Hopeless

Hopeless - Sem esperança


“Mesmo que fiquemos abraçados até que comece a doer
Não seremos capazes de nos tornaremos um só.
Mesmo que não seja mais profundo que um simples carinho
Tocarmos um ao outro é doloroso.”

:.Natsuo.:

Dor... Eu só queria ao menos um dia deixar de te sentir por não poder te entender. Queria apenas um tempo para poder aceitar que é isso a única coisa que sou capaz de produzir e consumir por mim mesmo, pois a vida pra mim se resume em apenas duas coisas importantes.

Isso é paradoxal. Não sou capaz de sentir sequer uma facada em meu corpo. Não sei o que é a verdadeira dor, mas meu sentimento... Aquilo que chamo de sentimento, dói. Dói por ver a única pessoa que me importa triste. Dói por eu não poder protegê-lo de sentir isso que somos. Dói por vê-lo revoltar-se sempre que não consegue retribuir aquilo que acha que eu devo sentir.

Youji... Eu também não sinto seus toques, não sinto seus beijos, nem ao menos sinto seu calor quando me abraça. Não sou capaz de diferenciar um carinho de um tapa, ou um chute. Não sei como demonstrar o que sinto.

Abraça-lo agora é o que me ainda dá forças para seguir em frente. Seguir pela dor, pelo amor, por tudo o que acredito, porque se dependesse do ser “humano” que sou, tudo teria acabado em uma das milhares de tentativas de sentir algo.

Furei meu próprio olho para tentar sentir, cortei-me diversas vezes, surrei outros combatentes até a morte em uma tentativa falha de tentar sentir. Ah! Não foi totalmente falha. Eu senti. Senti raiva.

— Droga! Droga! Eu quero sentir, Natsuo. Eu quero! – murmurou em teimosia enquanto aquelas lágrimas caíam por seu rosto. Sequei uma a uma com minhas próprias mãos e ele só se desesperava mais e mais. – Eu não sinto seus dedos. Não sinto minhas lágrimas, não sinto nada... Por quê? Por que tem que ser assim?

— Calma, eu também não sinto. Não sei se é quente ou frio, nem se dói ou não... Mas eu não quero te ver assim.

— Natsuo eu não aguento mais. Eu quero sentir.

— De que adianta querer se não poderemos. – mexi em sua franja e o via respirar devagar. – Acredite Youji... Se eu pudesse sentir, faria o possível para que você também sentisse, mas não posso.

— Eu sei, mas não é justo.

— Não, não é, mas a vida não é justa. Nós somos dois que não sentimos e daríamos tudo para ser como pessoas normais. Pessoas normais dariam tudo para não sentirem a dor que não sentimos... Então... Acalme-se.

Era um fato que muitos dariam tudo para não sentirem a dor de um ferimento. Dariam tudo para poderem andar mesmo que lhes faltasse uma perna ou um braço e continuassem a sorrir, mesmo que houvesse um prego em suas cabeças, mas essas pessoas não sabem o que é ser como nós.

Pessoas fariam de tudo para continuarem andando com o corpo em chamas ou com os braços congelados. Quebrariam recordes e mais recordes com essas habilidades, mas elas não sabem como é...

...
“Encontrarmos um ao outro é pedirmos para encontrar a solidão
Que não conheceremos até trocarmos um beijo.”

...

Não sabem como é ver a neve branca, toca-la e não sentir absolutamente nada. Não saber o que é frio e sentir o corpo vibrar em uma queda intensa de temperatura. Não sabem como é ter o corpo inteiro cortado com lâminas afiadas e desmaiar por não ter quase uma gota de sangue.

Pessoas não sabem... Não sabem como é comer algo que parece delicioso e não sentir o gosto, não sabem como é não poder se aninhar em um colo quente e se sentir acolhido... Não sabem como é ver a pessoa que mais ama chorar e não sentir suas lágrimas... Não sabem o que é amar alguém e não poder sentir sequer seu carinho...

Porque é isso o que somos. Zeros... Em sensações, sentidos... Não temos a noção de quando estamos morrendo ou quando estamos apenas doentes. Não sabemos quando e nem como reagir ao nosso próprio corpo... Porque ele não reage.

Eu trocaria uma vida inteira por um único momento para sentir um arrepio dos toques de Youji ou saber como é um abraço dele... Porque uma coisa é se sentir protegido outra é sentir o calor que ele emana.

Trocaria a minha habilidade como combatente apenas para que, em alguns segundos eu pudesse sentir o gosto dos beijos dele ou poder sentir a textura completa de seus cabelos e saber como é dormir em um lugar quente. Só isso. Eu só queria sentir como as pessoas normais.

— Escuto seu coração bater, Natsuo. – sussurrou meu sacrifício. Seu jeito infantil é gracioso e só me faz querer protege-lo ainda mais.

— Gosta de escuta-lo, Youji?

— É tudo o que posso querer. – juntou-se mais contra mim e parecia disposto a permanecer daquele jeito, mas ajoelhou-se para me encarar. – Natsuo...

— Diz... – sempre tento não parecer triste pra ele, mas aquilo o incomodava e eu sabia o que era. – Pode dizer...

— Eu só queria ter sentido... Só isso. – comentou.

— Foi só um beijo, Youji. – é o que digo a mim mesmo para não ficar tão frustrado quanto ele.

— Ontem foi só uma maçã, hoje foi só um beijo... Amanhã serão só nossas orelhas. Eu quero perde-las com você, Natsuo... Mas eu não sinto. Eu odeio isso! Odeio não poder sentir... Odeio porque te amo. – falou por fim. – Natsuo, por que eu sinto que dói tanto? Por que te amar dói?

— Eu também queria saber, mas não sei. – toquei seu rosto. – Porque eu queria sentir todas as vezes que você me abraça quando dormimos mas eu não sinto. Desculpa, Youji. Mas somos assim. Não fique triste.

— Por que você sempre sabe o que fazer? – apoiou a cabeça em meu ombro e moveu a cauda como um gato sem esperanças. – Eu desejo, Natsuo... Desejo você... Eu sei que desejo, mas quando te toco, não te sinto. Sei que está aqui e a única coisa que me resta é ouvir seu coração e me contentar com isso.

— Eu te amo, Youji. Eu sei que te amo, porque não quero te perder e quero que escute meu coração sempre. Nas batalhas... Quando dormimos. – sorri.

— Eu te amo, Natsuo. – sussurrou antes de ficar completamente em silêncio.

Desgastado por tanto se martirizar, por se flagelar e tentar sentir algo... Cansado por tentar a todo o custo ter sensações humanas, acabou dormindo. Mesmo que algum dia eu possa sentir, não seria justo que apenas eu o fizesse.

Não vou fingir, tenho medo de que algum dia eu falhe em minha missão de vida, pois como disse antes, só vivo para duas coisas. Proteger e amar o Youji, mesmo que eu morra como um Zero, mesmo que eu nunca possa sentir nada. Eu só não quero que ele sofra mais com esse destino impiedoso que nos foi dado ao nascer.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.