grade curricular, vai de você pesquisar.”

Nos bastidores, com um headphone enorme na cabeça, Pamela mal podia conter sua animação. Recebia informações sobre as redes sociais via fone e via Marra Tablet, e estava muito orgulhosa. Sua pequena rebelde era agora uma pessoa centrada e com muito a dizer; e, mesmo que não fosse uma especialista, suas dicas ajudavam muito, podia ver pelo retorno que o público em casa dava.

Alguns minutos depois, após se despedir e encerrar o programa, Megan foi recebida pela mãe com entusiasmo, rindo de seu jeito um pouco desastrado.

Oh, baby girl, foi ótimo! Várias moms and dads enviaram mensagens e vídeos à página do programa. Acho que precisaremos fazer um programa falando mais detalhadamente sobre tipos de escolas, porque as pessoas amaram! Oh, e várias vieram contar suas experiências usando as ideias que você deu no início do ano, com a volta às aulas.”

“Oh, sobre falar com as crianças enquanto dormem?”

“Exato. Uma mom disse que tem conversado com o filho todas as noites, após ele dormir, por algumas semanas, e hoje ele levantou very well. Essa ideia do Brian foi genial!” Pamela saltitou batendo palmas, bastante animada.

Yeah, mas eu esqueci de usá-la com Jack e Ally dessa vez, e hoje o resultado foi um desastre. Acho que vou falar sobre isso no meu Twitter, mais tarde. Thanks mom.” A loira mais nova beijou o rosto da mulher, logo apanhando seu telefone. “Agora preciso ir. Quero ficar um pouco com o Liam antes dele ir para a creche.”

“Ok, baby girl. Dê um beijo no meu netinho por mim.”

“Pode deixar, mom.”

Na parte da manhã, Liam era disputado por várias pessoas enquanto Megan trabalhava. Dorothy, Ernesto, Jonas, Verônica... Todos queriam ser os responsáveis da vez pelo caçula dos Avelar. Porém, naquele primeiro dia de aula, quem assumiu o lugar foi Tuca, feliz por poder curtir um pouquinho mais o caçula.

Durante as férias escolares dos filhos, sempre se esforçava para tirar alguns dias tranquilos e ficar com eles, e hoje curtia uma manhã de descanso na companhia do seu pequeno saltitante.

“Liam, diminui o ritmo, vamos lá. O papai já não tem tanto pique.” Megan ouviu a conversa na sala, rumando para lá.

Liam estava na cama elástica que ela usava para exercícios, pulando com uma bola nas mãos. Tuca, sentado no chão a sua frente, parecia exausto, mas sorria feliz da vida. Depois dos quarenta, ele realmente havia perdido muito o pique.

“Aí estão dois dos homens da minha vida.” Ela abriu um logo sorriso, que logo se refletiu no pequeno rosto.

Mom!” Liam pulou mais forte, se jogando da cama elástica em direção aos seus braços. Ela correu e o apanhou no ar, fazendo-o rir. “De novo!”

No way, little man, você quase matou sua mom do coração.” Megan bronqueou com um sorriso, lhe dando um beijo no rosto antes de colocá-lo de volta no chão. “Ele te deu uma canseira, hã?”

“Você nem imagina. Ele tem pilha Duracell.” Tuca riu, se levantando e abraçando a esposa pela cintura. “Nós te assistimos hoje. Estava ótima, aliás. Como sempre, certo Liam?”

“Mom é a melhor!” O pequeno concordou, já se distraindo novamente.

“Vim ver se quer ir no shopping comigo, comprar uma mochila nova para esse little guy, e almoçar.” Megan explicou, ainda abraçada com o marido.

“Você não comprou a mochila dele ainda?”

“Eu estava esperando Ally e Jack estarem fora, porque eles já trocaram de mochila três vezes esse ano. Acho que nem eu tenho mais tantas bolsas.” Ela brincou, fazendo-o rir.

“Ok, acho uma boa. Hey, Liam, quer ir almoçar com a mamãe e o papai? E comprar uma mochila nova?” Tuca gritou para o filho, que ergueu a cabeça de seus Legos e começou a pular. “Acho que isso é um sim.”

~*~

Davi corria de um lado para o outro da cozinha, se dividindo entre a panela de macarrão no fogo e os pães de forma. Primeiro dia de aula era sempre uma bagunça, ainda mais porque ele insistia em não enviar lanches industrializados para as meninas.

“Maya, vem ajudar o papai, por favor.” Ele gritou para a filha mais velha, que veio correndo. “Princesa, coloca o presunto e queijo no pão de vocês, por favor. Papai precisa escoar o macarrão.”

“A Larissa ainda está só de calcinha.”

“Melhor. Do jeito que sua irmã é desastrada, iria encher o uniforme de molho de tomate.” Os dois riram da afirmativa do homem, que virou a panela sobre o escorredor. Jogou um pouco de água fria para interromper o cozimento, dica aprendida com sua tia Rita.

“Papai, a mamãe vai levar a gente para a escola?” Larissa saltitou para dentro da cozinha, sorrindo para o pai com doçura.

“Que pergunta idiota, Lali, claro que não.” Maya riu pelo nariz, fechando seu sanduiche. “A mamãe não aparece nem no nosso aniversário, quando mais para nos levar para a escola.”

“Maya.” Davi repreendeu a filha mais velha, vendo que a mais nova havia se chateado. “A mamãe foi visitar algumas crianças do trabalho, filha.”

“Papai, nós podemos ser pobres?” Davi foi pego de surpresa por aquela pergunta inocente.

“Como?”

“É. A mamãe passa tanto tempo ajudando crianças pobres, que não podem ter o mesmo que a gente. Talvez, se a gente fosse pobre, ela passasse mais tempo com a gente.”

Os olhos do programador se encheram de água diante do raciocínio óbvio e despretensioso, e ele viu que Maya fungou baixinho. O pai se abaixou, puxando a mais velha para uma perna e estendendo o braço livre para a mais nova.

“Vocês sabem que, não importa o que aconteça, sempre terão o papai, certo?” Ele perguntou, beijando as duas bochechas rechonchudas.

“É que eu sinto falta da mamãe às vezes.”

“É, eu também.” Maya concordou com Larissa, coçando o nariz.

“Eu sei, meus amores. E eu sei que toda essa rebeldia é por isso, Maya, porque você é a minha doce garotinha, sempre foi.” A menina sorriu para o pai, abraçando seu pescoço com mais força. “Agora que tal almoçarmos?”

Já sentados à mesa, servidos com o delicioso espaguete à bolonhesa de Davi, a conversa ficou mais amena. Larissa e Maya relembravam animadas a visita de Jonas e Verônica na semana anterior, na qual puderam brincar com os tios (que elas chamavam de primos).

“O vovô disse que a Megan Lily é filha dele, sabia papai?” Larissa perguntou sorridente, e Davi concordou.

As meninas eram loucas pelo programa de Megan, não perdiam um. Porém, após quase três anos sem ver a tia, não conseguiam mais se lembrar dela como tal. Elas só tinham dois e três anos quando deixaram o Rio, e Manuela insistia que a casa não fosse cheia de fotos. Davi suspeitava que ela ainda não conseguia lidar com a imagem de Megan, porque nem o programa a esposa queria deixar as meninas assistirem.

“Então a Megan Lily é sua irmã, papai?” Questionou Maya, interessada.

“Mais ou menos, princesa.”

“E por que a gente não conhece ela?”

“Vocês conhecem sim, é que faz muito tempo que não a vem. Vocês eram muito pequenas na última vez.” Ele explicou. “Vocês viviam brincando com o Jack e a Ally na casa do vovô.”

“Os filhos dela?” Ele concordou. “E o Liam?”

“Quando nos mudamos ela ainda estava grávida do Liam.” E ele nunca tinha visto o menino pessoalmente.

Com o tempo e os afazeres, ele e Megan acabaram perdendo o contato. Se ligavam nos aniversários, e ela fazia questão de mandar presentes para as meninas no Natal e aniversários. Ele também sempre enviava presentes para as crianças, e havia até trocado algumas palavras com Jack uma ou duas vezes pelo telefone. Mas a verdade é que havia perdido uma grande amiga e confidente, algo que precisava muito atualmente.

“Davi? Meninas?” Eles se viraram surpresos, vendo Manuela entrar no apartamento com um sorriso. “Hum, que cheiro bom.”

“O papai fez espaguete à bolonhesa.” Larissa mal continha sua animação, vendo a mãe ali para o almoço. “Quer?”

“Eu já almocei, princesa, tive um almoço de negócios.” Manuela beijou o topo de sua cabeça, repetindo o gesto com Maya.

“E você veio levar a gente para a escola?” Manuela franziu o cenho.

“É hoje que as aulas voltam?” Diante daquilo, os ombros das meninas murcharam e Davi respirou fundo.

“É sim, amor.” Ele havia passado a usar o tratamento carinhoso apenas em frente as filhas, já que não se sentia mais disposto a usá-lo tinha muito tempo.

“Ah, desculpem meninas, eu não sabia. Eu tenho um voo daqui a uma hora, preciso pegar minha mala e correr para o aeroporto.” Explicou a mulher, vendo a decepção no rosto delas. “Mas eu volto em três dias, acho que consigo ir buscar vocês na escola quando voltar.”

“Legal, mãe.” Maya deu um sorriso amarelo, enquanto Larissa empurrava o prato de comida.

“To cheia.” Murmurou a pequena, e Davi suspirou. Maya também não parecia mais disposta a comer, então levantou e disse que ajudaria a irmã a se trocar.

Assim que as duas sumiram para o quarto, Davi fuzilou a esposa. Ela apenas lhe deu as costas, indo até a cozinha.

“Nem começa, Davi, que hoje eu to sem saco.”

“Puta que pariu, Manuela, viajar por três dias? De novo?” Ele rosnou, irritado. “Elas tiveram 30 dias de férias, e você passou quase 20 deles viajando.”

“Alguém tem que cuidar da empresa.”

“E alguém tem que cuidar das meninas.” Ele socou o batente da porta, nervoso. Manuela o encarou, assustada. “Sabe o que a Larissa me pediu hoje? Se podíamos ser pobres, Manuela, pobres. Porque a mãe dela vive para ajudar crianças pobres e esquece delas. Ou melhor, vivia, não é?”

“O que você está insinuando, Davi?”

“Eu estou afirmando, Manuela. Há meses que você não visita as outras escolas da rede pelo país, quem está cuidando disso é o Lucas e o André. E eu tenho reunião todas as tardes, com todos os patrocinadores e financiadores, para não dizer os fornecedores e funcionários. Então o que você tem feito, Manuela? Hein? Me explica? Para onde você viaja tanto?”

“Não é da sua conta, Davi.”

“Não é da minha conta? Não é da minha conta onde minha esposa, mãe das minhas filhas, passa o tempo todo dela?” Ele rosnou, irritado. “Sabe, Manuela, quando eu vim com as meninas para Recife, todos disseram que eu era louco, idiota. Tirar as meninas da vida que elas conheciam, do convívio da família delas, e vir para cá. Mas eu vim, porque eu te amava, porque eu queria que déssemos certo, que nossa família vingasse. E, por Deus, como eu me arrependo disso.”

“Ah é? Se arrepende de vir atrás de mim? E do que mais se arrepende? De ter ido atrás de mim na Califórnia? De não ter ficado com a sua sweetie Megan.” Ela zombou, escorada ao balcão da cozinha.

“Sim! Sim, eu me arrependo disso à morte!” Ele gritou, a pegando de surpresa. “Eu amo a Maya e a Larissa, amo nossas filhas mais do que tudo, mas, Deus, como eu queria que elas tivessem nascido de mim e da Megan. Como eu queria ter ficado com a Megan quando eu tive a chance, ter enxergado essa merda antes.”

Quando ele terminou de falar, estava ofegante, com os olhos marejados. Manuela estava sem expressão, os olhos também cheios de água, a boca uma linha fina. Sem dizer nada, ela saiu da cozinha, cruzando com as meninas na escada. Elas a encararam, mas ela mal lhes dirigiu um olhar.

As duas se viraram para o pai, que secava os olhos, forçando um sorriso.

“E então? Vamos para a escola nova?”