- Quer comer alguma coisa? Podemos ir pro Starbucks, não sei. - Leana perguntou na porta da casa de Vanessa. Ela estava animada, mas por outro lado, sua nova amiga ainda carregava aquela expressão de desânimo.

- Eu estou sem fome. Me desculpe.

Leana não falou mais nada, apenas ficou com uma expressão triste e saiu pela porta murmurando um “ok”. Vanessa fechou a porta e escorregou pela mesma chorando. Olhou para a cozinha e viu uma faca em cima da mesa. Com os passos leves e lentos, se aproximou dela. O metal era um contraste com aquela luz fraca da cozinha.

-

Leana trouxe duas sacolas de compras nas mãos e, atrapalhada, conseguiu pegar a chave e abrir a porta.

- Cheguei! - Leana gritou da porta. Pressionou os dedos nos olhos. “Dor de cabeça dos infernos”, pensou enquanto deixava as sacolas na sala e praticamente com os olhos fechados procurou uma aspirina no banheiro. Achou e tomou a pílula.

Esperou alguns segundos de olhos fechados e se apoiando na pia. Respirou fundo e começou a pensar como sua vida estava vazia desde que Brian, Jimmy e Amy partiram. “Como alguém pode perder tantas pessoas em tão pouco tempo?”, pensou consigo mesma enquanto olhava seu reflexo no espelho. Viu algumas lágrimas caindo de seus olhos e as enxugou rapidamente.

Leana se direcionou para o sofá e pegou as compras, levando-as para cozinha. E então ela viu. Fechou os olhos por alguns segundos, achando que isso era efeito da aspirina e que quando abrisse de novo veria Vanessa sentada na mesa da cozinha tomando água. Mas não foi isso que aconteceu. Quando abriu os olhos continuou vendo a mesma cena: Vanessa perfurada no coração com uma faca. O sangue no chão trazia náuseas para Leana.

-

“Embora eu sentisse fome, sede, medo, frio e solidão, eu sabia que não pertencia mais aquela dimensão. Estava em um lugar cheio de trevas, raios, criaturas negras sobrevoando ruínas. Tinham pessoas como eu - ou espíritos - que estavam no chão se contorcendo. Meus demônios interiores estavam fazendo com que eu começasse a sentir terror e muita vontade de chorar. De repente eu vi algo quente escorrendo pelo meu corpo. O furo que eu havia feito com a faca, estava sangrando. A dor em meu coração era indescritível.”

Vanessa começou a andar cambaleando e então caiu no chão, não suportando mais a dor. Gritava por não saber o que fazer. Todas as imagens ruins de sua vida apareciam na sua cabeça. Foi perto de um lago, vendo finalmente água. Correu para o mesmo, quase sem força. Quando chegou perto viu que não se tratava se água e sim de barro. Mas, estava tão desesperada, tão desidratada, que não ligou. Tomou bastante daquele líquido nojento, mas então algo chamou sua atenção. Um homem com muita barba por fazer, cabelos grandes e bagunçados, estava jogado no chão. Se já não tivesse morto, Vanessa acharia que seria um cadáver. Ela foi chegando mais perto e então o homem abriu os olhos. Agora tinha certeza de quem era. Aqueles olhos verdes.

- Za… Zacky? - Ela perguntou meia trêmula, no meio daquela chuva e dos raios.

- O que faz aqui? O que você fez? - Sua voz estava trêmula por causa do frio e fraca. Zacky não se mexeu, pois não tinha forças.

- Por que você está aqui?

- Eu me matei, Vanessa. Por isso estou aqui. Estou pagando pelos meus pecados. - Zacky a lembrou do que havia feito, como se a mesma tivesse esquecido. Então Vanessa arregalou os olhos e desejou voltar no tempo e não ter se matado. - Por que está aqui?

- Eu… - Ela abaixou a cabeça enquanto as lágrimas caiam freneticamente sob seu rosto. - Eu me matei, Zacky.