" (O castigo às vezes não parece ser justo ao crime) ... É, tem um buraco em minha alma, mas uma coisa aprendi, para cada carta de amor escrita, existe outra queimada. (Então você me diz como será desta vez) "

" Acabou, pois estou apagando a chama [...] Me diga como se sente sendo aquela que gira a faca dentro de mim "

" Tem um buraco na minha alma que esta me matando há tempos, é um lugar onde um jardim nunca cresce. Tem um buraco na minha alma, sim, eu deveria ter imaginado, pois o seu amor é como um espinho sem uma rosa"

Aerosmith- Hole in my soul

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Fevereiro de 2013

No meio da noite fria e estrelada, um carro seguia sem direção pela estrada a dentro. Quem dirigia era um homem, jovem de cabelos loiros e rebeldes e o rosto estava escondido por uma mascará cirúrgica.

Ele não estava preocupado de quanto tempo faltava para o dia nascer ou se teria algum compromisso importante no dia seguinte. Apenas queria continuar dirigindo para qualquer lugar, ou até onde a gasolina do carro pudesse aguentar.

Seu olhar se voltou para o passageiro que estava vago, o fazendo ter lembranças que naquele momento não estava afim de revive-las. Mesmo o seu rosto, escondido pela sua inseparável mascará, não escondia a raiva e a dor que estava sentindo naquele momento. Frustrado ele ficava se perguntando onde tinha errado para ter de merecer aquilo.

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Tóquio – 4 horas atrás

Dentro de um estúdio, localizado em um prédio no centro da grande e badalada Tokyo. Ele dedilhava seu baixo, apenas por curtição, enquanto os outros quatro rapazes que estavam com ele foram para cada lado do sofá para descansar das horas que ficaram tocando dentro daquele estúdio:

—Até que fim um pouco de descanso! - Disse o baixista esticando os braços por cima da cabeça, mantendo o instrumento sobre o seu corpo:

— Já estava achando que ficaria sem meus dedos. – Disse o guitarrista enquanto estava fumando o seu cigarro:

— Tenho que confessar que estou bem cansado, e meus dedos também não estavam aguentando mais! - Disse o segundo guitarrista enquanto bebia um copo de saquê:

— E ainda temos muito trabalho a fazer – Disse o baterista enquanto se dirigia até o sofá e brincava com as baquetas que estavam entre seus dedos:

—Isso é tudo o que não queria escutar agora! - Disse o baixista completamente entediado, jogando a sua cabeça para trás no encosto do sofá:

— Reita! ... - Disse a voz grave do vocalista que acabara de sentar ao seu lado no sofá do estúdio – como está indo na letra da sua música?

—Fazer a melodia não está sendo difícil, o problema está na composição da letra, eu nunca escrevi nada na minha vida, muito menos uma letra de música Ruki-san.

A banda estava querendo fazer algo diferente em seu próximo álbum, por essa razão Ruki, que era o vocalista, sugeriu que todos tivessem suas próprias composições nesse álbum novo, incluindo os integrantes da banda que nunca escreveram uma letra música:

—E você Kai? ... também está sendo difícil? :

—Está sim! - Comentou o baterista – queria saber como você, Aoi e uruha e conseguem escrever as músicas e tão rápido:

— Às vezes, nem eu mesmo sei! – Disse o vocalista entre risos – não é uma coisa fácil de explicar, só deixo que os meus pensamentos trabalharem por mim, você deveria fazer o mesmo, coloca tudo que vier na cabeça:

—Vou tentar! - Disse o baterista já animado:

Nesse instante a conversa é interrompida com o som que parecia ser de um celular tocando. Todos da sala ficaram olhando para os lados, procurando saber de quem era o aparelho barulhento, até que ... :

—Alô! - Disse Reita que imediatamente mudou seu tom de voz, ficando todo abobalhado, provavelmente por causa da pessoa que estava na linha:

— Quem será? - Perguntou Uruha, um dos guitarristas da banda, enquanto olhava para os outros que também estavam observando Reita no telefone:

— Quem você acha? - Ironizou Aoi, também guitarrista da banda. Ele fez uma cara de travesso para os amigos para o que estava prestes a dizer – quem mais consegue deixar nosso amigo todo vermelho desse jeito? - Nesse instante ele sentiu algo indo contra o seu rosto, percebendo que era uma almofada lançada por Reita – AUCH!

— Yamero! - Reita colocou uma das mãos em cima do telefone para que a pessoa no telefone não o escutasse brigando com eles – não fiquem me atrapalhando! - Em seguida ele voltou sua atenção para quem estava no outro lado da linha – Oi .... Harumi- chan!

Harumi Hayashi era a namorada de Reita e trabalhava como modelo fotográfica em uma agencia de modelos bastante conhecida no Japão e também em vários países ao redor do mundo. Por causa de sua profissão, ela sempre estava viajando e fazendo fotos em vários lugares. Em um desses trabalhos, mais especificamente no centro de Tokyo, ela conheceu o baixista e meses depois, começaram a namorar.

Esse relacionamento está permanecendo firme a dois anos e meio. O que muitos na época duvidaram que fosse durar tanto tempo, já que eles tinham carreiras muito tumultuadas:

— Reita-kun! - Disse a garota - está tudo bem com você? :

—Melhor agora que me ligou! – Disse todo abobalhado, fazendo os amigos ficarem rindo, o que não foi bem visto pelo baixista – Está tudo bem com você? ... aconteceu alguma coisa? ... :

— Que namorado mais preocupado! – Disse Ruki para os demais amigos, que ficaram segurando a gargalhada:

—Urusai! - Reita sussurrou para evitar que Harumi o escutasse dizendo aquilo:

—Está tudo bem sim! - Disse ela toda sorridente, percebendo que algo estava acontecendo no estúdio - só liguei para saber se vai trabalhar até mais tarde:

—Acho que sim! - Respondeu colocando as mãos sobre a cabeça - temos ainda muito trabalho com esse álbum novo ... por que a pergunta?

—Hm... que pena! - Ela disse fazendo um tom de voz triste – estava querendo sair com você para jantar essa noite, mas não quero atrapalhar o seu trabalho:

—Podemos marcar para outro dia. - Sugeriu o baixista bastante animado:

—Hai! - Disse ela bastante animada – qualquer dia dessa semana, pois semana que vem vou ter que viajar a trabalho:

—Tudo bem! - Disse ele todo feliz no telefone:

— Preciso desligar, estão me chamando agora para uma sessão de fotos. - Ela disse fazendo uma voz desanimada por ter que desligar o telefone - eu vou ficar em casa hoje a noite então mais tarde eu te ligo e combinamos tudo, beijos amor ... Ashiteru!:

— Eu também te amo ... até mais docinho! – Disse o baixista desligando o telefone, em seguida olhando para a cara de todos ali que estavam segurando o riso – ... o que foi?

— Docinho? - Todos disseram em um único som:

—E o que tem de errado nisso? - Perguntou não entendendo o motivo da piada- ela gosta quando eu a chamo assim:

— O que o amor não faz com as pessoas. – Kai disse entre risadas, sem perceber que o baixista estava se aproximando e colocou o braço em volta de seu pescoço - Ah! Wari... Wari!:

—Acho melhor voltarmos para o trabalho! - Ruki os lembrou do trabalho, tentando impedir que ficasse um integrante a menos na banda:

—Sim... tem toda a razão! - Reita tirou o braço do pescoço do baterista e foi em direção ao seu baixo.

Depois de mais algumas horas trabalhando nas músicas novas, todos da banda estavam esgotados. Não estavam conseguindo mais se concentrar no que estavam trabalhando, então decidiram que seria melhor encerrarem o trabalho naquela noite e continuarem a trabalhar no dia seguinte:

—O que vocês vão fazer agora? - Perguntou o baterista olhando para cada um dos integrantes da banda - estava pensando em todo mundo sair para comer, o que vocês acham? ...:

—Eu sinto muito, mas não vai ser dessa vez! Pretendo ir para minha casa e dormir – Disse o vocalista bem entusiasmado com a ideia:

—Como se isso fosse uma grande novidade pra nós Ruki! - Ironizou o baixista:

—Não é culpa minha se dormir é a melhor coisa do mundo! - Ruki respondeu confiante:

— Eu acho que vou sair por aí! - Aoi dizia enquanto apagava o cigarro – quero ver o que a noite me reserva:

—Hmmm ... não ficaria surpreso se no final dessa saída noturna, não acordasse ao lado de uma garota – Disse o outro guitarrista que ao dizer isso, sentiu algo com muita força indo contra o seu braço - Auch! ... Por que fez isso Aoi ?:

—URUSAI! ... E não reclame, isso foi pouco pelo que merecia! – Disse Aoi cruzando os braços e todos da sala começaram a rir, enquanto a dupla de guitarristas se encarava:

—E você Reita, o que vai fazer hoje à noite? - Perguntou o baterista ao baixista que estava distraído olhando para a janela:

—Vou aproveitar que terminamos cedo e vou até a casa da Harumi fazer uma surpresa para ela, afinal, ela acha que vou ficar até mais tarde trabalhando - Respondeu o baixista:

—Não é melhor avisar? - perguntou Uruha – e se ela não estiver na casa dela ?:

—Ela disse no telefone que hoje ela ficaria em casa na parte da noite:

—Se está dizendo, quem sou eu para discutir! – Uruha levantou as mãos dando-se por vencido:

—Bom pessoal, nos vemos amanhã! - Disse Reita levantando-se e indo apressadamente até a porta.

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Algum tempo depois, Reita estava subindo as escadas e indo até a porta de entrada do apartamento de Harumi. Como o casal já tinham uma certa intimidade, ambos tinham as chaves do apartamento de cada um. Por essa razão, o baixista achou que não teria problema algum em entrar no apartamento sem dar aviso prévio, afinal, isso estragaria toda a surpresa que tinha planejado.

O que ele não esperava, era que tinha uma surpresa maior o esperando, ou talvez não.

Os olhos finos e escuros de Reita, agora estavam arregalados e surpresos pela cena a sua frente. Harumi estava sentada no sofá, mas ela não estava sozinha, estava aos beijos com outro rapaz, alguém que o baixista não fazia a menor ideia de quem fosse.

Por de baixo da sua máscara, sua boca estava entre aberta, e mesmo que se esforçasse para dizer algo, não conseguia emitir som nenhum, muito menos alguma palavra. O baixista parecia estar fora da realidade, mas sabia que precisava fazer alguma coisa para a sua presença ser notada.

Sentindo a chave do apartamento de Harumi em sua mão, o jogou no chão com toda a raiva que estava fluindo dentro dele. Com o barulho estrondoso, conseguiu o seu objetivo de chamar a atenção dos dois que estavam na sua frente:

—Reita! - Harumi disse surpresa, olhando para o rapaz ao seu lado e para o que estava bem diante dela – o que você está fazendo aqui?:

— Isso é pergunta que se faça? - Reita não elevou a voz, mas era nítido a raiva em suas palavras:

—E...eu posso .... - Antes que ela pudesse terminar a frase ele a interrompeu dizendo:

—Não me venha com essa conversa clichê, deixe isso para os filmes – Ele estava transbordando de raiva, mas não podia perder a compostura:

— Não fale assim com ela! – O rapaz que estava no sofá levantou-se ficando sério por ver como as coisas estavam andando - e quem é você afinal?

—Isso não foi nada, perto do que vocês dois mereciam! - Disse Reita não acreditando que além de descobrir que estava sendo traído, ainda tinha que ouvir aquele desaforo - e quer saber ... não interessa você saber quem eu sou ... já notei que estou sobrando por aqui!.

Reita deu as costas e foi em direção a porta de saída, não queria ficar ali mais nenhum segundo, estava enojado com tudo aquilo. E antes que chegasse até a porta, sentiu um par de mãos o segurarem pelo braço:

—Por favor espere! - Disse Harumi o segurando, apertando o seu braço com força enquanto segurava as lagrimas – E... eu sinto muito! ... Não queria que ficasse sabendo desse jeito:

—Não sente nada! - Reita não se deu o trabalho de olhar para ela para e dizer o que estava entalado na sua garganta – agora se tem um pouco de dignidade ... - nesse instante ele respirou profundamente, a raiva era tanta que precisava fazer isso para colocar a cabeça no lugar e soltar logo de uma vez o que tinha que dizer - me esqueça!.

Dizendo isso e sem olhar para trás, ele fez um movimento brusco com o braço soltando-se das mãos dela e assim indo até a porta rapidamente e batendo na mesma com toda força que tinha.

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Reita estava sentindo-se transtornado e confuso, isso era nítido pelo modo como estava conduzindo o carro ... em alta velocidade. Ele podia sentir uma dor em seu peito, como se estivesse uma faca fincada em seu coração, sendo que essa mesma lamina, tinha sido cravada por alguém que em sua opinião, seria a última pessoa no mundo capaz de fazer isso.

O baixista foi até o porta-luvas do seu carro, onde ali dentro estava uma foto de Harumi que ele tinha recortado de uma revista, que ela tinha posado como modelo. Ele ficou alguns segundos olhando aquela foto, era uma das suas favoritas. Ela estava usando um vestido preto, batom vermelho nos lábios e uma maquiagem bem desenhada e escura:

— Eu fui um idiota ... um completo idiota! - Disse amaçando a foto e a jogando pela janela do carro.

Naquele instante, enquanto encarava aquela paisagem e o vento que assoprava naquela noite, decidiu que deixaria tudo para trás, jurando para sí mesmo que aquela seria a primeira e última vez em sua vida que seria enganado por alguém, principalmente por uma mulher.

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No dia seguinte Reita contou para todos o que tinha acontecido, sobre a traição a tentativa de pedir desculpas para ele, e como era esperado, todos ficaram surpresos. Muitas vezes, notaram que tinha algo estranho com ela quando ela estava com a banda, principalmente nos últimos dias em que ela estava com o baixista, mas não esperavam que fosse algo assim:

— E ela nem se explicou? - Perguntou Aoi sentado no chão da sala de descanso do estúdio:

— Eu não dei chance para ela – Reita disse secamente, pegando a garrafa de agua e a bebendo – e mesmo se desse eu não iria acreditar:

— Então dessa vez não tem volta! - Kai pensou alto, querendo absorver o que acabara de ouvir:

—Com certeza não! - Reita estava frustrado e decepcionado, sendo transmitido em seu tom de voz - Quem diria que logo eu, que sempre fiz de tudo por ela, iria passar por isso – Reita encarou o chão e as suas duas mãos entrelaçadas:

—E não será o último! - Ruki colocou uma das mãos no ombro do amigo para conforta-lo – e com certeza vai encontrar uma garota que será muito melhor que ela:

—Com certeza você vai ... – Disse Uruha ressaltando o que o vocalista disse, mas antes que pudesse concluir:

– E quem disse que eu quero encontrar? - Murmurou o baixista:

—Talvez seja cedo para dizer isso! - Disse o Aoi também entrando na fila para aconselhar o amigo – esfrie a cabeça, deixa as coisas se acalmarem para ter certeza se é isso que quer:

— Aoi tem razão! - Uruha sem pensar duas vezes tomou a fala para ele – tudo ainda é muito recente, é precipitado demais pensar desse jeito tão radical.

— A única coisa que eu quero fazer agora é trabalhar duro – O baixista queria focar a sua mente em outras coisas, tais coisas que são mais importantes que ficar se lamentando - não vou permitir que isso afete o que amo fazer, estar no palco, fazendo lives e estar no estúdio com vocês ensaiando e compondo:

—Você está certo! - Kai não tinha muito o que dizer, tudo já tinha sido falado por todos eles, então o melhor a fazer seria incentivar o amigo a ocupar a cabeça - então vamos fazer o que sabemos fazer de melhor, dar o nosso melhor para agradar os nossos fãs que nunca nos decepcionaram! - Dito isso todos se animaram e seguiram sua rotina diaria de trabalho.

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2 meses depois

Algumas semanas se passaram, depois que descobriu a traição e da conversa que teve com os seus amigos, algumas coisas nesse meio tempo mudaram e Reita não foi mais o mesmo.

o baixista fez questão de passar uma borracha em tudo que o fazia lembrar dela. Ele queimou todas as cartas, revistas que ele tinha comprado com ela na capa, tudo que tivesse alguma lembrança dela tinha sido destruído. Ele queria de qualquer maneira apagar a existência dela, da vida dele.

Os seus amigos da banda perceberam que ele não estava agindo normalmente. Não tinham o que reclamar de seu trabalho, que como ele tinha prometido, estava melhor do que nunca. Contudo sentiam que ele estava usando isso para fugir do que estava sentindo, mesmo ele dizendo que estava tudo bem e dedicando-se a banda. Eles sentiam que ele não estava dizendo a verdade, e tal comportamento os preocupava, pois tinham consciência de que ser é traído, não era fácíl de aguentar.

Naquele dia, a maioria das músicas novas estavam quase prontas, e todos estavam se empenhando ao máximo para termina-las. Ruki, Uruha e Aoi como já tinham muita prática, já tinham feito várias composições de letras e melodias, mas ainda tinha o problema com os demais integrantes.

Kai estava aos poucos conseguindo desenvolver uma letra que fosse boa o suficiente para entrar no álbum. Enquanto Reita não estava conseguindo escrever um verso que fosse, mesmo se esforçando. E a cada dia que passava, sentia-se mais pressionado e isso estava só piorando as coisas:

O baixista olhava fixamente para a folha, ao mesmo tempo que segurava a caneta em sua mão. Buscava em sua mente alguma palavra ou frase que fosse útil, qualquer coisa que o tirasse daquele bloqueio:

—Chega! - Depois de alguns minutos lutando contra sua mente, se deu por vencido e jogou a cabeça para trás do sofá:

— Está tudo bem? - Ruki tinha acabado de entrar na sala e viu que o baixista não estava na sua melhor aparência:

— Está tudo bem! - Disse colocando uma das mãos sobre a nuca e jogando a cabeça para frente e encarando o chão. - Talvez ... eu só precise descansar um pouco a cabeça:

— Não estou falando da música. - Ruki sentou-se do lado do amigo encarando a parede a sua frente:

—Então do que você está falando? - Não foi preciso Ruki dizer nada para que ele entendesse onde o vocalista queria chegar – espera! ... por que está me perguntando isso? :

—Por que da forma como você estava envolvido por ela, acho que você superou rápido demais:

—Eu só estou tentando seguir em frente, tem algo errado nisso? - Reita alterou sua voz - O que você queria que eu fizesse? - Perguntou o baixista incomodado por aquele assunto – que eu ficasse chorando por ela ou lamentando por que recebi um belo par de chifres? :

— Claro que não, mas também não ficasse fingindo que isso não te afetou:

— Bom, sinto muito se não foi o que esperava! - Reita cruzou os braços e as pernas, não mantendo contato visual com Ruki:

—Só estou preocupado com você – Antes que o vocalista pudesse continuar rebatendo o amigo, a porta da sala em que estavam se abriu:

— Pessoal! - Disse Kai entrando na sala junto com os demais - já estamos bem adiantados no trabalho, então se quiserem ir descansar, estão dispensados por hoje!

Dito isso Reita sem pensar duas vezes pegou as suas coisas e saiu da sala sem dizer nada para ninguém. E isso gerou um estranhamento entre os integrantes que tinham acabado de chegar:

—O que deu nele? - Perguntou Aoi confuso:

—Disse alguma coisa para ele Ruki? - Uruha estava tão confuso quanto os demais da banda:

—O que ele precisava ouvir - Ruki foi direto e sem dar detalhes:

—Está tudo bem com ele? - Perguntou Kai para o vocalista:

—Ele está bem! – Ruki levantou-se do sofá e pegou sua bolsa que estava em um movél perto da janela – ou melhor, vai ficar bem - pensou alto enquanto se dirigia até a porta de saída .

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Reita estava dentro de um bar bastante movimentado no centro de Tokyo. O baixista estava sentado em uma mesa bem escondida nos fundos, enquanto apreciava sua bebida. Ele não tinha costume de beber, mas naquele dia fez uma exceção.

Enquanto dava um gole no seu copo de saquê, começou a olhar para os clientes daquele estabelecimento. Estavam felizes e sorridentes, alguns encontravam-se acompanhados por amigos e outros eram casais em um momento romântico.

Vendo tudo aquilo ao seu redor, despertou nele algo que ele relutava internamente para não sentir, a sensação de solidão e abandono. Depois de ficar mais alguns minutos sentado, tentando resistir e dizendo para si mesmo que estava tudo bem, ele não aguentou mais e decidiu sair daquele lugar o quanto antes.

Entre as pessoas e o céu noturno, ele caminhava distraidamente encarando os próprios pés. Aquelas palavras que Ruki disse para o baixista, de alguma forma ficaram martelando em sua mente. Será que Ruki estava certo em dizer que ele não estava querendo admitir que talvez estivesse fugindo da sua dor ?

Após alguns minutos de caminhada, Reita acabara de chegar em sua casa com uma sacola contendo mais garrafas de saque. Não queria saber se teria ressaca no dia seguinte, só queria beber até dizer chega.

Algumas horas de passaram e sentado em seu sofá, ficou bebendo um copo atrás do outro. levantou-se do sofá e foi indo até o seu quarto. Quando entrou no cômodo, foi até o espelho que ficava na parede de frente para sua cama e começou a se encarar pelo reflexo do mesmo. Surgindo vários pensamentos em sua mente.

Quem ele estava querendo enganar, ele não queria admitir, mas ainda existia uma ferida dentro dele que ainda não estava cicatrizada. E essa ferida não seria curada de qualquer jeito. Ele estava apenas querendo esconder ela, como se faz quando se usa um bandaid.

Nesse instante várias lembranças começaram a se manifestar em sua mente. Todas sendo influenciadas pelo demasiado consumo de bebida. Essas lembranças envolviam momentos que passou com Harumi. Todos os abraços, beijos, gestos de carinho. Ao mesmo tempo que apareceu esses momentos felizes, também começaram a surgir lembranças terríveis como as brigas, as vezes que ela negava algo para ele por estar cansada, ou dor de cabeça e por ultimo e a mais dolorosa, ela beijando outro cara.

Sem pensar duas vezes, Reita que ainda estava segurando a garrafa e com um grito de desespero em sua garganta, a atacou com toda raiva que estava sentindo. O objeto foi em direção ao espelho que se estilhaçou no chão em pedaços. Ele lentamente foi arrastando as costas até o chão, não conseguindo evitar as lagrimas que começaram a sair de seus olhos. Naquele momento tudo que ele queria era colocar pra fora tudo que estava sentindo e acabar com aquele vazio o quanto antes.

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No dia seguinte, o baixista acordou sentindo o sol entrando pela janela de seu quarto. Sentindo também o que já era previsto depois de uma noite de bebedeira, a bendita ressaca. Ele então protegeu os olhos da luz do sol com com uma de suas mãos.

Com a outra mão pegou seu celular que estava do lado dele na cama, viu que já tinha passado da hora de acordar e que estava atrasado para o trabalho. Rapidamente levantou-se da cama e percebeu que não tinha nem tirado as roupas do dia anterior, muito menos as suas botas.

Sem perder muito tempo, entrou no banheiro e tomou um banho rápido. Depois vestiu uma roupa limpa e pegou suas coisas e foi apressado até a saída do seu apartamento, indo até o elevador.

Quando a porta do elevador se abriu, ele foi entrando e não percebeu que alguém estava saindo e consequentemente, esbarrou no baixista. Quando se deu conta do que tinha feito, viu que esse alguém era uma garota:

—Me desculpe! ... Eu não vi que estava saindo - Disse desesperado vendo que ela teria caído no chão se não fosse ele a ter segurado:

— Tudo bem! Você me parecia estar apressado. - Disse ainda se recompondo do impacto.

O baixista não pode evitar de ficar olhando para a garota que acabará de esbarrar. Da mesma forma que ela também não sentiu nenhum receio de ficar olhando para ele. A garota tinha estatura baixa, olhos castanhos, cabelos curtos acima dos ombros de coloração castanha com as pontas pintadas de verde.

— Você é nova por aqui? - Reita perguntou querendo tirar a impressão ruim que ela poderia ter dele:

—Me mudei tem algumas semanas! - Disse já sorridente, como se não tivesse acontecido nada - moro naquele apartamento bem ali - Disse apontando para a porta do lado do apartamento do Reita:

—Então isso quer dizer que somos vizinhos – O baixista disse se forma descontraída fazendo a garota sorrir - me chamo Akira Suzuki, mas pode me chamar de Reita – Disse estendendo a mão em sinal de comprimento – e o seu nome? :

— Eu sou Sayuri Ishida! - Disse respondendo ao comprimento, segurando a sua mão - é um prazer em te conhecer!

—O prazer é todo meu! - Reita disse todo sorridente para ela, que também sorria abertamente para o baixista. - E...eu preciso ir... - disse olhando para o seu relógio de pulso - estou atrasado para o trabalho:

—Tudo bem! ... nos trombamos por ai vizinho! - Disse dando espaço para que ele entrasse no elevador:

—Com certeza! ... Até mais vizinha! - Dito isso ele entrou no elevador, vendo a silhueta de Sayuri pela última antes da porta do mesmo se fechar.

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4 meses depois

Muita coisa mudou nesses últimos quatro meses. Reita depois de muito tempo, dedicação e muita orientação, conseguiu finalizar a música, que deu a ela o nome de Karasu. A música entraria para o próximo álbum da banda intitulado Beautiful Deformity.

O álbum só sairia em dentro de alguns meses, mas o single Fadeless tinha sido lançado recentemente. Em pouco tempo, estava fazendo um sucesso estrondoso pelo Japão a fora e pelo mundo, tanto que a banda estava acertando os últimos detalhes para uma turnê mundial que começaria dentro de algumas semanas.

O baixista estava se olhando no novo espelho do quarto, dando os últimos retoques. Estava vestido com peças simples, um jeans surrado, botas, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro. Olhou uma última vez e ao aprovar o visual, pegou o seu celular e discou um número, esperou poucos segundos na linha até a outra pessoa atender:

—Alô! - Disse uma voz feminina - é você baka ?:

—Engraçadinha! - Ele tinha que admitir que adorava quando ela o chamava de baka, ou dava qualquer outro apelido para ele - está pronta chibi ?:

— Nasci pronta querido! – Disse dando uma risada travessa no telefone – Pode vir, estou te esperando!

—Ok ... já estou indo! – Assim Reita desligou o telefone e seguiu até a saída do apartamento.

Alguns meses atrás, não imaginaria que se envolveria com uma mulher novamente, aliás tinha jurado que isso não aconteceria mais, mas a vida prega várias peças com as pessoas e ele não seria exceção a essa regra.

Depois de tudo que ele passou com Harumi, passou a acreditar que todas mulheres eram iguais. Todas elas só ficavam com os caras quando era conveniente para elas, mas tudo mudou depois que ele a conheceu.

Cada dia que passava e eles foram se conhecendo mais, ele percebeu que ela aos poucos foi cuidando de todas as suas feridas. Ela o fez entender que ele estava enganado sobre as mulheres e que nem todas seriam iguais a Harumi.

Quando se deu conta, ele já estava envolvido por ela, e não tinha dúvidas que ela apareceu em sua vida para preencher o vazio que tentava esconder de sí mesmo.

Após fechar a porta de seu apartamento, deu alguns passos e parou na porta do apartamento ao lado do seu. Após algumas batidinhas e poucos minutos esperando na porta, Sayuri apareceu:

—Que demora! ... pegou transito até aqui? - Disse colocando as mãos na cintura, fingindo estar dando bronca:

—Boa noite para você também vizinha! - Reita disse ironicamente aproximando-se dela e dando um selinho na sua namorada - você está muito bonita:

—Você também vizinho! - Disse sorridente enquanto mantinha os braços envolta do pescoço do baixista - então para onde estamos indo ?:

—Hm.... é uma surpresa! – Ele disse maliciosamente:

—Estou gostando do rumo disso! - Sayuri sorriu de forma travessa, dando outro beijo nele desfazendo-se do abraço - então o que estamos esperando vamos logo!

—Vamos ... por que a noite está apenas começando! - Disse pegando a mão dela, que deu um aceno com a cabeça e ambos seguiram até o elevador para começarem a sua noite juntos, como um casal.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.