– Senhor, eu já disse, o Senhor não pode simplesmente entrar aqui e exigir ver o Diretor de Medicina do Hospital! – dizia o enfermeiro na recepção começando a se irritar.

– Apenas diga a ele para vir aqui – dizia o homem com uma bengala que usava boina e óculos escuros como se estivesse se disfarçando – ou você está ocupado demais fingindo ser enfermeiro enquanto recepciona ajuda a mostrar os velhos com Alzheimer onde fica o elevador.

– Qual seu nome mesmo ? – perguntou o enfermeiro ligeiramente desconcertado e finalmente cedendo.

– James Wilson – responde o homem suspirando profundamente.

– Ok. – vou avisá-lo Sr. Wilson.

Foreman soube na hora que ninguém mais usaria o nome de Wilson para chegar até ele fora House, tendo passado algumas semanas desde que se falaram pela última vez no funeral, ou melhor desde que House o ignorou pelo telefone. Ele ficou realmente surpreso pelo visita. Prontamente o conduziu para o seu escritório, queria resolver esse assunto entre eles e com privacidade.

O escritório continuava como House lembrava, as janelas cobertas por persianas, as duas poltronas envolta da mesa de centro, a mesa bagunçada de Foreman repleta de documentos a se analizar.

– House .. o que está fazendo aqui ? – pergunta Foreman atordoado.

– Eu quero voltar .. – responde.

– O quê ?! – pergunta Foreman confuso.

– Eu quero voltar a praticar medicina neste Hospital, não fui claro o suficiente da primeira vez ? – diz House impaciente.

– Só você pra ser rude com alguém ao se pedir um favor – comenta Foreman nervoso – você não percebe as implicações que isso gera não é ? Você pode não se lembrar mas ... você me devolveu seu crachá logo após “MORRER” e então sumiu por cinco meses. Daí nos deixa preocupados e larga o Funeral do Wilson nas nossas mãos e volta querendo seu emprego de volta ?

– Você fechou meu departamento ? – pergunta House ignorando o sermão.

– Não – diz Foreman.

– Demitiu minha equipe ? – indaga novamente House.

Foreman então balança a cabeça negativamente dizendo que conseguiu segurá-los administrando pessoalmente o departamento.

– Ótimo, vou procurar algum caso interessante no PS – diz House saindo mancando da sala e deixando-o sem reação.

– Espera, House .. não é simples assim. Tem ideia de quantos problemas isso me causaria .. a burocracia necessária ? Como é que eu vou empregar alguém morto ? – questiona o Diretor.

– Diga que um médico incompetente me deu como morto mas que foi um engano .. que foi meu irmão gêmeo que morreu .. será que eu tenho que pensar em tudo sozinho ? – diz House resolvendo o problema na sua cabeça.

Ele atravessa o hall depois de todo essa tempo e aperta o botão do elevador com sua bengala enquanto sobe saudosamente até chegar ao seu antigo andar, em seu antigo escritório se deparando com três médicos entediados aguardando ávidos por enigmas para resolver. Mesma situação que ele se encontrava há quase uma década atrás, mas invés de um negro, um australiano e uma moralista, ele se deparava com um judeu, uma asiática e outra moralista burguesa.

– O filho pródigo retorna ... – diz House com uma pasta na mão com o registro de seu novo paciente – rapaz de 20 anos tem súbitos aumentos na pressão arterial, chegou aqui com seu segundo ataque cardíaco.

– House ? – pergunta Taub surpreso vendo o antigo, ou melhor aparentemente seu novo chefe.

– Não, não .. na verdade o nome dele é .. Tom. Mas é muita gentileza sua, eu estou usando um novo creme que prometia mesmo parecer 30 anos mais novo.. não sabia se estava funcionando mas.. – dizia House até ser interrompido

– House ?! O que está fazendo aqui ? – pergunta Adams atordoada.

– Você está bem ? – pergunta Park

– Obrigado ... pelo menos ... alguém .. se importa .. – dizia House ironicamente fungando. – diferencial .. vamos – termina jogando o histórico na mesa.

– Você voltou ? Quer dizer, é o nosso chefe de novo ? – questiona Park.

– Sei que é difícil refrear a empolgação, podemos fazer uma festa mais tarde mas .. o Tommy .. lembram dele ? Ele pode ter outro ataque cardíaco a qualquer momento e deveríamos ajudá-lo antes de farrear pra comemorar.. Sim eu sou esse tipo de chefe, fazer o que .. – completa House.

– éerrr .. o garoto tem histórico de doenças no coração ? – pergunta Taub

– A mãe dele não usa aliança, ou se separou do marido ou ele morreu. Adams descubra qual dos dois. – diz House, prontamente ela vai ainda processando o que acabara de acontecer.

– Espera aí, você falou com a mãe dele ? – pergunta Adams estranhando a interação de House com o paciente.

– Tive que falar quando eu me apropriei da ficha do moribundo – responde House com naturalidade.

– Ele pode apenas ter maus hábitos alimentares .. come muita junk food – sugere Park

– Ok Taub e Park vão até a casa dele e descubram – responde House – aah ... como é bom estar de volta – dizia House girando sua bengala em volta das mãos sentado em frente a sua sala.

Park e Taub dirigem-se então para fora da sala mas Park toma a direção errada.

– É impressão minha ou o House está ... ‘alegre’ demais ? – pergunta Park.

– Você que ele voltou ? – sugere Taub.

– Você estaria daquele jeito se tivesse voltado ao hospital em que trabalhou com seu melhor amigo que acabou de morrer ? – responde Park.

– Aonde você vai ? – indaga Taub percebendo que a doutora tomava um rumo diferente daquele que deveriam.

– Falar com o Foreman – responde a doutora enquanto dava passos largos para entrar no elevador.

– Acha mesmo que ele voltaria sem falar com Foreman primeiro – diz Taub se apressando para entrar no elevador com ela.

– Sei que deve ter falado com ele, quero saber o que ele tinha na cabeça dando o emprego de volta a House.

Taub sabia que era uma má ideia e decidiu esperar do lado de fora preparando-se para ir ao endereço que constava na ficha dada pelo PS. Enquanto Park entrava sem ser convidada na sala de Foreman.

– Você devolveu o emprego de House ?

– Desculpa chefe, éerr .. eu vou deixar um relatório na sua mesa me justificando mais tarde ok ? Agora eu tenho uma reunião com o comitê. – rosna Foreman com sarcasmo.

– D-Desculpe-me, sei que não me deve satisfação, mas.. só quero entender o porquê. – diz Park envergonhada.

– Estava difícil conciliar os cargos de chefe do Departamento de Diagnóstico e ao mesmo tempo o Diretor de Medicina, e não vejo ninguém mais qualificado. – responde Foreman.

– Sim, House é um gênio, mas ele tem condições de exercer o trabalho ? Você não acha que ele.... ? – indaga Park desconfiada.

– Voltou a usar Vicodin ? - interrompe Foreman – Talvez... Mas ele precisa de um recomeço Park, e praticar medicina é o que ele sempre soube fazer. Talvez ele tenha cansado de ficar sentindo pena de si mesmo e decidido voltar ao trabalho. – explica Foreman.

– Tudo bem .. – concorda Park.

– Eu vou ficar de olho nele e você faça seu trabalho – termina Foreman saindo da sala apressadamente.

Park então se encontra com Taub no carro e discute sobre a volta do chefe.

– Acha que ele tem condições de praticar medicina.. quer dizer, será que ele está bem mesmo ? – pergunta Park.

– Confesso que esperava que ele estivesse pior, e enquanto a capacidade dele.. eu já o vi muito pior do que está. Quem sabe ele está buscando um recomeço.. – diz Taub.

– É do House que estamos falando Taub... – aponta Park.

– Seja como for .. temos trabalho a fazer. – responde Taub.

Os dois chegam a casa do garoto, e arrombam a porta. Park se dirige ao quarto dele enquanto Taub vasculha a cozinha.

– Ele parece se alimentar bem, além do mais foi um chute distante dizer que ele teve um ataque cardíaco devido a pressão dele estar alta de tanto comer besteira, não sei como House concordou. – diz Taub.

– Pode ser mais o quarto dele é imundo – dizia Park se desviando da bagunça no chão, havia roupas fora do lugar, a cama desarrumada, em suas gavetas tudo menos roupas.

– O que esperava de um quarto de um garoto de 20 anos que mora sozinho ? – responde Taub. – achou drogas ?

– Não.. E você achou algo interessante ?– pergunta Park indo ao encontro de Taub.

– Não, vamos voltar.

Enquanto isso no Hospital House estava inquieto em sua sala jogando sua famoso bolinha vermelha e branca contra a parede e decidiu ir ver o Foreman enquanto sua equipe não voltava. House simplesmente achou desnecessário bater na porta e logo disparou.

– Tenho dois ingressos para os Monsters Truck na quarta a noite .. o que acha ? – disse House costumeiramente.

– House, nós já passamos por isso antes.. eu não sou o Wilson e não adianta tentar substituí-lo. Você tem que lidar com isso como um adulto. Já consegui seu emprego de volta e é o máximo que poderei fazer – responde Foreman rispidamente.

– Não quero substituí-lo é só um convite.. para você se desestressar um pouco. – explica House tentando convencê-lo a aceitar.

– Quer dizer que agora se preocupa com meu nível de estresse ? Não vai rolar House. Não tenho tempo, sinto muito. – responde – agora se me dá licença.. – diz apontando para a porta sem tirar os olhos dos papéis que assinava.

House vai embora ligeiramente desapontado. Já Adams falava com a mãe que estava visivelmente abalada com tudo que acontecia, já perdera seu marido e ter que assistir seu filho indo pelo mesmo rumo, era difícil de suportar. Adams tentava explicar a situação de que o histórico mais detalhado ajudaria a descobrirem mais rápido o que havia de errado com Tom.

– Como foi que o Sr. Singer morreu ? – pergunta a doutora.

– Robert bebia muito, ele tinha pressão alta. Sobreviveu a três ataques cardíacos mas faleceu no quarto. – responde a Sra. Singer, tentando segurar as lágrimas.

– Entendo e.. – começou a doutora.

O barulho inconfundível de emergência disparou no quarto de Tom interrompendo a conversa que a doutora estava tendo com a mãe do garoto.

– Preciso do carro de emergência aqui !! – gritava a enfermeira enquanto Adams corria para dentro do quarto e pegando o desfribilador em mãos gritou:

– Carregando... Afastem-se !! – nada - De novo, carregando ... Afastem-se ... Afastem-se..

Um novo bipe então confirma que o coração do rapaz voltara a bater. Ele começa a tossir e recobra a consciência.

– Tom ?! Tom ?! Você está bem ? - pergunta a doutora.

– Eu... Eu não consigo ver .. – respondeu Tom.